Autor Tópico: Os mesmos Cavalos de Tróia de sempre  (Lida 10776 vezes)

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Offline Pagão

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Re: Os mesmos Cavalos de Tróia de sempre
« Resposta #25 Online: 05 de Março de 2011, 12:08:39 »
A ciência se desenvolveu não por causa da religião, mas APESAR dela.

É verdade a partir de certo ponto... mas se formos às origens talvez vejamos que a ciência beneficia do impulso para compreender a obra divina, para compreender como Deus pensou e fez o Universo e o homem... É que quando se acredita que houve um criador intencional conclui-se que a criação é racional e tem um propósito... logo teria de haver regularidades naturais que a ciência poderia perceber...

Os padres que foram e são cientistas não o são ou foram apesar da sua religião mas muito devido à sua religião... perceber a intenção e obra de Deus foi um incentivo... para eles a leis da natureza eram as leis de Deus... e quando parece que a descoberta científica vai contra os escritos sagrados é só transformá-los em alegóricos naquele ponto concreto.


Nenhuma argumentação racional exerce efeitos racionais sobre um indivíduo que não deseje adotar uma atitude racional. - K.Popper

Offline Feynman

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Re: Os mesmos Cavalos de Tróia de sempre
« Resposta #26 Online: 05 de Março de 2011, 20:16:54 »
Sim, como eu disse anteriormente, esta contribuição é factível de se dar via inspiração, via motivação, nos moldes sugeridos por você. Mas seu modus operandi, ao longo da "ciência normal" (Kuhn), e mesmo da revolucionária, dar-se-á exclusivamente por meios científicos, com suas metodologias, não enumeráveis e não consensuais, mas igualmente não mágico-esotéricas. Newton pode ter tido todas as motivações que teve como sendo oriundas da religião (o que não é verdade, basta dar uma folheada em seu livro "Óptica" e em muitos trechos do Principia), mas os procedimentos adotados ao longo da pesquisa em si não se desarrolam por uma suposta contribuição religiosa. É neste sentido (e em mais um, vide o caso Galileu) que eu digo que a ciência se desenvolve apesar da religião. Pois mesmo ele sendo religioso, as metodologias que dão norte à sua pesquisa serão de uma outra natureza, de uma outra forma de proceder e pensar.

Padres podem ter todas as motivações (agora sim) vindas da religião. Mas enquanto estiverem fazendo ciência (a única possível), serão pesquisadores científicos. Sua bíblia será totalmente inútil nesta empreitada. Naturalmente, a igreja pode financiar muitas pesquisas, e mesmo muitas delas sérias, não tenho dúvidas disso a julgar pelos padres astrônomos cuja produção já li (a começar por George Lemaître). Mas isto não é o tipo de contribuição que estamos discutindo (acho).

Uma coisa é se inspirar e literalmente dar dinheiro para as pesquisas... outra, muito diferente, é pesquisar. E, aqui, vale tudo o que eu disse.
"Poetas dizem que a Ciência tira toda a beleza das estrelas - meros globos de átomos de gases. Eu também posso ver estrelas em uma noite limpa e sentí-las. Mas eu vejo mais ou menos que eles?" - Richard Feynman

Offline Cientista

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Re: Os mesmos Cavalos de Tróia de sempre
« Resposta #27 Online: 06 de Março de 2011, 13:20:28 »
Olha, por muitas vezes procuro discernir os legítimos interesses de religiosos que clamam por respeito, de atitudes obscurantistas que não merecem respeito algum. É assim que não posso deixar de comentar brevemente a propaganda "anti-neo-ateísmo":



"Contribuições que religiosos deram para a ciência"? Isso é uma grande besteira que assola mentes conciliadoras, para não falar das subjugadas. Querer inputar à religião (como não se afirma na propaganda, mas se deseja explicitamente) uma láurea de contribuição à ciência é ridículo. Copérnico e Galileu eram religosos... e foram duramente recriminados pela religião. O que isso mostra? A ciência se desenvolveu não por causa da religião, mas APESAR dela. Newton falava em deus... mas sua agenda era executada com ciência e matemática: não foi sua religião que lhe deu a taxa de variação temporal do momentum... não foi sua religião que lhe deu a força proporcional às massas e inversamente ao quadrado da distância entre elas... não foi sua religião que lhe deu o "método das fluxões" - FOI SUA CIÊNCIA, FOI SUA PERSCRUTAÇÃO! O que mostra que, É CLARO, o religioso pode fazer ciência, e pode, É CLARO, contribuir com a ciência. TODOS que a estudam podem fazer isso, não importa suas crenças. Mas suas contribuições serão em função do conhecimento obtido em sua formação, em sua posição de perscrutador. Suas crenças religiosas não irão determinar a idealização de uma única função matemática, uma única teoria de alta correlação empírica e grande força heurística: SEUS CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DE CIÊNCIA E MATEMÁTICA O FARÃO!

O caro Francis Collins não deu sua contribuição por ser religioso, e sim por ser um profissional desta área. Não existe uma única frase da bíblia, uma única palavra de seus ensinamentos que auxiliem a determinação da estrutura em dupa hélice do ácido desoxirribonucleico e suas relações com o fenótipo. Isto é fruto direto da perscrutação científica, seja ela vinda de um religioso ou não.

Assim, embora EVIDENTEMENTE religiosos possam dar importantes contribuições à ciência, não o fazem porque são auxiliados por isso. E sim pois mantêm ambas idiossincrasias em suas vicissitudes. Sua religião os ajudam tanto em seu trabalho como cientistas quanto seu conhecimento sobre os pormenores do mundo futebolístico, e tanto quanto a música auxilia no trabalho de um cientista que seja, também, músico. Podem até adventar a inspiração que isto proporciona (como fazia Einstein, com a música) , mas daí a afirmar que isto determina diretamente se os métodos de sequenciamento genético, por exemplo,  são feitos de forma mais ou menos otimizada, por ser ou não crente, descamba nos atoleitos filosóficos pueris onipresentes da crença passiva, da fé encabrestada.

A religião ajuda a ciência na medida em que se recolhe à sua insignificância perante o conhecimento da natureza,  e deixa aquela trabalhar. Pessoas crentes podem contribuir com a ciência... mas por serem pessoas... e não por serem religiosas.

Existem, sim, muitas e importantes incompatibilidades entre ciência e religião. Estas propagandas são aleijadas epistemologicamente. Tentam clarificar um ponto com a perpetuação de um mito de conciliação. Mas mitos são sua especialidade, não é mesmo?
Eu poderia escrever um cartaz com a foto do Robert, dizendo: Você sabia? (a antiga rádio-relógio fazia intensivo uso dessa pergunta antes da 'invasão'... algumas coisas pioraram muito...) que o físico *americano* (tomem este *americano* pelo seu status de religião patriótica) Robert Openheimer foi o chefe do Projeto Manhatan que, pela primeira vez, "nos deu" a formidável bomba atômica?

É uma das muitas contribuições que americanos deram para a ciência/resto do mundo. Não há incompatibilidade entre americanos e o "resto do mundo" (mas que somos os "ferderais", nós americanos, somos...). Não seja pego por propaganda neoantiamericanista.

Obs.: Não é para associar ciência com "resto do mundo". Não foi um paralelo perfeitamente exato o que intentei fazer. Mas deve deixar claro o que almejei apontar.

Havia alguém, só um alguém (diante do "chefe", todos são só mais um alguém), no grupo liderado pelo Robert. Um "obscuro" (diante do "chefe", todos são obscuros)... Enrico Fermi. Mas o chefe era o Robert. É claaaaaaaaaaro que o fato de ele ser americano não teve nenhuma influência nisso. Foi a grande competência científica dele que o pôs no cargo. Mas quem foi mesmo o grande responsável pela construção do primeiro reator nuclear do mundo...? Isso, quase ninguém da patuléia (reaprendi essa com o Feynman) sabe. E quem terá sido o grande responsável efetivo pela construção da primeira bomba? É algo que me pergunto com frequência...

O fato de alguém chefiar um grupo de pesquisas não significa que este seja um cientista, muito menos, que seja *o cientista do grupo*. Pode ser um simples cargo eletivo em que o ocupante foi muito mal eleito. De qualquer forma, catalogar genes nem é fazer ciência embora contribua para que se possa fazê-la. Tycho Brahe não fez ciência (pelo menos não catalogando dados astronômicos) mas contribuiu para que Kepler a fizesse. E este só a fez quando finalmente entendeu que tinha que parar de tentar introduzir sua ilusão mental de "perfeição geométrico-divina" na realidade. Contribuir para ciência e fazer ciência são duas coisas completamente diferentes. Eu já disse aqui, em outro tópico, que até o agricultor matuto (que, quase certamente -- acusem-me de preconceito o quanto quiserem -- será, por isso mesmo -- matutez --, religioso) que cultiva alimentos para um cientista alimentar-se contribui para a ciência. O que é necessário avaliar é o balanço do quanto religiosos contribuiram para a ciência e do quanto prejudicaram (E PREJUDICAM) o desenvolvimento da mesma. Não é muito difícil fazer este balanço histórico. Agora, "cientista religioso", nunca vi nem... (sai pra lá!), eu só ouço falar.

Offline Cientista

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Re: Os mesmos Cavalos de Tróia de sempre
« Resposta #28 Online: 06 de Março de 2011, 13:53:56 »
"Contribuições que religiosos deram para a ciência"? Isso é uma grande besteira que assola mentes conciliadoras, para não falar das subjugadas. Querer inputar à religião (como não se afirma na propaganda, mas se deseja explicitamente) uma láurea de contribuição à ciência é ridículo.
Não estarias querendo, na verdade, dizer que besteiras seriam "contribuições que as *religiões* *TERIAM* dado à ciência?" Que religiosos contribuiram para a ciência, *até eu* reconheço.


