Autor Tópico: Sou ateia e sinto-me discriminada. Pronto, falei.  (Lida 11039 vezes)

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Offline Lion

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Sou ateia e sinto-me discriminada. Pronto, falei.
« Online: 18 de Outubro de 2010, 10:44:53 »
Citação de: [url=http://][/url]
Sou ateia e sinto-me discriminada. Pronto, falei.

Pouco importa o que Dilma e Serra de fato pensam sobre aborto. Em campanha, eles dirão o que o povo brasileiro deseja ouvir - e não os culpo nem um pouco por isso. Se o que o povo deseja ouvir é que o(a) futuro(a) chefe de nosso Estado teoricamente laico é temente a Deus e aos valores das religiões católica e evangélica, assim será. Por quê? Porque, no nosso país, ser ateu é feio. Ateus não são confiáveis. Ateus não podem ser chefes de Estado nem devem confessar em cadeia nacional sua não-crença, como minha mãe bem me advertiu lá no começo da minha carreira de declarações públicas ("Olha o Fernando Henrique, até ele passou a falar em Deus!").

Segui o conselho de minha mãe por dez anos, resignada e crendo que, de fato, pouco deveria importar para os outros se eu pessoalmente acreditava ou não em Deus ou seguia alguma religião em particular. Mas agora, irritada ao ver os jornais e as campanhas políticas dominadas pelo discurso religioso, resolvi que não me calo mais: sou ateia, sinto-me discriminada por causa de minha crença na não-existência de um Deus (nem de vários), e agora vou fazer ativamente campanha em prol do respeito à não-crença.

Crenças são produto do cérebro: modelos internos que criamos para explicar acontecimentos sistemáticos, não importa se baseados em evidências ou não, dentro dos quais nossos valores e experiências de vida se encaixam, e que nos ajudam não só a explicar eventos quanto a predizê-los, o que por sua vez ajuda a orientar nossas ações. Pessoas diferentes creem na bondade dos homens (ou na sua maldade intrínseca), na pureza das crianças, em guardar dinheiro na poupança, creem no governo, em educar-se muito e sempre ou em fazer o bem ao próximo.

A crença em Deus, em particular, resolve muitas questões de uma vez só: para começar, todas aquelas em que não conseguimos identificar um agente responsável pelos acontecimentos. A colheita foi boa? Deus quis. Foi péssima? Obra Dele, também, por algum de seus desígnios. Surgiu um câncer? Desapareceu sozinho? Nossos olhos e ouvidos internos são estruturas complexas e aparentemente improváveis? Obra de Deus.

Uma alternativa é aceitar que cânceres, dilúvios, seres altamente complexos e tantas outras coisas simplesmente acontecem, sem um Agente identificável. São obra do Acaso, ou da Natureza, ou de algum outro agente ainda não identificado. Para mim e meus colegas ateus (ou agnósticos: não vejo diferença prática entre uns e outros, assim como não vejo diferença entre crer na inexistência de Deus ou não crer na Sua existência), essa é nossa crença. A crença em um Ser superior, portanto, é tão boa quanto qualquer outra crença, posto que são crenças, justamente: nem melhor, nem pior.

E no entanto, não temos liberdade para dizer que não cremos em Deus, ou que acreditamos em debates (sobre o aborto ou o casamento gay, por exemplo) que NÃO envolvam a religião. É devido à imposição de Deus, crença aparentemente compulsória nesse país, que tem-se o nojo que anda o jornal O Globo e, nojo dos nojos que deixou minha ínsula absolutamente revoltada, a revista Veja da semana passada (digo isso somente agora, tarde demais para que meu repúdio gere curiosidade e os ajude a vender exemplares).

Pois cansei de ser discriminada. Quero ter direito à liberdade de exercer minha não-religiosidade e a não ser considerada pior do que os religiosos por não crer em Deus. Defendo os direitos dos religiosos de curtirem suas crenças em paz, e acho o máximo conhecer a cultura, os valores e as particularidades de judeus, muçulmanos e tantos outros - mas está na hora de os não-religiosos também terem a sua não-crença respeitada.

