Eu vou tentar explicar melhor meu ponto de vista.
É claro, é um ponto de vista, mas eu não sou a única pessoa no mundo a enxergar as coisas dessa maneira.
Como o fundamentalismo islâmico veio a se tornar o combustível para toda essa perpretação absurda de violência.
A pergunta pertinente e implícita nessa discussão em particular seria:
É o islamismo uma religião intolerante que necessariamente progride para a violência? Ou não é tão diferente de algumas outras religiões, mas existe um processo histórico e político que explica melhor o atual contexto?
Mesmo sem conhecer muito o islã me arrisco a dizer que não é fundamentalmente diferente de outras religiões monoteístas.
Todas as religiões monoteístas são intolerantes porque creem em uma verdade única e revelada. Os hebreus são o "povo escolhido", ninguém vai ao Pai senão por Jesus e os mussuns devem ter algo parecido pra dizer.
Podemos até imaginar um índio pré-colombiano do séc. XVII dizendo: "Que religião terrível esse cristianismo." Mas o flagelo do colonialismo e a barbaridade da Inquisição, embora tenham tido seus suportes teológicos, são consequências, respectivamente, do mercantilismo e da ameaça da Reforma Protestante.
Aliás, reforma esta, que embora também tenha tido seu suporte teológico, segundo os historiadores foi a reação de uma burguesia emergente que tinha alcançado considerável poder
econômico mas via seu poder social e político tolhido pelo poder da Igreja Católica.
Vejam como a religião, mesmo sendo um ingrediente muito importante, costuma vir a reboque da História.
Voltando aos mussuns, não importa muito o que está realmente nas escrituras porque a experiência mostra que os textos sagrados costumam ser interpretados de acordo com os interesses. Independentemente de bíblia e alcorão quando o cristianismo era mais violento e intransigente os muçulmanos conviviam respeitosamente com judeus e cristãos em seus domínios. Desde lá as escrituras não foram revistas mas o cristianismo se tornou mais tolerante e o islamismo mais intransigente.
Por quê?
Como já mencionei a destituição de um governo progressista no Irã, substituído por uma brutal ditadura que esmagou completamente a oposição, deixou espaço apenas para a resistência liderada pelo clero, que acabou por conduzir um aiatolá ao poder.
Nesse processo de mais de 20 anos, o discurso religioso dos líderes xiitas se tornou mais e mais radical. É fácil de entender: quando se quer usar religião como pretexto para atacar um regime você tende ao fundamentalismo, dizendo coisas como "olha o que as mulheres fazem nesse regime satãnico do Xá, maomé já disse que não pode." É parecido como quando usam a religião para atacar o governo do PT, fazendo críticas ao "kit-gay" nas escolas, e coisas do gênero.
Mas o resultado é que quando Khomeini chegou ao poder veio junto uma teocracia fundamentalista radical. Porém é importante perceber que era muito mais radical e fundamentalista do que é hoje. Porque já houve um considerável abrandamento, mostrando que o discurso fundamentalista foi mais um recurso político do que uma posição teológica inarredável.
No entanto o Irã, então isolado tanto do Ocidente quanto da URSS ( que temia sua influência em suas próprias repúblicas islâmicas, como a Chechênia ), começa a tentar exercer influência no mundo árabe. Passa a apoiar grupos de resistência palestinos, que não recebem apenas dinheiro, mas também ideologia na forma de influência religiosa. Esses grupos que se alinham
automaticamente com o radicalismo xiita porque são financiados por este, atuam em Israel, na Palestina, no Líbano, no Egito e na Jordânia.
As ideias se espalham como vírus e religião está cada vez mais misturada com luta armada. Fanatismo é o que resta para forjar combatentes para uma causa militar aparentemente perdida. Assimm como parecia perdida a luta contra o regime do Xá Reza. Uma luta sem apoio da União Soviética contra um regime com todo apoio da indústria do petróleo, mas vencida com as armas da religião.
