Não há como o estado saber das necessidades e circunstâncias dos indivíduos melhor do que eles próprios.
Evidentemente não em nível individualizado e hiper-específico, mas a negação disso em absoluto é análoga a de que uma empresa sabe das necessidades dos clientes/consumidores.
No paraíso anarco-capitalista, bem poderia culminar com a fusão de todas as empresas regionais que atendem otimamente aos cidadãos-clientes em uma mega-corporação que aumenta ainda mais sua eficiência (já que é o livre-mercado), e esta mega-corporação Estado Inc. estaria então dotada de toda informação necessária para melhor atender ao cliente, por definição.
O tipo de conhecimento necessário para isso está disperso pela sociedade, não é algo que está acessível a que tem acesso limitado a dados desses indivíduos. Nem nós sabemos direito, quanto mais um estado governado de cima para baixo. Quando muito, nosso conhecimento discursivo de nossas próprias necessidades é reconhecido vagamente quando revelando nossas preferências pelos sinais emitidos pelos preços de mercado.
[...] If a universal mind existed, of the kind that projected itself into the scientific fancy of Laplace – a mind that could register simultaneously all the processes of nature and society, that could measure the dynamics of their motion, that could forecast the results of their inter-reactions – such a mind, of course, could a priori draw up a faultless and exhaustive economic plan, beginning with the number of acres of wheat down to the last button for a vest. The bureaucracy often imagines that just such a mind is at its disposal; that is why it so easily frees itself from the control of the market and of Soviet democracy. But, in reality, the bureaucracy errs frightfully in its estimate of its spiritual resources. In its projections it is necessarily obliged, in actual performance, to depend upon the proportions (and with equal justice one may say the disproportions) it has inherited from capitalist Russia, upon the data of the economic structure of contemporary capitalist nations, and finally upon the experience of successes and mistakes of the Soviet economy itself. But even the most correct combination of all these elements will allow only a most imperfect framework of a plan, not more.
The innumerable living participants in the economy, state and private, collective and individual, must serve notice of their needs and of their relative strength not only through the statistical determinations of plan commissions but by the direct pressure of supply and demand. The plan is checked and, to a considerable degree, realized through the market. [...]
Se você afirma que determinadas condições de vidas desiguais são injustas, você tem que apontar para o responsável (ou pelos responsáveis) pela injustiça. Apontar injustiça não é um processo impessoal. Não se faz uma justiça onde não há injustos.
Acho que injustiça também pode estar mais dispersa pela sociedade, em sua organização, em seus resultados, mesmo que estes não sejam algo deliberado de qualquer indivíduo nem resultado de ações individualmente injustas.
Alguém que considera que as pessoas deveriam cooperar de maneira diferente - entregando recursos de outra maneira da que fazem - está determinando que os indivíduos deveriam abrir mão de seus gostos e preferências pessoais para atender a determinação de alguém que quer se colocar acima dos demais.
Se "alguém que quer se colocar acima dos demais" for uma forma de descrever aqueles que reconhecem haver questões coletivas, públicas, como segurança.
E a negação é se considerar que todo sofrimento é justo se estiver sendo negligenciado pela sociedade para satisfizer aos gostos e preferências pessoais daqueles que tenham a sorte de estar acima dos demais.
Isso seria possível se esse alguém pudesse condensar todas as informações dos valores dos indivíduos em parâmetros justiceiros de distribuição de recursos.
Na verdade se faz compromissos diversos, que podem ficar bem aquém dos resultados que se pretenda alcançar em alguns casos, como a segurança no Brasil, versus a segurança em qualquer lugar do mundo mais razoável.
Como esse não é o caso, então não há qualquer maneira pela qual possamos chamar um processo impessoal e espontâneo - resultado do mercado numa sociedade livre - de "injusto".
Talvez com uma concepção precisamente limitada de justiça, não com qualquer concepção possível.