Eu entendo o Luiz F. e outras pessoas que, devido ao ambiente em que vivem, não podem sair do armário. Realmente não vale a pena se assumir como ateu para a sociedade, se essa sociedade ameaça destruir a sua vida como consequência. O triste é que isso acaba gerando um ciclo vicioso... quanto mais os ateus se escondem, mais se propaga a ignorância, mais faz sentido na cabeça das pessoas a imagem desse bicho mitológico que eles criaram e rotularam como "ateu."
Quem diz essas coisas absurdas, como o Datena, são gente que provavelmente nunca viu um ateu na vida, tudo o que eles conhecem é o mito. O Datena não é mau, ele só é ignorante. Quando o Luiz F. se abriu com sua esposa ele levou algum tempo, mas conseguiu desconstruir esse mito. É um tempo que ele não teria com seu chefe, por exemplo, por isso tem toda a razão em ficar no armário. Mas nós que vivemos em ambentes mais cosmopolitas, universidades, grandes cidades, nós podemos fazer a nossa parte. Temos que colocar em nossas cabeças que quando vestimos uma camiseta "100 % ateu," não é por nós que é importante fazer isso, é por gente como o Luiz F., gente que pode ter sua vida destruída por ser ateu como nós.
Às vezes a gente que vive num ambiente mais livre esquece como é ser temido e odiado. Eu passei por isso no colégio, passei por isso na minha família, mas superei isso há muito tempo, hoje digo abertamente que sou ateu na faculdade, tenho amigos ateus, meu irmão e minha mãe se tornaram ateus. É natural para mim ter uma sensação de segurança, uma sensação de que o mundo é justo e me trata igual aos outros, mas essa segurança é instável e ilusória. Amanhã eu posso estar morando numa cidadezinha do interior onde vou experimentar ódio e até violência talvez.
Nesses lugares isolados as mudanças nos costumes demoram mais a chegar, mas chegam. Acredito que não há mais muitos lugares no Brasil onde escravidão negra é considerada uma coisa normal. Mas para essas novidades chegarem na cidade do Luiz F., elas têm que começar a mudar nos grandes centros. Os ateus têm que dar a cara a bater, sair do armário e mostrar que existem, são pessoas normais e exigem respeito e consideração. Temos que vestir a camisa, literalmente.