Autor Tópico: Não mexerei um palito pela blogueira cubana, diz Fernando Morais  (Lida 4869 vezes)

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Offline Sr. Alguém

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Não mexerei um palito pela blogueira cubana, diz Fernando Morais
« Online: 29 de Janeiro de 2012, 19:25:08 »
Jornalista e escritor, e portanto defensor e dependente da liberdade de expressão, Fernando Morais, reconhecido especialista em Cuba, não pretende se envolver no caso da blogueira cubana Yoani Sánchez, cuja tentativa de vir ao Brasil virou notícia nestes dias que antecedem viagem da presidenta Dilma Rousseff à ilha de Fidel Castro.
Por André Barrocal

Morais quer distância do assunto por um motivo simples: política. Amigo da revolução castrista, cujo saldo considera positivo ao povo de lá, o escritor acredita que críticas públicas ao país – e ele diz que também teria razões para criticar - só “ajudariam o inimigo”, os Estados Unidos e seu bloqueio à ilha. Yoani discorda do regime e o ataca via blog. Para Morais, ajudá-la é ficar contra a revolução.
 
“Sou defensor da liberdade de expressão. Mas, em primeiro lugar, defendo o direito de 11 milhões de cubanos que estão sendo espezinhados pelos americanos”, afirmou o escritor nesta sexta-feira (27), durante um debate sobre livro que lançou no segundo semestre de 2011 sobre a prisão e a condenação de cinco cubanos nos Estados Unidos, chamado “Os últimos soldados da guerra fria”.
 
“Em nome das minhas convicções, não posso apoiar uma moça que vem dedicando a vida a combater a revolução”, disse Morais no debate, que fez parte das atividades do Fórum Social Temático, grande encontro de esquerda. “Eu não vou mexer um palito para que essa moça venha ao Brasil.”
 
Quando começou a correr a notícia de que Dilma irá a Cuba – será na próxima segunda-feira (30), a primeira viagem internacional da presidenta em 2012 -, Yoani anunciou no Twitter que queria um visto brasileiro, para vir ao país. Depois, escreveu uma carta a Dilma com o mesmo pedido.
 
Com dificuldade para obter visto no governo Lula, a blogueira teve mais sorte agora. Quarta-feira (25), o ministério das Relações Exteriores informou que daria um visto especial de 90 dias para ela. Mas Yoani ainda precisa de autorização do governo cubano para deixar o país, e Morais, que tem contato com autoridades de lá, não pretende interceder a favor dela.
 
Para o escritor, apesar do tipo de crítica que Yoani faz – a falta de liberdade é a principal -, o saldo da revolução cubana não justificaria tentar derrubar o regime. No debate, ele disse que não há crianças pedindo esmola na rua, analfabetismo e (caso único no hemisfério sul) desnutrição infantil, enquanto a taxa de mortalidade infantil é a metade da vista nos EUA.
 
Tudo isso foi conquistado, lembrou, apesar do bloqueio norte-americano, que atrapalha o desenvolvimento cubano. O boicote começou nos anos 60 e foi reforçado nos anos 90 no governo do ex-presidente Bill Clinton, que pertence ao Partido Democrata, em tese, mais à esquerda, dentro daquilo que pode ser considerado “esquerda” nos EUA.
 
“Já perdi a inocência com os Estados Unidos. Na política externa, não faz a menor diferença se é democrata ou republicano”, afirmou Morais. “Quem meteu os americanos nas piores aventuras externas foram os democratas. E quem tirou, foram os republicanos”, completou o escritor.
Para Morais, o governo Obama "não mudou absolutamente nada" na política externa americana, apesar da expectativa inicial que foi criada. Por isso, ele não acredita que haja qualquer distensão na relação entre Cuba e EUA sob o comando do atual candidato à reeleição.
 
Fonte: Cartamaior

http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=174294&id_secao=1
« Última modificação: 29 de Janeiro de 2012, 22:16:39 por Geotecton »
Se você acha que sua crença é baseada na razão, você a defenderá com argumentos e não pela força e renunciará a ela se seus argumentos se mostrarem inválidos. (Bertrand Russell)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Humanismo_secular
http://pt.wikipedia.org/wiki/Liberalismo_social

Offline Sr. Alguém

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Re:Não mexerei um palito pela blogueira cubana, diz Fernando Morais
« Resposta #1 Online: 29 de Janeiro de 2012, 19:28:15 »
Os comentários no site dessa noticia são bem divertidos...
Se você acha que sua crença é baseada na razão, você a defenderá com argumentos e não pela força e renunciará a ela se seus argumentos se mostrarem inválidos. (Bertrand Russell)
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Offline Barata Tenno

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Re:Não mexerei um palito pela blogueira cubana, diz Fernando Morais
« Resposta #2 Online: 29 de Janeiro de 2012, 19:29:08 »
Tenho certeza que esse mesmo cara deve reclamar da falta de democracia no Brasil, dizer que a imprensa é golpista e que a policia é abusiva.
He who fights with monsters should look to it that he himself does not become a monster. And when you gaze long into an abyss the abyss also gazes into you. Friedrich Nietzsche

Offline Diegojaf

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Re:Não mexerei um palito pela blogueira cubana, diz Fernando Morais
« Resposta #3 Online: 29 de Janeiro de 2012, 21:03:50 »
Os comentários no site dessa noticia são bem divertidos...

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Offline Geotecton

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Re:Não mexerei um palito pela blogueira cubana, diz Fernando Morais
« Resposta #4 Online: 29 de Janeiro de 2012, 22:20:38 »
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[...]
“Quem meteu os americanos nas piores aventuras externas foram os democratas. E quem tirou, foram os republicanos”, completou o escritor.
[...]

Quem repete o clichê supra, não merece muita consideração.


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[...]
Para o escritor, apesar do tipo de crítica que Yoani faz – a falta de liberdade é a principal -, o saldo da revolução cubana não justificaria tentar derrubar o regime. No debate, ele disse que não há crianças pedindo esmola na rua, analfabetismo e (caso único no hemisfério sul) desnutrição infantil, enquanto a taxa de mortalidade infantil é a metade da vista nos EUA.
[...]

Este intelectualóide certamente cerrou os olhos para todos os assassinatos políticos e todas as atrocidades que o regime cubano cometeu. Tudo em nome da "revolução".