E respeito começa pela não-imposição de valores. Assim como não desejo que todos os brasileiros abandonem suas crenças particulares, repudio ardentemente a imposição de valores católicos ou evangélicos ou de qualquer outra religião à política e aos meus direitos civis. Quero um Estado laico de fato: que respeite a diversidade de crenças, incluindo aquela na inexistência de Deus, e não tome decisões pautadas por religião alguma. Não acredito em Deus, mas acredito no ser humano, acredito em fazer o bem, e acredito que nossa liberdade tem que ter limite onde nossas crenças e ações começam a interferir na liberdade dos outros.

E a partir de agora, podem ter certeza que vou responder com todas as letras toda vem que me perguntarem, em cadeia pública ou em particular: sou ateia. Não acho necessário invocar um Deus criador, onipresente e onisciente para explicar o mundo, nós mesmos ou nossas ações, não acredito que ele exista, e creio que ele de fato não existe. Faço o bem porque acredito em fazer o bem e acredito nas pessoas, e não por temor a um Deus. E não acho que eu seja uma pessoa pior porque minha vida é pautada em valores que não incluem um Deus. Pronto. Assim vou fazer minha parte pela liberdade de expressão religiosa *e* não-religiosa. Inclusive porque, como Fernando Pessoa bem escreveu, não ter Deus é um Deus também...

Fonte: Suzana Herculano-Houzel - A neurocientista de plantão http://www.suzanaherculanohouzel.com/journal/2010/10/17/sou-ateia-e-sinto-me-discriminada-pronto-falei.html

Offline uiliníli

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Re: Sou ateia e sinto-me discriminada. Pronto, falei.
« Resposta #1 Online: 18 de Outubro de 2010, 13:46:01 »
Uau! Meus parabéns à Suzana Herculano. Quem diria que essa campanha ridícula e hipócrita deste ano traria um resultado positivo afinal? Estou quase me convencendo a votar nulo para mostrar para esse povo que eu também voto e que meu voto também pode fazer falta :x

Offline A Mosca

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Re: Sou ateia e sinto-me discriminada. Pronto, falei.
« Resposta #2 Online: 18 de Outubro de 2010, 14:03:19 »
uiliníli, pois somos 2. Acabei de decidir por nem comparecer à seção especial no dia do pleito.
Se alumia, então é lanterna...

Offline Barata Tenno

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Re: Sou ateia e sinto-me discriminada. Pronto, falei.
« Resposta #3 Online: 18 de Outubro de 2010, 14:58:16 »
E a cada eleição eu tenho mais certeza de que fiz bem em renunciar a cidadania brasileira.
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Offline Memphis Belle

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Re: Sou ateia e sinto-me discriminada. Pronto, falei.
« Resposta #4 Online: 18 de Outubro de 2010, 15:35:13 »
É de fato uma dura condição a de se esconder o que se sente  ou o que se é .Mas  digo de todo o coração para os amigos do Cc e a quem mais interessar:  não é nos escondendo que mudaremos algo.Eu fui católica por muitos anos, desde que nasci...e quando resolvi  que não queria mais ser, por vários motivos, o que importava mesmo era: eu tinha todo o direito a não ser mais católica.E todos tinham o dever de respeitar a minha opção.Mas se eu não me fizesse  respeitar, então não haveria batalhas ( como  houveram então ) a serem traçadas e ganhas.Seja lá o que for, é bom para nós mesmos em primeiro lugar e em segundo para aqueles que nos amam verdadeiramente , que assumamos exatamente aquilo que somos, seja em que  instância for, na religião ou opção sexual, ou no que mais existir para assumir...Temos de ser nós mesmos.Do contrário , corremos o risco de nos olhar ao espelho pela manha e não nos reconhecermos e aí, começarmos a nos perder de nós mesmos, de nossa identidade real.
 Paz e bem,
Memphis.
"Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele ou por sua origem, ou sua religião.
Para odiar, as pessoas precisam aprender.
E se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar, pois o amor chega mais naturalmente ao coração humano do que o seu oposto.
A bondade humana é uma chama que pode ser oculta, jamais extinta."
(Nelson Mandela)

Offline Hold the Door

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Re: Sou ateia e sinto-me discriminada. Pronto, falei.
« Resposta #5 Online: 18 de Outubro de 2010, 15:42:36 »
E a cada eleição eu tenho mais certeza de que fiz bem em renunciar a cidadania brasileira.
Pensei que você tivesse dupla cidadania. Ou para ter a cidadania japonesa você precisa necessariamente renunciar a brasileira?
Hold the door! Hold the door! Ho the door! Ho d-door! Ho door! Hodoor! Hodor! Hodor! Hodor... Hodor...

