Autor Tópico: As vantagens do Pessimismo  (Lida 10089 vezes)

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Offline Blues Brother

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As vantagens do Pessimismo
« Online: 10 de Setembro de 2011, 02:18:55 »
As vantagens do pessimismo

Alain de Botton


Hoje eu gostaria de avançar em relação à ideia de que seríamos muito mais felizes, se aprendêssemos a ser mais pessimistas.

E, sob um ponto de vista completamente secular, eu gostaria de sugerir que as religiões, antes de enveredarem por nos prometer a salvação, são muito boas em ser pessimistas. Por exemplo, o cristianismo passou muito tempo enfatizando o lado mais obscuro da existência terrestre.

Mas mesmo dentro desta tradição sombria, o filósofo francês Blaise Pascal se destaca pela natureza excepcionalmente impiedosa de seu pessimismo. Em seu livro Pensees, Pascal não desperdiça oportunidades de confrontar seus leitores com provas da natureza resolutamente desviante, lamentável e indigno da humanidade.

Em um sedutor francês clássico, ele nos informa que a felicidade é uma ilusão. ''Qualquer um que não enxerga a variedade do mundo é ele próprio vaidoso'', diz ele. A miséria é a norma, ela afirma: ''Se nossa condição fosse verdadeiramente feliz, não precisaríamos tentar desviar de falar a respeito dela''. E temos de encarar os fatos desesperadores da nossa vida de cabeça. ''A grandeza do homem'', ele escreve, ''vem de saber que ele é miserável.''

Dado o tom, chega como uma surpresa a descoberta de que ler Pascal não é de forma alguma a experiência deprimente que poderia se presumir. O trabalho é consolador, emocionante e, às vezes, hilariante.

Para aqueles oscilando à beira do desespero, não poderia haver, paradoxalmente, um livro melhor para o qual se voltar do que um que visa reduzir a última ilusão do homem a pó. O Pensees - muito mais do que qualquer livro meloso enaltecendo a beleza interior, o pensamento positivo ou a realização do potencial oculto - tem o poder de induzir o suicida a se lançar do parapeito de um prédio elevado.

A culpada é a esperança

Se o pessimismo de Pascal pode efetivamente nos consolar, pode ser porque nós estejamos propensos à melancolia nem tanto pela negatividade, mas sim pela esperança. É a esperança - no que diz respeito à nossa carreira, nosso amor, nossos filhos, nossos políticos e nosso planeta - que é essencialmente a culpada de nos irritar e nos amargurar.

A incompatibilidade entre a grandeza de nossas aspirações e a dura realidade de nossa condição gera violentas decepções que torturam nossa vida e deixam marcas em nossos rostos. Daí o alívio, que pode explodir em arroubos de risos, quando finalmente encontramos um autor generoso o suficiente para confirmar que nossos piores presságios, longe de serem únicos, fazem parte da realidade inevitável da humanidade.

Nosso terror em julgar que nós somos os únicos a nos sentirmos ansiosos, entediados, enciumados, perversos e narcisista acaba sendo gloriosamente infundada e abre oportunidades inesperadas para a comunhão em torno de nossas realidades obscuras.

Deveríamos honrar Pascal e a longa linhagem de escritores pessimistas à qual ele pertence, por nos fazer o favor incalculável de ensaiar publicamente e elegantemente os fatos de nosso estado pecaminoso e digno de pena. Não é uma postura pela qual o mundo moderno sente muito simpatia, já que uma de suas principais características e - na minha opinião - sua maior falha é o otimismo.

A despeito de momentos ocasionais de pânico, muitos dos quais ligados a crises nos mercados, guerras ou pandemias, o mundo secular contemporâneo mantém uma devoção irracional à narrativa da melhora, baseada numa fé quase messiânica nos três grandes motores da mudança - ciência, tecnologia e comércio.