Mas deve ter denunciado e se posicionado contra até mesmo para a mais amena atitude autoritária tomada por qualquer governo de centro e de direita.

Odeio idiotas ideologizados duplipensantes.
« Última modificação: 29 de Janeiro de 2012, 22:26:44 por Geotecton »
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Offline Fabrício

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Re:Não mexerei um palito pela blogueira cubana, diz Fernando Morais
« Resposta #5 Online: 30 de Janeiro de 2012, 22:10:58 »
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[...]
“Quem meteu os americanos nas piores aventuras externas foram os democratas. E quem tirou, foram os republicanos”, completou o escritor.
[...]

Quem repete o clichê supra, não merece muita consideração.


Citar
[...]
Para o escritor, apesar do tipo de crítica que Yoani faz – a falta de liberdade é a principal -, o saldo da revolução cubana não justificaria tentar derrubar o regime. No debate, ele disse que não há crianças pedindo esmola na rua, analfabetismo e (caso único no hemisfério sul) desnutrição infantil, enquanto a taxa de mortalidade infantil é a metade da vista nos EUA.
[...]

Este intelectualóide certamente cerrou os olhos para todos os assassinatos políticos e todas as atrocidades que o regime cubano cometeu. Tudo em nome da "revolução".

Mas deve ter denunciado e se posicionado contra até mesmo para a mais amena atitude autoritária tomada por qualquer governo de centro e de direita.

Odeio idiotas ideologizados duplipensantes.

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Offline Barata Tenno

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Re:Não mexerei um palito pela blogueira cubana, diz Fernando Morais
« Resposta #6 Online: 30 de Janeiro de 2012, 22:17:33 »
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[...]
“Quem meteu os americanos nas piores aventuras externas foram os democratas. E quem tirou, foram os republicanos”, completou o escritor.
[...]

Quem repete o clichê supra, não merece muita consideração.







Eu me lembro de ter lido em algum lugar que quem mais começou guerras foram os democratas e não os republicanos. Confere?
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Offline Geotecton

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Re:Não mexerei um palito pela blogueira cubana, diz Fernando Morais
« Resposta #7 Online: 30 de Janeiro de 2012, 22:47:26 »
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[...]
“Quem meteu os americanos nas piores aventuras externas foram os democratas. E quem tirou, foram os republicanos”, completou o escritor.
[...]
Quem repete o clichê supra, não merece muita consideração.
Eu me lembro de ter lido em algum lugar que quem mais começou guerras foram os democratas e não os republicanos. Confere?

Mesmo que seja verdade, há a necessidade de contextualizar. O caso da Guerra do Vietnã é um bom exemplo.

Ela começou na administração de um democrata (Kennedy) e terminou na de um republicano (Nixon). Mas sob o governo Nixon ocorreram as maiores batalhas terrestres, os maiores ataques aéreos (operação Linebacker, por exemplo) e a ampliação dos conflitos para o Camboja e para o Laos.
« Última modificação: 31 de Janeiro de 2012, 08:21:01 por Geotecton »
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Offline Derfel

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Re:Não mexerei um palito pela blogueira cubana, diz Fernando Morais
« Resposta #8 Online: 31 de Janeiro de 2012, 07:56:55 »
Não compreendo o que uma coisa tem a ver com a outra: o que tem ser a favor de Cuba e ser contra a jornalista.

Offline TMAG

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Re:Não mexerei um palito pela blogueira cubana, diz Fernando Morais
« Resposta #9 Online: 31 de Janeiro de 2012, 14:09:42 »
Para o escritor, apesar do tipo de crítica que Yoani faz – a falta de liberdade é a principal -, o saldo da revolução cubana não justificaria tentar derrubar o regime. No debate, ele disse que não há crianças pedindo esmola na rua, analfabetismo e (caso único no hemisfério sul) desnutrição infantil, enquanto a taxa de mortalidade infantil é a metade da vista nos EUA.

Essa passagem me chamou atenção, mesmo que os dados sobre Cuba sejam reais, de onde esses imbecis tiraram que Cuba fica no hemisfério sul? Parece que esse texto é defensor daquelas teorias bizarras sul-norte (a ideia de que países capitalistas ricos do hemisfério norte só se desonvolveram porque exploraram países pobres do hemisfério sul). Outra coisa interessante que é convenientemente esquecida pelos esquerdistas que defendem essas teorias sul-norte é que muitos países africanos ficam no hemisfério norte, enquanto Chile, Austrália e Nova Zelândia ficam no hemisfério sul. Gostaria de ver as crianças pedindo esmola nas ruas de Sydney e a massa de jovens analfabetos da Nova Zelândia.
« Última modificação: 31 de Janeiro de 2012, 14:11:51 por TMAG »
''O objetivo dos Governos é sempre o mesmo: limitar o indivíduo, domesticá-lo, subordiná-lo, subjugá-lo.'' - Max Stirner

Offline Daniel_1993

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Re:Não mexerei um palito pela blogueira cubana, diz Fernando Morais
« Resposta #10 Online: 31 de Janeiro de 2012, 16:29:12 »
O oportunismo da blogueira cubana Yoani Sánchez

A multipremiada blogueira Yoani Sánchez acrescentou novas pérolas ao ciberbestiário, conforme o apresentado em sua antológica entrevista ao historiador francês Salim Lamrani*.

Por Iroel Sánchez, no blog La Pupila Insomne

Em diálogo com o jornal porto-riquenho El Nuevo Dia, a senhora Sánchez investe contra o povo cubano, a quem atribui o comportamento daqueles que, como ela, só pensam com o bolso:

"Digamos que haja uns 10% de pessoas que acreditam realmente no sistema, que estão próximos aos governantes. Há uns 10% no outro extremo, que acreditam que é preciso ser completamente desmontado. Em média, uns 80% que se move de um lado para outro, segundo sopra o vento, porque o oportunismo penetrou muito fundo no país. Se amanhã Raúl Castro disser que os salários vão ser aumentados em 40 pesos cubanos, esses 80% estarão com os 10% que aplaudem; se depois de amanhã, Castro disser que o café não será mais puro, mas misturado com grão-de-bico, esses 80% passarão para outro lado".