Offline Lion

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Re: Sou ateia e sinto-me discriminada. Pronto, falei.
« Resposta #6 Online: 18 de Outubro de 2010, 16:27:28 »
Uau! Meus parabéns à Suzana Herculano. Quem diria que essa campanha ridícula e hipócrita deste ano traria um resultado positivo afinal? Estou quase me convencendo a votar nulo para mostrar para esse povo que eu também voto e que meu voto também pode fazer falta :x
Como já disse em outro tópico, vou anular meu voto. O irônico é que a Marina que é evangélica jogou limpo e não usou a religião como um meio para ganhar votos, pelo menos eu não vi esse tipo de estratégia na campanha dela.

Offline Memphis Belle

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Re: Sou ateia e sinto-me discriminada. Pronto, falei.
« Resposta #7 Online: 18 de Outubro de 2010, 16:33:44 »
Uau! Meus parabéns à Suzana Herculano. Quem diria que essa campanha ridícula e hipócrita deste ano traria um resultado positivo afinal? Estou quase me convencendo a votar nulo para mostrar para esse povo que eu também voto e que meu voto também pode fazer falta :x
Como já disse em outro tópico, vou anular meu voto. O irônico é que a Marina que é evangélica jogou limpo e não usou a religião como um meio para ganhar votos, pelo menos eu não vi esse tipo de estratégia na campanha dela.

Isso mesmo, também não vi esse tipo de  apelação na campanha dela, mas seja como for, as opções estão de lascar...Ficar sem votar, não acho legal, mas também votar no menos pior, poxa vida..."ou isto ou aquilo" ( Cecília Meireles).
Paz e Bem,
Memphis.
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Offline Barata Tenno

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Re: Sou ateia e sinto-me discriminada. Pronto, falei.
« Resposta #8 Online: 18 de Outubro de 2010, 16:34:24 »
E a cada eleição eu tenho mais certeza de que fiz bem em renunciar a cidadania brasileira.
Pensei que você tivesse dupla cidadania. Ou para ter a cidadania japonesa você precisa necessariamente renunciar a brasileira?
A renuncia é obrigatoria depois dos 21 anos de idade.
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Offline uiliníli

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Re: Sou ateia e sinto-me discriminada. Pronto, falei.
« Resposta #9 Online: 18 de Outubro de 2010, 16:39:03 »
Isso é específico do Japão ou é a regra geral em casos de naturalização?

Offline Barata Tenno

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Re: Sou ateia e sinto-me discriminada. Pronto, falei.
« Resposta #10 Online: 18 de Outubro de 2010, 16:41:52 »
Isso é específico do Japão ou é a regra geral em casos de naturalização?
Acho que cada país tem suas regras. Conheço descendentes de italianos que mantem a dupla nacionalidade.
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Offline Lion

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Re: Sou ateia e sinto-me discriminada. Pronto, falei.
« Resposta #11 Online: 18 de Outubro de 2010, 16:46:42 »
É de fato uma dura condição a de se esconder o que se sente  ou o que se é .Mas  digo de todo o coração para os amigos do Cc e a quem mais interessar:  não é nos escondendo que mudaremos algo.Eu fui católica por muitos anos, desde que nasci...e quando resolvi  que não queria mais ser, por vários motivos, o que importava mesmo era: eu tinha todo o direito a não ser mais católica.E todos tinham o dever de respeitar a minha opção.Mas se eu não me fizesse  respeitar, então não haveria batalhas ( como  houveram então ) a serem traçadas e ganhas.Seja lá o que for, é bom para nós mesmos em primeiro lugar e em segundo para aqueles que nos amam verdadeiramente , que assumamos exatamente aquilo que somos, seja em que  instância for, na religião ou opção sexual, ou no que mais existir para assumir...Temos de ser nós mesmos.Do contrário , corremos o risco de nos olhar ao espelho pela manha e não nos reconhecermos e aí, começarmos a nos perder de nós mesmos, de nossa identidade real.
 Paz e bem,
Memphis.
Concordo com você Memphis,

