O básico sobre criação de riqueza e desigualdade de renda - e o que alguns seguem sem entenderpor Walter Williams, sexta-feira, 15 de abril de 2016 Suponha que Paulo, Pedro e João se reúnam semanalmente para jogar pôquer. E, em 75% das vezes, Paulo vence. Pedro e João vencem, respectivamente, 15% e 10% das vezes.
Simplesmente conhecer estes resultados dos jogos não nos permite dizer absolutamente nada sobre se houve ou não justiça e sensatez nos jogos. As desproporcionais vitórias de Paulo podem ser o resultado de ele ser um jogador astuto ou de ser um vigarista esperto.
Para determinar se houve justiça nos jogos é necessário perguntar sobre o processo do jogo. Houve desobediência às regras neutras do jogo? Havia cartas marcadas? Houve trapaça no embaralhamento das cartas? Houve algum jogador que foi coagido a jogar?
Se as respostas forem negativas, então houve justiça nos resultados, independentemente de qual tenha sido os resultados. O fato de Paulo ter vencido 75% das vezes é um fato que tem de ser aceito.
Assim como no exemplo acima, qualquer discussão inteligente sobre justiça social e igualdade econômica tem de reconhecer que os resultados observados de um processo não servem para determinar se houve ou não justiça e sensatez.
Saber que a renda anual de uma pessoa é de $ 500.000 e que a renda de outra pessoa é de $ 12.000 é algo que não nos diz absolutamente nada sobre justiça econômica e social. Para determinar se realmente houve injustiça econômica e social é necessário fazer perguntas sobre o processo de enriquecimento.
A maioria das pessoas que faz pontificações altivas sobre desigualdade econômica — inclusive economistas, para vergonha geral — simplesmente não reconhece, ou não deixa explícito, que a renda de uma pessoa é resultado de algo que ela fez. Sendo assim, apenas observar um determinado resultado não pode ser utilizado para determinar se houve justiça, isonomia e sensatez.
Para determinar se houve justiça, isonomia e sensatez é necessário ir além dos resultados e examinar o processo econômico como um todo.
Comecemos pelo básico.
A criatividade, a engenhosidade e a inteligência estão ausentes do debateEm primeiro lugar, é necessário entender o que cria a riqueza.
Por que as pessoas do século XIX não se comunicavam por meio de telefones celulares? Por que elas não utilizavam computadores? Ou mesmo, por que as guerras da antiguidade não utilizavam mísseis teleguiados? Todos os recursos físicos necessários para fazer mísseis, celulares e computadores já existiam naquela época. Aliás, esses recursos físicos já existiam desde a época do homem das cavernas. Por que o homem das cavernas não tinha um computador portátil para interagir com seus semelhantes via Facebook?
A resposta é que, embora os recursos físicos já existissem, a mente humana ainda não era engenhosa e criativa o bastante para saber como transformá-los em celulares, mísseis, computadores e internet.
Criatividade, engenhosidade e inteligência são as características que transformam recursos brutos em recursos valorosos e geradores de riqueza.
Uma concepção errônea, mas extremamente popular, é a de que o estudo da ciência econômica serve para capacitar alguém a prever os rumos da bolsa de valores ou a fazer investimentos rentáveis. Errado. A economia é um estudo sistemático sobre causa e efeito, e serve para você entender as relações de causa e efeito. O estudo da economia ajuda a entender o que acontece quando você faz coisas específicas de maneiras específicas.
O caminho para entender resultados econômicos é examinar as consequências das decisões tomadas e quais foram os incentivos que levaram a essas decisões.
E isso nos permite entender como a riqueza é criada.
O que é riqueza?Riqueza é tudo aquilo que gera uma fonte de renda futura.
Não é a riqueza que dá valor à renda, mas sim a renda que dá valor à riqueza. O valor de um terreno não depende do terreno em si mesmo, mas sim do valor de todos os serviços que ele permite. Um pedaço de terra em uma cidade inglesa tem mais valor que um pedaço de terra no Zimbábue porque suas possíveis utilizações na Inglaterra (residenciais, industriais, comerciais etc.) são mais úteis para o conjunto da sociedade do que no Zimbábue.
