no caso, psicologia não é ciência. O peer review deve ser filosofia de botequim
Virou adepto da teoria do cientista sobre ciência?
Mas... ai ai meu santo...
Parcus, eu já estava pensando que você já racionalizava melhor minha racionalização. Acabo de ver que não é bem assim. É uma decepção, mas vou tentar melhor, do jeito que eu puder.
"Teoria do cientista sobre ciência"????!!!! Qual?? Sinto-me lisonjeado pelo c minúsculo! Todavia, que negócio de adeptismo motivado por mim é esse? Acaso propagandeio alguma religião ou algo similar?
no caso, psicologia não é ciência. O peer review deve ser filosofia de botequim
Virou adepto da teoria do cientista sobre ciência?
não, de maneira alguma. Mas psicologia é demais..
"Não, de maneira alguma"? Nossa! Mas que coisa horripilante isso pareceria ser, não?
Além do que... psicologia pode ser ciência sim e, se o espaço para que o seja se desvanece, se já não há mais espaço para ser ciência, já pôde ter sido em algum momento. Isto é até um detalhe importante que se levanta aqui -- o dinamismo desvanecente do processo científico. Empreendimentos intelectuais não são ciência sempre, indefinidamente. Medicina, em geral, já não é mais ciência; mas foi, em sua origem. Engenharia civil já não é mais ciência; mas foi em sua origem.
Tentemos lembrar mais uma vez: ciência não é "o que pensar", mas *como pensar*. Quando se alcança um modo melhor, mais exato, principalmente mais abrangente, mais amplo de pensar sobre algo, normalmente, o modo anterior, se era científico, deixa de ser e cede ao modo mais abrangente e mais penetrante à realidade. Normalmente, um rastro de possibilidades tecnológias fica pelo caminho ou se abre à frente, erigindo (ou rebaixando?...) à tecnologia o que antes era ciência ou evidenciando que o que antes era tido como ciência, não é. E o que antes era ciência, não se discute mais. Ciência sempre é intrinsecamente discutível (quando confrontada com seu recíproco filosófico); tecnologia, não.
Vejamos... meu senhor do santo sepulcro!
Uma revelação o que encontro aqui. Descubro que "o que eu entendo como ciência" não está claramente entendido. Vou tentar melhor: o que entendo como ciência é *exatamente o que ciência é* a despeito de todo o corrompimento que o termo sofreu de sua aplicação concernente até hoje. Ciência é a relação realista entre "ente" cognitivo (máquina cognitiva mesmo) e realidade, relação que se estrutura e se expressa em forma de linguagem, que só pode existir quando o "ente" cognitivo está livre, ao menos, dos efeitos finais dos distúrbios (defeitos) filosóficos da linguagem; ciência é, em virtude disto, minimização linguística rigorosa, passando, muito provavelmente e cada vez mais evidentemente, por cima de muitas complexificações linguísticas evolutivas "necessárias" ao processo evolutivo; ciência NÃO é tecnologia; ciência é o processo inverso da filosofação -- quanto mais científico um sistema cognitivo é, quanto mais científicos seu comportamento e suas respostas, menos filosófico e vice-versa (todavia, como trata-se de processo linguístico, não deve haver continuidade transitiva e sim domínios processuais linguísticos totalmente diferentes e estanques); ciência não é algo que se constrói externamente como conhecimento, não existe uma "ciência constructo humano" como uma realidade exterior ao homem (constructos teóricos humanos com suportes exteriores são, invariavelmente, ilusões, não conhecimento científico); se um homem não pensa cientificamente não existe ciência para ele como algo objetivo, que é a única relação que pode haver entre "ente" cognitivo e realidade ainda que o mesmo interaja com registros linguísticos científicos estáticos -- documentos científicos, que são suportes para informações ou conhecimentos científicos mas que, de forma alguma, se confundem com o que seria "a própria ciência". O que mais posso enumerar?...
Por tudo isto, ciência está aquém de qualquer princípio 'manualista' -- ou bem se pensa cientificamente ou bem se segue algum manual. Manuais são, pela própria natureza, acientíficos e, até, anticientíficos no caso específico daqueles que se supõe manuais de ciência. Infelizmente, há a crença nisso, mas não há manual para ciência. Se há algum manual a seguir, o que se segue nesse manual pode ser qualquer coisa, até mesmo uma "filosofia melhor que outra", menos ciência.
Ciência é uma minimização não degenerada do processo linguístico de relação entre 'centro cognitivo' e vizinhança sistêmica. O problema que vejo é o entendimento de ciência como um método entre muitos possíveis de abordagem da realidade, vista, assim, como "mais uma filosofia" (apenas "diferente" de outras e até vista como potencialmente mais útil ou, de alguma forma, melhor que outras, mas... "só mais uma filosofia", passível de ser questão de escolha). Não é isso -- ciência é o que sobra após a extinção dos métodos, dos rituais, ou seja, após a simplificação rigorosa da linguagem que registra e exprime representações da realidade. É, assim, residual do processo cognitivo humano.