Muitas vezes tenho receio de abrir o jogo para algumas pessoas da minha família, principalmente os mais velhos, é aquele lance de temer decepcionar as pessoas. Sei que é besteira minha, mas isso acontece.... Quando o assunto vai para o lado da religião e quase sempre vai eu desconverso, não digo que acredito nem que não acredito em deus. Semana passada por exemplo um amigo meu morreu, eu estava no velório quando o grupinho em que eu estava conversando começou a falar sobre o plano de deus, a razão das mortes, a não salvação da alma de um suicida entre outras “verdades”. A minha língua até pinicou para começar um debate, mas como era um velório e todos estavam fragilizados  eu simplesmente ignorei como faço em várias situações para que a outra pessoa não se sinta ofendida.   Na maioria das vezes em que eu debato com alguém sobre deus e religião a pessoa me acusa de falta de respeito, parece que todo tipo de argumentação quando se trata de religião e deus é um desrespeito.

Isso sem falar no local de trabalho, como já descrevi em outro tópico:

Desculpe a pergunta.

Mas em qual local de trabalho (empresa?) se faz uma oração antes de começar o expediente? Só se for de crente e das bem retrógradas!

Na PM fazem isso todos os dias...

PM? Na Polícia Militar? Uma corporação de um estado laico? É sério? E ninguem questionou isto?
Enquanto o Coronel for crente, aho que ninguém questionaŕa...

Not really. Na verdade, participa quem quer. No começo, eu participava por pressão, mas já vai pra mais de ano que não me junto nas orações e comigo se juntam uns 4 ou 5 que ficam conversando enquanto o resto reza...

Deve haver policiais rezando apenas para manter a formalidade.

Quando eu estava fazendo estágio na Ferrovia Centro Atlântica também tinha de rezar. No início eu esperava a reunião diária terminar e já deixava o local, mas o pessoal começou a encher o meu  saco então para não criar problemas comecei a rezar, na verdade apenas permanecia no local de mãos dadas com as outras pessoas e esperava o circo acabar. Na Gerdau é a mesma coisa, quando comecei a trabalhar logo no primeiro dia após a reunião diária sobre segurança já pegaram nas minhas mãos e começaram um “pai nosso”, para não criar um mau estar não me opus, mas é chato. 


Offline Dbohr

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Re: Sou ateia e sinto-me discriminada. Pronto, falei.
« Resposta #12 Online: 18 de Outubro de 2010, 16:50:10 »
Tenho uma avó muito querida com a saúde frágil; e ela é a única razão pela qual ainda não saí totalmente do armário para o resto da família. Mas meus pais e irmãos já sabem faz tempo e aceitam numa boa.

Offline Mr. Mustard

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Re: Sou ateia e sinto-me discriminada. Pronto, falei.
« Resposta #13 Online: 18 de Outubro de 2010, 17:01:50 »
Felizmente eu não tenho problemas com isto desde de que me entendo por gente.

Offline Osler

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Re: Sou ateia e sinto-me discriminada. Pronto, falei.
« Resposta #14 Online: 18 de Outubro de 2010, 17:02:47 »
Excelente texto, também penso seriamente em anular meu voto.

Meus amigos e família quando falam da minha posição atéia dizem "isso proquê você é médico e não credita em nada", aiai.
Porém não tem nem nunca tive problema com a minha posição, não discuto mais com outros porque na maioria das vezes achoa que essas discussões não levam a anda além de desgaste inútil.

PS- a maioria dos médicos da minha relação são teístas
“Como as massas são inconstantes, presas de desejos rebeldes, apaixonadas e sem temor pelas conseqüências, é preciso incutir-lhes medo para que se mantenham em ordem. Por isso, os antigos fizeram muito bem ao inventar os deuses e a crença no castigo depois da morte”. – Políbio

Offline Luiz F.