Os desenvolvimentos materiais que ocorreram desde meados do século 18 foram tão notáveis e aumentaram de forma tão exponencial nosso conforto, segurança, riqueza e poder que também golpearam mortalmente nossa capacidade de permanecermos pessimistas - e portanto, crucialmente, a nossa habilidade de permanecermos sãos e contentes.

Avaliação impossível

Se tornou impossível fazer uma avaliação balanceada do que a vida é capaz de nos fornecer quando testemunhamos o desvendar do código genético, a invenção do telefone celular, a abertura de supermercados de estilo ocidental em áreas remotas da China ou a inauguração do telescópio Hubble.

No entanto, o que é inegável é que as trajetórias econômicas e científicas da humanidade vêm apontando firmemente para cima há vários séculos, e eu e você não integramos a humanidade. Nenhum de nós indivíduos podemos habitar exclusivamente em meio a desenvolvimentos inovadores na genética ou nas telecomunicações que deram à nossa era seus preconceitos distintos e oscilantes.

Nós podemos extrair alguns benefícios da disponibilidade de banhos quentes ou chips de computadores, mas nossas vidas não estão menos sujeitas a acidentes, ambições frustradas, corações partidos, ciúmes, ansiedade ou morte do que nossos antepassados medievais. Mas ao menos nossos antepassados tinham a vantagem de viver em uma era religiosa na qual nunca cometeram o erro de prometer à sua população que a felicidade poderia fazer sua morada permanente neste planeta.

Os seculares são atualmente na história muito mais otimistas do que os religiosos - uma certa ironia dada a frequência com que os religiosos foram ridicularizados pelos não-religiosos por sua aparente ingenuidade e credulidade. São os seculares cujo anseio pela perfeição cresceu de forma tão intensa que os levou a imaginar que o paraíso pode ser obtido nesta terra em vez de alguns anos mais de crescimento financeiro e pesquisa médica.

Sem tomar conhecimento da contradição, eles podem, num só fôlego, rispidamente descartar a crença nos anjos, enquanto sinceramente confiam que os poderes do FMI, do setor médico, do Vale do Silícioe, da política democrática, em conjunto, irão curar os males da humanidade.

Os benefícios da filosofia do pessimismo devem ser vistos em relação ao amor. O cristianismo e o judaísmo apresentam o casamento não como uma união inspirada e regida pelo entusiasmo subjetivo, mas, em vez disso, e mais modestamente, como um mecanismo através do qual indivíduos podem assumir uma posição adulta na sociedade e, portanto, com a ajuda de um amigo íntimo, se comprometer a nutrir e a educar a próxima geração sob orientação divina.

Disputas e tédio


Essas expectativas limitadas tendem a prevenir a suspeita, tão familiar aos suspeitos do secularismo, de que poderia haver alternativas mais intensas, angélicas ou carregadas em outros lugares. Dentro do ideal da fricção religiosa, disputas e tédio não são sinais de erro, mas da vida estar procedendo de acordo com o plano.

Essas religiões não reconhecem o nosso desejo de adorar apaixonadamente. Eles sabem da nossa necessidade de acreditar nos outros, de venerar e servi-lo se encontrar neles uma perfeição que escapa a nós mesmos.Elas simplesmente insistem que esses objetos de adoração devem sempre ser divinos e não humanos.

Portanto, elas podem nos designar divindades eternamente jovens, atraentes e virtuosas para nos conduzir ao longo da vida enquanto nos relembram diariamente que os seres humanos são criações relativamente monótonas e com falhas dignas de perdão e paciência, um detalhe capaz de iludir nossa atenção no calor de brigas conjugais.

Por que é que você não pode mais ser perfeito? Essa é a opinião incensada pela maioria dos argumentos seculares. Em seu esforço de impedir que nossos sonhos sejam lançados uns contra os outros, as religiões têm o bom senso de nos dar anjos para adorar e amantes para tolerar.