Copérnico e Galileu eram religosos...
Em que você se baseia para afirmar que eles eram religiosos? Nas conclusões de historiadores? Na(s) "bíblia(s)" (leia-se, qualquer escrito em que eles próprios ou quem quer que seja, mais, tenham "decretado", sem evidências, que os mesmos eram religiosos)? Na religiosidade de suas famílias/origens? Na *sua* (sua, Feynman DO CC) religiosidade quando criança/jovem (ou agora)? Você é religioso agora? Por que? "Seria religioso" ao tempo dos citados? Por que?

Eu duvido inteiramente de que esses e alguns outros mais fossem religiosos. Não nutro nenhum interesse por este esporte lamentavelmente derrocado por interesses econômicos e pelos "comportamentos anômalos" que desencadeia em muitos de seus cultuadores, chamado futebol. Não torço para time algum. Mas, quando muitos me perguntam qual o meu time, eu respondo Botafogo porque é o time pelo qual o meu pai torceu a vida inteira. Não quero nem perder meu tempo explicando porque não tenho "time do coração". Além do mais, tornou-se cultural que "quem não gosta de samba, futebol, café e outras coisas mais (como eu), bom sujeito não é..." Quanto a religião, para muitos que me perguntam eu respondo: "sou católico", religião cultuada por toda a minha origem familiar. Faço isso desde a minha mais tenra infância e nunca acreditei em nenhum deus. Vocês, daqui, conhecem mais da minha realidade que a maior parte do resto do mundo que me conhece. Ou vocês acham que eu sou besta de sair por aí dizendo para todo mundo que deuses não existem? É, eu minto muito. Faço até algo mais que isso, às vezes: invento teorias, concepções e interpretações religiosas para que não duvidem nem um pouco de mim. E não tenho nenhuma vergonha disso em si. O que me toma de vergonha é o precisar fazer isso, ou seja, tenho vergonha de pertencer à espécie humana.


e foram duramente recriminados pela religião. O que isso mostra? A ciência se desenvolveu não por causa da religião, mas APESAR dela.
É só isso que isso mostra, no seu entender? Que tal eles "continuarem" (se é que foram mesmo em algum momento) sendo religiosos APESAR de serem tão duramente recriminados pela religião ("outros" religiosos)?


Newton falava em deus...
Aqui, você disse muito bem: "Newton *falava* em deus... " (embora eu nunca tenha ouvido ele falando, não duvido nada que tenha falado; até eu falo). Agora, falar em deuses (ou escrever sobre deuses), com qualquer direcionamento que as palavras tenham, significa acreditar em deuses?


O que mostra que, É CLARO, o religioso pode fazer ciência, e pode, É CLARO, contribuir com a ciência.
Concordo plenamente, quanto a *contribuir*. Cada refeição que alimentou o grande Feynman, por exemplo, foi, sem dúvida alguma, uma preciosíssima contribuição para a ciência produzida por muitos religiosos. E, como digna e honestamente fez, Einstein, devemos dar este grande reconhecimento a todos estes numerosos contribuintes da ciência. Por outro lado, se eles se beneficiam mais do que contribuem ou se atrapalham mais do ajudam, é outra avaliação.

Agora, quanto a *fazer ciência*, É CLARO que religioso algum consegue.


TODOS que a estudam podem fazer isso, não importa suas crenças.
TODOS que a estudam e a EN TEN DEM, PERDEM suas crenças. Se você é um estudioso de ciência e continua crente, volte pro banco escolar porque não entendeu nada.


Mas suas contribuições serão em função do conhecimento obtido em sua formação, em sua posição de perscrutador. Suas crenças religiosas não irão determinar a idealização de uma única função matemática, uma única teoria de alta correlação empírica e grande força heurística: SEUS CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DE CIÊNCIA E MATEMÁTICA O FARÃO!
Deixando de lado o restante dessa citação...

Mais uma vez, você usando a expressão 'força heurística'. Seria essa uma 5ª força universal de que não me inteirei? Assim, você atribui "propriedade heurística" a uma força e não força a uma heurística. A heurística pode ser forte mas uma força, que eu saiba, não pode ser heurística. Por isso eu te disse, uma vez, prefiro usar a expressão 'força *da* heurística'. Você pode conceber isso como simples chatice da minha parte mas as palavras têm um poder insidioso de confundir muito maior do que, normalmente, sequer, supomos. Destroem nossos pensamento sorrateiramente. Quando "damos por nós", estamos filosofando. Tome muito cuidado com isso. É uma das razões porque religiosos não conseguem fazer ciência, não importa o quanto a "estudem".


Isso está interessante mas tenho que dar uma parada agora. Se eu puder, continuo mais tarde.

Offline Zeichner

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Re: Os mesmos Cavalos de Tróia de sempre
« Resposta #29 Online: 06 de Março de 2011, 16:13:32 »
O que me incomoda é a palavrinha neoateísmo.

Aonde existe neo? Onde que se tem algo novo na negação? É pegar pegar a simpatia de petralha desavisado achando que é uma nova forma de neoliberalismo?

Offline Feynman

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Re: Os mesmos Cavalos de Tróia de sempre
« Resposta #30 Online: 06 de Março de 2011, 16:54:21 »
O fato de alguém chefiar um grupo de pesquisas não significa que este seja um cientista, muito menos, que seja *o cientista do grupo*. Pode ser um simples cargo eletivo em que o ocupante foi muito mal eleito.

Concordo com isso.

Agora, "cientista religioso", nunca vi nem... (sai pra lá!), eu só ouço falar.

Bem, eu também nunca vi, nem conversei com um. Apenas estou sujeito às informações que temos a respeito do que estes ("supostos", como você quer) cientistas religiosos escrevem, ou do que escrevem sobre estes. Não temos modos de saber ao certo o que são. Neste sentido, é claro que nem sequer podemos dizer que o papa é religioso. Apenas inferimos isso com base no que sabemos dele. Mas é claro que não estou (e nem quero, no momento) indo a fundo em sua tese de que cientistas não são crentes nem mesmo quando dizem que o são. Ao contrário de muitos por aqui, queria que soubesses que simpatizo com a idéia. Mas de um modo mais sutil e menos peremptório.

"Contribuições que religiosos deram para a ciência"? Isso é uma grande besteira que assola mentes conciliadoras, para não falar das subjugadas. Querer inputar à religião (como não se afirma na propaganda, mas se deseja explicitamente) uma láurea de contribuição à ciência é ridículo.
Não estarias querendo, na verdade, dizer que besteiras seriam "contribuições que as *religiões* *TERIAM* dado à ciência?" Que religiosos contribuiram para a ciência, *até eu* reconheço.

Sim. Ao menos neste seu modo de pensamento, que espero que outros possam discernir do que já foi dito.

Copérnico e Galileu eram religosos...
Em que você se baseia para afirmar que eles eram religiosos? Nas conclusões de historiadores? Na(s) "bíblia(s)" (leia-se, qualquer escrito em que eles próprios ou quem quer que seja, mais, tenham "decretado", sem evidências, que os mesmos eram religiosos)? Na religiosidade de suas famílias/origens? Na *sua* (sua, Feynman DO CC) religiosidade quando criança/jovem (ou agora)? Você é religioso agora? Por que? "Seria religioso" ao tempo dos citados? Por que?

Como eu disse, não temos como saber se o próprio papa é religioso, para além das inferências ordinárias.

e foram duramente recriminados pela religião. O que isso mostra? A ciência se desenvolveu não por causa da religião, mas APESAR dela.
É só isso que isso mostra, no seu entender? Que tal eles "continuarem" (se é que foram mesmo em algum momento) sendo religiosos APESAR de serem tão duramente recriminados pela religião ("outros" religiosos)?

Não, não disse que "só isso". Não fiz uma análise espectral das possibilidades. Só manti o foco em uma (a principal, neste contexto).

Newton falava em deus...
Aqui, você disse muito bem: "Newton *falava* em deus... " (embora eu nunca tenha ouvido ele falando, não duvido nada que tenha falado; até eu falo). Agora, falar em deuses (ou escrever sobre deuses), com qualquer direcionamento que as palavras tenham, significa acreditar em deuses?

Não, não significa.

[...]quanto a *fazer ciência*, É CLARO que religioso algum consegue.

Pelo menos não enquanto religioso. Parece-me cabível, a idéia. Mais uma vez, é preciso conhecer um pouco de suas teses, Cientista, para aceitarmos isso. Novamente, espero que possam discernir.

TODOS que a estudam podem fazer isso, não importa suas crenças.
TODOS que a estudam e a EN TEN DEM, PERDEM suas crenças. Se você é um estudioso de ciência e continua crente, volte pro banco escolar porque não entendeu nada.

Aqui eu quero estar contigo. Mas apenas quero. Parece-me que o que se percebe, na prática, frustra um pouco isto.

Mas suas contribuições serão em função do conhecimento obtido em sua formação, em sua posição de perscrutador. Suas crenças religiosas não irão determinar a idealização de uma única função matemática, uma única teoria de alta correlação empírica e grande força heurística: SEUS CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DE CIÊNCIA E MATEMÁTICA O FARÃO!
Deixando de lado o restante dessa citação...

Mais uma vez, você usando a expressão 'força heurística'. Seria essa uma 5ª força universal de que não me inteirei? Assim, você atribui "propriedade heurística" a uma força e não força a uma heurística. A heurística pode ser forte mas uma força, que eu saiba, não pode ser heurística. Por isso eu te disse, uma vez, prefiro usar a expressão 'força *da* heurística'. Você pode conceber isso como simples chatice da minha parte mas as palavras têm um poder insidioso de confundir muito maior do que, normalmente, sequer, supomos. Destroem nossos pensamento sorrateiramente. Quando "damos por nós", estamos filosofando. Tome muito cuidado com isso. É uma das razões porque religiosos não conseguem fazer ciência, não importa o quanto a "estudem".