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Re: Sou ateia e sinto-me discriminada. Pronto, falei.
« Resposta #15 Online: 18 de Outubro de 2010, 17:35:53 »
No meu caso seria muito complicado sair do armário devido ao lugar onde moro ser um reduto católico conservador. A unica pessoa que sabe que sou ateu é a minha esposa. Eu contei isso pra ela na época do namoro e ela quase terminou comigo.

Isso porque na cabeça dela os ateus são algum tipo de degenerados comedores de criancinhas. Levou o maior tempo para eu mostrar pra ela que eu sou uma pessoa qualquer com minha própria noção de ética, o que foi muito difícil. Mas hoje estamos bem e já superamos isso.

Mas o fato é que toda a minha família é católica e o preconceito é muito grande em toda a comunidade em que vivo e acabo extendendo isso para toda a cidade pelas pessoas que conheço além do bairro onde moro, como por exemplo um professor que me dava aula recentemente que era católico fervoroso, daqueles que põe deus em tudo. O fato é que se você queria ganhar o cara era só citar deus em alguma apresentação ou em aula que ele claramente te beneficiava, e isso me enojava.

Isso sem contar o proselítismo de alguns de seus discursos onde ele dizia que a gente tem que colocar deus em primeiro lugar nas nossas vidas e blá blá... Além é claro dos outros professores claramente cristãos, do diretor carola, dos crucifixos nas salas de aula e por aí vai. Isso em uma escola do estado.

O fato é que a desvantagem é enorme e não tenho presença de espirito pra ficar aguentando gente me dizendo o quanto eu sou infeliz, que eu tenho que abrir meu coração pra deus, que eu sou imoral ou que "eu não esperava isso de você"( nas palavras da minha esposa( namorada na época)).
"Você realmente não entende algo se não consegue explicá-lo para sua avó."
Albert Einstein

Offline gilberto

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Re: Sou ateia e sinto-me discriminada. Pronto, falei.
« Resposta #16 Online: 18 de Outubro de 2010, 17:49:02 »
No meu caso seria muito complicado sair do armário devido ao lugar onde moro ser um reduto católico conservador. A unica pessoa que sabe que sou ateu é a minha esposa. Eu contei isso pra ela na época do namoro e ela quase terminou comigo.

Isso porque na cabeça dela os ateus são algum tipo de degenerados comedores de criancinhas. Levou o maior tempo para eu mostrar pra ela que eu sou uma pessoa qualquer com minha própria noção de ética, o que foi muito difícil. Mas hoje estamos bem e já superamos isso.

Mas o fato é que toda a minha família é católica e o preconceito é muito grande em toda a comunidade em que vivo e acabo extendendo isso para toda a cidade pelas pessoas que conheço além do bairro onde moro, como por exemplo um professor que me dava aula recentemente que era católico fervoroso, daqueles que põe deus em tudo. O fato é que se você queria ganhar o cara era só citar deus em alguma apresentação ou em aula que ele claramente te beneficiava, e isso me enojava.

Isso sem contar o proselítismo de alguns de seus discursos onde ele dizia que a gente tem que colocar deus em primeiro lugar nas nossas vidas e blá blá... Além é claro dos outros professores claramente cristãos, do diretor carola, dos crucifixos nas salas de aula e por aí vai. Isso em uma escola do estado.

O fato é que a desvantagem é enorme e não tenho presença de espirito pra ficar aguentando gente me dizendo o quanto eu sou infeliz, que eu tenho que abrir meu coração pra deus, que eu sou imoral ou que "eu não esperava isso de você"( nas palavras da minha esposa( namorada na época)).
Cara, eu não sabia que existia cidade assim no Brasil. Vc pode dizer o nome da sua cidade?

Offline Luiz F.

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Re: Sou ateia e sinto-me discriminada. Pronto, falei.
« Resposta #17 Online: 18 de Outubro de 2010, 17:56:36 »
Brasópolis, sul de Minas e não é a unica da região que tem esse tipo de coisa.

