Quem disse que se arrependeu?
Suposição. Tenho a impressão que a sociedade não ficou lá muito satisfeita com a supressão das liberdades individuais. É o que as manchetes, uns vinte anos depois, parecem sugerir.
Vou repetir: a sociedade, em sua maioria, voltou à sua vida e aos seus problemas e ignorou o que acontecia no governo. Da mesma forma que hoje ignoramos a podridão em Brasília, com a diferença que achamos errada e injustificável a podridão, mas achávamos que a revolução era um mal necessário.
As tais das 'liberdades individuais suprimidas' só afetaram alguns poucos.
Respeito sua opinião, só não tenho a mesma convição. E justamente pelo prestígio popular que a esquerda desfruta no país desde o fim da ditaduta. É a própria continuidade da história que me leva a essa suposição.
Sinceramente, o que me surpreende é que não se questione e muito toda essa história, tanto de um lado quanto de outro, e mais ainda que qualquer questionamento gere tanta tensão, também dos dois lados.
Procure no Youtube o vídeo do congresso nacional do PT: eles anunciam, sem meias palavras, a intenção de tomar o poder no Brasil e acabar com a democracia. Procure comunidades de petistas no Facebook e Orkut: eles discutem abertamente como acabar com a imprensa livre e quem eles vão prender ou matar.
Eu, honestamente, não tenho toda essa paciência agora. Mas gostaria que você entendesse o meu ponto. Não tenho dúvidas sobre as intenções dos militantes, antes e após o Golpe, da ideologia por trás de suas ações, mas sim da sua capacidade de mobilização, organização e principalmente competência para dar um golpe no Brasil, mesmo com membros no governo, exatamente por falta de opoio público e militar.
Não é como se o país vivesse circunstâncias semelhantes as dos países tomados pelo comunismo. Longe disse, eu diria. Não havia toda essa insatisfação capaz de mobilizar as massas a favor de uma revolução e muito menos as forças armadas, além do próprio caráter conservador da sociedade da época. O que houve, na minha opinião, foram fatos isolados, apesar de barulhentos, mas plenamente contornáveis sem grandes interferências.
O que não significa que eu condene o Golpe em si, só me parece muito por muito pouco. O que condeno, isso sim, foi sua continuidade no poder, além, é claro, da forma estúpida e idiota como foi feita, porque você há de convir, serviu para inverter a imagem de mocinhos e bandidos.
Com isso os militares perderam a chance de sair dessa história como os verdadeiros hérois da pátria, inclusive, no imaginário popular, seduzidos pelo poder, terminando por fortalecer a imagem daqueles que pretendiam combater. A história atual desse país não é, não me parece, uma ruptura com a história anterior, mas uma consequência dela.
Os méritos da ditadura no Brasil terminam no Golpe, infelizmente.