De um modo ortopoiético, e literal, concordo contigo. Apenas uso, aqui, uma expressão grávida de significados já ordinários do vocabulário epistemológico científico, no caso, Imre Lakatos. Em sua Metodologia dos Programas de Pesquisa, Lakatos usa a expressão "força heurística" para denotar uma teoria com alto grau explicativo e, principalmente, preditivo. Podes não gostar do termo, mas também não gosto da denominação "Teoria da Relatividade", mas a uso mesmo assim, por razões práticas de comunicação em uma cultura científica que já absorveu seus significados, e mantém este apanágio.
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Offline 3libras

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Re: Os mesmos Cavalos de Tróia de sempre
« Resposta #31 Online: 09 de Março de 2011, 01:42:52 »
esse argumento é bem malicioso.

mas é bom que os ateus e agnósticos de uma forma geral não se sintam compelidos a usá-los.

já vi argumento parecidos do ponto de vista contrário. celebrando "o ateísmo" de cientistas e em como seria "impossível" eles terem feito ciência caso não o fossem.

 ledo engano.
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Offline Cientista

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Re: Os mesmos Cavalos de Tróia de sempre
« Resposta #32 Online: 20 de Março de 2011, 11:34:00 »
Feynman, eu já estava com boa parte disso pronto na semana passada mas era tarde e eu não consegui, pelo meu esgotamento, fazer as edições. Me desculpe.


Newton falava em deus... mas sua agenda era executada com ciência e matemática: não foi sua religião que lhe deu a taxa de variação temporal do momentum... não foi sua religião que lhe deu a força proporcional às massas e inversamente ao quadrado da distância entre elas... não foi sua religião que lhe deu o "método das fluxões" - FOI SUA CIÊNCIA, FOI SUA PERSCRUTAÇÃO! O que mostra que, É CLARO, o religioso pode fazer ciência, e pode, É CLARO, contribuir com a ciência. TODOS que a estudam podem fazer isso, não importa suas crenças. Mas suas contribuições serão em função do conhecimento obtido em sua formação, em sua posição de perscrutador.
Um perscrutador (científico?) que foge das mais cruciais questões com o argumento ad hoc absolutista esfarrapado (E ERRADO, MENTIROSO) de que elas estão fora do escopo/alcance da ciência? Claro que vou acreditar nisso... Mas é só porque vocês me garantem, tá OK? Confio cegamente em vocês.

Agora, falando sério, porque brincadeira tem hora mas seriedade, não, fora do alcance da ciência, só o que estaria fora do âmbito da realidade. Se qualquer crente admitir que deuses estão *fora do âmbito da realidade* e *NÃO* do alcance da ciência pode haver um início de acordo. Um "cientista" que crê que haja algo fora do âmbito da ciência não sabe nem o que ciência é, quanto mais fazê-la. E quem acredita que haja algo fora do âmbito da realidade... bem, com esse não dá nem para começar a discutir.

O fato é que já, *há muito tempo* que está cientificamente plenamente *comprovado* que deuses não existem. Quem acredita que isso não está comprovado, ainda está fugindo da realidade. Apelar para figuras matemáticas abstratas, como as assíntotas, ou para mudanças de paradigma divino são indícios claros dessa fuga. Qualquer cientista reconhece os fatos científicos e não foge deles. Quem foge dos fatos não faz ciência porque exercê-la é, exatamente, não fugir dos fatos (FATOS, não relatos pessoais ou históricos, OK? É um fato que existem escritos místicos atribuídos a Newton mas "isso significa que ele acreditava em todas as besteiras que escreveu" NÃO é um fato, é uma conclusão a partir de um fato e é aí que o perigo mora pois a maioria confunde as conclusões que tira dos fatos com os fatos em si e isso só é científico se as conclusões forem, também, fatos em si, com comprovações independentes dos "fatos que as geraram", ou qualquer luz diferente no céu será um disco voador, ou qualquer palavra de político...).



O caro Francis Collins não deu sua contribuição por ser religioso, e sim por ser um profissional desta área. Não existe uma única frase da bíblia, uma única palavra de seus ensinamentos que auxiliem a determinação da estrutura em dupa hélice do ácido desoxirribonucleico e suas relações com o fenótipo. Isto é fruto direto da perscrutação científica, seja ela vinda de um religioso ou não.
Isto é fruto direto das refinadas técnicas de análise do ADN. A "perscrutação científica" que você aponta teve, primeiro, que atravessar uma terrível barreira religiosa antes de ser aceita por religiosos, como é da própria natureza desse processo. Não é a "ciência do ADN", é a tecnologia do ADN que não permite mais fuga. Hoje o Collins "não se opõe" porque não há mais um lugar nas proximidades para se esconder, porque a tecnologia não permite mais (normalmente, a fuga -- hipótese ad hoc -- usada nestes casos é que "deuses deram inteligência ao homem para isso mesmo", isto é, para demonstrar que deuses não existem e serem, por isso, queimados em fogueiras por crentes -- não depois que os crentes conseguem descobrir que aquelas "coisas malígnas" que contestam deuses podem ser mais úteis que os próprios deuses, é claro, e mudarem as determinações de seus deuses de modo a poderem aproveitá-las) e não porque ele "estudou ciência".

Você está certo em afirmar que nada na bíblia há que auxilie o estudo da genética mas omitiu/esqueceu de explicitar que há muitas coisas que obstaculam fundamentos mais basilares da genética e de toda a ciência. Mas... para que ter que escolher quando se pode ficar com os dois, não é? Vivemos num mundo que mostra o tempo todo, assim como os políticos, que não é necessário nem desejável ou mesmo vantajoso ser honesto, não é? É a evolução, a seleção natural, a sobrevivência do mais forte mentiroso. O que pode haver de errado nisso?



Assim, embora EVIDENTEMENTE religiosos possam dar importantes contribuições à ciência, não o fazem porque são auxiliados por isso. E sim pois mantêm ambas idiossincrasias em suas vicissitudes.
Você está falando do tal dupli-tripli-multi-pensamento? Já que ninguém mais esclareceu para mim esta hipótese ad hoc, talvez você, Feynman, possa fazê-lo. Você pode provar que isso existe, por favor? Aqui me disseram que eu afirmar que Newton mentia e zombava descaradamente de todos com as asneiras místicas dele é que seria uma hipótese ad hoc. Em que essa minha "hipótese" seria mais ad hoc que a do multipensamento? Será que é só porque eu não sou e não tenho os belos olhos do George Orwell? Ou é porque essa ideia adequa-se melhor aos desejos da maioria? Afinal, provar, de um modo geral, que pessoas mentem é facílimo (embora, especificamente, nem sempre) agora o tal duplipensamento... há como evidenciar que isso existe afora ou acima da mentira? É possível diferenciá-lo da mentira? Não quero experiências pessoais, quero evidências.

"mantêm ambas idiossincrasias em suas vicissitudes" soa por demais poético, desejoso, fugidio e pouco científico.



Sua religião os ajudam tanto em seu trabalho como cientistas quanto seu conhecimento sobre os pormenores do mundo futebolístico, e tanto quanto a música auxilia no trabalho de um cientista que seja, também, músico. Podem até adventar a inspiração que isto proporciona (como fazia Einstein, com a música) , mas daí a afirmar que isto determina diretamente se os métodos de sequenciamento genético, por exemplo,  são feitos de forma mais ou menos otimizada, por ser ou não crente, descamba nos atoleitos filosóficos pueris onipresentes da crença passiva, da fé encabrestada.
Se a religião não ajuda não é problema, desde que não atrapalhe, não é mesmo?



A religião ajuda a ciência na medida em que se recolhe à sua insignificância perante o conhecimento da natureza,  e deixa aquela trabalhar. Pessoas crentes podem contribuir com a ciência... mas por serem pessoas... e não por serem religiosas.
Muito bonito, enfático e lancinante, Feynmann, mas, lamentavelmente, a religião não pode ajudar (nem atrapalhar) nada, tampouco, tomar atitudes como "recolher-se à sua própria insignificância" (isso soou um tanto áspero de sua parte -- normalmente, eu é que tenho sido assim, aqui) pela simples razão de que *não existe*. É só uma abstração na qual as pessoas jogam as culpas que só são imputáveis a elas mesmas. É triste quando se usa abstrações como desculpa para fugas mas é uma das mais comuns atitudes humanas. Quem pode tomar essas atitudes são os religiosos. É inútil e desonesto fugir com subterfúgios abstratos. Como quando crentes (e outros, não necessariamente crentes, também, afinal, o "argumento" é bonito e de bastante efeito) alegam que não odeiam homossexuais, mas homossexualismo. Ora, que lorota braba! Não existe homossexualismo sem homosexual, portanto, não existe homossexualismo além da abstração. Como se pode odiar uma abstração (especialmente sem odiar o objeto-fonte da abstração -- é o objeto que gera a abstração e não o contrário)? Tudo isso não passa de paralogismos bestas e, nos piores casos, sofismas imperdoáveis. Quando dizemos coisas como: vamos combater o crime, vamos combater a corrupção, não estamos dizendo nada que faça sentido. Se não começarmos a combater *os criminosos*, *os corrúptos* (tudo criminoso mesmo) não vamos fazer nada. Inventam-se fantasmagorias para deturpar toda a realidade e fomentar loucuras como a de que "pressões" que a sociedade exerce sobre certos indivíduos é o que os conduzem a cometer crimes, a ser criminosos. Um ser que está lutando pela sua sobrevivência não é um criminoso, independentemente de sua consciência. A definição de criminoso não pode incluir luta pela sobrevivência. Essa inclusão é uma atitude sórdida que só faz a articialidade de tirar a culpa do culpado e colocá-la em quem não a tem, em quem não tem nenhuma responsabilidade por aquilo. O mesmo ocorre com a ciência que, também, é só uma abstração. Ela não fará nenhum trabalho sozinha e a crença em que ela possa é tão crença quanto qualquer outra. Toda filosofia é religiosa. Abstrações não existem sem os abstraidores, traidores de si mesmos, dos outros e da própria aceitação da realidade quando lançam suas culpas nas abstrações que criam. Cada ser humano deveria aprender a parar de fugir de suas responsabilidades. Digo deveria porque não fujo da realidade de que nada indica que se possa esperar por isso.