A visão de mundo pessimista não tem de pressupor uma vida desprovida de alegria.Os pessimistas podem ter uma capacidade muito maior de apreciaçãodo que os seus homólogos, pois eles nunca esperam que as coisas acabem bem e assim podem se surpreender com os sucessos modestos que ocasionalmente surgem em seus horizontes escurecidos.

Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/08/110829_alain_de_botton_pessimismo_bg.shtml
« Última modificação: 10 de Setembro de 2011, 17:40:09 por Blues Brother »

Offline Feynman

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Re: As vantagens do Pessimismo
« Resposta #1 Online: 10 de Setembro de 2011, 05:08:13 »
Caro Elwood, se possível, coloque-nos a fonte, quando citares coisas assim.   :ok:
"Poetas dizem que a Ciência tira toda a beleza das estrelas - meros globos de átomos de gases. Eu também posso ver estrelas em uma noite limpa e sentí-las. Mas eu vejo mais ou menos que eles?" - Richard Feynman

Offline Geotecton

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Re: As vantagens do Pessimismo
« Resposta #2 Online: 10 de Setembro de 2011, 08:33:50 »
Citação de: Alain de Botton
[...]
Deveríamos honrar Pascal e a longa linhagem de escritores pessimistas à qual ele pertence, por nos fazer o favor incalculável de ensaiar publicamente e elegantemente os fatos de nosso estado pecaminoso e digno de pena. Não é uma postura pela qual o mundo moderno sente muito simpatia, já que uma de suas principais características e - na minha opinião - sua maior falha é o otimismo.
[...]

Devemos honrar Pascal?

Sim, a parte do homem que fez ciência. Mas não a do religioso, que usou a lógica para fazer doutrinação pelo terror psicológico!

 
Citação de: Alain de Botton
[...]
Os benefícios da filosofia do pessimismo devem ser vistos em relação ao amor. O cristianismo e o judaísmo apresentam o casamento não como uma união inspirada e regida pelo entusiasmo subjetivo, mas, em vez disso, e mais modestamente, como um mecanismo através do qual indivíduos podem assumir uma posição adulta na sociedade e, portanto, com a ajuda de um amigo íntimo, se comprometer a nutrir e a educar a próxima geração sob orientação divina.
[...]

Se lidas somente as partes em negrito, fica clara a intenção doutrinante e ideologizadora de um casamento religioso.
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Offline lusitano

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Re: As vantagens do Pessimismo
« Resposta #3 Online: 10 de Setembro de 2011, 09:35:29 »
Blues Brother - Transcreveu Alain de Botton - que citou Pascal:
 
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«« As vantagens do pessimismo »»

Agora pergunto eu... Uma educação rigorosamente científica desde a infância, tornar-nos-ia, mais pessimistas, ou mais optimistas? :arrow: :|

Vamos a ver se é desta vez que eu acerto, na compreensão do sistema.

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Offline Geotecton

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Re: As vantagens do Pessimismo
« Resposta #4 Online: 10 de Setembro de 2011, 09:38:26 »
Blues Brother - Transcreveu Alain de Botton - que citou Pascal:
 
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«« As vantagens do pessimismo »»

Agora pergunto eu... Uma educação rigorosamente científica desde a infância, tornar-nos-ia, mais pessimistas, ou mais optimistas? :arrow: :|

Mais realistas.
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Offline lusitano

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Re: As vantagens do Pessimismo
« Resposta #5 Online: 10 de Setembro de 2011, 09:43:10 »
Geotecton - escreveu:

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Agora pergunto eu... Uma educação rigorosamente científica desde a infância, tornar-nos-ia, mais pessimistas, ou mais optimistas? :arrow: :|
 

Mais realistas.

E na sua opinião - caro Geotecton - o que será, ser mais realista?

artur
Vamos a ver se é desta vez que eu acerto, na compreensão do sistema.