Ao que parece, preocupada em perder destaque na imprensa da metrópole, após documentos revelados por Wikileaks, que demonstraram sua subordinação ao governo dos Estados Unidos, esta pessoa agora deprecia seus compatriotas diante de um jornal da colônia que os EUA mantêm no Caribe.

Para maior subserviência, ela se declara a serviço de quem usurpou a independência do povo de Porto Rico e quer converter Cuba em uma colônia estadunidense.

Se "o oportunismo calou fundo o país", os que atuam como Yoani Sánchez levaram a maior parte, atuando "de acordo como sopra o vento' dos dólares que recebem por agradar ao Tio Sam.

Embora a entrevista tenha o dramático nome de "Cuba: últimas imagens do naufrágio", é a credibilidade da senhora Sánchez que não tem mais remédio, após as referidas revelações de Wikileaks. Certamente, o entrevistador relata que falaram "sem medo" e deve ser por isto que a palavra Wikileaks não aparece em nenhuma parte...

Ciberbestiário de Yoani Sánchez

* Entrevista realizada pelo investigador francês Salim Lamrani com Yoani Sánchez e publicada no sítio Rebelión, em abril de 2010, cujas declarações, em alguns momentos, relembram as de Bush:

- (A lei de Ajuste Cubano dos EUA contra Cuba não é ingerência porque) há fortes relações. Jogamos beisebol em Cuba como nos Estados Unidos.

- Privatizar, não gosto deste termo porque tem uma conotação pejorativa, mas colocar em mãos privadas, sim.

- Não diria que (o lobby fundamentalista de Miami, sic) são inimigos da pátria.

- Pensei que com que aprendi na Suíça, regressando a Cuba eu poderia mudar as coisas.

- Estas pessoas que estão a favor das sanções econômicas (a população de seu país) não são anticubanas. Penso que defendem Cuba segundo seus próprios critérios.

- (A questão ds Cinco presos nos Estados Unidos) não é um tema que interessa à população. É propaganda política.

- (O caso Posada Carriles) é um tema político que não interessa às pessoas. É uma cortina de fumaça.

- (Os Cinco) O governo cubano disse que não desempenhavam atividades de espionagem e sim que estavam infiltrados em grupos cubanos para evitar atos terroristas. Mas o governo cubano sempre disse que estes grupos estavam vinculados a Washington.

- Muitos escritores latino-americanos mereciam o prêmio Nobel de Literaturas, mais que Gabriel Garcia Márquez.

- (Já houve uma invasão dos EUA em Cuba) Quando?

- Os Estados Unidos desejam uma mudança de governo em Cuba, mas é o que desejo também.

- O regime (de Batista que assassinou 20.000 cubanos) era uma ditadura, mas havia uma liberdade de imprensa plural e aberta.

- Foi apresentado pelos Estados Unidos o financiamento da oposição como uma realidade, o que não é o caso... Podemos admitir que o fato de financiar uma oposição seja uma prova de ingerência.

- Cuba é uma ilha sui generis. Podemos criar um capitalismo sui generis.

* Tradução de Sandra Luiz Alves.
“You will never be happy if you continue to search for what happiness consists of. You will never live if you are looking for the meaning of life.”
― Albert Camus

“The way to love anything is to realize that it may be lost.”
― G.K. Chesterton

“The first duty of a man is to think for himself”
― José Martí

Não sou mais um marxista-stalinista: ../forum/topic=30157.0.html

Offline Daniel_1993

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Re:Não mexerei um palito pela blogueira cubana, diz Fernando Morais
« Resposta #11 Online: 31 de Janeiro de 2012, 19:18:35 »
A blogueira que virou santa é a dona da semana



Não sei se ainda é a ressaca da volta das férias, relatada aqui no último texto. Não sei nem ao certo se as coisas sempre foram e são assim ou se esse sentimento de que tudo em volta anda carregado é desses dias ou desde sempre. O fato é que os últimos dias tiveram cor de chumbo. Não o chumbo dos anos de sufoco, mas um chumbo misturado com cinismo, com a “força da grana que mata e destrói coisas belas”, e uma sensação de que as coisas estão passando como rolo compressor por todo mundo, e a tal força da grana, o poderio econômico, a concentração de poder nos meios de comunicação e os tempos do pensamento único no mundo chegaram definitivamente para paralisar todo mundo. Com a agravante de que, em tempos de redes sociais, todo mundo se acha fazendo sua parte tuitando. É a rebeldia emoldurada em 140 caracteres.
Dias de envergonhar a espécie humana, com a barbárie do Pinheirinho, a omissão de sempre dos governantes nos prédios que desabam (como já tinha sido no bonde, nos temporais, em tantas coisas...), com o chocante relato na reportagem de Eliane Brum (sempre ela...!), “A Amazônia, segundo um morto e um fugitivo”, disponível na internet. Para completar, na semana que entra, temos a monótona, repleta de chavões e inverdades, parcial, acrítica, e muitas vezes beirando o desonesto, cobertura da visita da presidenta Dilma a Cuba. Desde já, nossa imprensa elegeu a personagem da viagem, não importando o que irá acontecer: Yoani Sánchez, a blogueira cubana. Eleita estrela pop pela imprensa mundial já há algum tempo.

Yoani Sánchez todos conhecem. Ou acham que sim. A tal blogueira que virou símbolo mundial na luta “pelos direitos humanos em Cuba”, “contra a falta de liberdade de expressão em Cuba”, etc... Não iria aqui (prestem atenção nesse trecho antes de enviar afirmações deturpadas sobre minhas opiniões... ) ignorar problemas, alguns graves, ocorridos ao longo do processo revolucionário em Cuba, desde 1959. Apenas é preciso tentar ver o outro lado sem a dose de cinismo com que geralmente a nossa imprensa o faz, assim como a maioria esmagadora da imprensa do ocidente. Sem ignorar os bloqueios, as sabotagens, as criminosas tentativas de homicídio partidas de Washington e outras variáveis. Estive na ilha por diversas e diferentes razões, e por isso gosto mais ainda dos versos de Pablo Milanez, equilibrado em reconhecer as contradições da revolução e seus méritos em “Acto de Fe”.