Existem, sim, muitas e importantes incompatibilidades entre ciência e religião. Estas propagandas são aleijadas epistemologicamente. Tentam clarificar um ponto com a perpetuação de um mito de conciliação. Mas mitos são sua especialidade, não é mesmo?
Não, Feynman. Há antipodal incompatibilidade entre ciência e religião e estas propagandas não são aleijadas epistemologicamente; são sustentadas epistemologicamente. Crentes jamais querem conciliação. Isto não é próprio da natureza da religiosidade e da fé. Você disse muito bem: é um mito e é a "especialidade" de crentes (não ciência). Quem está acreditando nisso, já está caindo na propaganda deles.


Acho que você, Feynman, e a maioria de outros daqui não entenderam a essência da questão posta pelos religiosos (e isso constitui-se, entendo eu, num verdadeiro desrespeito até para com os religiosos e, muito pior, numa "força" para a "causa" deles). O que eles querem é destituir ciência de 'poder desdivinizante' e conseguem toda vez que alguém afirma que deuses não estão no escopo/alcance da ciência. O fundamental não é mostrar que a "religião ajuda o cientista", mas demonstrar que a *"ciência não ajuda o ateu"*. Essa é toda a questão aqui. Ciência é "a fonte" e o repositório de todo conhecimento real de que a humanidade dispõe. Os crentes não são bobos nesse quesito e sabem disso muito bem (demorou, mas finalmente). Tudo o que eles querem é demonstrar que "lidar com ciência" (que eles definem como ser cientista) não destitui o indivíduo de suas crendices. E "lidar com ciência" não destitui mesmo; o que destitui é *ser* cientista (é pensar cientificamente). O objetivo deles através de campanhas como essa é, tão simplesmente, provar que se um cientista não é "convencido pela ciência" de que deuses não existem, isso é fortíssima evidência de que existem. E se isso fosse verdadeiro, eles teriam muita razão. E, claro que cientistas crentes são provas da segunda proposta (de que "ciência não ajuda o ateu"). É tudo o que "eles" (quem são, exatamente, "eles", afinal... é algo que tenho me perguntado nos últimos tempos) querem, nada mais.

Você acha que eles não sabem disso que você expôs? Se você acredita que haja um "reino" fora da ciência mas ainda dentro de alguma possível "realidade" (ainda que "diferente" da *realidade*) onde deuses possam ser considerados com liberdade sem serem importunados pela ciência, você está concordando, então, com eles. E isso é *tudo o que eles querem*. Tudo o que você diz, aqui, vem em favor dos religiosos na campanha deles, não contra, como está supondo. Vou repetir: eles não querem provar que a religião os ajudou a "ser cientistas" e "obter resultados"; querem mostrar que a ciência não os demoveu de ser religiosos e sugerir, implicita ou explicitamente, que conclusões científicas não indicam inexistência de deuses. Só isso.




Sabe, às vezes me sinto como naquele filme "A Coisa", onde as pessoas comiam "The Stuff" (nome original do filme, inclusive) e ficavam perturbadoramente imbuídas de uma realidade centrada em comer mais Stuff e não perceber esta realidade.



E, naturalmente, começavam a jantar Stuff, comer Stuff no café da manhã e em todas as refeições, e perder totalmente o discernimento das coisas. Para mim, religiosos são comedores de Stuff.

 :D
Incrível! Sinto a mesma coisa. E nem sempre exatamente em relação a crentes. O que me impressiona é você acreditar que religiosos, ainda que "comedores de Stuff" com todos os efeitos colaterais que você aponta aqui, são capazes de fazer ciência. Você... não degustou esta "iguaria", degustou, Feynman?

Para mim, religiosos são como comedores de Stuff e muitos pseudo-não-religiosos também.




A ciência se desenvolveu não por causa da religião, mas APESAR dela.

É verdade a partir de certo ponto... mas se formos às origens talvez vejamos que a ciência beneficia do impulso para compreender a obra divina, para compreender como Deus pensou e fez o Universo e o homem... É que quando se acredita que houve um criador intencional conclui-se que a criação é racional e tem um propósito... logo teria de haver regularidades naturais que a ciência poderia perceber...

Os padres que foram e são cientistas não o são ou foram apesar da sua religião mas muito devido à sua religião... perceber a intenção e obra de Deus foi um incentivo... para eles a leis da natureza eram as leis de Deus... e quando parece que a descoberta científica vai contra os escritos sagrados é só transformá-los em alegóricos naquele ponto concreto.
Se formos às origens, o que descobriremos é a luta hercúlea de pioneiros da ciência contra pensadores mágicos. Essa sua hipótese é uma inversão total da realidade. Essa ideia espúria de possível associação entre pensamento mágico e científico é muito recente. Ela surge, principalmente, bem depois da revolução industrial. É que quando conclui-se que há um criador absoluto de tudo, nenhuma regularidade é garantida (nem precisa ser um criador absoluto de tudo; é muito comum fabricantes colocarem em seus manuais: "sujeito a alterações sem aviso prévio") e não pode haver nem faz sentido fazer ciência. Para que haja ciência é mister que as regularidades naturais não sejam produtos intencionais.

Os "padres que foram e são cientistas" pertecem, basicamente, a duas categorias: os mortos de fome, como Mendel, que encontraram um meio de sobrevivência na igreja e os infiltrados, como Lemaître, que precisam conhecer melhor o terreno "inimigo" para combatê-lo melhor.

Offline Cientista

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Re: Os mesmos Cavalos de Tróia de sempre
« Resposta #33 Online: 20 de Março de 2011, 12:37:43 »
Newton pode ter tido todas as motivações que teve como sendo oriundas da religião (o que não é verdade, basta dar uma folheada em seu livro "Óptica" e em muitos trechos do Principia), mas os procedimentos adotados ao longo da pesquisa em si não se desarrolam por uma suposta contribuição religiosa. É neste sentido (e em mais um, vide o caso Galileu) que eu digo que a ciência se desenvolve apesar da religião. Pois mesmo ele sendo religioso, as metodologias que dão norte à sua pesquisa serão de uma outra natureza, de uma outra forma de proceder e pensar.
É verdade ou não é verdade "as motivações religiosas de Newton"? Basta ver o que ele fez, "sutilmente", ao ser obrigado a fazer certas alterações na segunda edição dos Principia, sob acusações de ter sido por demais materialista, assim como a "lendária"(?) frase de Galileu: "no entanto, ela gira". Convenhamos por questão de justiça, Feynman, era impossível não ser "religioso" naqueles tempos. Hoje ainda é difícil.



Uma coisa é se inspirar e literalmente dar dinheiro para as pesquisas... outra, muito diferente, é pesquisar. E, aqui, vale tudo o que eu disse.
Ótimo. Pesquisar com a devida isenção que só o pensamento científico propicia.




Agora, "cientista religioso", nunca vi nem... (sai pra lá!), eu só ouço falar.

Bem, eu também nunca vi, nem conversei com um.
Não foi a impressão que você deu aqui:

../forum/topic=22839.75.html#msg523126

Foi até poético, poxa! Não me faça perder a fé em você, cara. Não me deixe sem chão.



Apenas estou sujeito às informações que temos a respeito do que estes ("supostos", como você quer) cientistas religiosos escrevem, ou do que escrevem sobre estes.
Ótimo. Assim como todo e qualquer crente, apenas está sujeito às "informações" que tem sobre seu deus preferido, escritas (inventadas imaginariamente) por outros e, às vezes, por eles próprios.



Não temos modos de saber ao certo o que são.
Pode ser. Mas, ao menos, temos duas alternativas: aceitar dogmaticamente o que está escrito/relatado historicamente ou analisar a questão à luz da razão. Percebo que é possível que alguns não compreendam bem isso, acostumados que possam estar em não questionar, a priori e *por natureza* (embora tenham aprendido a questionar pelo uso de métodos e "argumentações antifalaciosas"), as coisas que se apresentam a partir de mentes humanas. Pode sempre haver um tempo/circunstância em que não tenhamos nenhum motivo para duvidar de algo. Assim que foi, sem dúvida e sem embargo, aceita a religiosidade de indivíduos totalmente incompatíveis com ela, da mesma forma que literaturas religiosas foram e são aceitas por indivíduos que não vêem motivos para duvidar do que está nelas, embora o que ali está seja totalmente incompatível com a realidade. A conclusão de que certos baluartes da ciência do passado eram religiosos não foi uma conclusão objetiva, fundamentada em investigação metódica isenta; foi uma conclusão ao sabor do vento, ou seja, nem mesmo foi uma conclusão, mas uma aceitação incondicional do que se apresenta. Quando surgem questionadores das aceitações incondicionais, como no caso da insurgência de realistas questionando dogmas religiosos, começam a surgir os inerciais movimentos de fuga para a manutenção do statu quo, que se manifestam por meio de hipóteses ad hoc (como o duplipensamento), mudanças arbitrárias de paradigma (como a desliteralização da Bíblia), esquivas radicais (como a criação arbitrária de uma "separação" por meio de um fictício "domínio além da ciência" que não poderia ser alcançado por ela), pela negação total do próprio passado e todas as evidências e argumentações contrárias e por aí vai. Desta forma, considero inconcebível a proposta do duplipensamento como justificativa para não desarraigar-se do dogma. Se alguém afirma que isto não é uma hipótese ad hoc, minha conclusão é que devo estar falando com um fanático acientificista.