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Offline Geotecton

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Re: As vantagens do Pessimismo
« Resposta #6 Online: 10 de Setembro de 2011, 09:49:17 »
Geotecton - escreveu:

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Agora pergunto eu... Uma educação rigorosamente científica desde a infância, tornar-nos-ia, mais pessimistas, ou mais optimistas? :arrow: :|
 

Mais realistas.

E na sua opinião - caro Geotecton - o que será, ser mais realista?

artur

Não "enxergar" coisas que não existem (como deuses, por exemplo) e não ficar esperando por promessas de situações melhores no futuro, seja aqui ou seja em mundos imaginários.
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Offline uiliníli

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Re: As vantagens do Pessimismo
« Resposta #7 Online: 10 de Setembro de 2011, 10:37:37 »
Mais realista é deixar de tentar encaixar o mundo, que é muito mais complexo, em duas categorias tão simplórias quanto "bom" e "ruim".  O mundo não é unidimensional assim.

Offline Feynman

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Re: As vantagens do Pessimismo
« Resposta #8 Online: 10 de Setembro de 2011, 12:41:51 »
Blues Brother - Transcreveu Alain de Botton - que citou Pascal:
 
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«« As vantagens do pessimismo »»

Agora pergunto eu... Uma educação rigorosamente científica desde a infância, tornar-nos-ia, mais pessimistas, ou mais optimistas? :arrow: :|

Mais realistas.

Concordo. E penso que realistas não são pessimistas. São... realistas. O pessimismo denota uma reação emocional exacerbada de colocar as possibilidades em um patamar muito aquém do que um realista poderia esperar (um esperançoso ingênuo estaria na outra ponta do espectro). O realista supostamente estaria na posição adequada deste "espectro preditivo", com a diferença notória de ter seus anseios devidamente racionalizados dentro de um sistema explicativo mais compromissado com o que se pode, de fato, prever de maneira lícita. Nem mais, nem menos... apenas o adequado com o conjunto de informações de que se dispõe. Além disso, naturalmente exitem as questões de ordem mais emocional, como desejar ganhar na loteria ou desejar se curar de uma enfermidade grave. E, neste  âmbito, é claro que o realista também se lançará a anseios. Mas seus pés estarão mais bem fincados no chão, e muito provavelmente suas decepções serão mais bem administradas.
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Offline lusitano

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Re: As vantagens do Pessimismo
« Resposta #9 Online: 10 de Setembro de 2011, 16:59:34 »
Geotecton - escreveu:

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E na sua opinião - caro Geotecton - o que será, ser mais realista?

artur

Não "enxergar" coisas que não existem (como deuses, por exemplo)


Mas se você é um deus, como é que faz uma afirmação tão paradoxal? :|

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e não ficar esperando por promessas de situações melhores no futuro, seja aqui ou seja em mundos imaginários.

Quer você dizer... não acreditar nas promessas feitas pelos outros, mas confiar nas suas próprias capacidades de realização? :)

artur

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Offline lusitano

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Re: As vantagens do Pessimismo
« Resposta #10 Online: 10 de Setembro de 2011, 17:05:15 »
Feynman - escreveu:
 
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Mais realistas.

Concordo. E penso que realistas não são pessimistas. São... realistas. O pessimismo denota uma reação emocional exacerbada de colocar as possibilidades em um patamar muito aquém do que um realista poderia esperar (um esperançoso ingênuo estaria na outra ponta do espectro). O realista supostamente estaria na posição adequada deste "espectro preditivo", com a diferença notória de ter seus anseios devidamente racionalizados dentro de um sistema explicativo mais compromissado com o que se pode, de fato, prever de maneira lícita. Nem mais, nem menos... apenas o adequado com o conjunto de informações de que se dispõe. Além disso, naturalmente exitem as questões de ordem mais emocional, como desejar ganhar na loteria ou desejar se curar de uma enfermidade grave. E, neste  âmbito, é claro que o realista também se lançará a anseios. Mas seus pés estarão mais bem fincados no chão, e muito provavelmente suas decepções serão mais bem administradas.

