Caro Feynman, não precisa chorar tanto por compreensão e complacência. Não sou tão implacável assim. Tenho intenção de tentar ser misericordioso com você... (olhe os efeitos do que o lusitano tem feito comigo)
Vou tentar conduzir este nosso debate para um outro nível, um outro estágio, outro modelo ou formato, não sei bem como definir, mas tenho a ideia clara da coisa, embora isto não ajude a esclarecê-la imediatamente. Eu percebo que você merece e vale este empenho e agradeço (e o congratulo... rsrsrs) ao perceber que pensas o mesmo de mim. Nós estamos abordando uma questão limítrofe na qual qualquer coisa a mais, que tenha sentido real, que possamos concluir será ciência.
Tentarei economizar o máximo de letras. Mas... você sabe o fracassado que sou nisto.
De um modo geral, acho que entendo um pouco a sua solicitação. Há um problema de comunicação entre nós. Não poderia ser diferente. Todos os problemas de comunicação são problemas de... comunicação. É um problema linguístico como todos os nossos problemas são porque somos seres linguísticos. E não porque usamos linguagens. É porque somos feitos, TOTALMENTE, de linguagem. Linguagem é tudo o que somos. Como se resolve isso? Entendendo a natureza do problema da comunicação, acho. O que é a linguagem? É uma dinâmica de informações. Ainda que se considere uma estrutura linguística estática (uma simples sequência de acoplamentos entre informações), um ser cognitivo é, essencialmente, aquele que percorre esta estrutura (o próprio processo de percurso da estrutura em si). E este percurso é movimento, é dinâmica, tem que ser realizado por um maquinismo. E um ser que, além de cognitivo, também é consciente, é aquele que a percorre, degenerando-a. O que quero dizer com "degenerando-a"? Basicamente, que este ser, ao executar sua dinâmica linguística, como efeito do modo (degenerado) como o processo é realizado, adquire ou, talvez melhor, projeta expectativas impossíveis (com relação à realidade) que ele não tem como provar para si mesmo, diretamente, que são impossíveis. Qualquer teoria da informação tem essa relação de sub ou sobreteoria da linguagem (dependendo de por que lado a abordagem é feita). É exercendo essa dinâmica de informações de modo degenerado que nos perdemos em filosofia; analisando-a rigorosamente, nos encontramos em ciência. Sinto que isso possa não ser o bastante para um esclarecimento de pronto, embora eu tenha uma grande impressão de que você tenha competência cognitiva suficiente para a tarefa. Vou tentar melhorar cada vez mais e, talvez, cheguemos ao ponto.
Essa degeneração linguística de que sempre falo, que produz o deletério efeito da filosofia, tem relação com as representações informacionais das diversas estruturas da realidade e, diretamente, com as traduções (interpretações) das informações. Somos seres linguísticos e também cibernéticos (um sistema dinâmico cibernético é, essencialmente, linguístico). Assim, somos seres realimentadores. Todo e qualquer estímulo que excite nossos sensores desencadeará uma resposta num dispositivo específico que interaje ou concorre com o estímulo completando um circuito fechado, ainda que esta resposta seja nula, que também faz parte do domínio. Mas aqui temos um problema que a teorização do nosso brilhante Gilberto atravessa. Não somos seres que podem ser modelados por funções de transferência lineares. Somos seres cibernéticos quantizados, o que envolve uma dinâmica necessária mas não inexorável como ocorreria com um sistema linear. Se o nosso 'clock' pára, nossa consciência suspende-se; e retorna a qualquer momento em que o clock retorne.
Vários "efeitos adversos" podem surgir desse processo em contraste com um sistema linear, entre os quais, o isolamento de registros e a comutatividade dos caminhos informacionais. Isto possibilita a 'representação da representação da realidade' por meio de ensaios internos através de circuitos que podem estar desconectados dos sensores externos, simulando-os -- a regurgitação filosófica, preponderantemente, que você pode chamar (e chama) de estética de pensamento. Mas observe que todos estes registros informacionais são captados da realidade (empirismo); são combinados de maneiras impróprias, isoladamente (processo apenas interno), no processo filosófico; logo, não compõem uma base de perscrutação primeva, anterior ou desconexa da realidade, independente da própria realidade observada; neste processo, aquilo que se torna o que podemos chamar ciência, constroi-se pelo puro acúmulo de empirismos num processo cíclico de realimentação entre mente e realidade, através da linguagem que se complexifica e se torna essa "bruma" ilusória que encobre todo o processo e faz você, como muitos, crer no (ou duvidar do) que esteja por baixo de tudo isto.
Tento, assim, expor melhor como vejo a nossa natureza, para que você possa, cada vez melhor, perceber meu ponto de vista.
Já estou no limite da minha possibilidade de vigília. Vou deixar para outro momento, em breve, as abordagens de pontos específicos em que apontarei que você se mostra idiossincrático (é, agora sou eu que o digo), mas de forma extremamente contraditória mesmo. Saiba disso: é muito difícil confrontar alguém que descarta-se no lixo como eu, tentado convencê-lo de que ele é melhor que o lixo.
Como sempre não tenhamos tanta pressa. Mas não precisa se demorar desnecessariamente também. Se quiser esperar que eu aborde os pontos específicos, tudo bem.