É preciso se despir de preconceitos, conceitos prontos e chavões para ao menos manter o senso crítico quando se vê, repetidas e monótonas vezes, a afirmação dos “desrespeitos e violação aos direitos humanos em Cuba”. Ou se fala com absoluto conhecimento de causa, se é capaz de afirmar com conhecimento e critério jornalístico, provando, ou nos resta como referência o órgão mundial que trata sobre o assunto. E segundo a Anistia Internacional, que de forma alguma pode ser apontada como conivente com Cuba, (muito pelo contrário), em parecer de abril de 2011, “no continente americano, é o país que menos viola os direitos humanos ou que melhor os respeita é Cuba. O parecer está no sítio da Anistia Internacional, em três idiomas. De qualquer forma, sempre chega a ser risível falar em “violação aos direitos humanos” vivendo no Brasil de Pinheirinhos, das remoções nas grandes cidades pelo estado de exceção que se instala por causa da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016, da Candelária, do Carandiru, da reportagem acima citada de Eliane Brum... E poderíamos seguir dando tantos exemplos, infinitos, né?

O mesmo informe da Anistia Internacional dá conta de que 23 dos 27 países que votaram por sanções contra Cuba por violações dos direitos humanos são apontados pela própria Anistia como violadores muito maiores do que Cuba nos direitos humanos. O que nos leva a crer que a maior violação aos direitos humanos em Cuba está mesmo na base militar americana de Guantánamo. Quem dirá o contrário, quem será capaz?

Tampouco eu seria panfletário ou bobinho de falar em “liberdade de expressão” em Cuba. Apenas não sou panfletário ou bobinho de omitir o nosso quadro. Ou o das grandes corporações, dos barões da mídia mundiais. Alguém ignora o quanto de poderio econômico serve de filtro para o noticiário nosso de cada dia, para escolher o que vai para as páginas ou ao ar? Se não acredita, então fique esperando no horário nobre a apuração séria dos desmandos da Copa de 2014 ou 2016. Não vale algo pontual, quando o próprio interesse está em jogo...


Esqueçam as duas linhas de quatro, o 4-2-3-1 e as confusões da Turma do Didi (diretoria do Flamengo) e Luxemburgo, além da operação de Rogério Ceni. A semana que começa será de Yoani Sánchez, alguém tem dúvida? Brasileiros envolvidos na cobertura da visita de Dilma a Cuba irão procurar a blogueira. Traçarão perfis. Ela que ganhou espaço como colunista do Globo, que recebeu o Jornal Nacional esses dias e tem dado entrevista pra todos os órgãos de imprensa brasileiros, irá falar mais do que nunca. Espera-se que os envolvidos na cobertura tenham ao menos um pouco da categoria e cumpram os deveres do ofício como fez o jornalista francês Salim Lamrani, professor da Sorbonne. O único jornalista do mundo até aqui a fazer algumas perguntas elementares para Yoani. O único a estranhar que a blogueira tenha recebido Bisa Williams, diplomata americana em sua casa e não tenha revelado. O único a pelo menos questionar o que poderia estar por trás da dimensão que Yoani ganhou no mundo, além dos 300 mil euros recebidos em prêmios nos últimos tempos. Uma entrevista que vale a pena. É enorme, mas vale. Pelo menos para que possamos ter algumas interrogações quando começar a “semana Yoani”.

Aos colegas envolvidos na cobertura in loco, boa sorte. Independentemente de sistemas políticos, o que fica ao fim de tudo, sempre, é gente. Curtam essa gente especial. Em alguns momentos, não saberão se estão na Pedra do Sal, aqui em São Sebastião do Rio de Janeiro ou em Habana Vieja. Esqueçam as questões ideológicas e travem conversa com aqueles que mais rápido falam no mundo. Ninguém consegue falar mais rápido do que um cubano, quase engolindo sílabas. Esqueça os chavões, o que leu. Não comece a conversa por “companheiro”. Quem é de rua sabe que nas quebradas o papo é outro. Bote a mão no ombro, chame de “sócio”, “cumpadre”, “amigo” que seja. Vai encontrar uma gente altiva, de cabeça erguida. Na correria, como em qualquer lugar do mundo. Lembrem-se também que o mojito é na Bodeguita e o daiquiri na Floridita... E na hora em que estiver trabalhando, oxalá possa deixar os preconceitos de lado. Nem de um lado nem do outro. Do mesmo jeito que não valem as versões e protocolos oficiais, se der para relativizar pelo menos tudo o que vê de mazelas, tentar entender o contexto, ir além, vai dar para sair de cabeça erguida. Do contrário, se for mais um voltando com velhos chavões e preconceitos, será mais um a conhecer a maldição da despedida em Cuba. Consta que todos aqueles que não foram capazes de manter o equilíbrio e a correção em coberturas habaneiras, ganharam um nó eterno na garganta, adquirido na hora de ir embora e que acompanha o resto da vida, em forma de vergonha. Bate forte como arrependimento quando se pensa em tudo o que se escreveu pensando na voz do dono. Um mal que acomete a quem pecou diante de Gutemberg, e vem quando se passa pelos dizeres na saída do aeroporto (nada pode ser mais devastador):

“Esta noite, 200 milhões de crianças dormirão nas ruas do mundo. Nenhuma delas é cubana”.


===================================================================

ENTREVISTA COM YOANI SÁNCHEZ, por SALIM LAMRANI:

Yoani Sánchez é a nova personalidade da oposição cubana. Desde a criação de seu blog, Generación Y, em 2007, obteve inúmeros prêmios internacionais: o prêmio de Jornalismo Ortega y Gasset (2008), o prêmio Bitacoras.com (2008), o prêmio The Bob's (2008), o prêmio Maria Moors Cabot (2008) da prestigiada universidade norte-americana de Colúmbia. Do mesmo modo, a blogueira foi escolhida como uma das 100 personalidades mais influentes do mundo pela revista Time(2008), em companhia de George W. Bush, Hu Jintao e Dalai Lama.

Seu blog foi incluído na lista dos 25 melhores do mundo do canal CNN e da Time(2008). Em 30 de novembro de 2008, o diário espanhol El País a incluiu na lista das 100 personalidades hispano-americanas mais influentes do ano (lista na qual não apareciam nem Fidel Castro, nem Raúl Castro). A revista Foreign Policy, por sua vez, a considerou um dos 10 intelectuais mais importantes do ano, enquanto a revista mexicana Gato Pardofez o mesmo para 2008.

