Nao concordo mais uma vez
Acho que essas grandes questões como cultura e formação social são advindas do micro relacionamento e do reflexo de como somos. Acho que tentar entender o mundo dessa macro visão para baixo não é muito apropriado.
Veja o caso de um pais comunista tentando competir com um capitalista
O sujeito brilhante chega na fabrica e suas idéias, seu trabalho redobrado, nao são reconhecidos. Zilhoes de pessoas que poderiam inovar e colocar a economia para a frente simplesmente nao tem incentivos e nao o fazem. O estado, representado por poucas pessoas, nao tem como suprir essa falta de inovacao a ponto de competir com paises livres, e se esse pais necessitancompetir com os outros, ele simplesmente desmorona. A urss comprava um valor significativo de máquinas dos paises ocidentais, a inovacao do computador, as garagens dos EUA, nao podiam mais ser enfrentados se a competição é importante.
E um comunista ingênuo poderia tentar substituir essa inovacao gerada por milhões de pessoas que querem se sobressair por uma estrutura onde essas mesmas pessoas fariam o mesmo pelo bem comum. Ai ignoram completamente a condição humana.
Não sei se entendi muito bem o primeiro parágrafo, mas dizer que “tentar entender o mundo dessa macro visão para baixo não é muito apropriado.” - entendendo-se “macro” como uma ideia de natureza humana - é justamente o que venho tentando dizer. Não é muito apropriado tentar entender o mundo (e o sucesso ou fracasso de sistemas políticos) a partir de uma visão tão macro (e vaga) quanto a ideia de natureza humana. Apoiar-se em dados mais concretos é muito mais confiável.
O exemplo dado, da falta de competitividade e do baixo incentivo à inovação, parece-me bastante correto. E até mesmo a solução “ingênua” poderia, em tese, funcionar. O 'bem comum' vem acompanhado por uma foto de “funcionário do mês”? Uma visita ao Politiburo? Uma foto com Stálin? Veja, o que quero dizer é que incetivos não materiais podem existir... até mesmo o puro altruísmo. (mas isso não é importante)
O Blues Brother chamou a atenção para como pequenas sociedades tradicionais, com uma visão parental de sua coletividade, podem desenvolver hábitos produtivos coletivistas e atitudes altruístas.
Esse singelo exemplo demonstra que não há uma natureza intrinsecamente competitiva que impede em qualquer situação o altruísmo ou, simplesmente, a ausência de desejo de competir.
Note-se que o DDV chamou a atenção para como isso é difícil de se reproduzir em sociedades complexas, como as nossas. O que é um fato. Mas (e tem sempre um 'mas'), o altruísmo é possível. Vejamos um exemplo concreto e recente
http://www.publico.pt/Mundo/os-50-herois-de-fukushima-i_1485069Claro, pode-se advogar que isso não é uma situação econômica/produtiva e sim uma emergência, onde atos de heroísmo são esperados. Mas a preservação da vida é o instinto mais básico de qualquer ser vivo, e ainda assim nós conseguimos superar esse desejo em certas situações.
Também nos deixamos espetar, cortar, ficar inconscientes para tratamentos médicos que consideramos necessários. Cães e gatos não vão tomar vacinas voluntariamente.
O exemplo não é muito elaborado, mas a intenção é chamar atenção para o fato de que nós, humanos, somos seres vivos como quaisquer outros, construídos por nossa biologia – e nossa biologia nos limita. Nosso equilíbrio (ou desequilíbrio) hormonal altera nosso comportamento, alterações em nossos neurotransmissores alteram nossa conduta, etc. Mas não somos seres apenas de biologia, também somos de cultura. O poder da cultura em alterar a biologia é inexistente, mas à cultura resta a capacidade de modular a biologia, auxiliando a ressaltar ou a reprimir instintos aceitos ou não aceitos numa dada sociedade e numa dada época.
Como esses limites são pouco claros (pelo menos no atual estado da arte), elencar como um dos fatores da queda do comunismo o fato dos sistema contrariar a natureza humana é, no mínimo, prematuro. E mais prematuro anda considerar isso uma “causa intrínseca”
E aí, volto a meu post original.
“Somos competitivos por natureza ou associativos por natureza? No fundo, não há resposta para isso... só ideologia.”
É nossa ideologia que vai ressaltar os elementos competitivos... ou é nossa ideologia que vai ressaltar os elementos associativos.
Negar a biologia (e elementos de uma natureza humana) é bobagem.
Negar a cultura (e elementos de construção social/histórica do que somos) é bobagem.
Dizer que a solução está no “caminho do meio” é covardia.
Mas é bastante seguro afirmar que há uma relação entre instâncias biológicas e culturais.
Meu ponto é, 1) atualmente não podemos estabelecer o ponto dessa relação, daí, 2) No caso concreto do comunismo soviético e seu fracasso, a natureza humana é uma variável de pouca ou nenhuma utilidade (até porque as variáveis políticas, de relações internacionais e econômicas são suficientes para dar conta do recado).