Por outro lado, se a Inglaterra for devastada por uma guerra e Zimbábue se tornar um centro internacional de negócios, as terras do Zimbábue passarão a ser muito mais valiosas do que as da Inglaterra, ainda que, fisicamente, não tenha havido alteração nenhuma na composição destas terras.
É por isso que o preço do metro quadrado hoje em Hong Kong ou Cingapura é infinitamente superior ao valor de 50 anos atrás. As terras são as mesmas, mas a utilidade da terra melhorou (aliás, a qualidade da terra em si pode até ter se degradado), pois o valor que subjetivamente se atribui às utilizações que o terreno proporciona se multiplicou.
Em uma sociedade formada por bilhões de pessoas, onde os recursos físicos possuem variados usos alternativos, a imensa maioria das rendas não advém automaticamente dos recursos materiais, mas sim do uso que se faz destes recursos materiais. Isso significa que a capacidade de geração de renda depende muito mais da organização inteligente destes recursos do que da disponibilidade dos mesmos.
É exatamente por isso que a Google (e tantas outras empresas) conseguiu crescer e enriquecer mesmo tendo sido criada em uma garagem e utilizando apenas recursos próprios; e também é exatamente por isso que os governos — mesmo tendo à sua disposição muitos mais recursos (confiscados) do que qualquer empresa — não conseguem gerar nada de proveitoso.
Um poço de petróleo hoje é o mesmo poço que já existia há 100 anos. No entanto, seu dono hoje será incomparavelmente mais rico do que o dono de 100 anos atrás, pois o petróleo hoje é utilizado em processos produtivos que geram muito mais renda do que gerava há 100 anos.
O que se pode dizer com certeza é que, em ordens sociais livres e complexas, a maior parte da riqueza de uma sociedade estará na forma de sistemas organizacionais geradores de bens e serviços (renda), isto é, de empresas que produzam bens e serviços valiosos para os consumidores; e continuará nesta forma apenas enquanto estes sistemas empresariais seguirem gerando valor para o consumidor.
Sendo assim, por que as pessoas que enriquecem desta forma estariam cometendo alguma injustiça social?
Por outro lado, são famosos os casos de megaempresas que se tornaram totalmente descapitalizadas em decorrência do simples fato de que seus bens e serviços deixaram de ter valor para o consumidor (o recente ocaso da Kodak é o mais famoso de todos). Ninguém irá derramar lagrimas por seus executivos?
O real causador das desigualdades segue sendo visto como o salvadorUm debate que desconsidere coisas simples como o que realmente é riqueza, como ela é gerada, como ela é distribuída, e o que define uma distribuição injusta é um debate meramente emotivo, e não racional.
Por outro lado, é fato que há várias pessoas que enriqueceram em decorrência de fartos subsídios governamentais, de tarifas protecionistas e de onerosas regulamentações que impediram o surgimento de concorrência e garantiram uma renda exclusiva para esses plutocratas.
É também fato que a maneira como funciona o atual sistema monetário e bancário é propícia a uma distribuição desigual de riqueza.
Sendo assim, é irônico notar que, quando a distribuição de renda é realmente injusta, isso ocorre por causa das interferências, das regulamentações e dos gastos governamentais. No entanto, o que os defensores da redistribuição de renda sugerem para corrigir essa injustiça gerada pelas intervenções do governo é justamente mais interferências, mais gastos e mais regulamentações governamentais.
Conclui-se que essas pessoas simplesmente não entendem nem como a riqueza é criada, nem como ela é justa e injustamente distribuída, e nem como ela é destruída.
Walter Williams é professor honorário de economia da George Mason University e autor de sete livros. Suas colunas semanais são publicadas em mais de 140 jornais americanos.
Fonte:
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2387