Autor Tópico: A idéia, contraditória e ineficiente, de “Propriedade”  (Lida 3668 vezes)

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Offline Peter Joseph

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A idéia, contraditória e ineficiente, de “Propriedade”
« Online: 04 de Novembro de 2015, 19:00:36 »
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O filósofo inglês John Locke é uma figura essencial dentro da teoria política e econômica clássica. Locke não apenas define o que seria propriedade, mas também apresenta uma contradição sutil. Ele afirma: “Podemos dizer que o trabalho de seu corpo e a obra produzida por suas mãos são propriedade sua. Sempre que ele tira um objeto do estado em que foi fornecido pela natureza, mistura nisso o seu trabalho e a isso acrescenta algo que lhe pertence; dessa forma o torna sua propriedade.” Essa declaração propõe a lógica de que desde que o trabalho é “propriedade” do trabalhador (uma vez que ele é dono de si mesmo), toda a energia expendida pelo seu trabalho transfere para o produto obtido o valor de propriedade. Ele também deriva que os proprietários são obrigados a não deteriorar nada (“Deus não criou nada para que os homens desperdiçassem ou destruíssem.”) e devem deixar o suficiente para os outros (“Essa apropriação de um pedaço de terra não era feita em detrimento de nenhum outro homem, pois havia suficiente [e em boa qualidade] para todos… “). No entanto, na Seção 36 de sua obra, é revelada uma realidade singular, cujas implicações Locke provavelmente não previu e que, de muitas maneiras, anularia todos os argumentos anteriores em defesa da propriedade privada. Ele afirma: “A ‘coisa’ que bloqueia isso é a invenção do dinheiro, e o acordo tácito entre os homens de o atribuir valor; isso tornou possível, com o consenso dos homens, acumular mais posses e ter direito sobre elas.”

Consequentemente, a sua premissa original, aqui resumida, de que: “Qualquer um pode, através do seu trabalho, vir a possuir o quanto puder usar em seu benefício sem deteriorá-lo; qualquer quantia além disso é mais do que lhe compete e pertence aos outros” se torna de difícil entendimento, pois o dinheiro não apenas permite “[os homens] a ter mais posses”, implicitamente esvaziando a ideia de que “qualquer quantia além disso é mais do que lhe compete e pertence aos outros”, mas também implica que o dinheiro pode comprar trabalho, o que invalida a ideia de que “[nesse caso, o comprador] mistura nisso o seu trabalho e a isso acrescenta algo que lhe pertence; dessa forma o torna sua propriedade.” Este conceito de propriedade leva “Proprietários Ausentes” a reivindicar a “posse” de mercadorias produzidas, na realidade, pelo trabalho do “trabalhador comum”, destacando o absurdo deste princípio antigo de que a partir do trabalho advém a propriedade.

Propriedade Intelectual


Embora esteja claro que nenhuma pessoa inventa coisa alguma, dada a realidade de que todo o conhecimento é gerado em série e, invariavelmente, é cumulativo ao longo do tempo, a característica de “propriedade” da economia de mercado cria uma tendência não só em reduzir o fluxo de informações por meio de patentes e “segredos comerciais”, que retarda o avanço da inovação, mas também reforça a ideia de “propriedade intelectual”, apesar da contradição dessa noção.

É muito interessante pensar sobre o que o conhecimento significa, como é gerado e como é estranho alguém reivindicar racionalmente “propriedade” sobre uma ideia ou invenção. Em nenhum momento da história humana qualquer indivíduo por si mesmo chegou a uma ideia que não tivesse sido gerada em série por muitos antes dele. A culminação histórica do conhecimento é um processo social e, portanto, qualquer reivindicação de propriedade de uma ideia por pessoa ou corporação é intrinsecamente defeituosa. Todos os atributos de cada ideia em existência hoje, no passado, e para sempre no futuro, têm, sem exceção, um ponto de origem distintamente social e não pessoal.propriedade intelectual

