Autor Tópico: Deixe aqui sua pergunta para anarquistas... ou responda  (Lida 4702 vezes)

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Offline Buckaroo Banzai

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Re:Deixe aqui sua pergunta para anarquistas... ou responda
« Resposta #25 Online: 02 de Julho de 2016, 20:20:38 »
Estava pensando...O que substituiria o sistema judiciário nos sistemas anarco-qualquer-coisa?

É uma pergunta tão útil e necessária quanto "o que substituiria o sistema de preços em uma economia planificada".



Baixei, acho que do mises,org, um podcast sobre tribunais privados, mas ainda não ouvi.

Em outro tópico postaram uns links sobre algo nesse sentido, que até já existiu em algumas regiões. Seria talvez meio análogo a um "tribalismo legal" sem rituais macabros de filiação, ainda que talvez a desassociação possa ser um pouco penosa. Basicamente tem "juízes", que oferecem suas leis e interpretações das leis, e as pessoas voluntariamente vão até eles por considerarem que são mais justos, por terem tal reputação. Outro semi-análogo mais moderno talvez fossem os acordos que fazem os Ratinhos e Celso Russomanos da vida em seus programas de TV.

Indo mais a fundo talvez tenha algo sobre como as pessoas em conflito fazem em caso de disputa sobre qual é o juiz consensual por ambos/todos envolvidos.

Em caso de não acato da decisão legal, imagino que seja na base do pega-para-capar da iniciativa privada, linchamentos e etc, conforme se considerar apropriado, conforme se dispuser de meios para fazer justiça.




Não responde nenhuma das perguntas levantadas aqui, mas esclarece muita coisa dita noutros tópicos e pode ajudar a entender o ponto-de-vista:
Citar
[...]É logicamente possível não haver qualquer tipo de crime? Claro que sim.[...]
[/quote]

Eu defendo inclusive uma nova versão de anarco-capitalismo, chamo de anarco-capitalismo-justo-e-honesto.

Além do princípio da não-agressão, tem os princípios do bom-senso e o da não-enganação.


Assim sendo, desfaz-se qualquer necessidade de improvisar coisas que fariam um proto-estado-mínimo policial, como sistemas prestadores de segurança e de justiça, que inerentemente tem incentivos para que haja aquilo que eles se propoem a combater, para não perderem o negócio.

Offline Gauss

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Re:Deixe aqui sua pergunta para anarquistas... ou responda
« Resposta #26 Online: 02 de Julho de 2016, 20:40:26 »
Se eu processar uma empresa no anarcocapitalismo, o que garante que eu possa ganhar essa causa? Se um tribunal é privado ele não pode impor regras sobre outras empresas, elas podem simplesmente não comparecer e não ter nenhum tipo de punição. A não ser que todos fossem forçados a participar de algum tipo de afiliação judiciária privada, mas daí não faria sentido acabar com o estado.


Por falar nisso, também vou  criar uma ideologia anarquista. O nome dela é anarco-estatismo-individualista. Ainda estou bolando a ideia, mas a questão central é que todas as pessoas viverão num estado anarquista, com o individuo como centro das coisas participando voluntariamente de um estado, no qual haverão leis e regras. E as pessoas que discordarem desta ideologia e quererem discutir, eu vou mandar ir estudar sem argumentar porque elas estão erradas ou equivocadas.

EDIT: PQP! já tiveram essa ideia antes.
https://anarcoestatismo.wordpress.com/
Pelo menos a minha é individualista.
Citação de: Gauss
Bolsonaro é um falastrão conservador e ignorante. Atualmente teria 8% das intenções de votos, ou seja, é o Enéas 2.0. As possibilidades desse ser chegar a presidência são baixíssimas, ele só faz muito barulho mesmo, nada mais que isso. Não tem nenhum apoio popular forte, somente de adolescentes desinformados e velhos com memória curta que acham que a ditadura foi boa só porque "tinha menos crime". Teria que acontecer uma merda muito grande para ele chegar lá.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Deixe aqui sua pergunta para anarquistas... ou responda
« Resposta #27 Online: 02 de Julho de 2016, 21:10:48 »
O que aconteceria seria que essas empresas seriam penalizadas tanto em reputação, quanto em sanções legais sugeridas pelos juízes freelancers. Eles poderiam talvez até autorizar uso da força. Esta pode ser da população, uma revolta popular autorizada, ou mesmo podem fazer uma vaquinha para pagar mercenários para tomar quaisquer providências necessárias, fazer expropriações, pagar indenizações, o que for. As comunidades talvez espontaneamente economizassem, e guardassemm um pouco mais, em conjunto, para esse tipo de eventualidade.

Mas é muito provável que nenhuma empresa de ações questionáveis fosse atingir tamanho muito considerável num mercado imaculado pelo Estado. Ou seja, os desvios seriam corrigidos mais imediatamente, em proporções menores, a baixos custos para os afetados.

Offline Pedro Reis

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Re:Deixe aqui sua pergunta para anarquistas... ou responda
« Resposta #28 Online: 02 de Julho de 2016, 23:01:50 »
Feudos e monarquias não são de certa forma plutocracias?

Não. Longe disso.

Os 'homens do dinheiro' nessa época apitavam pouco ou nada. E os senhores feudais mais poderosos não necessariamente eram ricos, ou os mais ricos.


O feudalismo foi um governo dos ricos. Nesse período a monarquia, enquanto monarquia, exercia um papel quase figurativo, sendo os reis meros senhores feudais aos quais os outros senhores e cidades importantes pouco obedeciam ou só obedeciam quando assim o quisessem.

No tempo em que Nicolau Maquiavel escreveu sua obra mais famosa e infame, Maximiliano I ostentava o título de rei de Itália. Mas pouco é citado - ou nem é citado - em "O  Príncipe", obra esta que é dedicada e direcionada a Lorenzo de Médici, um homem  bem mais poderoso que Maximiliano e que governava a rica cidade de Florença.

Esse foi um período de transição que levou ao Absolutismo e o próprio Lorenzo é uma figura representativa dessa transição pois foi tanto um senhor de domínios quanto um "homem do dinheiro". E apitava muito. A família Médici construiu sua fortuna como banqueiros mas eles buscaram o poder político como senhores e Papas ( o famoso Papa Leão X era um Médici ).

Eram burgueses, os Médicis, fundaram o que deve ter sido a primeira instituição financeira multinacional do mundo ( que eu imagino que esteja por aí até hoje ), mas para "apitar" constituíram uma duradoura dinastia política.

Quem ler "O Príncipe" conhecerá um tratado que se debruça exclusivamente sobre a questão de como conquistar e manter os domínios conquistados. A única forma de obter verdadeiramente poder nesta época.

Porém gradualmente essa estrutura política satisfazia cada vez menos os interesses de uma classe burguesa emergente, economicamente poderosa mas na qual nem todos poderiam ser como os Médicis, tornando-se tanto burgueses quanto senhores. Era inevitável: a estrutura teria que mudar.

Eu acho que se olharmos para o contexto do estado nacional neste período de transição podemos ver alguma semelhança com uma situação de anarco-capitalismo, onde o Estado era fraco e muitos grupos com suas próprias leis, sua própria moeda e seus próprios exércitos aliavam-se e combatiam-se mutuamente. Não era mais o feudalismo, o que se disputava não era terra mas mercados.

Então o Bucka está certo porque nesse hiato anarco-capitalista a plutocracia dos senhores
feudais foi eventualmente substituída pela plutocracia burguesa. E estes organizaram o Estado, e uniformizaram as leis, e unificaram as forças armadas, e estabeleceram uma única moeda. Criaram o ambiente onde pudessem mais prosperar.

E os "homens do dinheiro" prosperaram até o ponto em que o próprio rei se tornou um incômodo, e foi então descartado em favor de uma república.

Certamente hoje a república, os estados democráticos, também se tornaram um incômodo  para os realmente mais prósperos. Os muito, muito, prósperos. Uma chateação suas regulamentações e a pouca proteção que as pessoas ainda possuem contra o poder econômico. O tipo de proteção e regulamentação que teria impedido a crise financeira de 2008, quando várias desregulamentações foram feitas e proteções do sistema financeiro foram abolidas para permitir que bancos concedessem empréstimos de alto risco e ainda vendessem estas dívidas podres no mercado. E ainda ganhassem triplamente apostando contra seus próprios correntistas no cassino de Wall Street.

Do desastre para milhões de pessoas os grandes bancos saíram ainda maiores. E é aí, bem nesse fundo, que encontramos os verdadeiros patronos do neo-liberalismo. Herdeiros daqueles que, também no fundo, foram os verdadeiros patronos do absolutismo real e depois da república.

Liberalismo que significaria socialismo para os ricos e capitalismo para os pobres. Estado mínimo para todos, exceto para os conglomerados de corporações e mega instituições financeiras, para os quais os legislativo cada vez mais legisla ( segundo demonstrou um estudo que se debruçou sobre mais de 2 mil leis recentemente sancionadas nos EUA ), os quais ganham cada vez mais dinheiro e contratos do governo, gerando déficits orçamentários exorbitantes, os quais são os únicos que não precisam seguir a própria cartilha liberal, sendo socorridos de maneira muito socialista com zilhões do dinheiro público quando eles mesmos quebram a economia para o seu próprio benefício. Aconteceu nos EUA a exemplo do que já havia acontecido aqui no Brasil com o proer do FHC. O Banco Bandeirantes, da família de Aécio Neves, que é um expoente político da tese neo-liberal no país, recebeu 1,25 bilhões do nosso dinheiro. Do seu dinheiro.

Estes não precisam arcar com os riscos capitalistas de suas decisões e empreendimentos, não está na agenda neo-liberal que o Estado seja mínimo para eles.

É uma quimera que apenas a varinha mágica do mercado possa, guiada por supostas leis naturais que regeriam a economia se os homens assim permitissem, produzir uma sociedade mais democrática e com melhor distribuição de renda, reduzindo a assimetria de poder cujo maior culpado seria o Estado. Este que ironicamente só veio a existir como um produto dessa mesma assimetria de poderes, para melhor servir aos interesses dos que os patrocinaram.

O nosso colega Libertário nos ensina que a livre concorrência é um pré-requisito para que a verdadeira economia de mercado funcione. Resta explicar o que vai garantir a livre  concorrência se o liberalismo significar também que os mais poderosos estarão mais livres para garantirem seus próprios interesses em detrimento do bem comum.

Citar
I am not a person of despair, i'm a person of hope, and I think that we have to tolerate
the inequality as a way to achieving greater prosperity for all.

Lord Griffiths, vice-presidente do Banco Goldman Sachs, um dos grandes responsáveis pelo desastre de 2008.

Offline Pedro Reis

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Re:Deixe aqui sua pergunta para anarquistas... ou responda
« Resposta #29 Online: 02 de Julho de 2016, 23:07:14 »
Se eu processar uma empresa no anarcocapitalismo, o que garante que eu possa ganhar essa causa? Se um tribunal é privado ele não pode impor regras sobre outras empresas, elas podem simplesmente não comparecer e não ter nenhum tipo de punição. A não ser que todos fossem forçados a participar de algum tipo de afiliação judiciária privada, mas daí não faria sentido acabar com o estado.


Por falar nisso, também vou  criar uma ideologia anarquista. O nome dela é anarco-estatismo-individualista. Ainda estou bolando a ideia, mas a questão central é que todas as pessoas viverão num estado anarquista, com o individuo como centro das coisas participando voluntariamente de um estado, no qual haverão leis e regras. E as pessoas que discordarem desta ideologia e quererem discutir, eu vou mandar ir estudar sem argumentar porque elas estão erradas ou equivocadas.