Esta impressionante avalanche de distinções simultâneas suscitou numerosas interrogações, ainda mais considerando que Yoani Sánchez, segundo suas próprias confissões, é uma total desconhecida em seu próprio país. Como uma pessoa desconhecida por seus vizinhos - segundo a própria blogueira - pode integrar a lista das 100 personalidades mais influentes do ano?

Um diplomata ocidental próximo desta atípica opositora do governo de Havana havia lido uma série de artigos que escrevi sobre Yoani Sánchez e que eram relativamente críticos. Ele os mostrou à blogueira cubana, que quis reunir-se comigo para esclarecer alguns pontos abordados.

O encontro com a jovem dissidente de fama controvertida não ocorreu em algum apartamento escuro, com as janelas fechadas, ou em um lugar isolado e recluso para escapar aos ouvidos indiscretos da "polícia política". Ao contrário, aconteceu no saguão do Hotel Plaza, no centro de Havana Velha, em uma tarde inundada de sol. O local estava bem movimentado, com numerosos turistas estrangeiros que perambulavam pelo imenso salão do edifício majestoso que abriu suas portas no início do século XX.

Yoani Sánchez vive perto das embaixadas ocidentais. De fato, uma simples chamada de meu contato ao meio-dia permitiu que combinássemos o encontro para três horas depois. Às 15h, a blogueira apareceu sorridente, vestida com uma saia longa e uma camiseta azul. Também usava uma jaqueta esportiva, para amenizar o relativo frescor do inverno havanês.

Foram cerca de duas horas de conversa ao redor de uma mesa do bar do hotel, com a presença de seu marido, Reinaldo Escobar, que a acompanhou durante uns vinte minutos antes de sair para outro encontro. Yoani Sánchez mostrou-se extremamente cordial e afável e exibiu grande tranquilidade. Seu tom de voz era seguro e em nenhum momento ela pareceu incomodada. Acostumada aos meios ocidentais, domina relativamente bem a arte da comunicação.

Esta blogueira, personagem de aparência frágil, inteligente e sagaz, tem consciência de que, embora lhe seja difícil admitir, sua midiatização no Ocidente não é uma causalidade, mas se deve ao fato de ela preconizar a instauração de um "capitalismo sui generis" em Cuba.

O incidente de 6 de novembro de 2009

Salim Lamrani - Comecemos pelo incidente ocorrido em 6 de novembro de 2009 em Havana. Em seu blog, a senhora explicou que foi presa com três amigos por "três robustos desconhecidos" durante uma "tarde carregada de pancadas, gritos e insultos". A senhora denunciou as violências de que foi vítima por parte das forças da ordem cubanas. Confirma sua versão dos fatos?

Yoani Sánchez - Efetivamente, confirmo que sofri violência. Mantiveram-me sequestrada por 25 minutos. Levei pancadas. Consegui pegar um papel que um deles levava no bolso e o coloquei em minha boca. Um deles pôs o joelho sobre meu peito e o outro, no assento dianteiro, me batia na região dos rins e golpeava minha cabeça para que eu abrisse a boca e soltasse o papel. Por um momento, achei que nunca sairia daquele carro.

SL - O relato, em seu blog, é verdadeiramente terrorífico. Cito textualmente: a senhora falou de "golpes e empurrões", de "golpes nos nós dos dedos", de "enxurrada de golpes", do "joelho sobre o [seu] peito", dos golpes nos "rins e [...] na cabeça", do "cabelo puxado", de seu "rosto avermelhado pela pressão e o corpo dolorido", dos "golpes [que] continuavam vindo" e "todas essas marcas roxas". No entanto, quando a senhora recebeu a imprensa internacional em 9 de novembro, todas as marcas haviam desaparecido. Como explica isso?

YS - São profissionais do espancamento.

SL - Certo, mas por que a senhora não tirou fotos das marcas?

YS - Tenho as fotos. Tenho provas fotográficas.

SL - Tem provas fotográficas?

YS - Tenho as provas fotográficas.

SL - Mas por que não as publicou para desmentir todos os rumores segundo os quais a senhora havia inventado uma agressão para que a imprensa falasse de seu caso?

YS - Por enquanto prefiro guardá-las e não publicá-las. Quero apresentá-las um dia perante um tribunal, para que esses três homens sejam julgados. Lembro-me perfeitamente de seus rostos e tenho fotos de pelo menos dois deles. Quanto ao terceiro, ainda não está identificado, mas, como se tratava do chefe, será fácil de encontrar. Tenho também o papel que tirei de um deles e que tem minha saliva, pois o coloquei na boca. Neste papel estava escrito o nome de uma mulher.

SL - Certo. A senhora publica muitas fotos em seu blog. Para nós é difícil entender por que prefere não mostrar as marcas desta vez.

YS - Como já lhe disse, prefiro guardá-las para a Justiça.

SL - A senhora entende que, com essa atitude, está dando crédito aos que pensam que a agressão foi uma invenção.

YS - É minha escolha.

SL - No entanto, até mesmo os meios ocidentais que lhe são mais favoráveis tomaram precauções oratórias pouco habituais para divulgar seu relato. O correspondente da BBC em Havana, Fernando Ravsberg, por exemplo, escreve que a senhora "não tem hematomas, marcas ou cicatrizes". A agência France Presseconta a história esclarecendo com muito cuidado que se trata de sua versão, sob o título "Cuba: a blogueira Yoani Sánchez diz ter sido agredida e detida brevemente". O jornalista afirma, por outro lado, que a senhora "não ficou ferida".

YS - Não quero avaliar o trabalho deles. Não sou eu quem deve julgá-lo. São profissionais que passam por situações muito complicadas, que não posso avaliar. O certo é que a existência ou não de marcas físicas não é a prova do fato.

SL - Mas a presença de marcas demonstraria que foram cometidas violências. Daí a importância da publicação das fotos.

YS - O senhor deve entender que tratamos de profissionais da intimidação. O fato de três desconhecidos terem me levado até um carro sem me apresentar nenhum documento me dá o direito de me queixar como se tivessem fraturado todos os ossos do corpo. As fotos não são importantes porque a ilegalidade está consumada. A precisão de que "me doeu aqui ou me doeu ali" é minha dor interior.