Tem uma cidade vizinha à minha que é predominantemente evangélica e pelo que conhecidos meus dessa cidade contam acontece a mesma coisa lá.
"Você realmente não entende algo se não consegue explicá-lo para sua avó."
Albert Einstein

Offline gilberto

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Re: Sou ateia e sinto-me discriminada. Pronto, falei.
« Resposta #18 Online: 18 de Outubro de 2010, 17:59:11 »
Brasópolis, sul de Minas e não é a unica da região que tem esse tipo de coisa.
Tem uma cidade vizinha à minha que é predominantemente evangélica e pelo que conhecidos meus dessa cidade contam acontece a mesma coisa lá.
Se eu fosse para aí sendo declaradamente ateu, será que eu teria muita dificuldade para arranjar um emprego de professor, por exemplo?

Offline Memphis Belle

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Re: Sou ateia e sinto-me discriminada. Pronto, falei.
« Resposta #19 Online: 18 de Outubro de 2010, 18:02:33 »
É de fato uma dura condição a de se esconder o que se sente  ou o que se é .Mas  digo de todo o coração para os amigos do Cc e a quem mais interessar:  não é nos escondendo que mudaremos algo.Eu fui católica por muitos anos, desde que nasci...e quando resolvi  que não queria mais ser, por vários motivos, o que importava mesmo era: eu tinha todo o direito a não ser mais católica.E todos tinham o dever de respeitar a minha opção.Mas se eu não me fizesse  respeitar, então não haveria batalhas ( como  houveram então ) a serem traçadas e ganhas.Seja lá o que for, é bom para nós mesmos em primeiro lugar e em segundo para aqueles que nos amam verdadeiramente , que assumamos exatamente aquilo que somos, seja em que  instância for, na religião ou opção sexual, ou no que mais existir para assumir...Temos de ser nós mesmos.Do contrário , corremos o risco de nos olhar ao espelho pela manha e não nos reconhecermos e aí, começarmos a nos perder de nós mesmos, de nossa identidade real.
 Paz e bem,
Memphis.
Concordo com você Memphis,

Muitas vezes tenho receio de abrir o jogo para algumas pessoas da minha família, principalmente os mais velhos, é aquele lance de temer decepcionar as pessoas. Sei que é besteira minha, mas isso acontece.... Quando o assunto vai para o lado da religião e quase sempre vai eu desconverso, não digo que acredito nem que não acredito em deus. Semana passada por exemplo um amigo meu morreu, eu estava no velório quando o grupinho em que eu estava conversando começou a falar sobre o plano de deus, a razão das mortes, a não salvação da alma de um suicida entre outras “verdades”. A minha língua até pinicou para começar um debate, mas como era um velório e todos estavam fragilizados  eu simplesmente ignorei como faço em várias situações para que a outra pessoa não se sinta ofendida.   Na maioria das vezes em que eu debato com alguém sobre deus e religião a pessoa me acusa de falta de respeito, parece que todo tipo de argumentação quando se trata de religião e deus é um desrespeito.

Isso sem falar no local de trabalho, como já descrevi em outro tópico:

Desculpe a pergunta.

Mas em qual local de trabalho (empresa?) se faz uma oração antes de começar o expediente? Só se for de crente e das bem retrógradas!

Na PM fazem isso todos os dias...

PM? Na Polícia Militar? Uma corporação de um estado laico? É sério? E ninguem questionou isto?
Enquanto o Coronel for crente, aho que ninguém questionaŕa...

Not really. Na verdade, participa quem quer. No começo, eu participava por pressão, mas já vai pra mais de ano que não me junto nas orações e comigo se juntam uns 4 ou 5 que ficam conversando enquanto o resto reza...

Deve haver policiais rezando apenas para manter a formalidade.

Quando eu estava fazendo estágio na Ferrovia Centro Atlântica também tinha de rezar. No início eu esperava a reunião diária terminar e já deixava o local, mas o pessoal começou a encher o meu  saco então para não criar problemas comecei a rezar, na verdade apenas permanecia no local de mãos dadas com as outras pessoas e esperava o circo acabar. Na Gerdau é a mesma coisa, quando comecei a trabalhar logo no primeiro dia após a reunião diária sobre segurança já pegaram nas minhas mãos e começaram um “pai nosso”, para não criar um mau estar não me opus, mas é chato.  