EDIT: PQP! já tiveram essa ideia antes.
https://anarcoestatismo.wordpress.com/
Pelo menos a minha é individualista.

A ideia de Justiça privada é cômica. Um exato anacronismo.

Sendo pública muitas vezes já fazem na pública o mesmo que fariam na privada.

O trocadilho não é intencional mas calha.

Offline JJ

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Re:Deixe aqui sua pergunta para anarquistas... ou responda
« Resposta #30 Online: 03 de Julho de 2016, 07:29:00 »

Certamente hoje a república, os estados democráticos, também se tornaram um incômodo  para os realmente mais prósperos. Os muito, muito, prósperos. Uma chateação suas regulamentações e a pouca proteção que as pessoas ainda possuem contra o poder econômico.


Pedro,

Vamos ser práticos e específicos, no caso do Estado brasileiro, e dos governos brasileiros você considera que o atual poder que  os políticos e os burocratas/funcionário públicos  tem  é realmente  benéfico e adequado para a economia ?   

Você acha que o Brasil tem um ambiente muito bom para os empreendedores investirem ? Não existem países cujo ambiente de negócios seja bem mais amigável ?

Você acha que a nossa posição no índice de liberdade econômica está muito adequada ?

Você acha que os consumidores brasileiros devem dedicar 5 meses de seu trabalho para sustentarem  o Estado brasileiro, os políticos brasileiros, e os burocratas e funcionários públicos brasileiros ? 

Você  acha correto que muitos brasileiros cuja renda média é cerca de R$2.000,00 por mês tenha que pagar altos tributos para sustentar fiscais que ganham 17.000 - 20.000, ou juízes que ganham 50.000 por mês (ou até mais) ?

Você realmente acha adequada a relação custos/benefícios que temos no Estado brasileiro, e  que os políticos, os burocratas/ funcionários públicos nos  oferecem ?



« Última modificação: 03 de Julho de 2016, 07:37:14 por JJ »

Offline Pedro Reis

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Re:Deixe aqui sua pergunta para anarquistas... ou responda
« Resposta #31 Online: 03 de Julho de 2016, 12:27:12 »

Certamente hoje a república, os estados democráticos, também se tornaram um incômodo  para os realmente mais prósperos. Os muito, muito, prósperos. Uma chateação suas regulamentações e a pouca proteção que as pessoas ainda possuem contra o poder econômico.


Pedro,

Vamos ser práticos e específicos, no caso do Estado brasileiro, e dos governos brasileiros você considera que o atual poder que  os políticos e os burocratas/funcionário públicos  tem  é realmente  benéfico e adequado para a economia ?   

Você acha que o Brasil tem um ambiente muito bom para os empreendedores investirem ? Não existem países cujo ambiente de negócios seja bem mais amigável ?

Você acha que a nossa posição no índice de liberdade econômica está muito adequada ?

Você acha que os consumidores brasileiros devem dedicar 5 meses de seu trabalho para sustentarem  o Estado brasileiro, os políticos brasileiros, e os burocratas e funcionários públicos brasileiros ? 

Você  acha correto que muitos brasileiros cuja renda média é cerca de R$2.000,00 por mês tenha que pagar altos tributos para sustentar fiscais que ganham 17.000 - 20.000, ou juízes que ganham 50.000 por mês (ou até mais) ?

Você realmente acha adequada a relação custos/benefícios que temos no Estado brasileiro, e  que os políticos, os burocratas/ funcionários públicos nos  oferecem ?





Está longe de ser adequado. Mas em nenhum ponto disse que era adequado.

O que eu quis dizer, exatamente, é que o neo-liberalismo não é uma panaceia que vai resolver todos os males, como pregam seus apóstolos.

Os governos de Reagan e Tatcher terminaram em grandes crises econômicas, aumento no desigualdade e mais poder desproporcional para os mais ricos. No Chile, se formos buscar um exemplo de país talvez mais parecido com o nosso, a receita dos "Chicago boys" também não deu muito certo.

Muitas consequências ruins estão advindo para o sistema ( sistema político inclusive ) americano dessa agressiva religião neo-liberal. É socialismo para os ricos e capitalismo para os pobres, e a frase não é minha.

Veja bem, se o "índice de liberdade econômica" for tal que significar uma excessiva promiscuidade entre governo e interesses financeiros também não é bom. Um exemplo: o Minha Casa Minha Vida dos americanos não era gerido pela Caixa Econômica, um instituição do governo, mas por duas empresas privadas. Porém empresas que recebiam garantia direta e privilegiada do governo, e a maneira como fizeram seus negócios não foi regulada nem fiscalizada como aqui, por ser a Caixa um banco estatal. Simplesmente deixaram que estes caras ganhassem dinheiro da maneira que mais conseguissem. Mas antes "estes caras" haviam sido grandes doadores de fundos de campanha ( que coincidência! ). Também o sistema financeiro ( outro tradicional grande investidor em campanhas políticas, por coincidência ) fez o que quis, e com o governo garantindo tudo. Máximo índice de liberdade econômica. Mas se você, JJ, estiver garantindo os empréstimos de alguém naturalmente você vai querer estabelecer regras e fiscalizar, mas foi permitido que o dinheiro chegasse a pessoas que claramente não iriam poder pagar, e foi criada a ilusão de que estas pessoas iriam poder arcar com essas hipotecas porque os preços dos imóveis iriam continuar subindo infinitamente, então o pé rapado pensou que, em qualquer momento, ( e pareceu ou foi feito parecer assim ) se ele não quisesse ou pudesse mais pagar poderia vender o imóvel por mais do que havia investido, tendo lucro.

Que maravilha essa mágica! Todos ficando ricos do nada sem fazer força. Mas infelizmente mágica não existe, só quem iria ficar ainda mais rico era o banco, que com total índice de liberdade econômica vendia essas hipotecas no mercado, se livrando do que sabia ser coisa podre. E com total cumplicidade das agências de classificação de risco, que davam a estes papéis as maiores notas possíveis! AAA! Porém estas agências, veja só, eram pagas pelo próprio sistema que estavam avaliando.

Isso pode dar certo?

Mas quando a bolha estourou o governo federal acabou dispondo de quase 1 trilhão do dinheiro público ( alguns dizem que foi mais ) para socorrer banqueiros e indústrias, enquanto pessoas comuns perdiam suas casas ou todas as economias de uma vida, sem que ninguém as socorresse.

Socialismo para os ricos, capitalismo para os pobres. Isso é justo?

Mas sejamos claros: este não é um quadro do libertarianismo, muito menos do anarco-capitalismo. Não, tudo indica que seria muito pior. Da mesma forma que poder econômico  paulatinamente foi capaz de subverter um sistema democrático e colocar o Estado a seu serviço, na ausência de um Estado uma plutocracia se estabeleceria ainda mais fácil e rapidamente.

Qual a solução então? Meu caro, o ser humano não tem solução.

Offline DDV

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Re:Deixe aqui sua pergunta para anarquistas... ou responda
« Resposta #32 Online: 03 de Julho de 2016, 16:54:48 »
Em caso de não acato da decisão legal, imagino que seja na base do pega-para-capar da iniciativa privada, linchamentos e etc, conforme se considerar apropriado, conforme se dispuser de meios para fazer justiça.

Essa seria a regra para a maioria dos casos mais importantes.

Só uma minoria se resolveria na base da boa vontade mútua (disputas entre 2 'cidadãos de bem').

Nas disputas envolvendo pessoas de mau caráter, estelionatários, bandidos ou criminosos sistemáticos em geral versus cidadãos de bem, somente o uso da força resolve, pois tais indivíduos cagam e andam pra acordos baseados apenas em 'boa vontade' e 'boa fé' (que eles não têm). E a ausência de uma força a combatê-los os deixaria ainda mais audazes.






Não responde nenhuma das perguntas levantadas aqui, mas esclarece muita coisa dita noutros tópicos e pode ajudar a entender o ponto-de-vista:
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[...]É logicamente possível não haver qualquer tipo de crime? Claro que sim.[...]
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Eu defendo inclusive uma nova versão de anarco-capitalismo, chamo de anarco-capitalismo-justo-e-honesto.

Além do princípio da não-agressão, tem os princípios do bom-senso e o da não-enganação.


Poderia ter também o 'princípio do amor ao próximo', princípio da compaixão, princípio do 'vamos da as mãos e ser felizes', etc etc

Não acredite em quem lhe disser que a verdade não existe.

"O maior vício do capitalismo é a distribuição desigual das benesses. A maior virtude do socialismo é a distribuição igual da miséria." (W. Churchill)

Offline DDV

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Re:Deixe aqui sua pergunta para anarquistas... ou responda
« Resposta #33 Online: 03 de Julho de 2016, 16:59:25 »
Feudos e monarquias não são de certa forma plutocracias?

Não. Longe disso.

Os 'homens do dinheiro' nessa época apitavam pouco ou nada. E os senhores feudais mais poderosos não necessariamente eram ricos, ou os mais ricos.

(...)



Eu me refiro especificamente ao período feudal, não ao período de Maquiavel.

E até a própria Itália nunca teve um feudalismo 'pleno', sempre teve comércio mais desenvolvido e até algumas repúblicas, e na época de Maquiavel ainda mais.

Citação de: Pedro Reis
O feudalismo foi um governo dos ricos.

Se por 'ricos' você se refere a 'pessoas com muito dinheiro' ou 'burgueses', a frase está muito longe da verdade.

Não acredite em quem lhe disser que a verdade não existe.

"O maior vício do capitalismo é a distribuição desigual das benesses. A maior virtude do socialismo é a distribuição igual da miséria." (W. Churchill)

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Deixe aqui sua pergunta para anarquistas... ou responda
« Resposta #34 Online: 03 de Julho de 2016, 17:29:35 »
Se eu processar uma empresa no anarcocapitalismo, o que garante que eu possa ganhar essa causa? Se um tribunal é privado ele não pode impor regras sobre outras empresas, elas podem simplesmente não comparecer e não ter nenhum tipo de punição. A não ser que todos fossem forçados a participar de algum tipo de afiliação judiciária privada, mas daí não faria sentido acabar com o estado.


Por falar nisso, também vou  criar uma ideologia anarquista. O nome dela é anarco-estatismo-individualista. Ainda estou bolando a ideia, mas a questão central é que todas as pessoas viverão num estado anarquista, com o individuo como centro das coisas participando voluntariamente de um estado, no qual haverão leis e regras. E as pessoas que discordarem desta ideologia e quererem discutir, eu vou mandar ir estudar sem argumentar porque elas estão erradas ou equivocadas.

EDIT: PQP! já tiveram essa ideia antes.
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A ideia de Justiça privada é cômica. Um exato anacronismo.

Sendo pública muitas vezes já fazem na pública o mesmo que fariam na privada.

O trocadilho não é intencional mas calha.


Então está dizendo que seria bom que houvesse mais concorrência na justiça, mas não privada?

Offline DDV

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Re:Deixe aqui sua pergunta para anarquistas... ou responda
« Resposta #35 Online: 03 de Julho de 2016, 17:38:55 »
Se eu processar uma empresa no anarcocapitalismo, o que garante que eu possa ganhar essa causa? Se um tribunal é privado ele não pode impor regras sobre outras empresas, elas podem simplesmente não comparecer e não ter nenhum tipo de punição. A não ser que todos fossem forçados a participar de algum tipo de afiliação judiciária privada, mas daí não faria sentido acabar com o estado.