O seu modo de ver essa questão, parece-me bastante sensata :!: :arrow: :ok:
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Offline Blues Brother

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Re: As vantagens do Pessimismo
« Resposta #11 Online: 10 de Setembro de 2011, 17:50:25 »
O autor, assim como outro filósofo contemporâneo, Roger Scrutton, defende o pessimismo como um contra-peso ao excesso de otimismo (infantil) que domina a cultura popular e não, necessariamente, como uma posição puramente negativa que se justifica em si mesma. O pessimismo sempre se dá em relação a alguma coisa, no caso proposto diante da nossa cegueira intencional.

A importância do pessimismo, portanto, é proporcional ao momento de exarcebação do otimismo.

Quanto mais otimista, menos cético, mais crédulo, mais frustrado.

Isso porque o otimista parte sempre de uma análise seletiva da realidade, enfatizando apenas o que lhe agrada. O pessimista não foca necessariamente os aspectos negativos, mas certamente está mais aberto ao fato de que as coisas podem dar errado.

Offline -Huxley-

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Re: As vantagens do Pessimismo
« Resposta #12 Online: 12 de Setembro de 2011, 10:20:14 »
Uma coisa que ficou clara no texto de Alain de Botton é sua tentativa de impor sua subjetividade aos outros, querendo universalizar sua miséria falando em termos de “nossa vida”. Não há qualquer tentativa de mostrar o que é externo e perceptível por todos, isto é, o que é objetivo na sua visão pessimista.

A miséria é a norma, ela afirma: ''Se nossa condição fosse verdadeiramente feliz, não precisaríamos tentar desviar de falar a respeito dela''. E temos de encarar os fatos desesperadores da nossa vida de cabeça.

Aqui chamo atenção para o pressuposto que o autor leva em conta com absoluta certeza: toda e qualquer pessoa tenta desviar de falar a respeito da sua condição, necessariamente desgraçada, e somente o auto-engano impede a admissão tácita disto. Mas isso é equivalente a dizer que toda e qualquer pessoa não tenta desviar de falar a respeito da sua condição, necessariamente felizarda, e somente o auto-engano impede a admissão tácita disto:biglol: Percebam, nos dois casos, o absurdo de partir do pressuposto que se deve provar.

No momento, estou lendo um anexo de uma monografia muito interessante que trata justamente da revisão dessas pseudo-lógicas pessimistas. Qualquer dia desses, eu comento mais sobre essas ideias aqui.
« Última modificação: 12 de Setembro de 2011, 10:27:47 por -Huxley- »

Offline Sergiomgbr

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Re: As vantagens do Pessimismo
« Resposta #13 Online: 12 de Setembro de 2011, 14:18:56 »
Uma coisa que ficou clara no texto de Alain de Botton é sua tentativa de impor sua subjetividade aos outros, querendo universalizar sua miséria falando em termos de “nossa vida”. Não há qualquer tentativa de mostrar o que é externo e perceptível por todos, isto é, o que é objetivo na sua visão pessimista.

A miséria é a norma, ela afirma: ''Se nossa condição fosse verdadeiramente feliz, não precisaríamos tentar desviar de falar a respeito dela''. E temos de encarar os fatos desesperadores da nossa vida de cabeça.

Aqui chamo atenção para o pressuposto que o autor leva em conta com absoluta certeza: toda e qualquer pessoa tenta desviar de falar a respeito da sua condição, necessariamente desgraçada, e somente o auto-engano impede a admissão tácita disto. Mas isso é equivalente a dizer que toda e qualquer pessoa não tenta desviar de falar a respeito da sua condição, necessariamente felizarda, e somente o auto-engano impede a admissão tácita disto:biglol: Percebam, nos dois casos, o absurdo de partir do pressuposto que se deve provar.