Torna-se óbvio que a noção de propriedade intelectual, ou seja, a posse de meros pensamentos e ideias, manifestou-se a partir do período da história humana em que a criatividade de uma pessoa se tornou atada a sua sobrevivência pessoal. Em um sistema econômico onde as ideias das pessoas têm a capacidade de gerar renda para elas, a noção desse tipo de propriedade torna-se relevante. Afinal, se você “inventar” algo no sistema moderno que possa gerar vendas e, consequentemente, ajudar na sua sobrevivência econômica, seria extremamente ineficiente, do ponto de vista do mercado, permitir que a ideia seja “open-source”, uma vez que os outros, buscando a própria sobrevivência, provavelmente se aproveitariam rapidamente da invenção de modo a explorá-la financeiramente.

Também é fácil notar como o fenômeno do “ego” se manifesta na ideia de propriedade intelectual, uma vez que a base de recompensa em tal sistema tem, invariavelmente, um laço psicológico com o senso de autoestima pessoal. Se uma pessoa “inventa” algo, transforma-o numa propriedade intelectual, explora-o por lucro e, em seguida, compra uma casa grande e uma extensa propriedade, o seu “status” como ser humano é tradicionalmente elevado na medida das normas estabelecidas pela cultura – essa pessoa é considerada um “sucesso”.

No entanto, se pararmos para pensar sobre isso de um modo geral, o compartilhamento de conhecimento não tem um resultado negativo fora da premissa econômica de propriedade para fins de exploração por lucro. Não há nada a perder e, sem dúvida, muito a ganhar socialmente através da partilha de informação.

Acesso Estratégico


Em vez da atual noção sem sentido de propriedade, o mais tecnicamente eficiente a ser adotado é o uso do acesso estratégico, que é completamente viável por meio das tecnologias de informação atuais.  A simples troca de propriedade pelo acesso, automaticamente geraria abundância, pois o uso de bens seria de fácil acesso a uma quantidade muito maior de pessoas, bem como haveria um impacto ambiental muito menor no uso dos recursos naturais.

Do ponto de vista da eficiência de mercado, propriedade é uma coisa boa; quanto mais compras diretas de bens, melhor. Em geral, se 100 pessoas desejam dirigir um carro, ter 100 pessoas comprando esses carros é mais “eficiente” para o mercado do que se 100 pessoas compartilharem 20 carros em um sistema estrategicamente projetado de acesso, permitindo uma utilização com base no tempo de uso real.

Se analisarmos os padrões, em média, de uso real de um determinado bem, descobriremos que muitos tipos de produtos podem ser usados de forma intermitente. Veículos, artigos de lazer, equipamentos para projetos e vários outros gêneros de bens, são comumente acessados em intervalos de tempo relativamente distantes, tornando a propriedade uma tarefa não apenas um pouco inconveniente, dada a necessidade de armazenar esses itens, mas, também, claramente ineficiente sob a ótica da verdadeira integridade econômica, que busca a redução do desperdício em todos os momentos.
share bike

Todos os anos, inúmeros livros são emprestados e retornam praticamente de graça para bibliotecas em todo o mundo, não só poupando uma enorme quantidade de recursos materiais ao longo do tempo, mas também facilitando o acesso ao conhecimento por aqueles que de outra forma poderiam não ter meios para obtê-lo. Ainda assim, essa prática é uma rara exceção no mundo movido à eficiência de mercado de hoje, tão clara é a desvantagem para o mercado ter qualquer coisa disponível sem compra direta por cada pessoa.