Por falar nisso, também vou  criar uma ideologia anarquista. O nome dela é anarco-estatismo-individualista. Ainda estou bolando a ideia, mas a questão central é que todas as pessoas viverão num estado anarquista, com o individuo como centro das coisas participando voluntariamente de um estado, no qual haverão leis e regras. E as pessoas que discordarem desta ideologia e quererem discutir, eu vou mandar ir estudar sem argumentar porque elas estão erradas ou equivocadas.

EDIT: PQP! já tiveram essa ideia antes.
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A ideia de Justiça privada é cômica. Um exato anacronismo.

Sendo pública muitas vezes já fazem na pública o mesmo que fariam na privada.

O trocadilho não é intencional mas calha.


Então está dizendo que seria bom que houvesse mais concorrência na justiça, mas não privada?

'Serviços de justiça' só podem ser oferecidos ou feitos se o fornecedor tiver autoridade.

Autoridade não é algo que pode ser 'comprado' ou oferecido em troca de dinheiro (exceto se o 'fornecedor' da autoridade já a tenha previamente).
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Offline Pedro Reis

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Re:Deixe aqui sua pergunta para anarquistas... ou responda
« Resposta #36 Online: 03 de Julho de 2016, 23:40:26 »
Se eu processar uma empresa no anarcocapitalismo, o que garante que eu possa ganhar essa causa? Se um tribunal é privado ele não pode impor regras sobre outras empresas, elas podem simplesmente não comparecer e não ter nenhum tipo de punição. A não ser que todos fossem forçados a participar de algum tipo de afiliação judiciária privada, mas daí não faria sentido acabar com o estado.


Por falar nisso, também vou  criar uma ideologia anarquista. O nome dela é anarco-estatismo-individualista. Ainda estou bolando a ideia, mas a questão central é que todas as pessoas viverão num estado anarquista, com o individuo como centro das coisas participando voluntariamente de um estado, no qual haverão leis e regras. E as pessoas que discordarem desta ideologia e quererem discutir, eu vou mandar ir estudar sem argumentar porque elas estão erradas ou equivocadas.

EDIT: PQP! já tiveram essa ideia antes.
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A ideia de Justiça privada é cômica. Um exato anacronismo.

Sendo pública muitas vezes já fazem na pública o mesmo que fariam na privada.

O trocadilho não é intencional mas calha.


Então está dizendo que seria bom que houvesse mais concorrência na justiça, mas não privada?

Acho que não entendi.

Uma agência de classificação de risco de crédito é uma empresa que é contratada por partes interessadas para avaliar serviços e produtos do mercado financeiro, assim como ativos de empresas.

No exemplo que citei para o JJ estas agências recebiam dinheiro de corretoras de WS, que por sua vez estavam se beneficiando, ganhando dinheiro como nunca com a bolha imobiliária.

Não é de surpreender que as avaliações tenham sido favoráveis a seus clientes.

Podemos projetar o mesmo caso - seria até mais complicado - para um judiciário composto por empresas privadas concorrendo no mercado entre si. As partes interessadas pagariam a estas empresas para decidir sobre questões em que algum tipo de arbitragem fosse requerida.

Como qualquer outra empresa seu objetivo principal seria lucrar, e depois sobreviver em um mercado competitivo. O interesse em ser equânime só deverá existir enquanto a equanimidade favorecer os dois primeiros e principais objetivos.

Se você tiver que recorrer a uma destas empresas para processar a Samarco por ter inundado o seu pequeno sítio com lama tóxica, qual das duas partes, você ou a Samarco, será o maior e mais cobiçado cliente? Qual dos dois costumeiramente contrata mais os serviços dessa empresa, qual é o cliente que interessa mais ser conquistado para sobreviver em um mercado competitivo?

Essa disparidade de forças já se reflete na Justiça institucional, e seria ainda mais complicado em um sistema onde as partes não seriam apenas réu e autor da ação, mas também consumidores do serviço.

Foi isso que eu quis dizer.

A esta podemos acrescentar mil outras complicações: como já disseram uma entidade privada não tem meios para fazer cumprir suas sentenças, e dar estes meios a uma empresa seria ainda mais temerário. Além disso quem iria estabelecer a lei? Cada empresa adotaria seu próprio código penal? Como escolher uma entre várias e chegar a um acordo sobre isso? Teria que haver agências judiciais para arbitrar acordos sobre a escolha de agências judiciais... e talvez outras agências para arbitrar um acordo da agência que vai arbitrar sobre o acordo...

Essa ideia é simplesmente uma piada. Não dá pra levar a sério.

Rhyan

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Re:Deixe aqui sua pergunta para anarquistas... ou responda
« Resposta #37 Online: 04 de Julho de 2016, 05:09:29 »
1 - Como o anarco-capitalismo não seria automaticamente sinônimo de plutarquia em vez de anarquia?

Quais países se parecem mais com uma plutocracia, os mais liberais no ranking do Fraser Institute os ou menos?
Austrália ou Brasil?
Suíça ou Rússia?
Nova Zelândia ou Congo?

Pelo contrário, livre mercado é a diluição do poder econômico concentrado, anarquia é puro livre mercado.

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2 - Como anarco-proprietaristas privariam os bens/"propriedade" que consideram ser seus dos anarco-comunistas/aproprietaristas/mutualistas, sem ferir o princípio da não-agressão?

O PNA diz que é errado INICIAR agressão. Se defender nunca é errado. Legítima defesa não é errado. Você tem todo direito de defender sua propriedade com a força proporcional que o caso exija.


Citar
2b - As diversas outras propostas/sufixos para anarquismos, são geralmente compatíveis entre si, como opções voluntárias de grupos dentro da anarquia, ou cada uma delas requer nano-estados (ou "outra coisa", como quer que se chame... o que quer que seja... e o que seria?) para garantir que a anarquia seja de acordo com os ideais rotulados pelo próprio sufixo, que, por sua vez, poderiam ou deveriam ser destruídos de acordo com os ideais de outra variante/sufixo?

Não sei, no anarcocapitalismo poderiam existir comunidades socialistas, comunistas, hippies, o que quiserem, desde que seja baseado em acordos voluntários. Num anarco-comunismo não haveria propriedade privada, nem trabalho assalariado, não teria como existir uma região ancap num ambiente anarco-comunista (de fato esse ambiente não teria como existir, seria o extremo do problema do cálculo econômico, caos absoluto).

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3 - a emergência espontânea de organizações voluntárias proto-estatais -- acordos voluntários entre moradores, pessoas, limitando as externalidades, sem fins lucrativos, visando a melhoria de condições sociais (ou evitar deterioração) -- deveria ser de alguma forma policiada e coibida para não evoluir num estado de fato, por alguma espécie de anti-estado? Há esboço de legislação/constituição nesse sentido? Ou a idéia é que em comunidades anarquistas as pessoas já seriam naturalmente avessas a fazer compromissos para o suposto benefício coletivo?

A lei seria de ordem policêntrica e acredito que haveria uma cultura anti-estado. O estado é uma super-máfia, logo, um grupo que quisesse construir um novo estado seria visto como um agressor por todos, seria alvo de todos, incluindo leis, tribunais, agencias de segurança.

Rhyan

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Re:Deixe aqui sua pergunta para anarquistas... ou responda
« Resposta #38 Online: 04 de Julho de 2016, 05:15:25 »
4- Se para termos a garantia da segurança pública devêssemos pagar por ela, qual seria a lógica de acabarmos com o estado e o imposto? Se a resposta for a questão voluntária(paga quem quer, recebe quem paga), não haveria de alguma forma uma pressão das prestadoras de serviço para quem não paga começar a pagar? Como evitar isso?

Depende, quando vc visita um shopping center, você não está pagando pela segurança, pelo menos não diretamente. As ruas seriam parecidas. Agora, agências de segurança, armas, câmeras, cercas elétricas, tudo isso já existe e tem seu custo além dos impostos. Conheço um pouco da teoria das seguradores na área da segurança, mas é tudo muito especulativo, não tem como prever um mercado que nem existe. Quem guia o mercado é a ordem espontânea, milhões de pessoas interagindo livremente. Em vários pontos, há teorias anarcocapitalistas divergentes, principalmente entre jusnaturalistas e utilitaristas (ou economicistas). Seria como adivinhar o que seria o trabalho no campo depois de abolir a escravidão.

Rhyan

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Re:Deixe aqui sua pergunta para anarquistas... ou responda
« Resposta #39 Online: 04 de Julho de 2016, 05:26:26 »
Recomendo:

Paper "The Economics of Non-State Legal Systems" - Bryan Caplan
http://www.libertarian.co.uk/lapubs/legan/legan026.pdf

As Engrenagens da Liberdade, ilustrado - David Friedman

Teoria do Caos - Robert P. Murphy
http://libertyzine.blogspot.com.br/2007/04/teoria-do-caos-robert-p-murphy.html

O setor público: desestatizando a segurança, as ruas e as estradas - Murray Rothbard
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=174

Serviços de defesa no livre mercado - Murray Rothbard
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=67

Em uma sociedade sem estado, os déspotas não assumiriam o controle? - Robert P. Murphy
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=299

Da Produção de Segurança - Gustave de Molinari
http://www.mises.org.br/Ebook.aspx?id=51

O direito é uma ordem espontânea e não algo deliberadamente criado por "iluminados" - Rodrigo Saraiva Marinho
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2299

Rhyan

  • Visitante
Re:Deixe aqui sua pergunta para anarquistas... ou responda
« Resposta #40 Online: 04 de Julho de 2016, 05:33:51 »
Ele vale a pena ser postado!

É realmente necessário haver um estado para termos segurança e ordem?
por Emílio Lacombi Lauss, domingo, 19 de junho de 2016


Há aproximadamente 50.000 anos, um clã de famílias foi pressionado pela escassez de bens e pela queda em seu padrão de vida — resultante da superpopulação absoluta —, e assim resolveu por uma opção pacífica: não guerrear com outras tribos vizinhas e passar a produzir controlando a terra.
Graças ao processo de produzir bens — em vez de simplesmente consumi-los —, eles passaram a poupar e estocar esses bens para o consumo posterior.

Contudo, dada a natureza do homem, outras tribos bárbaras passaram a cobiçar os bens acumulados desse clã, iniciando-se aí uma temporada de ataques violentos: mortes, sequestros e grandes assaltos.

O clã voltou à condição inicial de pobreza e, com menos capital humano, demorou a se restabelecer para conseguir produzir excedentes novamente.

Os bárbaros saqueadores se deram conta de que seus roubos seriam mais longos, seguros e confortáveis se eles permitissem que o clã continuasse produzindo, agora porém com a condição de que os conquistadores se tornariam governantes, exigindo um tributo periódico sobre o uso dos bens de capital e monopolizando a terra para o controle de migrações.

Essa é a típica história do surgimento de um estado: uma milícia saqueadora conquista uma tribo produtiva na base da força e instaura ali métodos de controle, de modo a poder viver parasiticamente da produção de bens da tribo conquistada.[1]

Graças à tendência natural dos monopolistas de tirarem proveito de sua posição, não é surpresa o estágio a que chegamos. Não só o tamanho absoluto dos saques cresceu — e vem crescendo —, como também cresceu o domínio territorial dos estados.  Mais ainda: simultaneamente, toda uma máquina de propaganda e doutrinação estatal foi montada, de modo que a ameaça de força é usada apenas em último caso. Artistas, intelectuais e acadêmicos fazem a linha de frente desse complexo processo de catequização estatal, tudo para esconder o óbvio: a natureza coercitiva e injusta do estado.