Neste sentido, é claro que nem sequer podemos dizer que o papa é religioso. Apenas inferimos isso com base no que sabemos dele.
Ótimo. Se, "neste sentido", sequer podemos dizer que o papa é religioso (eu, particularmente, penso que não é), como pode alguém afirmar, peremptoriamente, que os citados cientistas eram?



Mas é claro que não estou (e nem quero, no momento) indo a fundo em sua tese de que cientistas não são crentes nem mesmo quando dizem que o são. Ao contrário de muitos por aqui, queria que soubesses que simpatizo com a idéia. Mas de um modo mais sutil e menos peremptório.
Nem intenciono arrastar ninguém a fundo em minha "tese". Apenas o reconhecimento de que ela é respeitável, não apenas enquanto inalienável direito meu formulá-la, mas também em vista de que opõe-se a inferentes conclusões não estritamente científicas que, a princípio e, principalmente, em princípio, não são mais válidas que ela, se válidas, pois baseiam-se, tão somente, em relatos que contrariam toda razão científica. E, se a única "evidência" científica contrária à minha "tese" for a hipótese ad hoc do duplipensamento, sou obrigado a reconhecer minha "tese" como mais válida em decorrência de sua natureza muito mais racional.

Aqui, trataram-me como se eu fosse um proselitista dogmático às avessas apenas por eu pôr em dúvida inferências fundadas em "evidências" históricas não empíricas, sem que eu nem mesmo estivesse minimamente interessado em doutrinar alguém. E devo ressaltar que o modo como fui atacado pode ser descrito como fortemente proselitista. Fui desrespeitado só por não aceitar conclusões cujas bases não podem ser consideradas científicas, assim como ateus são desrespeitados por religiosos porque duvidam de algo, para o qual, as únicas evidências são relatos "históricos" e pessoais e que contraria, frontalmente, nem mesmo a lógica, mas as próprias razão e realidade.

Offline Dbohr

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Re: Os mesmos Cavalos de Tróia de sempre
« Resposta #34 Online: 20 de Março de 2011, 12:46:27 »
Aqui, trataram-me como se eu fosse um proselitista dogmático às avessas apenas por eu pôr em dúvida inferências fundadas em "evidências" históricas não empíricas, sem que eu nem mesmo estivesse minimamente interessado em doutrinar alguém. E devo ressaltar que o modo como fui atacado pode ser descrito como fortemente proselitista. Fui desrespeitado só por não aceitar conclusões cujas bases não podem ser consideradas científicas, assim como ateus são desrespeitados por religiosos porque duvidam de algo, para o qual, as únicas evidências são relatos "históricos" e pessoais e que contraria, frontalmente, nem mesmo a lógica, mas as próprias razão e realidade.


Offline Pagão

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Re: Os mesmos Cavalos de Tróia de sempre
« Resposta #35 Online: 20 de Março de 2011, 12:53:44 »
Para que haja ciência é mister que as regularidades naturais não sejam produtos intencionais.

Desde que Deus não intervenha após a criação ou a geração dessas regularidades, ou desde a criação ou geração das condições para que essas regularidades se desenvolvam por si,... não haverá problema para a ciência... Só um Deus voluntarista e providencial  suscita as questões que refere...
Ainda hoje, grandes cientistas falam das suas investigações como uma tentativa de entrar na mente de Deus... sem que isso os impeça de fazer ciência.
Nenhuma argumentação racional exerce efeitos racionais sobre um indivíduo que não deseje adotar uma atitude racional. - K.Popper

Offline Geotecton

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Re: Os mesmos Cavalos de Tróia de sempre
« Resposta #36 Online: 20 de Março de 2011, 13:20:00 »
Para que haja ciência é mister que as regularidades naturais não sejam produtos intencionais.

Desde que Deus não intervenha após a criação ou a geração dessas regularidades, ou desde a criação ou geração das condições para que essas regularidades se desenvolvam por si,... não haverá problema para a ciência... Só um Deus voluntarista e providencial  suscita as questões que refere...
Ainda hoje, grandes cientistas falam das suas investigações como uma tentativa de entrar na mente de Deus... sem que isso os impeça de fazer ciência.

Não importa Sérgio Sodré. Nem a possibilidade da existência de deus é cogitada pelo Cientista, quanto mais se ele é (ou não) "voluntarista e providencial".
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Offline Cientista

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Re: Os mesmos Cavalos de Tróia de sempre
« Resposta #37 Online: 20 de Março de 2011, 13:27:43 »
"Contribuições que religiosos deram para a ciência"? Isso é uma grande besteira que assola mentes conciliadoras, para não falar das subjugadas. Querer inputar à religião (como não se afirma na propaganda, mas se deseja explicitamente) uma láurea de contribuição à ciência é ridículo.
Não estarias querendo, na verdade, dizer que besteiras seriam "contribuições que as *religiões* *TERIAM* dado à ciência?" Que religiosos contribuiram para a ciência, *até eu* reconheço.

Sim. Ao menos neste seu modo de pensamento, que espero que outros possam discernir do que já foi dito.
Também espero que outros possam discernir pois o que me preocupa mesmo, sempre, são os meandros viciosos da linguagem. Eu entendi que sua abordagem parte do pressuposto da desassociação da religiosidade do indivívuo de sua potencial capacidade de gênese científica. Suponho que você tenha, já, bem entendido que eu não reconheço esse pressuposto. Portanto, aqui, para mim, o 'perigo linguístico' é tudo o que importa e, de certa forma, foi o que você apontou, embora não com o mesmo background que eu.



[...]quanto a *fazer ciência*, É CLARO que religioso algum consegue.

Pelo menos não enquanto religioso. Parece-me cabível, a idéia.
Não sei bem o que você quis dizer com "não enquanto religioso". Seria num dos momentos do transtorno bipolar duplipensante? Ou seria durante a ilusão pre-científica de quem ainda não conhece o que é ciência?



Mais uma vez, é preciso conhecer um pouco de suas teses, Cientista, para aceitarmos isso. Novamente, espero que possam discernir.
Minhas teses não, minha tese que já apresentei e é muito simples: mimetismo comportamental, popularmente conhecido como mentir para sobreviver. Como um bicho-pau. Ele não é um graveto e um animal ao mesmo tempo, nem uma hora, um, e outra hora, outro. É um animal que *finge* que é um graveto para adaptar-se ao meio e ter mais chances de sobreviver. E antes de dizer que é um processo inconsciente defina, primeiro, o que é consciência. A hipótese ad hoc do duplipensamento cria, sem nenhuma evidência empírica, um conceito espúrio cujos supostos efeitos são perfeitamente explicáveis por princípios já pre-existentes e que é aceito sem avaliação porque cai nas graças de interesses recônditos de muitos.


TODOS que a estudam podem fazer isso, não importa suas crenças.
TODOS que a estudam e a EN TEN DEM, PERDEM suas crenças. Se você é um estudioso de ciência e continua crente, volte pro banco escolar porque não entendeu nada.

Aqui eu quero estar contigo. Mas apenas quero. Parece-me que o que se percebe, na prática, frustra um pouco isto.
Na prática? Perdôe-me, Feynman, mas você está sendo muito contraditório. Que prática? Você mesmo afirmou que também nunca viu nem conversou com nenhum e que apenas está "sujeito às informações que temos a respeito do que estes cientistas religiosos escrevem, ou do que escrevem sobre estes". Isso é prática? Só se for a prática da aceitação pura e simples.



Mas suas contribuições serão em função do conhecimento obtido em sua formação, em sua posição de perscrutador. Suas crenças religiosas não irão determinar a idealização de uma única função matemática, uma única teoria de alta correlação empírica e grande força heurística: SEUS CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DE CIÊNCIA E MATEMÁTICA O FARÃO!
Deixando de lado o restante dessa citação...

Mais uma vez, você usando a expressão 'força heurística'. Seria essa uma 5ª força universal de que não me inteirei? Assim, você atribui "propriedade heurística" a uma força e não força a uma heurística. A heurística pode ser forte mas uma força, que eu saiba, não pode ser heurística. Por isso eu te disse, uma vez, prefiro usar a expressão 'força *da* heurística'. Você pode conceber isso como simples chatice da minha parte mas as palavras têm um poder insidioso de confundir muito maior do que, normalmente, sequer, supomos. Destroem nossos pensamento sorrateiramente. Quando "damos por nós", estamos filosofando. Tome muito cuidado com isso. É uma das razões porque religiosos não conseguem fazer ciência, não importa o quanto a "estudem".

De um modo ortopoiético, e literal, concordo contigo. Apenas uso, aqui, uma expressão grávida de significados já ordinários do vocabulário epistemológico científico, no caso, Imre Lakatos. Em sua Metodologia dos Programas de Pesquisa, Lakatos usa a expressão "força heurística" para denotar uma teoria com alto grau explicativo e, principalmente, preditivo. Podes não gostar do termo, mas também não gosto da denominação "Teoria da Relatividade", mas a uso mesmo assim, por razões práticas de comunicação em uma cultura científica que já absorveu seus significados, e mantém este apanágio.
Isto não vai te absolver do "crime"... Sei que és professor e, como tal, és um propagador do conhecimento. És, portanto, algo como um reprodutor do conhecimento e, como tal, de alguma forma, talvez até "inconsciente"(?), esforças-te para manter íntegro o teu conteúdo "genético", a tua "linhagem genética". De uma certa forma, ao tornar-se professor, você assume um compromisso com o statu quo. Não o estou criticando de modo intransigente e absoluto. De um modo amplo, reconheço que isso, esse compromisso da tua função, até mesmo para a modificação e a ampliação do conhecimento, é extremamente necessário. Tu "crias" os indivíduos que poderão contestar o que ensinas. É preciso conhecer o statu quo para suplantá-lo.