Do ponto de vista da eficiência de mercado, o compartilhamento (acesso liberado) de bens materiais seria uma extrema inibição. Enquanto ainda seria gerado lucro no modelo capitalista através do empréstimo de itens para as pessoas com base em suas necessidades, esse seria enormemente desproporcional quando comparado com o lucro/consumo em uma sociedade baseada na propriedade pessoal e separada de cada bem. Por outro lado, a eficiência técnica seria intensa. Não apenas menos recursos seriam utilizados (e menos força de trabalho), uma vez que uma menor quantidade de cada bem precisaria ser criada para satisfazer o tempo de uso dos cidadãos, mas também a disponibilidade de tais bens poderia muito bem se estender a muitas pessoas que de outra forma não teriam como pagar por eles, mas poderiam pagar uma taxa de “aluguel” (aqui ainda supondo um sistema de mercado). A este respeito, a eficiência técnica tem dois níveis – ambiental e social. Do ponto de vista ambiental, uma redução drástica no uso de recursos; do ponto de vista social (todo o resto permanecendo igual), um aumento na disponibilidade de acesso a certos bens também ocorreria.

Do ponto de vista da eficiência técnica, em intenso detrimento da eficiência de mercado, uma sociedade orientada pelo acesso compartilhado ao invés da propriedade universal, seria excepcionalmente mais sustentável e benéfica para todos. É claro que tal prática naturalmente desafiaria valores profundamente identificados com a cultura “proprietária” de hoje.

http://blog.movimentozeitgeist.com.br/a-ideia-contraditoria-e-ineficiente-de-propriedade
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Offline Sergiomgbr

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Re:A idéia, contraditória e ineficiente, de “Propriedade”
« Resposta #1 Online: 04 de Novembro de 2015, 20:12:58 »
O direito à propriedade é antes de mais nada o direito à contestação, uma vez que a própria deliberação de que nada deva ser apropriado(tornado propriedade de outrem) já seja uma apropriação de algo.
Até onde eu sei eu não sei.

Offline Brienne of Tarth

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Re:A idéia, contraditória e ineficiente, de “Propriedade”
« Resposta #2 Online: 04 de Novembro de 2015, 20:32:32 »
É claro, se eu tive que subir na montanha e passar lá 2 dias para trazer um fungo exótico pra temperar melhor a carne, nada mais eficiente do que compartilhar com todos os que ficaram sentados olhando...
GNOSE

Rhyan

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Re:A idéia, contraditória e ineficiente, de “Propriedade”
« Resposta #3 Online: 05 de Novembro de 2015, 01:36:58 »
Propriedade privada é consequência lógica da autopropriedade que é irrefutável.

Dinheiro é tecnologia de troca, e troca é win-win situation.

"Propriedade" intelectual é uma aberração mesmo.

Essa crítica não tem nada a ver mesmo.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:A idéia, contraditória e ineficiente, de “Propriedade”
« Resposta #4 Online: 05 de Novembro de 2015, 05:50:43 »
"Autopropriedade" é "refutada" por uma arma de fogo ou maior capacidade física, individual ou coletiva. Qualquer conceito de "propriedade" é uma espécie de "acordo de cavalheiros", não "lei física".

Offline Geotecton

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Re:A idéia, contraditória e ineficiente, de “Propriedade”
« Resposta #5 Online: 05 de Novembro de 2015, 08:35:49 »
Propriedade privada é consequência lógica da autopropriedade que é irrefutável.
[...]

Você consegue demonstrar?
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Offline Buckaroo Banzai

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Re:A idéia, contraditória e ineficiente, de “Propriedade”
« Resposta #6 Online: 05 de Novembro de 2015, 08:43:47 »
Citar
https://everythinglibertarian.wordpress.com/2015/08/03/why-self-ownership-is-irrefutable/

Why Self-Ownership is irrefutable
August 3, 2015 magliulo98   

Autonomy, Self-ownership, whatever you want to call it, are the intrinsic layers of philosophical thought found in the concept of freedom. They are not only important, but irrefutable. Arguing against self-ownership would require the ownership of one’s vocal cords and mouth to argue against it. Even when debating people over the internet, self-ownership deniers are exercising self-ownership by typing away. Put simply, arguing against self-ownership is a self-imploding statement. It is much like saying there’s no absolute truth(“that’s an absolute truth statement!”)

