Calvino, eu tenho uma visão um pouquinho diferente da sua. Eu nasci em Camacam e vivi em uma cidade vizinha (Pau Brasil) até os 11 anos de idade.
Não lembro da existência dessas vendas nas fazendas pertencentes ao fazendeiro: os trabalhadores faziam compras na cidade mesmo. Quanto ao interesse dos fazendeiros em manter a população ignorante, você falou algo diametralmente oposto ao que eu presenciei: na realidade, as ÚNICAS escolas existentes na zona rural eram escolas criadas e mantidas pelos fazendeiros!

Talvez isso que você disse se aplique a épocas mais antigas ou outras regiões. Eu vivi lá no início dos anos 90 e numa área formada mais por pequenos fazendeiros do que por "coronéis".
Isso aí são discordâncias pequenas, mas a sua idéia seguinte:
A vida pós cacau trouxe especialização, estudo e consciência política para muito gente. Certamente na época foi uma tragédia mas hoje o desenvolvimento do local é de dar gosto.
Disso aí eu discordo DRASTICAMENTE. A região nos anos 70 e 80 era um verdadeiro "oásis" de prosperidade dentro de um país que vivia em crise econômica (principalmente nos anos 80). O pessoal me conta que nos anos 70 e 80, qualquer "zé-ninguém" pobretão lascado tinha carro do ano*. Muita gente prosperou nessa época, tanto produzindo cacau quanto trabalhando em atividades subsidiárias à produção do cacau (Ex: transporte, revenda, comércio, construção, etc). Eu ainda peguei um pouco dessa prosperidade, no finalzinho.
O problema é que esses "novos ricos" eram em sua grande maioria bastante ignorantes e não souberam administrar o dinheiro, não investindo em outras atividades, não colocando os filhos para estudar em cidades maiores ou na capital e mesmo não cuidando integralmente das próprias plantações de cacau. A maioria faliu completamente quando a vassoura-de-bruxa varreu a região e só a minoria que investiu em outras atividades (Ex: pecuária) ou na educação dos filhos está bem hoje.
As cidades de Camacam e Pau Brasil e principalmente as suas áreas rurais hoje não são nem sombra do que eram no passado. Muita gente emigrou e a população encolheu. Hoje não passam de cidades miseráveis vivendo de transferência de renda, o que a propósito é bem conveniente para os políticos, principalmente aqueles que gostam de dar bolsa-esmola...
*Na época, ter carro era considerado "coisa de rico" nessa região, principalmente na zona rural.