Note-se a ausência do desnecessário trem de decolagem e pouso, no flyer.
E é de fato desnecessário lidar com todos os problemas/ideais de um projeto quando se tenta focar num problema específico, no caso, controle de vôo.
Decolagem totalmente autônoma não é uma "sofisticação" maior do que uma estilingada, é só outro tipo de pedreiragem, como seria numa "disputa" entre carros a foguete versus um apenas "movido a gravidade".
São 4 as características ( cada uma delas representando um desafio tecnológico ) que um
aparelho deve possuir para ser um avião.
- Ser mais pesado que o ar.
- Manobrável durante o voo.
- Ser capaz de aterrisar com segurança e intacto.
- Decolar com os próprios meios.
Não por acaso estes foram os requerimentos estipulados pelo Aeroclube de Paris para conceder o prêmio. Porque enquanto você não tiver isto não há um aparelho mais pesado que o ar que possa ser funcionalmente considerado um veículo de transporte aéreo.
É como você ter algo que flutua impulsionado pelo vento mas sem ter desenvolvido ainda um leme e um mastro pivotante que lhe permita controlar a direção do movimento. Isso ainda não é um barco.
É como a diferença entre um balão de ar quente e um dirigível. Não é um detalhe: um aspecto fundamental da tecnologia dos dirigíveis é fazê-los... dirigíveis!
Por que você acha que os irmãos caipiras não puseram simplesmente rodinhas de bicicleta na geringonça, mas em vez disso o treco tinha que ser puxado por meios externos em um trilho para ser lançado?
Raciocine!
É óbvio; o flyer pesava 300 kg mesmo com um motorzinho de apenas 12 hp. Foi por isso que a réplica da NASA não decolou em 2003. Nem catapultando.
Se voou alguns metros em 1903 foi pelo benefício de uma tremenda ventania. Mas na ventania até uma casa voa.
Há um tremendo salto tecnológico e de engenharia entre isso e desenvolver e um aparelho com todas as funcionalidades de um verdadeiro avião. Da mesma forma que o inventor do arco voltaico não é considerado o inventor da lâmpada. E mesmo incandescer um filamento aquecido não teria sido suficiente para Edison ter obtido a patente da lâmpada. Porque há um enorme e essencial salto de engenharia entre isso e uma lâmpada funcional.
( Que aliás já havia sido inventada antes dele, por um inglês. )
Na engenhoca da foto não há trem de decolagem não por ser uma questão de um detalhe que seria acrescentado posteriormente. Era um problema fundamental de engenharia que na época os Wright ainda sabiam como resolver.
Se o motor tivesse a potência necessária o bicho ficava pesado demais e não saía do chão. O motor sendo leve, aparelho também era leve ( nem tanto! ), mas aí não tinha potência para sair do chão. E sequer para sustentar o voo, com exceção daqueles dias de tufão.
Então considerar que, este que está registrado na foto, tenha sido o primeiro voo de um avião, não seria diferente de considerar que o primeiro arco voltaico tenha sido a primeira lâmpada elétrica, ou que o primeiro tronco de árvore em que algum homem se agarrou para flutuar tenha sido a primeira embarcação.
Claro, é comum que em qualquer projeto de engenharia tenha que se lidar com o desenvolvimento
de várias soluções tecnológicas. E também que se foque no desenvolvimento de algumas destas separadamente. Isso faz parte do processo.
Por exemplo: para um foguete é preciso desenvolver uma turbina a jato e um giroscópio. Dois projetos que podem ser desenvolvidos em paralelo.
Mas enquanto você não tiver A turbina e O giroscópio, você ainda não pode dizer que tem O foguete.