Daí toda essa comparabilidade feita por tantos entre ciência e outras essencialmente supostamente não inferiores "possibilidades explanatórias da realidade" ser clara indicadora da triste realidade de que o grosso da humanidade não faz a menor ideia do que seja ciência ou, muito pior que isso, criaram e implantaram uma ideia deturpada de ciência que não mantem nenhuma conexão com a ruptura filosófica que houve. Apropriaram-se do termo para a inclusão de "mais uma possível maneira de filosofar" recrudescendo a um passado anterior à própria "aparição" do 'princípio científico', deturpando-o utilizando-se do próprio benefício do mesmo, o que é uma extraordinária ironia do destino. Não há tal coisa como "algo melhor ou pior que ciência para explicar tal ou qual coisa", não porque ciência seja hierarquicamente superior a qualquer "outro" princípio filosófico mas porque trata-se de outra coisa completamente diversa de qualquer princípio filosófico -- seu oposto simétrico. Não é "o melhor que temos para explicar a realidade" porque não é uma filosofia melhor que outras; é só o resultado da linguagem não distorcida, do fim da filosofia.
Peguemos um gancho daqui mesmo:
Os cientistas deveriam buscar a conhecimento pelo conhecimento, não por retorno financeiro.
Mas é (falando permissivamente, é claro -- cientistas não "buscam conhecimento", realmente) o que CIENTISTAS fazem. Os que não fazem isso recebem uma 'carimbada científica', uma espécie de 'permissão bondiana para matar' de instituições acadêmicas que ensejaram o desvario insano de se arvorarem a instalações fabris de produção em série de cientistas usando-se o método filosófico de que há método para ciência e tal pode ser programado nas "máquinas" produzidas em série, como ciência fosse algum tirocínio -- exatamente o que se faz em qualquer religião, o que não é mera coincidência. Ademais, ainda promovem a ulterior fantasia de que a própria ciência possa ser produzida em série numa linha de montagem. Claro, se houvesse método para ela, poderia mesmo. Mas não há, para além de uma crença como qualquer outra.
Ciência não é profissão porque, em toda profissão, é essencial a projeção de resultados factíveis dentro de modelos em que se pode esperar, se não com absoluta certeza, pelo menos dentro de uma estatística de possíveis resultados antecipáveis. Em ciência, pela própria essência da mesma, essa antecipação não existe. Isso existe para o desenvolvimento de tecnologia que, considerando ter uma "fronteira" com ciência (que eu entendo que nem mesmo tal fronteira existe dada a enorme separação entre as duas -- relacionam-se, mas não se tocam), muitos têm atravessado tal fronteira inadvertida e inconsequentemente resultando na confusão e consequente crença de que há método para ciência -- o que seria o mesmo método usado em tecnologia. Chama-se a tudo que cheira tecnologia, de ciência, e multiplica-se, assim, infinitamente o número de "cientistas".
E aqui encontramos a razão dessa devassidão acadêmica deplorável que presenciamos: Quiseram, à força, erigir ciência a uma profissão e o resultado está aí. Tem um filme de que me lembrei agora, com o Sean Connery, o Dustin Hoffman e o Mathew Broderick (espero ter escrito os nomes corretamente), Negócios em Família, que já tratava dessa questão já há alguns anos. Abordava uma tramóia de uma empresa de biotecnologia que havia recebido um gordo investimento, não sei se governamental ou privado, para produzir uma espécie de defensivo agrícola, não lembro bem. O fato é que não puderam cumprir com a tarefa e forjaram um roubo que teria levado toda a documentação e amostras essenciais sem as quais não seria possível prosseguir em tempo hábil. No filme (não tenho certeza), falava-se que o que estava em desenvolvimento ali era ciência. Mas, era ciência ou tecnologia que estava em questão?
Há técnicas para desenvolvimento de tecnologia, mas sem ciência suficiente não há nenhuma previsibilidade. Por sua vez, para a própria ciência não há nem técnica nem previsibilidade. E está aí a diferença (uma delas). E a inexistente "tênue linha" que muitos acreditam existir e inexistir ao mesmo tempo por não serem aptos a vê-la mas por terem uma fé latente nela.
Então... o que entendo como ciência mesmo?
A propósito, isso me fez lembrar de um comentário num outro tópico que li aqui há algum tempo atrás que, tendo sido ou não para me instigar caso eu lesse, o efeito foi o mesmo já que suponho que o autor deva saber o efeito que tal comentário possa produzir em mim, que me deu uma vontade danada de responder, que cheguei a começar a responder, mas que acabei desistindo por falta de tempo e paciência. Vou procurar, responder e depois coloco um link para lá aqui.
Aqui está:
../forum/topic=25642.0.html#msg662671