Sendo assim, como você, estou certo, já pode concluir, o que você chama de apanágio, eu chamo de statu quo que deixo para trás pois meu compromisso não é com o statu quo, é com o 'quo vadis' (científico) -- quero ser cientista; quero ser o mais exato possível na representação da realidade (não de conhecimentos estabelecidos) e, para isso, por mais que pareça estranho a acadêmicos 'não iniciados', preciso estar livre de regras acadêmicas (até para adotá-las, se preciso); quero ser livre e libertador, não doutrinado ou doutrinador. Sei bem o quão difícil é isto e não quero jactar-me, mas não é para muitos.

Rogo que aceite bem minhas palavras. Espero que perceba que, embora eu possa assemelhar-me figuradamente a um porco-espinho, minha intenção é defender o conhecimento genuíno e útil e as formas de obtê-lo e não desrespeitar pessoas de "visões divergentes". Espero que perceba que tenho grande respeito e até admiração por ti. Continue usando suas expressões costumeiras sem se importar comigo. Prezo mais a tua liberdade que os teus acertos.



Por fim, Feynman, gostaria de te pedir que analise e diga algo a respeito dos seguintes posts:

../forum/topic=22839.150.html#msg524894

../forum/topic=23548.0.html#msg544050

../forum/topic=23548.0.html#msg566206

Offline Cientista

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Re: Os mesmos Cavalos de Tróia de sempre
« Resposta #38 Online: 20 de Março de 2011, 13:44:20 »
Para que haja ciência é mister que as regularidades naturais não sejam produtos intencionais.

Desde que Deus não intervenha após a criação ou a geração dessas regularidades, ou desde a criação ou geração das condições para que essas regularidades se desenvolvam por si,... não haverá problema para a ciência... Só um Deus voluntarista e providencial  suscita as questões que refere...
Ainda hoje, grandes cientistas falam das suas investigações como uma tentativa de entrar na mente de Deus... sem que isso os impeça de fazer ciência.
Isso é exatamente a mudança fugidia de paradigma que mencionei. Hipótese ad hoc, falácia, puro absurdo. Não muda nada. Nada garantiria que o tal suposto deus não pudesse retornar para re-exercer seu poder. Continuaria a ciência sendo inválida e condicionada ao tal deus. Com isso, o que você vai conseguir é ter que incluir deus no escopo da ciência, pois a mesma depederia eternamente de um capricho dele. Cuidado com as fugas e falácias. Muitas vezes, elas te levam direto aos pés do adversário. Tente ser verdadeiro e sincero, antes consigo mesmo e não fuja da realidade. E pare de modificar arbitrariamente as propriedades intrínsecas dos deuses, ou seja, criar novos.

E você precisa aprender o que são metáforas, Sérgio.

Offline Pagão

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Re: Os mesmos Cavalos de Tróia de sempre
« Resposta #39 Online: 20 de Março de 2011, 14:25:16 »
Não estou dizendo que esse Deus exista de facto... apenas levantei a hipótese de que, se existisse, não seria impedimento para a ciência. Todavia, estou a ver que qualquer Deus transcendente coloca problemas... Só mesmo as metáforas são inofensivas.
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Offline lusitano

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Re: Os mesmos Cavalos de Tróia de sempre
« Resposta #40 Online: 21 de Março de 2011, 08:33:52 »
Caro - "Cientista"

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Você está certo em afirmar que nada na bíblia há que auxilie o estudo da genética mas omitiu/esqueceu de explicitar que há muitas coisas que obstaculam fundamentos mais basilares da genética e de toda a ciência. Mas... para que ter que escolher quando se pode ficar com os dois, não é? Vivemos num mundo que mostra o tempo todo, assim como os políticos, que não é necessário nem desejável ou mesmo vantajoso ser honesto, não é? É a evolução, a seleção natural, a sobrevivência do mais forte mentiroso. O que pode haver de errado nisso?

A bíblia, até é anti-ciência, desde o génesis: «« Ai de ti se comeres do fruto da árvore da "ciência" do bem e do mal... Se o fizeres - de certo que morrerás - mas primeiro, vais sofrer! »» :|
Vamos a ver se é desta vez que eu acerto, na compreensão do sistema.

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Re: Os mesmos Cavalos de Tróia de sempre
« Resposta #41 Online: 21 de Março de 2011, 08:58:47 »
Caro - "Cientista"

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O fato é que já, *há muito tempo* que está cientificamente plenamente *comprovado* que deuses não existem. Quem acredita que isso não está comprovado, ainda está fugindo da realidade.

Concordo que você é um orador brilhantíssimo: :arrow: :ok: mas tenho a ideia clara e distinta, que você faz determinadas afirmações no auge do seu climax emocional. 8-)

Eu verifico - que você, é de facto eloquente :!: :arrow: Mas não é por esse motivo que deixa de cometer falácias, mesmo honestamente.

Meu caro... Auguste Comte, fundou a religião e a igreja positiva da Humanidade, justamente em nome da ciência e do ateísmo humanista.

Os conceitos de "ciência, religião, e deus" - como quaisquer palavras mais ou menos bombásticas - estão sujeitos a inflação semântica...

Você com alguma propriedade, pode supôr, que a "ciência" demonstrou em absoluto, que "deus" de facto não existe... Eu digo, que que é aí que você incorre em paralogismo!

Quanto a mim, você tem uma noção incompleta do significado dessa palavra tão controversa. :arrow: :idea:

   
Vamos a ver se é desta vez que eu acerto, na compreensão do sistema.

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Re: Os mesmos Cavalos de Tróia de sempre
« Resposta #42 Online: 21 de Março de 2011, 09:15:01 »
Caro - "Cientista"

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Minhas teses não, minha tese que já apresentei e é muito simples: mimetismo comportamental, popularmente conhecido como mentir para sobreviver. Como um bicho-pau. Ele não é um graveto e um animal ao mesmo tempo, nem uma hora, um, e outra hora, outro. É um animal que *finge* que é um graveto para adaptar-se ao meio e ter mais chances de sobreviver.


Completamente de acordo :!: :arrow: :ok:

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E antes de dizer que é um processo inconsciente defina, primeiro, o que é consciência. A hipótese ad hoc do duplipensamento cria, sem nenhuma evidência empírica, um conceito espúrio cujos supostos efeitos são perfeitamente explicáveis por princípios já pre-existentes e que é aceito sem avaliação porque cai nas graças de interesses recônditos de muitos.

Foi o que me pareceu a respeito de Descartes: Ele teria sido consequente em minha opinião, se tivesse afirmado - deus existe, por eu existo - e não... Eu existo, porque deus existe.

Eu concluí, que ele inverteu a ordem das palavras, justamente, porque no tempo dele - existia um "santo ofício" - vigilante, perante eventuais hereges, ou ateus.
Vamos a ver se é desta vez que eu acerto, na compreensão do sistema.

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Offline Pagão

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Re: Os mesmos Cavalos de Tróia de sempre
« Resposta #43 Online: 21 de Março de 2011, 10:58:42 »
Caro Lusitano,

Os romanos acusavam os cristãos de serem ateus..., mas hoje são os ateus declarados que querem impor a todos o conceito de Deus cristão como sendo o único admissível... :no:
 
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Offline Adriano

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Re: Os mesmos Cavalos de Tróia de sempre
« Resposta #44 Online: 21 de Março de 2011, 12:27:16 »
Meu caro... Auguste Comte, fundou a religião e a igreja positiva da Humanidade, justamente em nome da ciência e do ateísmo humanista.
E agora que estou dando mais atenção para o ateísmo sociológico, pois estou estudando o evolucionismo social de Hebert Spencer, uma grande influência de Popper, e a comparação e distinção de suas teorias Spencer fez questão de salientar.

O ateísmo sociológico se dá através da teoria da fase teológica da humanidade, através do uso da ficção (crenças) para explicação do mundo.
Princípio da descrença.        Nem o idealismo de Goswami e nem o relativismo de Vieira. Realismo monista.

Offline lusitano

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Re: Os mesmos Cavalos de Tróia de sempre
« Resposta #45 Online: 21 de Março de 2011, 19:18:32 »
Caro - Sérgio Sodré
 
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«« A quem não tem crenças, até a dúvida é impossível. »»

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Caro Lusitano,

Os romanos acusavam os cristãos de serem ateus..., mas hoje são os ateus declarados que querem impor a todos o conceito de Deus cristão como sendo o único admissível... :no:

Também me parece :!: :arrow: Quando certos "ateus", declaram categoricamente a inexistência de deus - principalmente invocando a "Ciência" em seu favor - via de regra, "concerteza", se baseiam no espesso cartapácio bíblico. :arrow: :idea:
Vamos a ver se é desta vez que eu acerto, na compreensão do sistema.

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Offline Feynman

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Re: Os mesmos Cavalos de Tróia de sempre
« Resposta #46 Online: 21 de Março de 2011, 22:08:08 »
"Prezo mais a tua liberdade que os teus acertos."   8-)

Suponho que percebas o peso de suas luvas de pelica. :) Mas mesmo percebendo que isto gera um bom número de antipatias, deves perceber também que conscientemente não dás a mínima para isso. Mas já aprendi a racionalizar e discernir a semântica do significando, o significado do condutor que o propala, e portanto "estas besteiras Jedi" não funcionam comigo. Para o nosso bem.