Lion, é o seguinte: bom senso, sempre.Em um velório, não seria mesmo o melhor lugar para alguém tentar dar uma situada no pessoal, a respeito  de suas convicções sejam quais forem.Mas em contra partida, de um próximo velório, ninguém mais vai olhar para vc e dar a entender que  não entende o pq de vc não querer acompanhar esta ou aquela oração ou entoar algum canto para renovar as esperanças.Isso , claro se vc , nesse 'intervalo', resolver dizer, resolver esclarecer o que pensa e sente.Mas é algo, meu amigo, que só cabe a você definir o melhor momento.
Grande abraço,
Paz e Bem,
Memphis.
"Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele ou por sua origem, ou sua religião.
Para odiar, as pessoas precisam aprender.
E se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar, pois o amor chega mais naturalmente ao coração humano do que o seu oposto.
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Offline Lion

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« Resposta #20 Online: 18 de Outubro de 2010, 18:06:33 »
Brasópolis, sul de Minas e não é a unica da região que tem esse tipo de coisa.
Tem uma cidade vizinha à minha que é predominantemente evangélica e pelo que conhecidos meus dessa cidade contam acontece a mesma coisa lá.
Se eu fosse para aí sendo declaradamente ateu, será que eu teria muita dificuldade para arranjar um emprego de professor, por exemplo?

Claro, seu pervertido..... Você acha que as crianças aqui de Minas são entregues aos cuidados de ateus degenerados?  :P  

Offline A Mosca

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Re: Sou ateia e sinto-me discriminada. Pronto, falei.
« Resposta #21 Online: 18 de Outubro de 2010, 18:15:24 »
Muito bem colocado. Eita Laicidade a nossa, hein? ::)
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Offline Memphis Belle

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« Resposta #22 Online: 18 de Outubro de 2010, 18:16:26 »
No meu caso seria muito complicado sair do armário devido ao lugar onde moro ser um reduto católico conservador. A unica pessoa que sabe que sou ateu é a minha esposa. Eu contei isso pra ela na época do namoro e ela quase terminou comigo.

Isso porque na cabeça dela os ateus são algum tipo de degenerados comedores de criancinhas. Levou o maior tempo para eu mostrar pra ela que eu sou uma pessoa qualquer com minha própria noção de ética, o que foi muito difícil. Mas hoje estamos bem e já superamos isso.

Mas o fato é que toda a minha família é católica e o preconceito é muito grande em toda a comunidade em que vivo e acabo extendendo isso para toda a cidade pelas pessoas que conheço além do bairro onde moro, como por exemplo um professor que me dava aula recentemente que era católico fervoroso, daqueles que põe deus em tudo. O fato é que se você queria ganhar o cara era só citar deus em alguma apresentação ou em aula que ele claramente te beneficiava, e isso me enojava.

Isso sem contar o proselítismo de alguns de seus discursos onde ele dizia que a gente tem que colocar deus em primeiro lugar nas nossas vidas e blá blá... Além é claro dos outros professores claramente cristãos, do diretor carola, dos crucifixos nas salas de aula e por aí vai. Isso em uma escola do estado.

O fato é que a desvantagem é enorme e não tenho presença de espirito pra ficar aguentando gente me dizendo o quanto eu sou infeliz, que eu tenho que abrir meu coração pra deus, que eu sou imoral ou que "eu não esperava isso de você"( nas palavras da minha esposa( namorada na época)).

Eu também já passei por isso com um professor. Na época eu era ainda praticante do catolicismo e me senti  no mínimo sem graça pelos favorecimentos que o tal me oferecia.E olha que eu nem precisava.
Sei que a situação é difícil e até complicada as vezes.Convivência familiar é algo meio sufocante, se a isso damos abertura.Mas aos poucos,sem pressa e com critérios, pude ir esclarecendo  meus porquês e me posicionando, impondo assim um ritmo de respeito contra os 'narizes torcidos ' para o meu lado.Mas como disse ao Lion, ninguém melhor que você mesmo para saber como e por onde começar esse processo libertador  de assumir o que de fato é e  no que crê.
grande abraço,
Paz e Bem,
Memphis.
"Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele ou por sua origem, ou sua religião.
Para odiar, as pessoas precisam aprender.
E se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar, pois o amor chega mais naturalmente ao coração humano do que o seu oposto.
A bondade humana é uma chama que pode ser oculta, jamais extinta."
(Nelson Mandela)

Offline A Mosca

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Re: Sou ateia e sinto-me discriminada. Pronto, falei.
« Resposta #23 Online: 18 de Outubro de 2010, 18:25:37 »
No entanto, o caráter de ateu não é de todo uma desvantagem...