No momento, estou lendo um anexo de uma monografia muito interessante que trata justamente da revisão dessas pseudo-lógicas pessimistas. Qualquer dia desses, eu comento mais sobre essas ideias aqui.
Exatamente! E é por essa razão que se você aperta um parafusinho aqui e outro alí na cabeça de um filósofo (O que me faz lembrar daqueles parafusinhos internos na sintonia de radinhos de pilha), você transforma um Kant em um Sartre e um Platão em um Nietzsche! :P
Até onde eu sei eu não sei.

Offline Blues Brother

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Re: As vantagens do Pessimismo
« Resposta #14 Online: 14 de Setembro de 2011, 00:36:37 »
Caramba, parece que até os céticos têm nojinho do pessimismo... :D

Não é tão ruim quanto parece, pessoal. 8-)

Offline lusitano

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Re: As vantagens do Pessimismo
« Resposta #15 Online: 19 de Setembro de 2011, 15:31:41 »
Caro - Blues Brother:

Digne-se apreciar estes vídeos, comentando a filosofia de Frederic Nietzsche.


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Offline _tiago

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Re: As vantagens do Pessimismo
« Resposta #16 Online: 24 de Setembro de 2011, 09:23:43 »
Não me vejo assumindo somente uma dessas perspectiva, antes, por ignorância ou não, um tanto de todas. Muito a depender da circunstância ocorrida ou proposta e no que a ela meu humor concorda ou se contrapõe...
Em geral, um pessimista. Talvez, realista dos meus limites – mas pessimista habitual, não seriam tais limites apenas um eco da minha maneira geral? Por fim, mesmo o máximo possível otimista do acaso que me conceda algumas das  minhas esperanças – sento e espero, espero pra sempre sentado!
Insisto, não vejo impulso em mim que me imponha alguma dessas visões senão a melancolia ou a euforia do momento a ditar-me alguma impressão e não poucas vezes vi variações de humor pra um mesmo tema – o que me é alegria veio a ser tédio, irritação, mesmo tristeza... Meu olhar via de uma maneira, passou a ver de outra e tentei mudar de hábito, de namorada, de esperanças e serviço. Hoje, tomara eu seja otimista por me acreditar um realista!

Mais detalhes,
Eu, comigo, tenho uma impressão negativa sobre o mundo, sou inevitavelmente um pessimista. Não sem certa melancolia, vejo a vida e me convenço melhor da pior perspectiva; não por considerar essa a regra inevitável do mundo, antes por efeito da minha natureza de considerar mais realidade quando tudo vai mal.
– Nossa que bondade a daquele sujeito!
Disse alguém sobre um outro alguém e vou eu procurar uma mácula, o egoísmo que motiva e se esconde na mentira que este contou pra aquele, ainda que não saiba que contou.
Quando olho pro futuro, me divido: provavelmente eu não consiga o que quero, talvez eu não tente até o fim o que pretendo e me sento cheio de esperanças (à maneira dum idiota!?) na sobra dum pouco de persistência que possuo acreditando que esse naco é muito melhor que nada. Num tema mais diverso, de exemplo, penso que provavelmente o mundo se acabe pelas nossas próprias mãos, que há gente demais no mundo pra um tanto pouco de recursos, mas vai que a certeza desses que vendem a panaceia da ciência se realize... É o que prefiro esperar e percebo, por irônico que pareça, no meu pessimismo uma mácula de otimismo.