Cientista, haja tempo para tudo isso! Assim que eu tiver uma oportunidade eu tento corresponder à sua expectativa.
"Poetas dizem que a Ciência tira toda a beleza das estrelas - meros globos de átomos de gases. Eu também posso ver estrelas em uma noite limpa e sentí-las. Mas eu vejo mais ou menos que eles?" - Richard Feynman

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Re: Os mesmos Cavalos de Tróia de sempre
« Resposta #47 Online: 22 de Março de 2011, 07:42:04 »
Caro - Adriano

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O ateísmo sociológico se dá através da teoria da fase teológica da humanidade, através do uso da ficção (crenças) para explicação do mundo.

Nem toda a "teologia", é uma ficção de crente supersticioso. Porque é que Alexandre e César, alcançaram o divinato... Pela destreza da sua estratégia militar e pelas suas qualidades humanas.

Eles tornaram-se "deuses", porque foram "líderes heróicos", extraordinários.

A Humanidade através da NASA e de outras empresas internacionais espaciais, está prestes a tornar habitável o resto do sistema solar.

Ora em termos de teologia comparada, isso é uma autêntica capacidade, digna de ser considerada façanha divina. :arrow: :idea:
 
Vamos a ver se é desta vez que eu acerto, na compreensão do sistema.

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Especulando realismo fantástico, em termos de
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paralogismo comparado - artur.

Offline Adriano

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Re: Os mesmos Cavalos de Tróia de sempre
« Resposta #48 Online: 22 de Março de 2011, 08:40:47 »
Caro - Adriano

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O ateísmo sociológico se dá através da teoria da fase teológica da humanidade, através do uso da ficção (crenças) para explicação do mundo.

Nem toda a "teologia", é uma ficção de crente supersticioso. Porque é que Alexandre e César, alcançaram o divinato... Pela destreza da sua estratégia militar e pelas suas qualidades humanas.

Eles tornaram-se "deuses", porque foram "líderes heróicos", extraordinários.
A sua crença é para com o termo divino. Existem muitos outros termos e conceitos e palavras muito mais adequadas do que esta "ofensa" que você faz ao sucesso humano, num contexto ateísta, com essa doutrinação e fanatismo pela palavra divina. O que dá para resumir em crença, mas é a positivista, a de Comte mesmo.

A Humanidade através da NASA e de outras empresas internacionais espaciais, está prestes a tornar habitável o resto do sistema solar.
Por mais proselitismo que você faça da espécie humana, jamais aceitarei a sua imposição dos seus conceitos semânticos, que tem uma carga contrária de significação no ateísmo.

Ora em termos de teologia comparada, isso é uma autêntica capacidade, digna de ser considerada façanha divina. :arrow: :idea:
 
Em termos de ateologia, é somente mais uma teologia que usa o ser humano como motivo de culto, mesmo que linguístico. Na política, por exemplo, isto é chamado de culto a personalidade.

Como exemplo de grandes contribuições para a humanidade e que não precisam desse termo tão pejorativo e ofensivo, podemos usar simplesmente o vocábulo gênio. Este é muito mais adequado e usado aqui na comunidade, como no exemplo do tópico Gênios militares E na psicologia o termo é utilizado para nomear as grandes contribuições humanas que somente podem ser avaliados pelas gerações futuras, dado a extensão destas contribuições.  :ok:
Princípio da descrença.        Nem o idealismo de Goswami e nem o relativismo de Vieira. Realismo monista.

Offline Feynman

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Re: Os mesmos Cavalos de Tróia de sempre
« Resposta #49 Online: 22 de Março de 2011, 19:40:38 »
Um "cientista" que crê que haja algo fora do âmbito da ciência não sabe nem o que ciência é, quanto mais fazê-la. E quem acredita que haja algo fora do âmbito da realidade... bem, com esse não dá nem para começar a discutir.

Começando pelo final, somos e estamos perfeitamente de acordo com a impossibilidade de conversar seriamente com solipsistas e relativistas escusos. Mas não posso deixar de te incomodar com o alcance da primeira frase. Existe uma máxima na epistemologia científica que acusa alguns cientistas de saber tanto de ciência quanto os peixes de hidrodinâmica. Pois como os peixes em relação ao seu nado, o cientista faz ciência como ninguém... e não conhece os motivos de seu sucesso para além de uma protofilosofia empiricista que transforma dados em conhecimento. Este é de uma natureza mais sutil que a mera interpretação de dados empíricos. Dados empíricos não levam ao geocentrismo (hipóteses baseadas no princípio da parcimônia levam), e com um sistema de epiciclos e equantes consegue-se uma precisão tão boa quanto se queira, em detrimento, claro, da simplicidade. Da mesma forma, pontos em um gráfico não levam a uma lei quantitativa, pois um conjuntos de pontos se ajusta a um cem número de funções matemáticas. Mais uma vez, entram em jogo estéticas de pensamento que racionalizam o estudado para se chegar em uma correlação que não necessariamente é a única. Talvez queiras discorrer um pouco a respeito. A propósito, já aproveitando: é mais fácil, para ambos, atermo-nos a um número reduzido de questões e desenvolvermos as mesmas ao nível desejado, e não ficarmos pontuando esta batelada de coisas, não achas? Assim, vou me ater a alguns pontos mais relevantes, ainda que de modo arbitrário, para não gerar um ad infinitum argumentativo.


 
Assim, embora EVIDENTEMENTE religiosos possam dar importantes contribuições à ciência, não o fazem porque são auxiliados por isso. E sim pois mantêm ambas idiossincrasias em suas vicissitudes.
Você está falando do tal dupli-tripli-multi-pensamento? Já que ninguém mais esclareceu para mim esta hipótese ad hoc, talvez você, Feynman, possa fazê-lo. Você pode provar que isso existe, por favor? Aqui me disseram que eu afirmar que Newton mentia e zombava descaradamente de todos com as asneiras místicas dele é que seria uma hipótese ad hoc. Em que essa minha "hipótese" seria mais ad hoc que a do multipensamento? Será que é só porque eu não sou e não tenho os belos olhos do George Orwell? Ou é porque essa ideia adequa-se melhor aos desejos da maioria? Afinal, provar, de um modo geral, que pessoas mentem é facílimo (embora, especificamente, nem sempre) agora o tal duplipensamento... há como evidenciar que isso existe afora ou acima da mentira? É possível diferenciá-lo da mentira? Não quero experiências pessoais, quero evidências.

Os esforços realizados para se compatibilizar estruturas explicativas tão distintas quanto ciência e religião estão, até percepção do contrário, ou situadas no campo da esquizofrenia, no sentido clínico da palavra porém socialmente tolerado e imputado aos nossos direitos quando esta esquizofrenia se refere à mente religiosa, ou no campo da mais pura incipiência, da ignorância da pessoa mediana. Naturalmente não posso provar que cientistas possam ter este “duplo pensamento”. Atuo tão só no campo da inferência, e também do reductio ad absurdum, uma vez que me é muito difícil classificar um indivíduo, como Collins ou Hawking, se não formos relevar esta duplicidade. Não sei, pois, se são mentirosos, mentirosos para com eles mesmos, acomunados, financeiramente acomunados (ta aí o Prêmio Templeton), esquizofrênicos simples... gostaria de saber. Na falta de uma concepção mais adequada, mantenho a teses da duplicidade, com ou sem distúrbios racionais. Ofereça-me algo melhor, e talvez eu possa mudar de idéia.


A religião ajuda a ciência na medida em que se recolhe à sua insignificância perante o conhecimento da natureza,  e deixa aquela trabalhar. Pessoas crentes podem contribuir com a ciência... mas por serem pessoas... e não por serem religiosas.
Muito bonito, enfático e lancinante, Feynmann, mas, lamentavelmente, a religião não pode ajudar (nem atrapalhar) nada, tampouco, tomar atitudes como "recolher-se à sua própria insignificância" (isso soou um tanto áspero de sua parte -- normalmente, eu é que tenho sido assim, aqui) pela simples razão de que *não existe*. É só uma abstração na qual as pessoas jogam as culpas que só são imputáveis a elas mesmas. É triste quando se usa abstrações como desculpa para fugas mas é uma das mais comuns atitudes humanas. Quem pode tomar essas atitudes são os religiosos. É inútil e desonesto fugir com subterfúgios abstratos. Como quando crentes (e outros, não necessariamente crentes, também, afinal, o "argumento" é bonito e de bastante efeito) alegam que não odeiam homossexuais, mas homossexualismo. Ora, que lorota braba! Não existe homossexualismo sem homosexual, portanto, não existe homossexualismo além da abstração. Como se pode odiar uma abstração (especialmente sem odiar o objeto-fonte da abstração -- é o objeto que gera a abstração e não o contrário)? Tudo isso não passa de paralogismos bestas e, nos piores casos, sofismas imperdoáveis. Quando dizemos coisas como: vamos combater o crime, vamos combater a corrupção, não estamos dizendo nada que faça sentido. Se não começarmos a combater *os criminosos*, *os corrúptos* (tudo criminoso mesmo) não vamos fazer nada. Inventam-se fantasmagorias para deturpar toda a realidade e fomentar loucuras como a de que "pressões" que a sociedade exerce sobre certos indivíduos é o que os conduzem a cometer crimes, a ser criminosos. Um ser que está lutando pela sua sobrevivência não é um criminoso, independentemente de sua consciência. A definição de criminoso não pode incluir luta pela sobrevivência. Essa inclusão é uma atitude sórdida que só faz a articialidade de tirar a culpa do culpado e colocá-la em quem não a tem, em quem não tem nenhuma responsabilidade por aquilo. O mesmo ocorre com a ciência que, também, é só uma abstração. Ela não fará nenhum trabalho sozinha e a crença em que ela possa é tão crença quanto qualquer outra. Toda filosofia é religiosa. Abstrações não existem sem os abstraidores, traidores de si mesmos, dos outros e da própria aceitação da realidade quando lançam suas culpas nas abstrações que criam. Cada ser humano deveria aprender a parar de fugir de suas responsabilidades. Digo deveria porque não fujo da realidade de que nada indica que se possa esperar por isso.