Com efeito, as pessoas em geral condenam veementemente o roubo, mas não veem nenhuma contradição entre essa postura e a existência dos impostos.  Pior, muitos nem sabem que estão sendo roubados.[2] Contudo, dentre as diferenças mais dramáticas do modelo inicial exposto ao modelo hoje adotado está o método para a ascensão da classe governante.

Hoje, com a liberdade de entrada para os políticos democráticos, temos uma tendência à eleição dos mais demagogos e mentirosos picaretas, aqueles que constantemente apelam para os mais básicos instintos. Ao contrário do que ocorre na produção de bens e serviços, a livre concorrência para se eleger um governante torna ainda mais sofisticados os métodos de espoliação.  A democracia se resume a um "negócio" voltado para o roubo, a expropriação e a receptação de bens roubados. Por conseguinte, ela não tem o efeito de melhorar algo para o bem, mas de aprimorar o mal.

Nas palavras de Hans-Hermann Hoppe:

Citar
Consideremos os políticos eleitos sob um sistema democrático.  Estes políticos não são os proprietários do país da maneira como um monarca o é; eles são meros zeladores temporários do país, por um período que pode durar quatro anos, oito ou mais.

E a função de um proprietário é bastante diferente da função de um zelador. 

Imagine duas situações distintas: na primeira, você se torna o proprietário de um imóvel.  Você pode fazer o que quiser com ele.  Você pode morar nele para sempre, você pode vendê-lo no mercado — o que significa que você tem de cuidar muito bem dele para que seu preço possa ser alto —, ou você pode determinar quem será seu herdeiro.

Na segunda situação, o proprietário desse imóvel escolhe você para ser o zelador dele por um período de quatro anos.  Nesse caso, você não pode vendê-lo e não pode determinar quem será seu herdeiro.  Porém, você ganha um incentivo novo: extrair o máximo possível de renda desse imóvel durante o período de tempo que lhe foi concedido.

Isso implica que, na democracia, o zelador temporário é incentivado a exaurir o valor do capital agregado do país o mais rápido possível, pois, afinal, ele não tem de arcar com os custos desse consumo de capital.  O imóvel não é dele.  Ele não tem o que perder com seu uso irrefletido.  Por outro lado, o monarca, como proprietário do imóvel, tem uma perspectiva de longo prazo muito maior que a do zelador.  O monarca não vai querer exaurir o valor agregado de seu imóvel o mais rapidamente possível porque isso se refletiria em um menor preço do imóvel, o que significa que sua propriedade (o país) seria legada ao seu herdeiro a um valor menor.

Portanto, o monarca, por ter uma perspectiva de longo prazo muito maior, tem o interesse de preservar — ou, se possível, aumentar — o valor do país, ao passo que um político em uma democracia tem uma orientação voltada para o curto prazo e quer maximizar sua renda o mais rapidamente possível.  Ao fazer isso, ele inevitavelmente irá gerar perdas no valor do capital de todo o país.

Apesar de o esquema de extorsão que presenciamos hoje ser mais sofisticado que os de 50.000 anos atrás, a essência do estatismo permanece a mesma ao dividir a sociedade em dois grupos: de um lado, a classe de pessoas que obtém sua renda e seus ativos produzindo algo que é comprado voluntariamente e valorado apropriadamente pelos consumidores; de outro, a classe formada por aqueles que não produzem nada de valor, mas que vivem e enriquecem à custa da renda e dos ativos das pessoas produtivas, os quais são violentamente confiscados via tributação — o que significa dizer que todos os funcionários públicos e todos os beneficiários de "programas sociais", de subsídios e de privilégios monopolistas (como os grandes empresários) pertencem a esta última classe.

Serviços de segurança privados

Desta forma, a pergunta frequente a respeito do receio da formação, em uma sociedade sem estado, de milícias criminosas e sua monopolização ou cartelização adquire uma nova ótica: por que tal preocupação, dado que já vivemos não só sob os mandos de uma delas, mas pior ainda, sob a sua versão mais sofisticada: o estado social-democrata?

Vamos, contudo, um pouco além e mostrar que o arranjo concorrencial de segurança e defesa tem bastante eficácia para evitar esse fenômeno. Antes, porém, se faz necessário analisar os pontos estatistas e como seria um arranjo totalmente voluntário de serviços de segurança.

Segundo Thomas Hobbes, graças à natureza do homem, a tendência da sociedade é a de estar em guerras constantes.  Daí conclui-se a necessidade de um arbitrador soberano a fim de mediar todos os conflitos, controlando e monopolizando os serviços de segurança e justiça. Para isso, essa parte independente, o estado, deveria ter também o monopólio do território e do crime, em particular o direito de tributar. Mas a premissa hobbesiana é falsa e contraditória — e, mesmo se não fosse, a conclusão a que ele chega não faz sentido.

Note também que o governante — seja ele um monarca, um ditador, um político ou um senhor feudal — terá de ser um homem e, portanto, também terá inevitavelmente a "natureza perversa" prevista por Hobbes.

Na verdade, não há como saber a melhor resposta a essa questão se as pessoas não forem livres para escolher onde procurar serviços de segurança — caso não queiram, elas mesmas, defender suas propriedades.

Se há um soberano coercitivo — isto é, que não tem aceitação unânime —, tem-se também outra contradição: ele terá de decidir unilateralmente o preço de sua proteção, via impostos.  Consequentemente, ele próprio já inicia todo o processo de agressão, coagindo seus súditos.

A ciência econômica já mostrou que não é necessário pressupor empatia entre os indivíduos para que haja interação pacífica na sociedade.  Ao contrário: os indivíduos são movidos pelo interesse próprio, e é por causa de seu interesse próprio que as pessoas cooperam, uma vez que elas são capazes de reconhecer que a divisão do trabalho é mais eficiente para a geração de prosperidade do que o isolamento auto-suficiente ou a guerra.

(A empatia — entendida como compartilhar um objetivo em comum — é bastante limitada para a solução dos problemas de mercado e praticamente se limita ao âmbito familiar.)

Assim, consideremos um objetivo complexo, como a produção de uma camiseta.  Seu processo produtivo envolve inúmeras etapas, como: plantio e colheita de algodão, fiação, tricotagem, tingimento, acabamento e confecção — tudo isso sem contar os processos de aquisição de todo maquinário para fazer esses procedimentos. Naturalmente, não é razoável esperar que todas as pessoas envolvidas na fabricação de uma camiseta conheçam e tenham simpatia pelo consumidor final.  Mais ainda, nem mesmo as pessoas direta e indiretamente envolvidas precisam se conhecer: basta reunir recursos e trabalho, e entrar em uma cadeia de cooperação. A divisão do trabalho é um fenômeno natural dentro da civilização; sem ela nos veríamos imediatamente em pleno estado de pobreza.

Já citamos acima duas maneiras de se adquirir bens e serviços em sociedade: pela empatia e pelo mercado. A terceira e última é a ilícita, consistindo de meios violentos: o saque, a espoliação e a escravidão. Vimos que não é necessário admitir a existência de coisas como empatia ou amor entre as pessoas para explicar a cooperação em sociedade. Vamos além e mostrar que é perfeitamente possível uma cooperação também nos serviços de defesa contra a alternativa agressiva.

Como uma sociedade livre se organizaria espontaneamente para se defender de agressões? A natureza do serviço de proteção é, essencialmente, a de um seguro, pois qualquer gasto em defesa de uma propriedade representa uma espécie de apólice de seguro. Embora seja possível fazer seguro contra ataques não-provocados — isto é, acidentais —, vamos nos concentrar aqui naqueles seguros feitos contra ações feitas efetivamente por um agressor intencional, que objetivamente opta por agredir uma propriedade honestamente adquirida.

Para começar, qualquer criminoso conhecido teria sérias dificuldades em contratar serviços de seguradoras, já que para isso seria requerido que ele previamente tenha se comportado de maneira não-agressiva, o que leva a um natural boicote social aos agressores.

Já a indenização por parte da seguradora quando um cliente se torna vítima de um crime deve ser de tal forma a incentivá-la a: (1) evitar ao máximo crimes contra seus clientes, fornecendo sofisticados meios de proteção e prevenção de crimes; e, caso não consiga efetuar essa prevenção, (2) capturar o criminoso para puni-lo a fim de ressarcir a vítima e pagar os custos do serviço.

A livre concorrência entre as seguradoras tende a descentralizar o setor, diminuindo os riscos de abusos e corrupção, e levando a uma queda de preços por valor de propriedade segurada. Entre outros fatores positivos, pode-se destacar:

Citar
Quanto maior o número de pessoas seguradas — e, em uma economia moderna, a maioria das pessoas deseja mais do que autodefesa para sua proteção —, maior seria a pressão econômica sobre os não-segurados remanescentes para adotar padrões idênticos ou semelhantes de conduta social não-agressiva.

Ademais, como resultado da concorrência entre seguradoras por clientes voluntários, adviria uma tendência de queda de preços por valor de propriedade segurada. Ao mesmo tempo, surgiria uma tendência à padronização e unificação do direito real e contratual. Contratos de proteção com descrições padronizadas de propriedades e serviços surgiriam; e, da cooperação estável entre diversas seguradoras em procedimentos de arbitragem, resultaria uma tendência à padronização e unificação das regras de processo, de provas e de resolução de conflitos (incluindo compensação, restituição, punição e retaliação), levando a uma segurança jurídica cada vez maior e mais firme.

Todos, por adquirirem seguro de proteção, estariam unidos a um empreendimento concorrencial em escala mundial na luta pela minimização da agressão (e, assim, pela maximização da proteção defensiva).  Todos os conflitos e pedidos de indenização, não importam onde e por quem ou contra quem, recairiam na jurisdição de apenas uma seguradora — ou de um conjunto específico de seguradoras — e de seus procedimentos de arbitragem estabelecidos em acordo.

Como exemplos de sociedades antigas que presenciaram serviços de segurança 100% voluntários, destaque para dois casos.

No primeiro, a Islândia Medieval — de aproximadamente 860 a 1280 d.C. —, onde a vítima de uma agressão era responsável pela execução legal, sozinha ou com o auxílio de outras pessoas — e, neste último caso, ela poderia procurar por pessoas mais poderosas, chefes de clãs, por exemplo, e repartir o ressarcimento com elas. O ressarcimento por um dano causado era considerado um bem transferível como qualquer outro.

Se, por exemplo, você houvesse me causado algum dano, e eu me considerasse fraco demais para forçá-lo a me ressarcir, eu poderia vender ou simplesmente dar o poder de cobrar o ressarcimento a alguém mais forte. A partir daí, seria do interesse dessa pessoa cobrar o ressarcimento, seja por seu valor econômico, seja pela possibilidade de estabelecer uma reputação como "cobrador". (Para mais detalhes sobre a Islândia Medieval, veja essa descrição de David Friedman.)

O segundo exemplo é o da pequena república de Cospaia — que, por aproximadamente quatrocentos anos, prosperou na Itália central sem governo algum.  Lá, conflitos eram resolvidos pelos chefes das famílias ou pelo padre local. Os árbitros eram escolhidos pela sua integridade e não por suas conexões políticas. Não há indicação alguma de que Cospaia era um lugar violento.