Offline Brienne of Tarth

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Re:A idéia, contraditória e ineficiente, de “Propriedade”
« Resposta #7 Online: 05 de Novembro de 2015, 11:02:20 »
Sim, Buck, a autopropriedade é irrefutável, mas acho que o Geo quis o desenvolvimento da idéia de que a propriedade privada é uma consequência lógica da autopropriedade sugerida pelo Libertário.

Tô errada? :hein:

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Offline Fabrício

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Re:A idéia, contraditória e ineficiente, de “Propriedade”
« Resposta #8 Online: 05 de Novembro de 2015, 11:06:59 »
Sim, Buck, a autopropriedade é irrefutável, mas acho que o Geo quis o desenvolvimento da idéia de que a propriedade privada é uma consequência lógica da autopropriedade sugerida pelo Libertário.

Tô errada? :hein:



Acho que o Buckaroo não acha a autopropriedade irrefutável:

"Autopropriedade" é "refutada" por uma arma de fogo ou maior capacidade física, individual ou coletiva. Qualquer conceito de "propriedade" é uma espécie de "acordo de cavalheiros", não "lei física".

Acho que ele postou o texto em inglês para mostrar a visão dos libertários, não a dele. O texto chama a autopropriedade de "irrefutável", mas não sei bem em que sentido isso aconteceria. A autopropriedade me parece mais, como disse o Buckaroo, um "acordo de cavalheiros", um "pacto" onde os mais fortes concordam em não infringir a autopropriedade dos mais fracos, sob pena de impossibilitar a vida em sociedade ou sofrer punições.


« Última modificação: 05 de Novembro de 2015, 11:14:34 por Fabrício »
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Offline Brienne of Tarth

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Re:A idéia, contraditória e ineficiente, de “Propriedade”
« Resposta #9 Online: 05 de Novembro de 2015, 11:09:02 »
E esse texto aqui é para dizer o quê?


Citar
https://everythinglibertarian.wordpress.com/2015/08/03/why-self-ownership-is-irrefutable/

Why Self-Ownership is irrefutable
August 3, 2015 magliulo98   

Autonomy, Self-ownership, whatever you want to call it, are the intrinsic layers of philosophical thought found in the concept of freedom. They are not only important, but irrefutable. Arguing against self-ownership would require the ownership of one’s vocal cords and mouth to argue against it. Even when debating people over the internet, self-ownership deniers are exercising self-ownership by typing away. Put simply, arguing against self-ownership is a self-imploding statement. It is much like saying there’s no absolute truth(“that’s an absolute truth statement!”)
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Re:A idéia, contraditória e ineficiente, de “Propriedade”
« Resposta #10 Online: 05 de Novembro de 2015, 11:10:14 »
Pois ainda que me arranquem um fígado, ele continua sendo meu, marcado com o MEU DNA.
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Re:A idéia, contraditória e ineficiente, de “Propriedade”
« Resposta #11 Online: 05 de Novembro de 2015, 11:15:09 »
Brienne, eu editei lá, para acrescentar algumas coisas.
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Re:A idéia, contraditória e ineficiente, de “Propriedade”
« Resposta #12 Online: 05 de Novembro de 2015, 11:18:13 »
Pois ainda que me arranquem um fígado, ele continua sendo meu, marcado com o MEU DNA.

Ele ficaria marcado com seu DNA, mas não seria mais seu no sentido de te pertencer, já que outra pessoa como o Hanniball Lecter poderia fazer um bife com ele e comer independente da sua vontade :lol:.

Outro exemplo seria alguém escravizado, que não teria autopropriedade, seria propriedade de outro.
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Offline Brienne of Tarth

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Re:A idéia, contraditória e ineficiente, de “Propriedade”
« Resposta #13 Online: 05 de Novembro de 2015, 11:19:50 »
Tindi.

Mas eu queria saber então se é isso mesmo: se alguém me sequestra, não sou mais dona de  mim, mas outra pessoa é?
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Offline Peter Joseph

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Re:A idéia, contraditória e ineficiente, de “Propriedade”
« Resposta #14 Online: 05 de Novembro de 2015, 11:20:44 »
O direito à propriedade é antes de mais nada o direito à contestação, uma vez que a própria deliberação de que nada deva ser apropriado(tornado propriedade de outrem) já seja uma apropriação de algo.

