Acho que não é bem uma "confusão", ou, nem sempre.
É sim, na maioria das vezes. Leia qualquer artigo da Carta Capital que fale sobre o assunto que você verá. Ou não é confusão, é desonestidade mesmo.
Talvez eu tenha pego o bonde andando, mas não respondi pensando especificamente na CC, mas no discurso esquerdista em geral, ou, na verdade, tentando "salvá-lo" pelo que houver de melhor.
De modo geral está implícito que não importaria tanto uma "desigualdade" com a margem inferior numa classe média-alta, mesmo que no outro extremo se tivesse obscenilionários. Não precisa dizer que o problema é pobreza.
Desigualdade é qualquer coisa que é desigual(duh). Um bilionário comparado a um milionário tem uma renda muito desigual entre ambos. A pobreza está relacionada a desigualdade, mas não é a mesma coisa.
Evidentemente. Mas também me parece evidente que é na maioria dos casos subentendido que se fala des desigualdades onde há um lado pobre ou abaixo da pobreza e outro tremendamente mais rico, e não qualquer desigualdade, especialmente entre ricos e mais ricos.
Então falar em "desigualdade" é uma forma de enfatizar políticas redistributivas como uma solução parcial (porém possivelmente não apenas paliativa), porém acessível.
É uma forma de certo modo desonesta de enfatizar políticas redistributivas.
Por que desonesta?
Enquanto que o foco apenas em "pobreza" deixa estrategicamente omisso haver riqueza extrema no outro lado do espectro,
Como se fosse um problema pessoas que enriqueceram por méritos próprios ficarem cada vez mais ricas só porque ainda existem pobres... Talvez o problema é os progressistas pensarem que a pobreza de uns só existe devido a riqueza de outros.
Sem dúvida é mesmo uma "conclusão" de alguns, mas não é necessariamente o fundamento de qualquer política redistributiva, seja estatal ou em administração de empresas.
Mas, ao mesmo tempo, não é estritamente incorreto dizer que a pobreza de uns só existe devido a preservação total das riquezas de outros, já que a redistribuição dessas riquezas reduz sim a pobreza. Note: isso não é a negação da possibilidade de eventual enriquecimento dos mais pobres, ou afirmação de uma conexão causal mais do que "matemática"/tautológica entre a riqueza desigual e desigualdade. Embora possa sim haver argumentos nessa direção, como políticas corporativistas (como salário mínimo) protegerem o status de alguns em detrimento de oportunidades para os mais pobres.
enviesando a pensar em soluções apenas em termos de maior produção de riquezas, em vez de em melhor aproveitamento delas, tanto no aspecto humanitário/moral quanto econômico.
Pensar em maior criação de riqueza e redistribuição de renda com menos liberdade econômica?
Só se os progressistas passaram a ler Friedman, o que não duvido, visto que o Bolsa Família é inspirado no neoliberalismo do Imposto de Renda Negativo.
Infelizmente acho que é apenas uma minoria que tem um pensamento mais sofisticado e menos maniqueísta sobre o tema. De ambos os lados.
Antes que criem espantalhos ou coisas parecidas, gostaria que lessem esses artigos para entender meu ponto:
http://liberalismoeconomico.org/como-o-livre-mercado-atua-sobre-a-pobreza/ (o mais importante)
http://liberalismoeconomico.org/a-liberdade-economica-prejudica-os-mais-pobres-heritage-2013/
http://liberalismoeconomico.org/o-liberalismo-economico-prejudica-os-mais-pobres-heritage-2014/
E também deixo claro que condeno a miséria, antes que venham espantalhar com a pseudociência preconceituosa do Darwinismo Social. E não estou criticando políticas de Welfare nórdicas também.
Não falando em nome da Carta Capital, ou mesmo de progressistas em geral, acho que há a visão progressista que é perfeitamente a favor de graus elevados de liberdade econômica, porém sem cair no "quanto mais, melhor", que em última instância é anarquia. As reduções de liberdade econômica se justificando de forma não fundamentalmente diferentes daquelas com que se justifica um "estado de vigias noturnos", apenas não vendo qualquer aumento do escopo de segurança necessariamente como catastrófico ou um declive escorregadio para o comunismo.
Pode-se fazer analogia ainda com administração das finanças de uma empresa. Se ela tem setores desiguais em estruturação e lucratividade, e não se pode simplesmente eliminar os setores pior estruturados/capacitados que dão prejuízo (que seria darwinismo social dos piores), então é necessário que o investimento do lucro total priorize a estruturação/capacitação onde é precária.
Isso é um argumento estritamente economico/administrativo, não moral, onde fora da analogia libertários questionariam a moralidade dos mais ricos serem forçados a reduzir o sofrimento dos mais pobres, enquanto os progressistas, de não fazê-lo.
Mas mais importante que esse "primeiro" questionamento libertário, e até independente deste, seria um segundo: a confiança excessiva na organização estatal como capaz de dar conta desses problemas. Esse questionamento não precisa ser "absoluto", isso é, "o estado sempre criará uma situação pior do que sua ausência", mas ser mais específico, e dessa forma, produtivo, "científico", em apontar políticas falhas.