A evocação de conceitos científicos em contextos completamente inaplicáveis para eles é chamado de
apropriação, e não é nenhuma novidade, sempre aconteceu mundo afora, em diversas escalas. As experiências de Mesmer, evocadas neste tópico, são um bom exemplo, pois elas, embora tenham refinado truques de mentalismo há muito já conhecidos e criado uma descrição quantitativa para eles, não tinham uma real conexão com o conceito de magnetismo que supostamente regia aqueles resultados, ou seja, eram experimentos de força bruta, por tentativa e erro, sem uma teoria guiando novos passos.
Aliás, mesmerismo não é, em verdade, um bom exemplo, porque ele pelo menos tinha algum método. A apropriação pode ser um fenômeno terrivelmente pernicioso, e difundir extrema ignorância. Quando Curie descobriu o rádio, milhares de charlatões criaram técnicas de "cura" baseadas no uso de isótopos, contando com a ignorância da população sobre radioatividade. A homeopatia, e seu conceito de "cura por iguais", é uma corruptela do conceito de imunização viral, o ápice da medicina no século XVIII, e não é coincidência que foi inventada no mesmo ano em que surgiu a vacina para varíola. Mas a falta de compreensão sobre as teses de imunologia levou a uma ignorante e infundada generalização que persiste até hoje.
E com a passagem do tempo, a situação sempre se repetiu; magnetismo mágico, eletricidade pode reviver os mortos, energia atômica pode fazer qualquer coisa, etc... Todas essas idéias excitaram a imaginação popular, e charlatões aproveitaram. Como dizia P. T. Barnum, nasce um trouxa a cada minuto.
Mecânica quântica é apenas a mais recente expressão científica a ser estuprada por gente que não se deu ao trabalho de entender suas idéias básicas, novamente, com um amplo espectro, desde gente honesta com um entendimento limitado das disciplinas (já vi um juiz defender em um artigo que as teorias de multiverso são responsáveis pela liberdade de pensamento, e outro defender que os efeitos de distorção de tempo previstos pela relatividade se relacionam com porque o tempo "passa mais devagar" em momentos de tédio) até charlatões descarados como um Deepok Chopra da vida, que conta com o fato de que 99% das pessoas só sabe, de mecânica quântica, o nome, e que ela é uma teoria de ponta (esqueça Supercordas, teoria M ou loop gravitacional) para botar na conta dela toda asneira que pretende falar. Já viram coisas como o biocentrismo? Uma corruptela equivalente à homeopatia para o século XXI. Espero que não dure.
Sim, apesar de o próprio Einstein ter contribuído para a física quântica ao desenvolver estudos como o efeito fotoelétrico baseados naquilo que havia sido proposto por Max Planck anteriormente e que foi ambos fundamental para o estabelecimento da teoria quântica, as proposições e teorias seguintes que culminaram na mecânica quântica foram rejeitadas por Einstein.
Bom, o que isso significa, talvez que tais teorias foram revolucionárias de mais para Einstein as aceita-las. Séculos de uma linha de pensamento e compreensão do universo estavam a ser desafiados. Mas talvez você tenha uma resposta melhor do que a minha para o significado da atitude de Einstein.
Abraços!
Pouca gente sabe, mas não foi a relatividade que deu o Nobel a Einstein, mas exatamente seu trabalho com pacotes de energia em quanta - que de fato, foi um dos trabalhos fundadores da mecânica quântica.
De qualquer forma, a idéia de que Einstein rejeitou a mecânica quântica, embora correta, é muito romantizada. Einstein conhecia os problemas que levaram à elaboração da tese, o que ele rejeitou foi a solução de Copenhagem que propunha que a incerteza nas medições é uma característica intrínseca da natureza.
Einstein, ao contrário, achava que aquela solução era apenas "incompleta", e que estudos suficientes provariam que a mecânica quântica é tão rigidamente determinística quanto a relatividade. Foi nesse contexto que Einstein proferiu seu famoso "deus não joga dados" (menos conhecida é a resposta de Niels Bohr a essa frase - "Pare de dizer a deus o que fazer"; é de se imaginar que a frase de Bohr ficaria mais famosa considerando quem estava certo...).
De qualquer sorte, a rejeição de Einstein foi bastante produtiva, e de uma de suas muitas tentativas de provar a natureza determinística da mecânica quântica, especificamente a crítica de Eisntein-Podolsky-Rosen - na verdade, do estudo que refutou essa crítica - surgiu aquilo que viria a desnudar o entrelaçamento quântico de partículas (quantum entanglement). Assim, fica fácil ver em que nível funcional fora a "rejeição" dele.
T+
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