Quando olho pra mim, pondero se sou possível disso,
Da avaliação desprendida de qualquer sentimento ou da tendência que este infunde  num julgamento e desconsidera em muito a objetividade? Sei tão bem assim lidar com as informações com as quais disponho e de maneira objetiva desenvolver ou perceber a realidade livre das minhas pré-concepções? É possível meu olhar não se juntar com qualquer causa prévia minha, mais mesquinha e burra, e vir o julgamento somente corroborar algo para o qual eu já havia me decidido e opinado nas entranhas da minha consciência? Que são as minhas impressões e julgamentos, verdades ou simples certezas? Não poucas vezes penso que minhas percepções e conjecturas são anteriores a qualquer racionalidade a qual, pobre, não poucas vezes se perde na parca avaliação objetiva que sou capaz e que talvez, quando assim estou a avaliar, eu nem esteja produzindo algo, mas antes, apenas reproduzindo e repetindo conceitos e opiniões prontas, guardadas no meu raciocínio por motivos que desconheço – sei que não é pela validade como verdade que essas idéias ficaram onde estão. Aliás, a minha racionalidade pra não ser de nenhuma serventia, me explica bem o desencadeamento lógico do fato que ocorreu. Contudo, fosse eu considerar as variáveis e suas interações possíveis (e intermináveis!) com a pretensão de prever alguma coisa... Prefiro raciocinar em silêncio, ir me ajustando ao que ocorre, principalmente depois de perder dinheiro...

Entretanto,
Considero essa impressão pessimista sobre mim – saber que sou ruim para saber – talvez o que haja de realismo em mim... Saber que sou limitado, vulnerável e altamente viciado, principalmente no que tange a predições e julgamentos de eventos.

Offline Sergiomgbr

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Re: As vantagens do Pessimismo
« Resposta #17 Online: 24 de Setembro de 2011, 13:19:12 »
Não seja pessimista nem otimista nem realista nem pluralista. Seja troll!
Até onde eu sei eu não sei.

Offline _tiago

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Re: As vantagens do Pessimismo
« Resposta #18 Online: 24 de Setembro de 2011, 17:07:13 »

Offline Sergiomgbr

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Re: As vantagens do Pessimismo
« Resposta #19 Online: 24 de Setembro de 2011, 17:47:15 »
Até onde eu sei eu não sei.

Offline gogorongon

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Re: As vantagens do Pessimismo
« Resposta #20 Online: 25 de Setembro de 2011, 11:58:52 »
Acho meio difícil julgar as qualidades de uma visão de mundo sem também analisar a forma com que a pessoa interage nesse mundo.

Para mim, no final das contas o que importa é o progresso. Se a pessoa é pessimista em relação ao mundo, mas ainda assim conquista seus objetivos pessoais, o resto não importa.

Se preocupar com o estado do mundo é coisa de quem já tem uma vida pessoal estável o bastante para se dar ao luxo de se dedicar a desconhecidos.

Offline _tiago

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Re: As vantagens do Pessimismo
« Resposta #21 Online: 25 de Setembro de 2011, 19:36:57 »
As pessoas não são realizações, simplesmentes, elas são antes, pessoas... E é sobre isso que estamos discutindo.

Offline gogorongon

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Re: As vantagens do Pessimismo
« Resposta #22 Online: 25 de Setembro de 2011, 22:49:34 »
O que estou querendo dizer, a grosso modo, é que um pessimista que não faz nada para mudar sua própria situação merece tudo de ruim que lhe acontecer.

Pessimismo pode ser uma forma de crítica, mas críticas precisam ser construtivas. Por pior que seja uma situação, sempre há uma pior e uma melhor forma de lidar com ela.

Offline _tiago

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Re: As vantagens do Pessimismo
« Resposta #23 Online: 26 de Setembro de 2011, 07:42:04 »
Para um pessimista somente acontecem coisas ruins? E todas as críticas de alguém pessimista são desconstrutivas?

Offline gogorongon

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Re: As vantagens do Pessimismo
« Resposta #24 Online: 26 de Setembro de 2011, 09:29:54 »
Há tipos diferentes de pessimistas, e o terceiro "que" no meu post anterior está lá justamente para indicar isso.

:hihi: Bom dia.
« Última modificação: 26 de Setembro de 2011, 09:32:07 por gogorongon »

 

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