SL - Sim, mas o problema é que a senhora apresentou isso como uma agressão muito violenta. A senhora falou de "sequestro no pior estilo da Camorra siciliana".

YS - Sim, é verdade, mas sei que é minha palavra contra a deles. Entrar nesse tipo de detalhes, para saber se tenho marcas ou não, nos afasta do tema verdadeiro, que é o fato de terem me sequestrado durante 25 minutos de maneira ilegal.

SL - Perdoe-me a insistência, mas creio que é importante. Há uma diferença entre um controle de identidade que dura 25 minutos e violências policiais. Minha pergunta é simples. A senhora disse, textualmente: "Durante todo o fim de semana fiquei com a maçã do rosto e o supercílio inflamados." Como tem as fotos, pode agora mostrar as marcas.

YS - Já lhe disse que prefiro guardá-las para o tribunal.

SL - A senhora entende que, para algumas pessoas, será difícil acreditar em sua versão se a senhora não publicar as fotos.

YS - Penso que, entrando nesse tipo de detalhes, perde-se a essência. A essência é que três bloggers acompanhados por uma amiga dirigiam-se a um ponto da cidade que era a Rua 23, esquina G. Tínhamos ouvido falar que um grupo de jovens convocara uma passeata contra a violência. Pessoas alternativas, cantores de hip hop, de rap, artistas. Eu compareceria como blogueira para tirar fotos e publicá-las em meu blog e fazer entrevistas. No caminho, fomos interceptados por um carro da marca Geely.

SL - Para impedi-los de participar do evento?

YS - A razão, evidentemente, era esta. Eles nunca me disseram formalmente, mas era o objetivo. Disseram-me que entrasse no carro. Perguntei quem eles eram. Um deles me pegou pelo pulso e comecei a ir para trás. Isso aconteceu em uma zona bastante central de Havana, em um ponto de ônibus.

SL - Então havia outras pessoas. Havia testemunhas.

YS - Há testemunhas, mas não querem falar. Têm medo.
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Offline Daniel_1993

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Re:Não mexerei um palito pela blogueira cubana, diz Fernando Morais
« Resposta #12 Online: 31 de Janeiro de 2012, 19:24:43 »
SL - Nem mesmo de modo anônimo? Por que a imprensa ocidental não as entrevistou preservando seu anonimato, como faz muitas vezes quando publica reportagens críticas sobre Cuba?

YS - Não posso lhe explicar a reação da imprensa. Posso lhe contar o que aconteceu. Um deles era um homem de uns cinquenta anos, musculoso como se tivesse praticado luta livre em algum momento da vida. Digo-lhe isso porque meu pai praticou esse esporte e tem as mesmas características. Tenho os pulsos muito finos e consegui escapar, e lhe perguntei quem era. Havia três homens além do motorista.

SL - Então havia quatro homens no total, e não três.

YS - Sim, mas não vi o rosto do motorista. Disseram-me: "Yoani, entre no carro, você sabe quem somos." Respondi: "Não sei quem são os senhores." O mais baixo me disse: "Escute-me, voce sabe quem sou, você me conhece." Retruquei: "Não, não sei quem é você. Não o conheço. Quem é você? Mostre-me suas credenciais ou algum documento." O outro me disse: "Entre, não torne as coisas mais difíceis." Então comecei a gritar: "Socorro! Sequestradores! "

SL - A senhora sabia que se tratava de policiais à paisana?

YS - Imaginava, mas eles não me mostraram seus documentos.

SL - Qual era seu objetivo, então?

YS - Queria que as coisas fossem feitas dentro da legalidade, ou seja, que me mostrassem seus documentos e me levassem depois, embora eu suspeitasse que eles representavam a autoridade. Ninguém pode obrigar um cidadão a entrar em um carro particular sem apresentar suas credenciais. Isso é uma ilegalidade e um sequestro.

SL - Como as pessoas no ponto de ônibus reagiram?

YS - As pessoas no ponto ficaram atônitas, pois "sequestro" não é uma palavra que se usa em Cuba, não existe esse fenômeno. Então se perguntaram o que estava acontecendo. Não tínhamos jeito de delinquentes. Alguns se aproximaram, mas um dos policiais lhes gritou: "Não se metam, que são contrarrevolucioná rios!"

Esta foi a confirmação de que se tratava de membros da polícia política, embora eu já imaginasse por causa do carro Geely, que é chinês, de fabricação atual, e não é vendido em nenhuma loja em Cuba. Esses carros pertencem exclusivamente a membros do Ministério das Forças Armadas e do Ministério do Interior.

SL - Então a senhora sabia desde o início, pelo carro, que se tratava de policiais à paisana.

YS - Intuía. Por outro lado, tive a confirmação quando um deles chamou um policial uniformizado. Uma patrulha formada por um homem e uma mulher chegou e levou dois de nós. Deixou-nos nas mãos desses dois desconhecidos.

SL - Mas a senhora já não tinha a menor dúvida sobre quem eles eram.

YS - Não, mas não nos mostraram nenhum documento. Os policiais não nos disseram que representavam a autoridade. Não nos disseram nada.

SL - É difícil entender o interesse das autoridades cubanas em agredi-la fisicamente, sob o risco de provocar um escândalo internacional. A senhora é famosa. Por que teriam feito isso?

YS - Seu objetivo era radicalizar- me, para que eu escrevesse textos violentos contra eles. Mas não conseguirão.

SL - Não se pode dizer que a senhora é branda com o governo cubano.

YS -Nunca recorro à violência verbal nem a ataques pessoais. Nunca uso adjetivos incendiários, como "sangrenta repressão", por exemplo. Seu objetivo, então, era radicalizar- me.

SL - No entanto, a senhora é muito dura em relação ao governo de Havana. Em seu blog, a senhora diz: "o barco que faz água a ponto de naufragar". A senhora fala dos "gritos do déspota", de "seres das sombras, que, como vampiros, se alimentam de nossa alegria humana, nos incutem o medo por meio da agressão, da ameaça, da chantagem", e afirma que "naufragaram o processo, o sistema, as expectativas, as ilusões. [É um] naufráfio [total]". São palavras muito fortes.

