Qual foi a reação internacional ante a tentativa de golpe de estado em 2002 mesmo? O que o próprio FHC falou na época?
http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2002/020416_marciadi.shtmlReação brasileira ajuda a resgatar governo de Chávez
Itamaraty condenou 'quebra de institucionalidade'
Marcia Carmo, de Buenos Aires
O retorno de Hugo Chávez à Presidência da Venezuela, 28 horas depois de um golpe relâmpago, servirá para afastar da América Latina as aventuras contra a democracia.
Essa é a avaliação no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, como contou à BBC Brasil um dos principais assessores do Palácio do Planalto.
Poucas horas depois de voltar ao palácio presidencial de Miraflores, o próprio Chávez reconheceu: "Agora é hora de começar um novo governo".
Para muitos analistas, o governo de Chávez foi salvo pela agilidade dos países da região – especialmente o Brasil – que condenaram a quebra da institucionalidade na Venezuela.Interpretação
A atitude acabou contribuindo para sufocar a possibilidade de sobrevida do governo transitório do empresário venezuelano Pedro Carmona.
No governo brasileiro, a interpretação é de que a reação da América Latina foi decisiva para a volta de Chávez.
"O episódio da Venezuela deixou claro que a democracia se defende dentro e fora do nosso país", afirmou um assessor do Itamaraty.Com um presidente inconstitucional, a Venezuela ficaria isolada na região, seria excluída dos acordos do Grupo do Rio, da América do Sul e da OEA (Organização dos Estados Americanos).
Em tempos de globalização, tal medida geraria complicações políticas e econômicas ao país que integra a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo).
Telefonema
Passado o susto, no domingo, poucas horas depois do retorno de Chávez ao Palácio de Miraflores, o presidente Fernando Henrique telefonou para o amigo Hugo Chávez, com quem fala pelo menos uma vez por semana.
"Você pode contar com a nossa solidariedade", disse Fernando Henrique a Chávez. "E que, agora, a Venezuela saiba encontrar o caminho da conciliação, do diálogo".Era a segunda conversa telefônica do presidente brasileiro com o presidente venezuelano, em menos de uma semana.
Na quarta-feira passada, um dia antes de ser expulso do poder, Chávez ligou, preocupado, para Fernando Henrique. Eles falaram da greve geral e das suas consequências políticas.
Mas, naquele dia, Chávez também não imaginava que os fatos "se precipitariam" e que Pedro Carmona acabaria sentado na sua cadeira em pouco mais de 24 horas.
Conselheiro
O tenente-coronel Hugo Chávez, eleito presidente em dezembro de 1998, vê o presidente Fernando Henrique como um "líder" da América do Sul. E um conselheiro.
Na segunda-feira, Fernando Henrique reiterou, através do seu porta-voz, que o Brasil é contra a "ruptura institucional" em qualquer país.
Fernando Henrique, ainda através do porta-voz, disse que deseja a retomada do "diálogo social e da harmonia" na Venezuela.
Assim que a situação se complicou, na semana passada, o governo brasileiro decidiu divulgar uma nota do Itamaraty, condenando a "quebra institucional" no país.
Grupo do Rio
Em seguida, o presidente Fernando Henrique telefonou imediatamente para o colega da Costa Rica, o presidente Miguel Angel Rodríguez. Era em San José da Costa Rica que estava sendo realizada a reunião do Grupo do Rio.
Logo depois, os presidentes e chanceleres ali reunidos divulgaram uma nota que também reprovava a retirada de Chávez do poder.
É por isso que a atitude do Brasil está sendo citada, dentro e fora da Venezuela, como "decisiva" para o retorno do presidente ao governo.
Essa unidade não foi possível na União Européia, onde o governo do espanhol José Maria Aznar aliou-se à
posição dos Estados Unidos. Mas os outros países da UE, como a França, defenderam o presidente democrático.
Epílogo
No entanto, analistas afirmam que o epílogo deste retorno inédito de um presidente latino ao poder ainda não chegou. Tanto no Brasil, quanto na Argentina e no Chile, entende-se que agora Chávez vai iniciar um governo de conciliação.
E o presidente venezuelano terá que ter "mais jogo de cintura" para incluir no seu movimento revolucionário setores que o condenam, como as classes média e alta. Chávez, como ele mesmo reconheceu, será obrigado a formar novas alianças.
Desde o fim da década de 80, a América Latina assistiu ao impeachment do ex-presidente Fernando Collor, ao golpe relâmpago do general Lino César Oviedo contra o governo de Juan Carlos Wasmosy (quando foi criada a cláusula democrática do Mercosul), à fuga do peruano Alberto Fujimori e às posses constitucionais dos presidentes Gustavo Noboa, no Equador, e Eduardo Duhalde, na Argentina.
Noboa e Duhalde substituíram os presidentes eleitos, de acordo com as regras constitucionais.
"Agora, aqui, na Argentina, devemos nos perguntar se não estamos caminhando para ser uma nova Venezuela?", questionou, no último fim-de-semana, o jornalista Joaquín Morales Solá, colunista do jornal La Nación.
"Afinal, vivemos em dezembro passado aquelas mesmas imagens de violência e mortes nas ruas que acabaram com a renúncia do ex-presidente De la Rúa", escreveu Solá.
O ex-chefe do Exército argentino, general Martin Balza, discordou: "É claro que a Argentina não caminha para ser a Venezuela. Aqui, as Forças Armadas não têm poder, diferente do que ocorre lá".