Não há necessidade de deliberar que nada deva ser apropriado. Nada deve impedir da pessoa possuir um determinado bem, seja uma bicicleta, um carro... Só seria algo ineficiente e desnecessário numa sociedade baseada no compartilhamento e no acesso estratégico.
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Re:A idéia, contraditória e ineficiente, de “Propriedade”
« Resposta #15 Online: 05 de Novembro de 2015, 11:21:17 »
Tindi.

Mas eu queria saber então se é isso mesmo: se alguém me sequestra, não sou mais dona de  mim, mas outra pessoa é?

Por lei você continuaria sendo sua própria proprietária na maior parte do mundo civilizado, mas na prática, comumente pode não ser bem isso, evidentemente.



Aquele texto citado foi só um exemplo de como libertários podem ver as coisas.


Bem, se existe auto-propriedade, ela é também inerentemente uma propriedade privada, a não ser no caso de gêmeos siameses, onde a coisa se complica um pouco.


Haver mesmo DNA em um corpo e em partes originalmente encontradas naquele corpo não implica que tais partes, removidas, sejam ainda "propriedade" daquele corpo. Será apenas se estabelecido assim por lei, mas é possível falar-se de legalização da venda de órgãos, e não apenas aluguel, então o mesmo DNA apenas não implica em auto-propriedade ou propriedade das partes.






Não há necessidade de deliberar que nada deva ser apropriado. Nada deve impedir da pessoa possuir um determinado bem, seja uma bicicleta, um carro... Só seria algo ineficiente e desnecessário numa sociedade baseada no compartilhamento e no acesso estratégico.

Também não há necessidade de deliberar sobre inexistência ou contradições de "propriedade" para que as pessoas compartilhem e promovam acesso estratégico às propriedades, que não serão nem necessariamente individuais.

Offline Fabrício

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Re:A idéia, contraditória e ineficiente, de “Propriedade”
« Resposta #16 Online: 05 de Novembro de 2015, 11:22:16 »
Tindi.

Mas eu queria saber então se é isso mesmo: se alguém me sequestra, não sou mais dona de  mim, mas outra pessoa é?

Em tese sim, já que ele pode dispor de você... mas acho que o sequestro seria mais um "aluguel" do que uma "compra"  :hihi:. Também só estou divagando, claro.
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Offline Peter Joseph

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Re:A idéia, contraditória e ineficiente, de “Propriedade”
« Resposta #17 Online: 05 de Novembro de 2015, 11:25:08 »
É claro, se eu tive que subir na montanha e passar lá 2 dias para trazer um fungo exótico pra temperar melhor a carne, nada mais eficiente do que compartilhar com todos os que ficaram sentados olhando...

O melhor seria os apreciadores de fungos exóticos se unirem e desenvolverem uma forma de cultiva-los de forma mais fácil e acessível, depois compartilhar o conhecimento sobre isto na rede. Sendo preferível que o sistema fosse o mais automatizado possível para gerar abundância para todos os interessados. Talvez, também, criar maneiras mais fáceis de subir e permanecer na montanha e depois compartilhar  :)
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Offline Fabrício

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Re:A idéia, contraditória e ineficiente, de “Propriedade”
« Resposta #18 Online: 05 de Novembro de 2015, 11:30:15 »
É claro, se eu tive que subir na montanha e passar lá 2 dias para trazer um fungo exótico pra temperar melhor a carne, nada mais eficiente do que compartilhar com todos os que ficaram sentados olhando...