Então acontece o Afeganistão. Um dia os caras lá da CIA percebem que meia dúzia de zelotes das cavernas estão guerreando os russos. "Olha aqueles malucos. Acham que podem derrotar o Exército Vermelho com espingardas." Mas os malucos fazem isso porque são religiosamente
motivados, com a missão divina de expulsar os hereges ateístas do sagrado solo muçulmano, e portanto acreditam que possam vencer de forma sobrenatural.
E o milagre se realiza, porque lá na CIA alguém pensa: "Se tivesse 100 vezes mais malucos a gente botava uns mísseis stinger na mão dos caras e dava pra incomodar os russos." Aí começam a investir em "fábricas de malucos" no Paquistão, são as madrassas, escolas religiosas fundamentalistas que fazem lavagem cerebral em meninos desde o mais cedo possível.
Como sempre acontece, a exmeplo da neo-pentecostal teologia da prosperidade, se há dinheiro disponível uma religião tende a crescer e o fundamentalismo islâmico cresceu muito no Paquistão, influenciando toda a sociedade.
Na medida do possível isso foi estimulado em todo o mundo árabe, que forneceu jihadistas de todas as partes para lutar no Afeganistão. Assim como o árabe saudita Bin Laden, fundador do Al Qaeda, da qual o ISIS viria a ser uma dissidência.
O resultado dessa aventura foram os talibãs no poder, com uma teocracia ainda mais radical que a do Irã, e o Afeganistão servindo de base para a Al Qaeda, assim como o próprio Paquistão, que muito embora seja um regime com apoio americano, é onde o Bin Laden foi encontrado vivendo tranquilamente. E isso porque, mesmo sem apoio do governo paquistanes para terrorismo anti-americano, a rede de madrassas no país gerou uma natural rede de infraestrutura para uma organização como a Al Qaeda.
O discurso ideológico da jihad então se espalhou para fomentar revoltas em lugares mais distantes, como em repúblicas separatistas soviéticas e lugares onde poderes locais gostariam de um pretexto para botar a mão em ricas reservas de petróleo, como a Nigéria.
Mas entre uma coisa e outra o discurso radical e a própria Al Qaeda foi fortalecida pela invasão do Iraque, e o verdadeiro genocídio que se seguiu, com os americanos matando, por baixo, mais de cem mil pessoas.
Incrivelmente, mesmo com essa experiência, voltaram a fazer a mesma coisa na Síria. Para destituir o regime de Assad, que viabilizava o projeto de gasoduto iraniano, que despejaria estas reservas a baixo preço no suculento mercado na União Européia, inviabilizando a exportação do gás do Qatar, vários países como os EUA, a Turquia, o próprio Qatar, e sabe-se lá mais quem, compraram uma guerra civil com mercenários de toda a parte com o sonho de instaurar um regime "islâmico puro" na Síria.
Na verdade estavam dando dinheiro e armas para qualquer um que quisesse e pudesse lutar na Síria, como o não fundamentalista e secular ELS. Mas quem mais podia e queria lutar eram os radicais como a Al Nusra e Al Qaeda. Esse malucos receberam armas de gente mais maluca ainda, gente tomada pela insanidade da ganância.
Até então o ISIS não existia, mas foi criado na Síria, com dinheiro dos próprios americanos.
E a propósito do Paquistão, o Buckaroo cita um oficial americano ( olha só a fonte! ), que diz que a rivalidade entre hindus e muçulmanos é a causa por trás de ataques terroristas na Índia.
Náo! A rivalidade não é entre hinduismo e islamismo, a rivalidade tem nome e chama-se Cashemira, uma região riquíssima disputada por Ìndia e Paquistão. Essa disputa existe desde a criação dos dois estados e motivou até uma corrida nuclear entre eles.
O que são recentes são os atentados terroristas. Isso diz tudo! O Paquistão é islâmico desde sua fundação, as tensões com a Índia existem desde essa época, mas o terrorismo religiosamente inspirado só surgiu depois que a própria CIA financiou centenas de "escolas de malucos" nesse país. Até então não se falava em religião nesse conflito que sempre existiu.