Com efeito, não deve haver absolutamente nenhuma dúvida sobre a eficácia de um sistema de proteção baseado na disposição que as pessoas têm de se defenderem. Foi assim que a lei e a ordem foram mantidas pela maior parte da história da humanidade. É graças a séculos de doutrinação e ofuscação estatista que as pessoas deixaram de perceber essa obviedade.

Apesar dos avanças do estatismo, ainda hoje temos inúmeras evidências empíricas da superioridade de um arranjo privado de segurança. Com efeito, apenas o fato de esse arranjo ser largamente utilizado em todo o mundo — inclusive por políticos — já é uma demonstração praxeológica disso. Dois casos recentes de uso de serviços de defesa privados se destacam nos EUA.

O primeiro ocorre em Atlantic Station, Georgia: uma cidade privada dentro de outra cidade. Trata-se de uma cidade construída com capital privado no lugar da Usina Siderúrgica de Atlanta, fechada na década de 1970. Segundo relatos:

Citar
As ruas são abertas ao público, mas também são propriedades privadas. Não é por acaso que os próprios policiais se preocupam com o bem-estar da comunidade e daqueles que a frequentam. São empregados de um sistema de livre iniciativa — ou, mais precisamente, da Chesley Brown, que provê esse serviço de maneira terceirizada para a Atlantic Station. […] Os resultados do policiamento são talvez a parte mais interessante, dadas as polêmicas atuais no tocante a abuso policial. Quando a polícia é parte do mercado, o lema 'servir e proteger' passa a ser levado de maneira literal.

A comunidade de Atlantic Station tem regras privadas severas como não fumar em ambientes abertos e não portar armas, e as faz cumprir com uma segurança 100% privada de forma pacífica e funcional.

O outro caso ocorreu no Texas, na comunidade de Sharpstown, situada no sudeste da cidade de Houston. Em 2012, a comunidade, representada pela Associação Cívica de Sharpstown (no original Sharpstown Civic Association) resolveu demitir todo seu departamento público de policiamento e contratar a empresa privada de patrulhamento S.E.A.L. Security Solutions. Para quem já está acostumado com o básico de ciência econômica o resultado não deve surpreender: em apenas 20 meses a taxa de crimes registrados na comunidade caiu 61%, segundo James Alexandre, o diretor de operações da S.E.A.L.

Dada uma breve descrição de agências privadas, bem como exemplos de algumas aplicações diversas em contextos históricos distintos, a pergunta natural que vem à mente é: seria esse sistema estável caso seja maciçamente acolhido hoje em dia? Ou, dito de outra forma, o que impediria as principais agências de segurança de se unirem para dominar coercitivamente territórios e assim formar um novo estado?

A resposta é que não há absolutamente garantia alguma de que isso não aconteça. Na verdade, hoje em dia também não temos tal garantia e, com efeito, a ameaça globalista está cada vez maior. Historicamente, vemos inúmeras agressões arbitrárias feitas por estados mais belicamente poderosos sobre mais fracos: além das famosas guerras mundiais e os inúmeros casos que ocorreram ao longo do século XX no Oriente Médio, podemos citar os casos mais recentes da invasão feita pela Rússia em território ucraniano e da subjugação que o governo Chinês vem fazendo com o povo tibetano. Isso sem contar as inúmeras ameaças atômicas que tivemos e que hoje estamos presenciando por parte da tensão Israel x Irã.

Outro ponto inerente à instabilidade gerada pelo monopólio estatal da segurança e da justiça é o constante risco de abuso de poder por parte das autoridades, o que pode gerar desde uma prisão injusta até um golpe militar violento.

Podemos, contudo, tecer alguns pontos a respeito do arranjo privado, os quais nos levam a crer que tal cenário será bem mais harmônico e satisfatório que o estatista.  Em primeiro lugar, uma vez assegurado o direito absoluto sobre a propriedade, nada impedirá os cidadãos de se armarem em seus territórios. Estatísticas mostram que civilizações mais armadas têm menores taxas de criminalidade: eis um dos principais motivos práticos de se defender o armamento civil. Como bem lembrou Benjamin Franklin, "quando todas as armas forem propriedade do governo e dos bandidos, estes decidirão de quem serão as outras propriedades". A própria descentralização da segurança e do armamento já é, por si só, uma medida bastante eficaz de segurança.

Além disso, diferentemente do caso estatal, havendo livre entrada no setor de segurança, podemos trocar de agências sem precisar nos mudar de território, tornando mais difícil o abuso de poder por parte das seguradoras. Mais ainda, quanto mais agências existirem, menor será esse risco.  E somente o livre mercado dará garantias que isso ocorra da forma mais eficiente.

Finalmente, uma agência que soluciona suas disputas concorrenciais na base da força terá sérios problemas financeiros, não importa quantas batalhas vença. Batalhas são caras, além de perigosas para os clientes cujos territórios de morada se tornassem zonas de guerra. Os clientes vão procurar um protetor menos audacioso e, sem eles, o dinheiro para financiar as guerras cessará.

Um argumento comum feito por economistas ortodoxos em defesa do monopólio estatal da segurança e da justiça diz que o mercado não poderia proporcionar uma divisão de trabalho na produção da lei, pois a aplicação da lei, normalmente, requer o uso de força física; e se apenas alguns membros da sociedade estão se especializando no uso de força física, então todos os outros na sociedade ficarão à mercê.  Porém, se esta é uma objeção à liberdade de escolha, por que não seria também uma objeção ainda mais forte ao estado, já que o estado — ao contrário de uma agência de segurança sob um regime de livre concorrência — está desprovido de quaisquer rivais e, logo, está numa posição ainda melhor para abusar do seu poder?

Como ressaltou Gustave de Molinari, as leis econômicas são universais, não dando brechas para exceções:

Citar
Eis uma verdade bem estabelecida em política econômica: em todos os casos em que se quer prover as necessidades tangíveis ou intangíveis do consumidor da melhor maneira possível, o trabalho e o comércio devem permanecer livres, pois a liberdade de trabalho e comércio tem como resultado permanente e necessário a redução máxima do preço e o aumento da qualidade. Outra verdade: o interesse do consumidor acerca de qualquer coisa deve sempre prevalecer sobre os interesses do produtor. No entanto, ao perseguirmos estes princípios, chegamos a esta rigorosa conclusão: a produção da segurança deve, no interesse dos consumidores deste bem intangível, permanecer sujeita à lei da livre concorrência.

Disto segue que nenhum governo deveria ter o direito de evitar um outro governo de entrar em concorrência com ele, ou de requerer que os consumidores da segurança recorram exclusivamente a ele por este bem.

Esse clássico argumento de Molinari pode ser resumido na forma do seguinte silogismo:

1. Todos os bens e serviços são mais eficientemente fornecidos sob regime de livre concorrência do que sob um arranjo inerente comunista, com monopólio estatal.
2. Lei e ordem são bens e serviços.
3. Logo, lei e ordem são mais eficientemente fornecidos sob livre concorrência do que sob monopólio estatal.

Conclusão

Em geral, economistas mais liberais vislumbram como alternativa à livre concorrência na segurança uma utopia minarquista (ou um estado liberal limitado) em que as ações estatais estão "rigidamente definidas, delimitadas e circunscritas," enquanto o próprio governo seria uma espécie de "robô impessoal", operando livre de qualquer "toque de arbitrariedade e capricho".

Isso pode parecer razoável à primeira vista, mas, afinal, o estado é uma instituição de natureza definitiva, e as ações esperadas disso são determinadas pela sua natureza e não pelos nossos desejos e fantasias. Então, a verdadeira questão é se é realista esperar este tipo de operação automática e imparcial de um monopólio centralizado. E, com efeito, não é.

O poder corrompe, pois atrai o corruptível. E o sistema de incentivos gerados por um monopólio estatal é verdadeiramente perverso. A história está aí para mostrar que, como tendência geral, a liberdade humana é cada vez mais sufocada pela ameaça estatista.


Emílio Lacombi Lauss é físico e matemático, com mestrado em matemática pelo IMPA (Instituto de Matemática Pura e Aplicada) e atualmente doutorando na mesma instituição.  E austrolibertário, anti-político e entusiasta de moedas virtuais como o BitCoin, tendo escrito e difundido manuais sobre o assunto.

Fonte: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2443

Rhyan

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Re:Deixe aqui sua pergunta para anarquistas... ou responda
« Resposta #41 Online: 04 de Julho de 2016, 05:39:09 »
Este vale a pena ser lido antes de fazer perguntas:

Dez objeções típicas ao anarquismo libertário
por Roderick T. Long, terça-feira, 26 de março de 2013


Obs: O texto a seguir é a transcrição de um discurso improvisado.  Daí seu tom mais coloquial.

Gostaria de abordar aqui algumas das principais objeções apresentadas ao anarquismo libertário.  Tentarei responder a cada uma delas.  Porém, antes de começar, não faria muito sentido eu tentar retrucar objeções a uma determinada visão de mundo sem antes oferecer alguma razão positiva para defender esta visão de mundo.  Sendo assim, gostaria de explicitar rapidamente aquilo que creio ser um argumento positivo em prol do anarquismo libertário para, logo em seguido, fazer sua defesa contra suas principais objeções.

O argumento em defesa do anarquismo libertário

Problemas com o monopólio forçado


Pense desta forma: o que haveria de errado em se ter um monopólio da produção de sapatos?  Suponha que eu e minha gangue sejamos as únicas pessoas que podem legalmente fabricar e vender sapatos.  Ninguém mais pode, a menos que eu autorize.  O que há de errado neste arranjo?

Para começar, de um ponto de vista puramente moral, a pergunta é: por que nós?  O que há de tão especial em relação a nós para desfrutarmos deste monopólio?  De onde foi que minha gangue e eu tiramos esse direito de que somente nós podemos fabricar e vender algo e que ninguém mais tem o direito de fazer o mesmo?  Por que somente nós podemos ofertar um bem ou serviço que ninguém mais tem o direito de ofertar?

Até onde se sabe, sou apenas um ser humano tão mortal quanto qualquer outro.  Logo, de um ponto de vista moral, qualquer outra pessoa deve ter o mesmo 'direito' a este privilégio.

Logo, de um ponto de vista pragmático, qual é a consequência mais provável de minha gangue e eu termos o monopólio da produção de sapatos?  Em primeiro lugar, há o problema dos incentivos.  Se eu sou a única pessoa que tem o direito de fabricar e vender sapatos, você provavelmente não irá conseguir de mim sapatos muito baratos.  Posso cobrar de você o tanto que eu quiser.  Só não irei cobrar caro demais porque você pode acabar decidindo que é melhor não me dar dinheiro e ficar sem os sapatos.  Porém, desde que você esteja disposto a comprar sapatos e tenha o dinheiro para tal, irei cobrar de você o maior preço que puder — como não há concorrência, você não tem outra opção.

Da mesma maneira, e pelos mesmos motivos, você também não deve esperar que meus sapatos sejam de alta qualidade, pois, desde que eles sejam minimamente úteis, você irá preferir calçá-los a andar descalço — e, sendo assim, irá comprá-los de mim.