Esta é uma forma muito interessante de se lidar com a crença. E estás só na superfície. Uma análise mais compromissada precisa adentrar na psicologia evolutiva, e infelizmente nos falta (pelo menos a mim) conhecimentos mais sólidos. Não sei se percebestes, mas levastes a questão inicial, da contribuição religiosa, a um nível diferente, ao negar a própria religiosidade para além da pessoa religiosa, ou seja, não existe religião, existem pessoas que abstraem um conjunto de procedimentos ritualísticos e forjam algo que não existe. Preciso pensar mais no alcance disto, já pensando que talvez não ajude muito, da mesma forma que conhecer Dinâmica não me ajuda a pilotar um avião. Atendo-se ao conhecimento útil, em um pragmatismo justificável nos moldes de Matt Dillahunty, lidar com uma entidade religiosa como sendo algo que existe é oportuno e, no mínimo, uma precaução justificada em um mundo onde esta entidade (sim, é claro, os indivíduos associados a esta pseudo-realidade) lança aviões em prédios, dilacera órgãos genitais, apedreja mulheres errantes e mata os que não compartilham dos mesmos conjuntos esotéricos. A preocupação com as origens do mal sempre é algo louvável e necessário, mas nunca em detrimento de uma tentativa honesta de impedi-lo. Se fundo uma instituição social perniciosa baseada no Espaguete Voador, é claro que não adianta dizeres que ele não existe para minimizar seus efeitos. Ele pode não existir, mas seus efeitos, ou melhor dizendo, os efeitos provocados por aqueles que Nele crêem (como crença genuína ou auto-enganosa, tanto faz) são reais.

No momento, não tenho problemas com a idéia de que religião não existe para além das abstrações individuais. Mas tenho problemas com os resultados destas fantasias, e me facilita lidar com esta “entidade” de modo direto e objetivo, com o mesmo foco que dirijo para coisas reais. Ainda que eu corra sempre o risco de ter um Cientista monitorando minhas ações, e acusando meu objeto de argumentação como algo inexistente.


Existem, sim, muitas e importantes incompatibilidades entre ciência e religião. Estas propagandas são aleijadas epistemologicamente. Tentam clarificar um ponto com a perpetuação de um mito de conciliação. Mas mitos são sua especialidade, não é mesmo?
Não, Feynman. Há antipodal incompatibilidade entre ciência e religião e estas propagandas não são aleijadas epistemologicamente; são sustentadas epistemologicamente. Crentes jamais querem conciliação. Isto não é próprio da natureza da religiosidade e da fé. Você disse muito bem: é um mito e é a "especialidade" de crentes (não ciência). Quem está acreditando nisso, já está caindo na propaganda deles.

Uso, aqui, epistemologia como modo de pensar racionalmente, nos moldes científicos de parcimônia e fuga consciente de ad hocs. Acuso diretamente o religioso, e suas propagandas, de ignorante em relação a isso.

[...] eles não querem provar que a religião os ajudou a "ser cientistas" e "obter resultados"; querem mostrar que a ciência não os demoveu de ser religiosos e sugerir, implicita ou explicitamente, que conclusões científicas não indicam inexistência de deuses. Só isso.

Também pensei nisto. Por isso chamo de propaganda. Existem razões implícitas, e naturalmente percebo, como a mais importante, o objetivo de trazer uma conciliação forjada entre ciência e religião aos olhos da sociedade.


Incrível! Sinto a mesma coisa. E nem sempre exatamente em relação a crentes. O que me impressiona é você acreditar que religiosos, ainda que "comedores de Stuff" com todos os efeitos colaterais que você aponta aqui, são capazes de fazer ciência. Você... não degustou esta "iguaria", degustou, Feynman?

... não sei. Não sei. Estou na cômoda posição de quem NÃO é religioso e conhecer um pouco sobre como se faz ciência. E teço pensamentos a respeito do que pessoas declaradas religiosas dizem. Sei que Newton fez ciência de primeira (como se houvesse a de segunda), e sei que ele justificou muitos de seus pensamentos sobre a Natureza como resultado de uma contingência divina. Como já mencionei, não posso ir muito além disso. Se Newton jamais acreditou em deus, isto estará ao menos muito perto do intangível. No mesmo nível, talvez, do último Teorema de Fermat (nome imputado modernamente, é claro). Estou falando do original, naturalmente... e não no do Andrew Wiles. Algumas coisas tiveram suas características jogadas para um cone temporal inacessível. Mas já falei: gosto da tese. Só não tenho como corroborá-la. Talvez possa, no futuro.


É verdade ou não é verdade "as motivações religiosas de Newton"? Basta ver o que ele fez, "sutilmente", ao ser obrigado a fazer certas alterações na segunda edição dos Principia, sob acusações de ter sido por demais materialista, assim como a "lendária"(?) frase de Galileu: "no entanto, ela gira". Convenhamos por questão de justiça, Feynman, era impossível não ser "religioso" naqueles tempos. Hoje ainda é difícil.

Idem. Mas a hipótese é muito factível.


 
Agora, "cientista religioso", nunca vi nem... (sai pra lá!), eu só ouço falar.

Bem, eu também nunca vi, nem conversei com um.
Não foi a impressão que você deu aqui:

../forum/topic=22839.75.html#msg523126

Foi até poético, poxa! Não me faça perder a fé em você, cara. Não me deixe sem chão.

Calma, Cientista. Apenas sugeri que não conheço de modo uterino um sujeito assim. Meu conhecimento “de perto” me sugere que existe este indivíduo, nos mesmos moldes já argumentados de intangibilidade e mera aceitação da inferência cômoda. Não posso ir a fundo em tudo o que escrevo, só para contemplar a possibilidade de alguém (você) nadar confortavelmente neste abismo. Tente, ao menos em relação a mim, perceber que o espaço entre duas linhas comporta, e de fato carrega, muita coisa.


Apenas estou sujeito às informações que temos a respeito do que estes ("supostos", como você quer) cientistas religiosos escrevem, ou do que escrevem sobre estes.
Ótimo. Assim como todo e qualquer crente, apenas está sujeito às "informações" que tem sobre seu deus preferido, escritas (inventadas imaginariamente) por outros e, às vezes, por eles próprios.

Não seja tão maldoso. A inferência é algo distinto da mera crença. E te coloquei sobre a dificuldade de se lidar com isto em qualquer situação. Talvez me faças mudar de idéia, mas costumo acreditar no que me diz Abraham Pais sobre Einstein ao ponto de formar uma imagem relativamente segura de suas idiossincrasias. Como, assim como já mencionei, Einstein está em um cone temporal inacessível a mim (e a você), a inferência que se faz com um mínimo de discernimento (Abraham, ao invés do repórter da Super Interessante) é o melhor que podemos fazer. O mesmo para Westfall e Cohen em relação a Newton. É o melhor que tenho para a minha inferência. Naturalmente não sigo dogmaticamente pelo simples fato de estar ali, mas por se acomodar às minhas formas de questionamento e obtenção de conhecimento. E isto tudo não nega peremptoriamente a não-crença de Newton, apenas a relega para uma argumentação não muito útil, de uma forma meramente pragmática. Mas, repito, a hipótese é muito factível. Tente me perdoar se ainda não a endosso da mesma forma que afirmo que Einstein tocava violino.

(isto também contempla suas observações acuradas feitas em seguida, ocultadas aqui)


 
Neste sentido, é claro que nem sequer podemos dizer que o papa é religioso. Apenas inferimos isso com base no que sabemos dele.

Ótimo. Se, "neste sentido", sequer podemos dizer que o papa é religioso (eu, particularmente, penso que não é), como pode alguém afirmar, peremptoriamente, que os citados cientistas eram?

Não podemos. Acho que já me fiz entender. Se queres ser melhor atacado em relação a isso, sinto te decepcionar. Pois se formos ao citado abismo de argumentação, é capaz de eu dar minhas mãos para ti. Mas gostaria de enfatizar que isto, por hora, é um pouco (talvez só um pouco) contraproducente. Não por sua justificada importância, mas pelas razões apontadas de preocupação com o pernicioso, mesmo quando este se oculta em uma barreira intelectualmente difícil de transpor, por seus efeitos serem uma frente de batalha depauperante para o pensamento desejoso de buscar o útero da questão. É assim que, no momento, atacar as filosofias obscurantistas (para você um pleonasmo), improcedências, perniciosidades, propagandas, e proselitismo de conseqüências perigosas, sem falar nos resultados efetivos da crença generalizada para o crescimento moral e intelectual da humanidade, é algo que aparece mais em minhas linhas. Mas, repito, nossas linhas pulam muita coisa.

Cientista, por favor, como eu disse lá no começo, tente, se for o caso, tecer uma consideração de cada vez, por mais que isto seja demorado. É muito oneroso ficar brincando com estes “[quotes]”, e daí me impossibilita mantermos o “canal aberto”.
« Última modificação: 22 de Março de 2011, 19:52:20 por Feynman »
"Poetas dizem que a Ciência tira toda a beleza das estrelas - meros globos de átomos de gases. Eu também posso ver estrelas em uma noite limpa e sentí-las. Mas eu vejo mais ou menos que eles?" - Richard Feynman

 

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