O melhor seria os apreciadores de fungos exóticos se unirem e desenvolverem uma forma de cultiva-los de forma mais fácil e acessível, depois compartilhar o conhecimento sobre isto na rede. Sendo preferível que o sistema fosse o mais automatizado possível para gerar abundância para todos os interessados. Talvez, também, criar maneiras mais fáceis de subir e permanecer na montanha e depois compartilhar  :)

Não é assim que seres humanos funcionam. Posso ser um apreciador de fungos exóticos e não ter paciencia, tempo ou capacidade de subir a montanha. Prefiro que alguém faça isso, colete os fungos e depois me passe estes fungos em troca de alguma compensação (dinheiro, por exemplo).

Também existirão sempre, com a Brienne falou, aqueles fungófilos que não farão o menor esforço para subir a montanha e cultivar os fungos, mas estarão na frente da fila na hora de apreciá-los.
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Offline Johnny Cash

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Re:A idéia, contraditória e ineficiente, de “Propriedade”
« Resposta #19 Online: 05 de Novembro de 2015, 11:35:25 »
Tindi.

Mas eu queria saber então se é isso mesmo: se alguém me sequestra, não sou mais dona de  mim, mas outra pessoa é?

Em tese sim, já que ele pode dispor de você... mas acho que o sequestro seria mais um "aluguel" do que uma "compra"  :hihi:. Também só estou divagando, claro.

Se ela é sequestrada ela está em posse de outra pessoa, porém isso não quer dizer que se tornou propriedade dela. Não se deve confundir posse com propriedade.

A autopropriedade pode ser removida da pessoa***, mas, em tese, não pode ser dada a um terceiro, até por conflito primário e conceitual. Ninguém pode ter a autopropriedade de terceiro. Enquanto uma pessoa viva não pode ter deixar de ter sua autopropriedade inviolável.

E Rousseau tem bons pontos sobre a propriedade e escravidão, devendo a gente aqui também tratar de separar os conceitos legais vigentes em determinada época do que é puramente filosófico. Se alguém é escravo, ainda assim não quer dizer que seu mestre é detentor da propriedade/autonomia daquela pessoa, enquanto só mantém a relação de escravidão pela força e os direitos vinculados a essa relação andariam numa direção única.


A minha única dúvida é: alguém pode se vender? Não no sentido de prestar serviços a outrém, mas no total, abrindo mão completamente da autonomia e, por consequente, autopropriedade, meio que se transformando em máquina. Acho que é, também, conceitualmente impossível, embora não do ponto de vista contratual (fictício).


***edit: me corrigindo, a autopropriedade também não pode ser removida da pessoa, sem que a pessoa em si mesma seja também removida ou exterminada. Portanto, não há como remover objetivamente a autopropriedade de alguém, já que quando o fazem, ou logo antes de concluir o ato, a pessoa não mais existe e portanto não tem propriedade de qualquer coisa que seja.
« Última modificação: 05 de Novembro de 2015, 12:40:01 por Johnny Cash »

Offline Brienne of Tarth

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Re:A idéia, contraditória e ineficiente, de “Propriedade”
« Resposta #20 Online: 05 de Novembro de 2015, 11:35:30 »
Só um exemplo, nem tudo é cultivável...

Trufas de Carvalho
GNOSE

Offline Peter Joseph

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Re:A idéia, contraditória e ineficiente, de “Propriedade”
« Resposta #21 Online: 05 de Novembro de 2015, 11:36:59 »
Propriedade privada é consequência lógica da autopropriedade que é irrefutável.

Se a sua ideia de autopropriedade gerando propriedade privada é a mesma do Locke, como demonstrado no texto, tem um enorme rombo no meio dela, que a torna contraditória.
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« Resposta #22 Online: 05 de Novembro de 2015, 11:42:28 »
Não há necessidade de deliberar que nada deva ser apropriado. Nada deve impedir da pessoa possuir um determinado bem, seja uma bicicleta, um carro... Só seria algo ineficiente e desnecessário numa sociedade baseada no compartilhamento e no acesso estratégico.

Também não há necessidade de deliberar sobre inexistência ou contradições de "propriedade" para que as pessoas compartilhem e promovam acesso estratégico às propriedades, que não serão nem necessariamente individuais.