Além dessa probabilidade de que os sapatos serão caros e de baixa qualidade, há também o fato de que eu ser a única pessoa que pode fabricar e vender sapatos me concede um grande poder de chantagem sobre você.  Suponha que eu não goste de você.  Suponha que você tenha me ofendido em outra ocasião.  Eu simplesmente não irei vender sapatos para você — pelo menos por algum tempo, enquanto meu humor não melhorar.  Logo, tal privilégio monopolista também me concede a capacidade do 'abuso de poder'.

No entanto, os problemas não se resumem apenas à questão dos incentivos.  Suponha que eu seja um genuíno e perfeito santo, e esteja verdadeiramente disposto a fabricar os melhores sapatos possíveis para você, e a cobrar o menor preço que eu puder.  Eu realmente não irei, em momento algum, abusar do meu poder, pois sou uma pessoa totalmente confiável; sou um príncipe entre os homens (não no sentido maquiavélico).  Ainda assim haverá um problema incontornável: como saberei se realmente estou fazendo o melhor trabalho possível com estes sapatos?  Afinal, não há concorrência.

Sim, eu poderia fazer uma pesquisa junto aos consumidores para tentar descobrir que tipo de sapato eles querem.  Mas o problema é que há várias maneiras distintas de se fabricar sapatos.  Há métodos mais caros e há métodos mais baratos.  Se não há um mercado na área de fabricação de sapatos, não há formação de preços para os métodos de produção empregados na fabricação de sapatos.  Sem formação de preços, não há como eu calcular os métodos mais eficientes para se produzir sapatos.  E, igualmente, por não haver um livre mercado na venda de sapatos, não há também formação de preços nesta área.  Sem saber ao certo o preço de venda, e sem ter como calcular os métodos mais eficientes para se produzir sapatos, não terei como calcular custos, e minha contabilidade de lucros e prejuízos estará impossibilitada.  Terei simplesmente de recorrer ao método da adivinhação.

Portanto, mesmo que eu realmente esteja fazendo o meu melhor, a quantidade de sapatos que irei fabricar e a qualidade que empregarei podem não ser as mais bem indicadas para satisfazer as preferências das pessoas, e terei enormes dificuldades para descobrir o melhor procedimento.

O governo é um monopólio forçado

Portanto, estas são todas as razões para não se ter um monopólio na fabricação e na venda de sapatos.  E, ao menos à primeira vista, estas também são boas razões para que absolutamente ninguém detenha um monopólio da oferta de serviços judiciários, de adjudicação de contendas, de proteção de direitos, e de todas as coisas relacionadas àquilo que pode ser mais amplamente chamado de exercício das leis.

Em primeiro lugar, há a questão moral: por que um pequeno agrupamento de pessoas deveria deter o direito de ser a única organização dentro de um dado território autorizada a oferecer certos tipos de serviços legais ou a poder impingir certos tipos de leis?

E há também as questões econômicas: quais serão os incentivos?  Repetindo, trata-se de um monopólio.  Parece bastante provável supor que, tendo consumidores cativos, essa organização monopolista irá cobrar preços maiores e ofertar serviços piores do que os que seriam praticados em um ambiente concorrencial.  Pode até mesmo ocorrer eventuais abusos de poder.

E, mesmo que fosse possível evitar todos estes problemas — colocando exclusivamente anjos e santos no governo —, ainda haveria o problema do cálculo econômico, tornando impossível saber se a maneira específica como esse grupo está ofertando seus serviços legais é realmente a melhor maneira.  Dado que não há concorrência, este grupo de pessoas não tem como saber se o que está fazendo é realmente a melhor e mais bem-sucedida atividade que ele pode empreender.  A única maneira de descobrir sua aptidão será tentando descobrir na prática o que e o que não irá funcionar.  Quem gostaria de ser a cobaia?

Logo, o propósito destas considerações é justamente o de jogar o ônus da prova para o defensor do monopólio estatal.  Sempre que um defensor do monopólio estatal de serviços jurídicos e de defesa levantar algumas objeções à livre concorrência nesta área, ele deve ser questionado sobre como é possível o monopólio destes serviços funcionar de maneira sequer razoável.

Dez objeções ao anarquismo libertário

(1) O governo não é um monopólio coercivo

Uma objeção que frequentemente é lançada não é exatamente uma objeção ao anarquismo, mas sim uma objeção ao argumento moral em prol do anarquismo: dizer que o governo, na realidade, não é um monopólio coercivo.

Segundo este argumento, os cidadãos, ao aceitarem viver dentro das fronteiras de um determinado território e ao aceitarem os benefícios que o governo oferece — por exemplo, serviços policiais, jurídicos, educacionais, de saúde etc. —, estão na prática consentindo com este arranjo.  Eles estão consentindo com o sistema vigente.

A ideia é a mesma de quando você vai a um restaurante e pede uma carne.  Ao fazer isso, você não tem de dizer explicitamente que você está concordando em pagar por aquele carne; há simplesmente um entendimento tácito de que é isso que você fará.  Ao se sentar à mesa do restaurante e pedir a carne, você está automaticamente concordando em pagar por ela.

O argumento seria o mesmo para a não-coercividade do estado.  Se você reside dentro de um determinado território e aceita, por exemplo, os benefícios da proteção policial fornecida pelo estado local, então você implicitamente aceitou obedecer a todas as ordens desta organização.

Logo de cara, observe que, mesmo que este argumento fosse válido, ele ainda não resolve a questão pragmática sobre a funcionalidade deste sistema; ele não explica por que este é o melhor arranjo possível.

Mas há outros problemas com este argumento.  É realmente verdade que, se eu for à propriedade de alguém, então há um consenso tácito de que, enquanto eu estiver nessa propriedade, eu tenho de seguir as regras locais.  Se eu não quiser seguir as regras locais, então eu tenho de ir embora.

Ou seja, eu convido você para vir à minha casa.  Quando você chega, eu abro a porta e lhe digo: para ficar aqui em casa, você tem de usar este nariz de palhaço.  Isto certamente vai lhe parecer bastante estranho, mas ainda assim eu posso dizer: "Ei, é a minha casa e estas são minhas regras.  Se quiser entrar, tem de ser assim".  Neste caso, sendo eu o proprietário, você não pode simplesmente dizer: "Olha, eu vou entrar na sua casa, sim, e não vou usar o nariz de palhaço."  Se fizesse isso, você estaria invadindo a minha propriedade e desrespeitando as leis vigentes dentro dela, as quais foram estipuladas antes da sua entrada.  Isso, portanto, é algo que você não tem o direito de fazer.

Agora, imaginemos o cenário contrário.  Suponha que eu vá à sua casa e lhe diga: "Você tem de usar um nariz de palhaço".  Além do espanto total, sua outra provável reação será a de perguntar quando foi que você disse que concordava em ser obrigado a utilizar um nariz de palhaço dentro da sua casa.  Ao que irei responder: "Ora, você se mudou para perto de mim.  E eu uso nariz de palhaço na minha casa.  Portanto, o simples fato de você estar morando perto de mim significa que você, de uma maneira um tanto mística e tácita, consente em também utilizar nariz de palhaço dentro da sua casa, mesmo que você não goste da ideia."

As pessoas que defendem o monopólio estatal simplesmente pegam este cenário que é evidentemente absurdo em nível local e o expandem para um nível nacional: se você está aqui, então você deu seu consentimento tácito com tudo o que se passa nele.  Tais pessoas já partem da pressuposição de que o governo possui uma jurisdição legítima sobre um determinado território, de modo que quem está nele está automaticamente concordando com todas as regras vigentes.

O problema de tal raciocínio é que ele pressupõe exatamente aquilo que ele está tentando provar — no caso, que esta jurisdição sobre o território é legítima.  No entanto, caso não se consiga provar que tal jurisdição é legítima, então se conclui que o governo é simplesmente apenas mais um grupo de pessoas que vive neste amplo território geográfico.

O que nos leva a outro ponto.  Eu vivo em minha propriedade.  Não sei bem quais são as determinações do governo em relação ao resto do país, mas sei que vivo em minha propriedade e ela pertence a mim, e não ao governo.  Logo, o fato de que estou vivendo "neste país" significa que estou vivendo em uma determinada região geográfica sobre a qual o governo possui certas pretensões.  Logo, a questão é: estas pretensões são legítimas?  Se o objetivo é justamente provar que elas são legítimas então não é válido já partir do pressuposto de que elas são legítimas.  Pressupor algo não significa comprovar sua legitimidade.

Outro problema com este argumento do contrato social implícito é que ele não deixa claro qual exatamente é o contrato.  Quando vou a um restaurante e peço comida, todos sabem perfeitamente qual é o contrato.  Sendo assim, neste arranjo é válido apresentar o argumento do consentimento implícito.  Porém, ninguém jamais diria que você pode comprar um imóvel desta mesma maneira.  Para a compra de imóveis, as regras são outras.  Ninguém diz que "Você meio que concordou com a compra ao ter balançado positivamente sua cabeça quando lhe mostrei o tamanho do banheiro".  Você tem de ver o que realmente está escrito no contrato.  Com o que exatamente você está concordando?  Um contrato não é claro se ninguém sabe exatamente quais são seus detalhes.   

(2) Hobbes: o governo é necessário para a cooperação

Provavelmente, o mais famoso argumento contra a anarquia é o de Thomas Hobbes.  O argumento de Hobbes é o de que a cooperação humana — a cooperação social — requer a existência de uma estrutura legal.  O motivo de podermos confiar uns nos outros é que sabemos que existem forças legais que irão nos punir caso violemos os direitos de terceiros.  Eu sei que eles irão me punir se eu violar seus direitos, e você sabe que eles irão lhe punir caso você viole meus direitos.  Sendo assim, posso confiar em você sem conhecer seu caráter pessoal.  Tenho apenas de confiar no fato de que você estará intimidado pela lei.

Portanto, a cooperação social requer este arcabouço legal impingido à força pelo estado.

O problema é que, neste raciocínio, Hobbes está pressupondo várias coisas de uma só vez.  Primeiro, ele está pressupondo que não é possível haver cooperação social sem leis.  Segundo, ele está pressupondo que nenhuma lei realmente existe se ela não for impingida pela força física.  E terceiro, ele está pressupondo que só é possível haver leis impingidas pela força física se tal força física for monopólio do estado.

Mas todas estas pressuposições são falsas.

Em primeiro lugar, a cooperação pode surgir, e de fato surge, em um ambiente sem leis específicas.  Ela pode não ser tão eficiente quanto seria em um ambiente com leis, mas ela ocorre.  Há o livro de Robert Ellickson, Order Without Law, no qual ele fala sobre como vizinhos são capazes de resolver voluntariamente suas pendências.  Ele também mostra um exemplo de o que acontece quando a vaca de um fazendeiro sai de suas delimitações e vai pastar na grama de outro fazendeiro, e de como eles resolvem o problema por meio de acordos consuetudinários, pois não há nenhum arcabouço legal voltado para esta situação específica.  Talvez estes exemplos não sejam suficientes para economias complexas, mas certamente mostram que é possível haver algum tipo de cooperação sem a existência de um arcabouço jurídico específico.

Ademais, é possível existir um arcabouço legal que não seja impingido pela força.  Um exemplo seria a Lex mercatoria do final da Idade Média: um sistema de leis comerciais que era mantido por ameaças de boicote.  O boicote não é um ato de força.  Os mercadores faziam seus contratos e, se algum deles desobedecesse as cláusulas, os tribunais simplesmente tornariam público que "esta pessoa não cumpriu o contrato pré-estabelecido; levem isso em consideração caso venham a firmar algum contrato com ela no futuro".

