Sempre seremos, é inevitável, a menos que se seja o mais forte. Apenas calha dos estados serem na maior parte do tempo o ente mais forte, exceto nas situações de falha de estado, muitas vezes rotuladas como anarquia.
Esse fato me fez, noutro tópico, dizer que para mudar o Estado, seja para mínimo ou para inexistente, é necessário fazê-lo de dentro para fora. A política partidária é o meio, já que somente assim se entra no sistema. Ruir por dentro. Mas é preciso que, por exemplo, um partido como o NOVO permaneça íntegro e imaculado em seus objetivos. Como você mesmo diz mais abaixo em sua resposta, o homem é falível.
Bem, tirando as situações de anarquia prática que os anarquistas não querem ver rotuladas como anarquia, só conhecemos mercados livres dentro do estado (e parcialmente possibilitado por eles), então, toda falha de mercado será também parcialmente falha de estado, uma vez que este não é "onipotente". Mas isso tem praticamente a mesma relevância de dizer que é uma "falha da biologia humana" e defender o trans-humanismo como verdadeira solução.
É extremamente mais falacioso, difícil de crer que alguns realmente fazem, tentar jogar a coisa toda só para falha do estado -- isso tem exatamente a mesma "lógica" de dizer que, qualquer segurança pública, estatal ou privada, por nunca ser 100% perfeita, é a culpada dos crimes que apenas falha em evitar. Ora, sem a segurança, só se tem os "criminosos" e as pessoas para se defender por si sós; o mesmo ocorre sem o estado, só sobram aqueles que responsáveis pelo que o estado não pôde evitar, sem o estado para ao menos tentar. Esse ad hoc de tentar colocar tudo como "culpa do estado" não cola mais do que "culpa da física".
O estado deve sim levar a culpa por ineficiência aquém do que seria razoável esperar, ou crimes diretamente perpetrados. Mas começa a beirar a insanidade dizer que é pior a sociedade se organizar de forma não-comercial para tentar evitar e amenizar problemas decorrentes de conflitos de interesse e etc, que é a "essência" do estado.
Eu entendo e aceito seu argumento. Não sou lunático (pode até parecer
).
Meu ponto é: eu defendo o anarquismo (
ancap) com a consciência que, assim como ocorre com o estatismo, a natureza humana pode por tudo a perder. Mas também pode ser que não e que as coisas funcionem. É tudo teórico, eu sei, mas não significa que não possamos ou devamos buscar isso. E mais: conforme as citações que fiz mais acima, o ancap é uma meta, mas não há qualquer ingenuidade de minha parte em acreditar que acontecerá. Me contento com um estado mínimo, que coloque o Brasil nos top 20 do ranking de liberdade econômica
Tenho tentado defender nesses papos que, baseado nos princípios, constatações e objetivos dos anarcocapitalistas, que são ética e moralmente fascinantes e aceitáveis, existe uma via, um meio, para conseguir reduzir a violência do estado, seu intervencionismo e valorizar o indivíduo. Todos esses objetivos são opostos ao estatismo. Mesmo que eu almeje a anarquia, tenho plena consciência que não a verei, além de saber que os pontos que você levanta estão corretos. Mas por que a opção Estado deve ser a resposta? Eu não considero como resposta, mesmo sendo o que está aí (e provavelmente ficará).
Alternativas empíricas há, como a gangue dominante, em territórios dominados por gangues, por falha/ausência de estado. Mas aí estas se tornam o estado de fato, e tem-se todos os mesmos problemas e mais alguns, com o adicional desse "governo" não ser algo com os mesmos "ideais", a mesma função teórica de servir à sociedade.
Mas aí não pode ser considerada uma experiência
ancap, já que existe agressão e os anarquistas defendem a não agressão.
O estado não é uma "utopia". É só como se fosse uma mega-empresa (ou mega-gangue) que, em sua "declaração de missão" tem algo como "uma organização sem fins lucrativos, que visa garantir com que os direitos de um acabem onde comecem os direitos dos outros, preservando assim a liberdade do mercado/sociedade".
Como qualquer empreendimento humano sempre foi e será, é falho, e assim precisa ser constantemente policiado, ajustado, modificado. E parece algo problemático de simplesmente se deixar de tentar fazer, ficar só por conta da boa vontade de quem quer que tenha mais poder em qualquer situação.
Ainda que, na prática, já seja o que ocorre, pois é algo inevitável, tautológico. Só calha do maior poder ser o estado, que por sorte, tem uma "declaração de missão" nessas linhas, e é visto como legítimo por aceitação popular.
Pois é. Essa
missão não seria utópica, uma vez que só existe no papel mas na prática não passa de coerção, violência e escravidão? Foi isso que eu quis dizer.
Se eu entendi bem, o que está em negrito na citação acima significa que você concorda que não dá para aceitar as coisas como são/estão. Se for isso (e aí estou 100% de acordo) é justamente nessa fenda que eu tento fazer passar esses ideais anarquistas que venho colocando aqui. Essas idéias seriam o móvel que mira longe, mas que se conseguir atingir qualquer alvo que simplesmente esteja à frente, já terá sido uma grande conquista. Daí é só mirar novamente ao longe e ver onde se acerta, e assim por diante. Até onde, não se sabe.
Saudações