A COMUNICAÇÃO ENTRE PROFESSOR E ALUNO


A mediação do conhecimento formal é o desafio primordial do magistério. A emissão, transmissão e recepção de informação, entretanto, é apenas uma das funções da comunicação entre professores e alunos. Da boa comunicação dependem, não só a aprendizagem. Mas, também, o desenvolvimento do respeito mútuo, a cooperação, a criticidade e a criatividade.
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Os déficits na comunicação entre professores e alunos, geralmente estão ligados à dinâmica da linguagem e insensibilidade do emissor sobre os respectivos problemas, que têm muito a vê com a mera e pragmática preocupação de explanar o conteúdo da matéria. E não a de compreender as limitações, como bem as potencialidades do receptor, e fazer-se compreendido, sob a prepotência protecionista e decerto equivocada, de detentor de um conhecimento fechado, em detrimento do Construtivismo. Talvez devido à má compreensão do status que ostenta, o professor possa esquecer-se que, dentro de uma sala de aula, ele também é aprendiz. Contudo, não é justo atribuir toda responsabilidade da deficiência na comunicação à figura do professor. A família tem uma robusta fatia de responsabilidade. Os pais carregam a responsabilidade de educar juntamente com o professor. No entanto, os pais têm faltado com suas responsabilidades e cometido equívocos crassos na Educação dos filhos e, assim, sobrecarregado o professor. Não obstante, vale salientar que, por muitas vezes, o Dogmatismo Religioso, tão disseminado no núcleo familiar, pode extrapolar o seu campo de atuação e gerar uma espécie de Dogmatismo Acadêmico, extremamente nocivo ao desenvolvimento cognitivo da criança (J.Piaget) e certamente ocasionará traumas que representarão empecilhos, para a comunicação entre professor e aluno dentro da sala de aula.
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Fundamento

Um pai 'ajudava' o filho em sua tarefa de casa, com um cinturão em mãos e a condição de um desfeche por cada resposta errada. Hoje, curiosamente, ao produzir algum manuscrito, os olhos desta criança logo começam a lacrimejar.

Altair Pinheiro de Assis
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Em meio a toda esta problemática sócio-educativa, infere-se a emergência de uma política de atuação psicanalítica e, caso necessária, terapêutica dos responsáveis pela Educação infanto-juvenil, da parte dos gestores da Educação Acadêmica. O professor deve ensinar ao aluno a sê-lo para além do status, em tempo que este, nesta conjectura, traga já consigo o suporte cognitivo, que lhe possibilite o ofício do lecionar. Deve ser um processo de tripla e contínua descoberta das partes envolvidas... Caso contrário. Pode-se cair na precariedade e nos equívocos da mera alienação e / ou incompreensão do conhecimento emitido.
« Última modificação: 18 de Outubro de 2010, 18:28:55 por A Mosca »
Se alumia, então é lanterna...

Offline Luiz F.

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Re: Sou ateia e sinto-me discriminada. Pronto, falei.
« Resposta #24 Online: 18 de Outubro de 2010, 18:44:08 »
Brasópolis, sul de Minas e não é a unica da região que tem esse tipo de coisa.
Tem uma cidade vizinha à minha que é predominantemente evangélica e pelo que conhecidos meus dessa cidade contam acontece a mesma coisa lá.
Se eu fosse para aí sendo declaradamente ateu, será que eu teria muita dificuldade para arranjar um emprego de professor, por exemplo?

Claro, seu pervertido..... Você acha que as crianças aqui de Minas são entregues aos cuidados de ateus degenerados?  :P 

Se você iria ter dificuldade eu não sei mas o fato é que o unico professor que não era escandalosamente católico não era bem visto pelos outros professores.
"Você realmente não entende algo se não consegue explicá-lo para sua avó."
Albert Einstein

 

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