YS - Talvez, mas o objetivo deles era queimar o fenômeno Yoani Sánchez, demonizar-me. Por isso meu blog permaneceu bloqueado por um bom tempo.

SL - Contudo, é surpreendente que as autoridades cubanas tenham decidido atacá-la fisicamente.

YS - Foi uma torpeza. Não entendo por que me impediram de assistir à passeata, pois não penso como aqueles que reprimem. Não tenho explicação. Talvez eles não quisessem que eu me reunisse com os jovens. Os policiais acreditavam que eu iria provocar um escândalo ou fazer um discurso incendiário.

Voltando ao assunto da detenção, os policiais levaram meus amigos de maneira enérgica e firme, mas sem violência. No momento em que me dei conta de que iriam nos deixar sozinhos com Orlando, com esses três tipos, agarrei-me a uma planta que havia na rua e Claudia agarrou-se a mim pela cintura para impedir a separação, antes de os policiais a levarem.

SL - Para que resistir às forças da ordem uniformizadas e correr o risco de ser acusada disso e cometer um delito? Na França, se resistimos à polícia, corremos o risco de sofrer sanções.

YS - De qualquer modo, eles nos levaram. A policial levou Claudia. As três pessoas nos levaram até o carro e comecei a gritar de novo: "Socorro! Um sequestro!"

SL - Por quê? A senhora sabia que se tratava de policiais à paisana.

YS - Não me mostraram nenhum papel. Então começaram a me bater e me empurraram em direção ao carro. Claudia foi testemunha e relatou isso.

SL - A senhora não acaba de me dizer que a patrulha a havia levado?

YS - Ela viu a cena de longe, enquanto o carro de polícia se afastava. Defendi-me e golpeei como um animal que sente que sua hora chegou. Deram uma volta rápida e tentaram tirar-me o papel da boca.

Agarrei um deles pelos testículos e ele redobrou a violência. Levaram-nos a um bairro bem periférico, La Timba, que fica perto da Praça da Revolução. O homem desceu, abriu a porta e pediu que saíssemos. Eu não quis descer. Eles nos fizeram sair à força com Orlando e foram embora.

Uma senhora chegou e dissemos que havíamos sido sequestrados. Ela nos achou malucos e se foi. O carro voltou, mas não parou. Eles só me jogaram minha bolsa, onde estavam meu celular e minha câmera.

SL - Voltaram para devolver seu celular e sua câmera?

YS - Sim.

SL - Não lhe parece estranho que se preocupassem em voltar? Poderiam ter confiscado seu celular e sua câmera, que são suas ferramentas de trabalho.

YS - Bem, não sei. Tudo durou 25 minutos.

SL - Mas a senhora entende que, enquanto não publicar as fotos, as pessoas duvidarão de sua versão, e isso lançará uma sombra sobre a credibilidade de tudo o que a senhora diz.

YS - Não importa.


A Suíça e o retorno a Cuba

SL - Em 2002, a senhora decidiu emigrar para a Suíça. Dois anos depois, voltou a Cuba. É difícil entender por que a senhora deixou o "paraíso europeu" para regressar ao país que descreve como um inferno. A pergunta é simples: por quê?

YS - É uma ótima pergunta. Primeiro, gosto de nadar contra a corrente. Gosto de organizar minha vida à minha maneira. O absurdo não é ir embora e voltar a Cuba, e sim as leis migratórias cubanas, que estipulam que toda pessoa que passa onze meses no exterior perde seu status de residente permanente.
 
Continuação:

http://espn.estadao.com.br/luciodecastro/post/238103_A+BLOGUEIRA+QUE+VIROU+SANTA+E+A+DONA+DA+SEMANA
 
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Offline Arcanjo Lúcifer

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Re:Não mexerei um palito pela blogueira cubana, diz Fernando Morais
« Resposta #13 Online: 31 de Janeiro de 2012, 19:31:34 »


 :lol:

Offline Derfel

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Re:Não mexerei um palito pela blogueira cubana, diz Fernando Morais
« Resposta #14 Online: 31 de Janeiro de 2012, 19:42:45 »
Acho que se fosse ela aproveitaria o visto para desertar e pedir asilo político. Só sendo muito patriota para querer voltar à Cuba tendo a chance de escapar.

Offline Fabrício

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Re:Não mexerei um palito pela blogueira cubana, diz Fernando Morais
« Resposta #15 Online: 31 de Janeiro de 2012, 21:11:56 »
Acho que se fosse ela aproveitaria o visto para desertar e pedir asilo político. Só sendo muito patriota para querer voltar à Cuba tendo a chance de escapar.

É bem provável...
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Offline Dr. Manhattan

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Re:Não mexerei um palito pela blogueira cubana, diz Fernando Morais
« Resposta #16 Online: 31 de Janeiro de 2012, 21:52:32 »
Para o escritor, apesar do tipo de crítica que Yoani faz – a falta de liberdade é a principal -, o saldo da revolução cubana não justificaria tentar derrubar o regime. No debate, ele disse que não há crianças pedindo esmola na rua, analfabetismo e (caso único no hemisfério sul) desnutrição infantil, enquanto a taxa de mortalidade infantil é a metade da vista nos EUA.

Essa passagem me chamou atenção, (...)

No meu caso, o que chamou atenção foi a clara falsa dicotomia. Lembra a famosa "no tempo do Mussolini os trens chegavam na hora!" Poxa, se o sistema lá é tão bom, porque eles teriam medo da democracia?*

A propósito, uma dúvida sincera: não era o Fernando Morais que era um amigão daquele revolucionário de esquerda Orestes Quércia?

*Pergunta retórica.
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Re:Não mexerei um palito pela blogueira cubana, diz Fernando Morais
« Resposta #17 Online: 31 de Janeiro de 2012, 23:40:54 »
Tenho certeza que esse mesmo cara deve reclamar da falta de democracia no Brasil, dizer que a imprensa é golpista e que a policia é abusiva.

Principalmente a Veja.

