Tráfico e contrabando podem ter um monte de aspectos judiciais/burocráticos distintos, mas essencialmente são ambos formas de comércio ilegal, mudando apenas o produto. A maior/única distinção "prática" é essa.
A primeira distinção é que o produto do tráfico é ilegal sendo traficado ou não, enquanto o produto do contrabando não é necessáriamente ilegal, mas o fato de ser contrabandeado o fará ilegal independentemente das espécie.
E como isso é a peça de dominó que cai sobre o dominó da violência?
A segunda distinção é que o tráfico tem a grande possibilidade de se conexo ao tráfico de armas e lavagem de dinheiro. Já o contrabando não tem essa predisposição. Isso é abordado algumas vezes no livro "Drogas, A hegemonia do cinismo".
Como o produto "droga ilícita" causa tal "predisposição" ao seu comércio?
A terceira distinção é que o tráfico sempre é visto pela perspectiva penal, enquanto o contrabando geralmente é visto pela perspectiva tributária.
Será? Eu tenho a impressão de que sonegação de tributos é visto por uma ótica penal. De qualquer forma, como você parte disso para, "sempre haverá conflito armado"?
A quarta distinção é que a fonte do tráfico é mais restrita e escassa que a do contrabando. O transporte do produto de tráfico não pode ser misturado com outras mercadorias de espécie semalhante por estas simplesmente não existirem. O contrabando pode ser "justificado" com documentação falsificada, enquanto o tráfico não e ainda pode ser detectado mais facilmente.
Existem muitas outras que não cabem aqui.
Ok, qual delas dá ao tráfico seu caráter inerentemente violento. Nenhuma dessas coisas que você colocou pode ser seguida de, "logo, sempre haverá violência ao comercializar drogas ilícitas".
Poderia-se tentar dizer que a violência é outra distinção prática, e de forma "solta" é mesmo, mas não se pode dizer que ela é eternamente "intrínseca" ao tráfico de drogas apenas por haver essa associação, é a mesma falácia que existe em dizer que a criminalidade é "intrínseca" a uma parcela de pobres/negros apenas pela associação, ignorando as causas dela.
Em qual situação um traficante não mataria quem deve para ele?
Pelamordedeus. Pense. Se você se visse no fundo do posso, e visse na oportunidade de vender drogas sua única saída, um jeito para ganhar uma graninha, por comida na mesa de casa, para depois sair dessa, me diga, que você faria? Ao tocar na droga se transformaria no maior bandidão de sangue frio, como se possuído por um demônio, matador de clientes devedores, ou faria coisas um tanto menos drásticas como vender apenas à vista, ou no mínimo, não vender para quem já te deu calote, sem no entanto matá-lo (até pela perspectiva de poder vir a receber o que ele te deve).
Simplesmente estou "supondo" que podem haver pessoas que estariam dispostas a vender drogas, mas não a matar, mesmo por dívidas (que nem necessariamente existiriam para começo de conversa). É esta uma suposição razoável, ou o "gene da venda de drogas ilícitas" é também o "gene do assassino"? É isso que sugere ser o "elo" que faz da venda de drogas ilegais algo intrinsicamente violento?
Em qual situação um traficante aceitaria outro traficante vendendo o mesmo que ele na mesma localidade e para o mesmo público?
Novamente, partindo da suposição de que o cara não vende drogas por um "gene do traficante" que é também um "gene do assassino", a pergunta tem o mesmo sentido em se perguntar sobre quando um padeiro aceitaria outro no mesmo quarteirão.
Em qual situação um traficante que corre risco de ser roubado ou morto pela polícia não vai se armar? Como um traficante defende os seus interesses sem apelar para a violência?
No que difere o combate ao tráfico do combate a outros comércios ilegais em que o comerciante não vê necessidade de se armar, para que isso aconteça?
Como é possível manter que "sempre" haverá conflito/violência associado ao comércio ilegal de um produto específico/linha de produtos, mas não de outros? Há algo no produto em si que cause essa diferença? O que poderia ser? Ou são justamente os diferentes aspectos jurídicos que determinam essa diferença?
A resposta de algumas desas perguntas foram respondidas acima. Os aspectos jurídicos são baseados em vários fatores [que eu não vou citar no momento por falta de tempo], o tráfico tem mais relevância jurídica.
Simplesmente nada do que disse é demonstra logicamente uma ligação necessária entre tráfico com violência. O mais próximo disso que chegou, a meu ver, foi quando mencionou o combate ao tráfico, mas não seria uma causa intrínseca à venda de drogas ilícitas, e sim a políticas de prevenção.