Só acho algum tipo de discussão necessária para a conscientização das outras possibilidades que temos, para ajudar a desconstruir o mito do "não há alternativa". Também gosto de expor minha visão de mundo para ser contestada e eu possa encontrar possíveis erros ou até mesmo mais confirmações.
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Re:A idéia, contraditória e ineficiente, de “Propriedade”
« Resposta #23 Online: 05 de Novembro de 2015, 11:57:20 »
Sim, Buck, a autopropriedade é irrefutável, mas acho que o Geo quis o desenvolvimento da idéia de que a propriedade privada é uma consequência lógica da autopropriedade sugerida pelo Libertário.

Tô errada? :hein:



Acho que o Buckaroo não acha a autopropriedade irrefutável:

"Autopropriedade" é "refutada" por uma arma de fogo ou maior capacidade física, individual ou coletiva. Qualquer conceito de "propriedade" é uma espécie de "acordo de cavalheiros", não "lei física".

Acho que ele postou o texto em inglês para mostrar a visão dos libertários, não a dele. O texto chama a autopropriedade de "irrefutável", mas não sei bem em que sentido isso aconteceria. A autopropriedade me parece mais, como disse o Buckaroo, um "acordo de cavalheiros", um "pacto" onde os mais fortes concordam em não infringir a autopropriedade dos mais fracos, sob pena de impossibilitar a vida em sociedade ou sofrer punições.

Autopropriedade (possuir a si mesmo) é auto evidente. A questão é que não é uma lei natural, com causa e efeito automático, então ela pode ser violada pela força e coerção de todo tipo. O problema é que a coerção é ineficiente e insustentável, sempre nos levando ao fracasso sistêmico.
« Última modificação: 05 de Novembro de 2015, 12:56:05 por Peter Joseph »
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« Resposta #24 Online: 05 de Novembro de 2015, 12:05:59 »
É claro, se eu tive que subir na montanha e passar lá 2 dias para trazer um fungo exótico pra temperar melhor a carne, nada mais eficiente do que compartilhar com todos os que ficaram sentados olhando...

O melhor seria os apreciadores de fungos exóticos se unirem e desenvolverem uma forma de cultiva-los de forma mais fácil e acessível, depois compartilhar o conhecimento sobre isto na rede. Sendo preferível que o sistema fosse o mais automatizado possível para gerar abundância para todos os interessados. Talvez, também, criar maneiras mais fáceis de subir e permanecer na montanha e depois compartilhar  :)

Não é assim que seres humanos funcionam. Posso ser um apreciador de fungos exóticos e não ter paciencia, tempo ou capacidade de subir a montanha. Prefiro que alguém faça isso, colete os fungos e depois me passe estes fungos em troca de alguma compensação (dinheiro, por exemplo).

Também existirão sempre, com a Brienne falou, aqueles fungófilos que não farão o menor esforço para subir a montanha e cultivar os fungos, mas estarão na frente da fila na hora de apreciá-los.

Só um exemplo, nem tudo é cultivável...

Trufas de Carvalho

Havendo interesse da população não há por que não existirem esforços para produzir abundância de algo, seja o que for. Mas também é evidente que não há como qualquer um ter o que quiser, do jeito que quiser, a hora que quiser, o tempo que quiser. Sempre haverão coisas que não serão facilitadíssimas. Não existe nem existirá perfeição ou utopia. Paraíso é só na bíblia. Mas as necessidades principais e a maioria dos demais desejos poderiam ser satisfeitos, muito mais que agora, já não estaria de bom tamanho? O próprio sistema atual de mercado, não garante tal nível de liberdade, nem perto disto. A gigantesca maioria não consegue fazer tudo nem agora, nem nunca no futuro.
"Não é sinal de saúde estar bem adaptado a uma sociedade doente." - Krishnamurti

"O progresso é a concretização de Utopias." – Oscar Wilde
O Minhocário - https://ominhocario.wordpress.com/

 

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