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Re:Não mexerei um palito pela blogueira cubana, diz Fernando Morais
« Resposta #18 Online: 31 de Janeiro de 2012, 23:45:59 »
Para o escritor, apesar do tipo de crítica que Yoani faz – a falta de liberdade é a principal -, o saldo da revolução cubana não justificaria tentar derrubar o regime. No debate, ele disse que não há crianças pedindo esmola na rua, analfabetismo e (caso único no hemisfério sul) desnutrição infantil, enquanto a taxa de mortalidade infantil é a metade da vista nos EUA.

Essa passagem me chamou atenção, (...)

No meu caso, o que chamou atenção foi a clara falsa dicotomia. Lembra a famosa "no tempo do Mussolini os trens chegavam na hora!" Poxa, se o sistema lá é tão bom, porque eles teriam medo da democracia?*

A propósito, uma dúvida sincera: não era o Fernando Morais que era um amigão daquele revolucionário de esquerda Orestes Quércia?

*Pergunta retórica.

Bom, segundo um amigo meu, Fidel Castro não era ditador. Foi eleito duas vezes, e Raul Castro era seu suplente. Ou seja, eles são um país democrático.

Offline Gaúcho

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Re:Não mexerei um palito pela blogueira cubana, diz Fernando Morais
« Resposta #19 Online: 01 de Fevereiro de 2012, 00:28:20 »
O problema de Cuba é excesso de democracia.
"— A democracia em uma sociedade livre exige que os governados saibam o que fazem os governantes, mesmo quando estes buscam agir protegidos pelas sombras." Sérgio Moro

Offline Geotecton

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Re:Não mexerei um palito pela blogueira cubana, diz Fernando Morais
« Resposta #20 Online: 01 de Fevereiro de 2012, 01:10:37 »
Bom, segundo um amigo meu, Fidel Castro não era ditador. Foi eleito duas vezes, e Raul Castro era seu suplente. Ou seja, eles são um país democrático.

O seu amigo está errado, pois a democracia não se caracteriza apenas por eleições. Ela necessita que exista a possibilidade legal de chegada ao poder de grupos de pessoas com posições políticas distintas.

E certamente este não é o caso de Cuba.
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Offline HFC

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Re:Não mexerei um palito pela blogueira cubana, diz Fernando Morais
« Resposta #21 Online: 01 de Fevereiro de 2012, 05:27:16 »
Cuba efetivamente é uma DEMOCRACIA ditadura do proletariado DOS POBRES da cúpula do partido comunista cubano.

O seu amigo está errado, pois a democracia não se caracteriza apenas por eleições. Ela necessita que exista a possibilidade legal de chegada ao poder de grupos de pessoas com posições políticas distintas.

E certamente este não é o caso de Cuba.

Na verdade democracia é um pouco mais do que isso até. É o respeito ao estado democrático de direito, é a garantia dos direitos de forma igual a todos.

E Cuba está bem próximo disso.  Assim como uma formiga está próxima ao tamanho de um elefante ...
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Offline Daniel_1993

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Re:Não mexerei um palito pela blogueira cubana, diz Fernando Morais
« Resposta #22 Online: 01 de Fevereiro de 2012, 12:55:31 »
 Raúl Castro ou Fidel não são um tiranos, mesmo se falarmos de tirano no sentido original que é aquele que governa em nome do povo. No tirano existe um chefe único e se concentra todo o poder político, não existe instituição além dele.
« Última modificação: 01 de Fevereiro de 2012, 13:23:42 por Daniel Vermelho »
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Offline Daniel_1993

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Re:Não mexerei um palito pela blogueira cubana, diz Fernando Morais
« Resposta #23 Online: 01 de Fevereiro de 2012, 13:22:12 »
Democracia deveria produzir cidadãos: sujeitos com poder político para guiar os rumos de sua sociedade, seja por meio do voto, seja por meio de uma revolução (aliás .. que boa medidora da “democracia” é a Revolução, não? Essa sim demonstra bem de onde o poder emana. Quantas revoluções já tivemos no Brasil? Olha que disse “revoluções” e não golpes! Rsrs).

Seja como for, o cidadão que a “democracia” deveria produzir não é aquele do dicionário, sinônimo de pessoa, de gente, de indivíduo...

Já o capitalismo não produz necessariamente (nem historicamente) cidadãos, mas sim assalariados.

Se estes assalariados têm condições de ser também cidadãos, isso já é outra história, aliás, uma história bem discutível que seria difícil resumi-la em,“sempres” ou “nuncas”.

Uma coisa para se pensar é: o quanto o “produto” da “democracia brasileira” é mais “cidadão” do que o “produto” da “democracia cubana”. Afinal, não é em Cuba que o povo costuma andar de cabeça baixa e de ombros encurvados.

Fidel Castro é "O Principe" dos sonhos de Maquiavel. Falamos de um fundador de Estados, rico em astúcia política que deu fim numa situação caótica e criou um sistema estável. Da fase heróica, regeneradora, constitutiva, passa para a normalidade. O vigor de Fidel Castro é substituido pelas virtudes, organizações populares e instituições por ele estabelecidas.Sua dominação é carismática, não se trata de um déspota que governa aparte do povo tão pouco de um tirano que governa contra o mesmo. O processo histórico concentrou nele uma inigualável autoridade pessoal. Fidel Castro se identifica com os guajiros, apadrinha os operários, comanda o exército e representa a nação.

É fácil levantar esse discursozinho liberal de democracia burguesa quando os candidatos que nos são apresentados são aquelas oferecidos pelos donos do dinheiro que inclusive financiam as eleições desses indivíduos e controlam a tal da liberdade de imprensa.
Pobre são as almas que acham que com um voto vão mudar alguma coisa em seu país.
 
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Offline Geotecton

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Re:Não mexerei um palito pela blogueira cubana, diz Fernando Morais
« Resposta #24 Online: 01 de Fevereiro de 2012, 13:34:23 »
[...]
O processo histórico concentrou nele uma inigualável autoridade pessoal. Fidel Castro se identifica com os guajiros, apadrinha os operários, comanda o exército e representa a nação.
[...]
Pobre são as almas que acham que com um voto vão mudar alguma coisa em seu país.

Pobres são as almas que acreditam na propaganda de um regime que se notabiliza por fazer ideologização desde a mais tenra idade em seus cidadãos, fazendo-os acreditarem que eles são iguais, em direitos e possibilidades, aos membros da nomenklatura.
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