Por fim, é possível existir sistemas jurídicos formais que façam uso da força e que não sejam monopolistas.  Dado que Hobbes nem sequer considerou esta possibilidade, ele não forneceu nenhum argumento contra ela.  Mas é possível encontrar vários exemplos ao longo da história.  Na Islândia medieval, por exemplo, não havia uma agência centralizada de imposição de leis.  Embora houvesse algo que, com algumas concessões, pudesse ser chamado de governo, este não possuía absolutamente nenhum braço executivo.  Não havia polícia, não havia soldados, não havia nada.  Havia uma espécie de sistema judiciário que funcionava em bases concorrenciais.  A aplicação de sanções ficava a cargo de quem quisesse.  E vários sistemas se desenvolveram para cuidar disso.

(3) Locke: três "inconveniências" da anarquia

Os argumentos mais interessantes são de John Locke.  Locke argumenta que a anarquia possui três características que ele considera serem "inconveniências".  "Inconveniência", vale ressaltar, é um termo que soava mais grave no inglês do século XVII do que no inglês moderno.   Seja como for, Locke referia-se meramente a "inconveniências" porque, ao contrário de Hobbes, ele acreditava que a cooperação social poderia sim existir de algum modo na anarquia.  Ele era mais otimista do que Hobbes.  Ele imaginava que, por causa de uma mescla entre afinidades morais e interesse próprio, a cooperação podia surgir.

Mas ele temia três problemas.  Um problema, segundo ele, era que não haveria um conjunto de leis gerais que fosse conhecido, entendido e acordado por todos.  As pessoas poderiam aceitar certos princípios básicos das leis da natureza, mas suas aplicações e seus detalhes exatos sempre seriam controversos.  Afinal, nem mesmo libertários concordam plenamente entre si.  Eles podem concordar em aspectos gerais, mas sempre estão discutindo acerca de vários pontos específicos.  Logo, mesmo em uma sociedade composta exclusivamente por libertários pacíficos e cooperativos, haverá desavenças acerca de detalhes.  E, sendo assim, a menos que haja um conjunto de leis gerais, o qual todo mundo conheça e com o qual todo mundo concorde, de modo que cada indivíduo sabe exatamente o que pode e o que não pode fazer, o arranjo não irá funcionar.  Esse era o primeiro argumento de Locke.  É necessário haver um conjunto universal de leis, amplamente conhecido, que seja aplicável a todos e que todos conheçam antecipadamente.

Um segundo problema seria a questão do poder de aplicação e imposição das leis.  Locke imaginava que, sem um governo, não haveria um poder suficientemente unificado capaz de impingir o cumprimento das leis.  Sem um governo, haveria apenas indivíduos impingindo coisas por conta própria.  Mas dado que indivíduos são fracos e não são suficientemente organizados, eles poderiam facilmente ser sobrepujados por uma quadrilha de bandidos ou algo do tipo.

O terceiro problema é o fato de que, segundo Locke, não se pode deixar que indivíduos sejam os juízes de seus próprios processos.  Se duas pessoas têm uma desavença, uma delas não pode simplesmente dizer "Eu sei qual é a lei natural e irei aplicá-la a você".  As pessoas são tendenciosas e irão obviamente utilizar aquela interpretação da lei natural que favoreça de modo mais plausível a sua própria causa.  Logo, Locke acreditava que não se podia deixar que as pessoas fossem os juízes de seus próprios processos.  Consequentemente, seria moralmente necessário que elas aceitassem se submeter a um arbitrador, a um terceiro — e este teria de ser o estado.

Estes são os três problemas que Locke imaginava serem prementes em uma anarquia, e os quais não existiriam sob um governo — ou pelo menos não sob o tipo certo de governo.

Porém, ouso dizer que o problema é justamente o oposto.  É justamente a anarquia que pode resolver todos estes três problemas, ao passo que o estado, por sua própria natureza, está totalmente impossibilitado de resolvê-los.

Comecemos com um exemplo em que haja universalidade, isto é, em que haja um conjunto de leis universalmente conhecidas e aplicáveis a todos.  Pode este arranjo surgir em um sistema sem estado?  Ora, a Lex mercatoria surgiu exatamente porque os estados não estavam fornecendo este tipo de lei.  Um dos fatores que contribuiu para o surgimento da Lex mercatoria foi a ausência de uma lei comum entre as nações da Europa.  Cada país possuía diferentes conjuntos de leis para reger os comerciantes.  Todas as leis eram diferentes.  E um tribunal da França não iria endossar um contrato feito na Inglaterra sob as leis da Inglaterra, e vice versa.

Sendo assim, a capacidade dos comerciantes de incorrerem no comércio internacional foi dificultada pelo fato de que não havia um sistema uniforme de leis comerciais para toda a Europa.  Consequentemente, os comerciantes se juntaram e disseram: "Bom, vamos simplesmente fazer alguma lei por nossa conta.  Os tribunais estão criando regras malucas e nenhum respeita as decisões dos outros — portanto nós iremos simplesmente ignorá-los e estabeleceremos nosso próprio sistema."

Portanto, este foi um caso em que uniformidade e previsibilidade foram produzidas pelo mercado e não pelo estado.  E é possível entender por que isso não é nada surpreendente: afinal, é do total interesse daqueles que ofertam um sistema privado torná-lo o mais uniforme e previsível possível, se for isso que seus cliente querem.

É por esse mesmo motivo que não encontramos cartões de débito ou de crédito triangulares.  Até onde se sabe, não existe nenhuma lei proibindo que tais cartões sejam triangulares.  Mas se alguém tentasse comercializá-los, eles simplesmente não se tornariam muito populares, pois não se encaixariam em nenhum dos terminais existentes. Quando as pessoas querem diversidade, quando elas querem diferentes sistemas para diferentes pessoas, o mercado proporciona exatamente isso.  Mas há algumas coisas para as quais a uniformidade é a melhor solução.  Seu cartão de débito será mais útil para você se todas as outras pessoas também estiverem utilizando o mesmo tipo ou pelo menos algum tipo compatível com o seu, de tal modo que todos vocês possam utilizar as mesmas máquinas onde quer que estejam.  Consequentemente, se os comerciantes desejam ter lucro, eles proporcionarão uniformidade. 

Portanto, ao contrário dos governos, o mercado possui todos os incentivos para oferecer uniformidade.

Quanto à questão da necessidade de se ter poder suficiente para organizar serviços de proteção e defesa, não há absolutamente nenhum argumento que diga que não é possível haver tal organização sem um estado.  A ausência de estado não significa que cada pessoa tem de fabricar seus próprios sapatos.  A alternativa a um arranjo em que o governo fornece todos os sapatos não é cada indivíduo tendo de fabricar os seus próprios sapatos.  Analogamente, a alternativa a um arranjo em que o governo fornece todos os serviços legais não é cada pessoa tendo de se transformar em agente policial independente.  Não há por que supor que elas não poderão se organizar e criar maneiras de suprir esta demanda.  Com efeito, se a preocupação é a de não haver força suficiente para resistir a um agressor, então não há nada mais preocupante do que um monopólio estatal.  Um monopólio estatal da violência é um agressor muito mais perigoso do que uma gangue de bandidos qualquer porque o monopólio estatal unifica todo este poder de agressão em apenas um ponto de toda a sociedade.

Mas, acima de tudo, eu creio que — e isso é muito interessante — o argumento de Locke sobre você não poder ser o juiz de seu próprio processo é um tiro que realmente sai pela culatra.  Em primeiro lugar, tal raciocínio não é um bom argumento a favor de um monopólio porque se trata de uma construção falaciosa.  Da alegação de que todo mundo deveria submeter suas contendas a uma entidade externa, Locke falaciosamente infere que deveria haver uma entidade externa para quem todo mundo submeteria suas contendas. Isso é semelhante a dizer que da afirmação todo mundo gosta de pelo menos um programa de TV pode-se inferir que existe apenas um programa de TV do qual todo mundo gosta.  Uma coisa simplesmente não decorre da outra.  É possível que todo mundo submeta suas contendas a terceiros sem que haja apenas um terceiro a quem todo mundo obrigatoriamente submete suas contendas.

Suponhamos que haja três pessoas em uma ilha. A e B podem submeter suas contendas a C; A e C podem submeter suas contendas a B; e B e C podem submeter suas contendas a A.  Logo, não há nenhuma necessidade de haver um monopólio ao qual todas as pessoas deveriam submeter suas contendas.

No que mais, não somente não é necessário um governo, como na verdade um governo é exatamente o arranjo que não satisfaz esse princípio.  Pois se você tiver uma contenda com o governo, o governo não irá submeter esta contenda a uma entidade externa.  Se você tiver uma contenda com o governo, ela será resolvida em um tribunal do governo (isso se você tiver sorte — caso o governo seja do tipo mais "indelicado", você sequer conseguirá chegar a um tribunal).

Agora, é óbvio que é preferível que o governo seja dividido em três poderes, que haja todo um sistema de pesos e contrapesos e tudo mais.  Isso faz com que haja algo um pouco mais parecido com entidades externas.  Mas ainda assim tais entidades externas fazem parte do mesmo sistema; os juízes são funcionários do estado e são pagos com dinheiro dos pagadores de impostos.  Portanto, existem aproximações melhores e aproximações piores em relação a esse princípio.  Ainda assim, dado que se trata de um sistema monopolista, o que temos na prática é algo que, por sua própria natureza, opera sem lei.  Em última instância, um sistema monopolista jamais submeterá suas contendas a uma entidade externa.

(4) Ayn Rand: agências de proteção privada irão guerrear entre si

Provavelmente, o argumento mais popular contra a anarquia libertária foi aquele apresentado por Ayn Rand.  Suponha que eu creia que você violou meus direitos.  Você nega.  Eu então decido acionar minha agência de proteção privada para fazer valer meus direitos.  Você, para se defender, aciona a sua agência de proteção privada.  O que ocorrerá?  As duas irão entrar em guerra?  Quem garante que não?

A resposta, obviamente, é que ninguém pode garantir que elas não irão guerrear entre si.  Seres humanos possuem livre arbítrio.  Eles podem fazer todos os tipos de maluquices.  Eles podem iniciar guerras sem motivo aparente.  O presidente americano, por exemplo, pode apertar o botão nuclear amanhã se ele quiser.

A questão é: o que é mais provável?  Qual dos dois é mais propenso a resolver suas pendengas por meio da violência: governos ou agências de proteção privadas?

A diferença mais óbvia é que agências de proteção privada têm de arcar com todos os custos de sua eventual decisão de fazer uma guerra.  Fazer guerra é algo extremamente caro.  É péssimo para os lucros.  Suponha que você pode escolher entre duas agências de proteção, uma que tende a resolver suas contendas por meio da violência e outra que tende a resolver suas contendas por meio do arbitramento.  Se você for um indivíduo belicista, fanático por guerras, você pode até achar legal optar pela agência violenta — até o momento em que você receber sua fatura mensal.

Ainda assim, por mais que você realmente seja um sujeito tão fanático por guerra a ponto de continuar disposto a pagar valores exorbitantes, é certo que a imensa maioria dos outros clientes irá preferir agências que não cobrem toda esta quantia extra apenas para brincar de guerra.

