Eu resolvi parar de me autodeclarar ateu e agnóstico em favor do termo humanista secular de agora em diante. Não tem nada a ver com uma mudança em minha visão de mundo, que permanece inalterada, é simplesmente que me incomoda o fato de as palavras 'ateu' e 'agnóstico' me definirem por exclusão, me definirem por aquilo que eu não sou: ateu - aquele que não tem crença em um deus; agnóstico - aquele que não tem conhecimento sobre a existência de um deus (como é usado em geral). Por isso mesmo essas palavras não dizem nada sobre o que eu sou, é tão impreciso e tão vago eu me catalogar como ateu como é para um cristão e um hinduísta se autoproclamarem simplesmente como teístas.
Assim como o Cristianismo e o Hinduísmo são sistemas de crenças muito mais complexos do que simplesmente uma crença em um Deus, a minha visão de mundo é muito mais ampla do que uma opinião sobre a existência de uma suposta divindade, existência essa que nem é tão central na minha cabeça para merecer ela sozinha ser apresentada como meu crachá. Eu me declarar ateu é dar importância demais a um deus que eu rejeito para começo de conversa.
Um dos clichês número um que aprendemos sobre o ateísmo é exatamente isso, que ele diz respeito somente à existência de deus, ao se falar "eu sou ateu" ninguém pode deduzir nada a respeito das opiniões desse indivíduo sobre questões importantes como moral, por exemplo. Se por um lado muitos festejam essa abertura que o termo nos dá, esse potencial para fazer escolhas sobre que elementos juntar na sua própria visão de mundo "livre-pensadora", na prática observa-se que tendemos a precipitar em grupos com ideias relativamente homogêneas sobre uma variedade de elementos.
O Clube Cético é um belo exemplo disso: temos uma visão de mundo muito mais uniforme do que esse quase consenso interno de que não deve existir um deus. Também concordamos, por exemplo, que a razão e o método científico são os meios mais adequados para se separar conhecimentos falsos de verdadeiros, concordamos que moral é importante e que é possível e desejável fundamentá-la na razão, concordamos em dispensar o sobrenatural e sempre procurar explicações para quaisquer fenômenos dentro da natureza, temos opiniões parecidas sobre diversas ideias políticas (por mais que hajam discussões ferozes sobre o tema neste fórum, dêem uma olhada no
nosso resultado no Political Compass e vejam como praticamente todos estamos na parte 'libertária' do gráfico e como a esmagadora maioria se encontra na esquerda moderada).
Enfim, todos esses consensos e quase consensos, e acho que concordaremos que a maioria deles é bem mais importante na nossa visão de mundo do que a mera existência de Deus, mostram que somos (dentro do desvio padrão esperado) um grupo muito mais coeso e muito mais homogêneo do que simples "ateus sobre os quais não se pode fazer mais nenhuma observação que não a de que não crêem em Deus."
Estou falando na primeira pessoa do plural, mas obviamente só falo por mim ao dizer que isso é o bastante para eu decidir que o termo ateu é extremamente inapropriado para para eu me referir a minha visão de mundo. Eu me sinto mais à vontade para me identificar com duas correntes de pensamento mais completas: o movimento Bright e o Humanismo Secular, mas favoreço o segundo termo tanto por ser mais preciso quanto por ser mais corrente (em língua inglesa, pelo menos, Secular humanist já é uma expressão que é entendida pelo cidadão medianamente bem informado e mesmo que não fosse ele é razoavelmente autodescritivo).