Por outro lado, tal opção nem sequer existe quando se trata de governo.  Para começar, um governo possui clientes cativos, que não podem optar por não pagar, estejam eles de acordo ou não com a violência do governo.  Ademais, dado que o governo tributa seus clientes, e dado que seus clientes não podem se recusar a repassar o dinheiro, os governos não apenas não precisam se preocupar com custos, como eles também podem simplesmente externalizar os custos de suas guerras de uma maneira extremamente eficaz: mandando a conta para seus cidadãos pagadores de impostos.  Tal eficácia nenhuma agência privada jamais sonharia ser capaz de conseguir.

Rhyan

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Re:Deixe aqui sua pergunta para anarquistas... ou responda
« Resposta #42 Online: 04 de Julho de 2016, 05:41:08 »
(5) Robert Bidinotto: não existe um arbitrador supremo para as contendas

Outra objeção comum — esta você encontra, por exemplo, nos escritos de Robert Bidinotto, que é um randiano que já escreveu vários artigos contra a anarquia — é que, em um arranjo sem governo, não há um arbitrador supremo para as contendas.  Em um arranjo com governo, em algum momento um arbitrador supremo será chamado e irá resolver a disputa de um jeito ou de outro.  Já em um arranjo sem governo, dado que não há nenhuma agência que detém o direito de resolver as contendes de uma vez por todas — ou seja, não há um arbitrador supremo —, tem-se que as contendas de certa forma nunca acabam, podendo nunca ser resolvidas, permanecendo em aberto para sempre.

Qual a resposta a isso?

Creio que nesse caso há uma ambiguidade quanto ao conceito de arbitrador supremo.  Normalmente, pensa-se em no termo "arbitrador supremo" de uma forma muito platônica — isto é, alguém ou alguma instituição que, de alguma forma, consegue garantir de maneira absoluta que a contenda está resolvida para sempre; que garanta de maneira absolutamente incontestável a resolução de todas as pendengas. 

Por outro lado, "arbitrador supremo" também pode ser simplesmente alguma pessoa ou algum processo ou alguma instituição que, de uma maneira relativamente confiável e autêntica, garanta na maior parte das vezes que os problemas sejam resolvidos.

É verdade que, no sentido platônico — no sentido de uma garantia absoluta dada por um arbitrador final —, um arranjo sem governo não pode propiciar tal solução.  E nem nenhum outro sistema.  Imaginemos uma república constitucional minarquista, do tipo defendido por Bidinotto.  Será que haveria um arbitrador supremo neste sistema, algo que garantiria de modo absoluto o fim definitivo de um processo de contenda judiciária? 

Imaginemos: eu sou processado por você.  Perco.  Apelo.  Perco de novo.  Apelo para o Supremo Tribunal.  Eles ficam contra mim.  Faço lobby no Congresso para mudarem as leis para que elas agora me favoreçam.  Eles não mudam.  Tento então criar um movimento para conseguir fazer uma emenda à Constituição.  Não dá certo.  Tento então convencer as pessoas a elegerem novos membros para o Congresso que irão votar a favor da emenda.  Não consigo.  Tento de novo dali a alguns anos.  E assim por diante.  Observem que, de certa forma, posso continuar para sempre.  A contenda não está resolvida.

Na prática, porém, a maioria das contendas judiciais sempre chega a um fim.  Chega-se a um ponto que se torna caro demais continuar brigando.  Do mesmo modo, em um arranjo sem governo, não há nenhuma garantia de que o conflito não irá se arrastar para sempre.  Aliás, existem poucas garantias férreas sobre qualquer assunto.  Mas isso não é motivo para esperar que as coisas não funcionem.

(6) Leis sobre propriedade não podem surgir no mercado

Outro argumento popular, também muito usado pelos randianos, é que as transações de mercado pressupõem um histórico de leis de propriedade.  Você e eu só podemos trocar bens por serviços, ou dinheiro por serviços, ou fazer qualquer outra transação, se já existir leis de propriedade estáveis que assegurem a veracidade dos títulos de propriedade que temos.  E dado que o mercado, para funcionar bem, pressupõe a existência de todo um arcabouço de leis de propriedade, tais leis não podem ser elas próprias um produto do mercado. 

Segundo este raciocínio, as leis de propriedade têm de surgir de algum lugar — provavelmente será criada por algum robô infalível ou algo do gênero.  Não sei bem de onde exatamente ela surge, mas sei que, por algum motivo, ela não pode surgir do mercado.

Ironias à parte, um raciocínio deste tipo é o equivalente a dizer que, primeiro, as leis sobre propriedade foram surgindo do nada e tudo foi sendo estabelecido sem nenhuma transação de mercado acontecendo — todo mundo ficou quieto, apenas esperando que toda a estrutura legal ficasse pronta.  E então, após algum tempo, com a estrutura finalmente já completada, as pessoas enfim começaram a fazer negócios umas com as outras. 

É verdade que não é possível haver mercados funcionando corretamente se não houver um sistema legal operante.  Mas não faz sentido imaginar que primeiro criaram todo um sistema legal para então, só então, começarem a fazer transações econômicas.  Ambos nasceram e evoluíram juntos.  Instituições jurídicas e transações econômicas surgem conjuntamente em um mesmo local e ao mesmo tempo.  O sistema legal não é algo totalmente independente das atividades que ele restringe.  Afinal, um sistema legal não é um robô ou um deus ou algo externo completamente separado de nós.  A existência de um sistema legal consiste em pessoas obedecendo a suas regras.  Se todos ignorassem o sistema legal, ele não teria poder nenhum.  Logo, é justamente porque as pessoas geralmente apóiam e concordam com o sistema legal, que ele sobrevive.  O sistema legal também depende de um respaldo voluntário das pessoas.

Creio que um dos motivos por que várias pessoas temem um arranjo sem governo é que elas imaginam que, sob um governo, ao menos existe algum tipo de garantia que não mais irá existir sem o governo; que de algum modo existe este firme arcabouço ao qual podemos recorrer, e o qual, sem governo, simplesmente desapareceria.  Mas este firme arcabouço é apenas o produto de pessoas interagindo de acordo com os incentivos que possuem.

Do mesmo modo, quando anarquistas dizem que as pessoas, em um arranjo sem governo, provavelmente teriam incentivos para fazer isto ou aquilo, as pessoas respondem exasperadas "Bem, isso não é suficiente! Eu não quero que apenas seja provável que elas terão incentivos para fazer isso.  Quero que o governo garanta de maneira absoluta que elas farão isso!"  Mas o governo nada mais é do que um conjunto de pessoas.  E, dependendo da estrutura constitucional do governo, é provável que elas façam isso ou aquilo.  É impossível elaborar uma constituição que garanta que as pessoas no governo irão se comportar de uma determinada maneira.  É possível estruturar uma constituição de modo a tornar mais provável que as pessoas façam uma coisa e menos provável que elas façam outra coisa.  E a anarquia pode ser considerada como sendo uma ampliação dos sistemas de pesos e contrapesos para um nível mais amplo.

(7) O crime organizado controlará tudo

Outra objeção é que, em um arranjo sem estado, o crime organizado tomará conta de tudo.  Bom, é possível.  Mas é improvável.  O crime organizado surge justamente naquelas áreas que foram tornadas ilegais pelo estado.  O crime organizado adquire seu poder ao se especializar em atividades que foram proibidas pelo estado — coisas como drogas, prostituição, jogos, agiotagem e assim por diante.

Durante os anos em que o álcool era proibido, o crime organizado especializou-se no comércio de álcool.  Hoje, após o fim da proibição, praticamente não se ouve falar de crime organizado no comércio de álcool.   O poder do crime organizado, em grande parte, depende do poder do governo.  Ele é uma espécie de parasita das atividades do governo.  Os governos, ao proibirem certas atividades, criam mercados negros.  Os mercados negros são atividades perigosas de desempenhar porque seus membros têm de se preocupar tanto com o governo quanto com outras pessoas nada simpáticas que estão interessadas na sua fatia de mercado.  Adicionalmente, como os tribunais não fazem valer aqueles contratos que o estado considera ilegais, todas as pelejas contraídas no mundo do crime organizado têm de ser cumpridas na base da violência.  Todos estes fatores explicam por que uma indústria que é perseguida por agentes armados do governo acaba se tornando fortemente militarizada também.

Se a análise acima está correta, e o crime organizado (e gangues violentas em geral) prospera apenas naquelas áreas infestadas de intervenção estatal, então parece óbvio que uma anarquia de mercado iria emascular esses grupos criminosos.  Colocando em outras palavras, à medida que o governo legalizasse mais e mais setores, o crime organizado teria de concentrar suas atividades em negócios cada vez mais restritos.  No limite, se tudo fosse legalizado (do ponto de vista de legislação estatal), o crime organizado não teria como obter nenhuma vantagem especial.  Da mesma forma que a máfia não aguenta concorrer diretamente com uma fabricante de cervejas como a Budweiser, ela também perderia sua fatia de mercado para empreendedores honestos dos setores judiciário e policial caso o estado cancelasse seu monopólio sobre esses serviços.

(8) Os ricos irão dominar

Outra preocupação é que os ricos irão dominar.  Afinal, se os serviços legais forem transformados em um bem econômico, a justiça não estará a serviço daquele que pagar mais?  Trata-se de uma objeção comum.  O interessante é que tal objeção é particularmente comum entre os randianos, que repentina e curiosamente se transformam em seres extremamente preocupados com os desvalidos.

Mas sob qual sistema os ricos são mais poderosos?  Sob o atual sistema ou sob um sistema sem estado?

Certamente, você sempre terá algum tipo de vantagem se for rico.  É bom ser rico.  Sendo rico, você sempre estará em uma posição privilegiada para subornar pessoas.  Porém, no atual sistema, o poder dos ricos é amplificado.

Suponha que eu seja um rico malvado e queira que o governo faça algo que custará $5 milhões.  Teria eu de subornar algum burocrata em $5 milhões para conseguir que a coisa fosse feita?  Não, pelo simples motivo de que, se a coisa for feita, o político não estará utilizando nenhum centavo de seu próprio bolso.  Pelo mesmo motivo, se eu estivesse pedindo que ele fizesse o trabalho com seu próprio dinheiro, então obviamente eu não conseguiria convencê-lo a gastar $5 milhões dando a ele uma propina menor que $5 milhões.  Eu teria de dar pelo menos cinco milhões e um centavo.

Pessoas que controlam o dinheiro de impostos de terceiros, dinheiro este que não pertence a elas — o que significa que elas não podem fazer com ele o que quiserem —, não podem simplesmente embolsar os $5 milhões e ir pra casa (muito embora elas façam coisas que cheguem muito perto disso).  Tudo o que eu tenho de fazer é subornar o burocrata em alguns milhares, e ele, por sua vez, irá desviar estes $5 milhões em dinheiro de impostos para aquele projeto que eu defendo.

Ou seja, no atual sistema, meu poder de propina é multiplicado.

Por outro lado, se você fosse o presidente de uma agência de proteção privada e eu estivesse tentando fazer você gastar em algo que custasse $5 milhões, eu teria de lhe pagar uma propina de valor (muito) superior a $5 milhões.  Logo, o poder do rico é na realidade menor em um sistema sem governo.

Ademais, obviamente, qualquer tribunal que adquirisse a má reputação de favorecer milionários contra os pobres também, presumivelmente, teria a reputação de favorecer bilionários contra milionários.  Por conseguinte, os milionários não iriam querer lidar com esse tribunal.  Eles só iriam querer lidar com ele quando estivessem em uma contenda contra pessoas mais pobres, e não contra pessoas mais ricas.  Mas a questão é que as repercussões de uma má reputação não fariam nada bem para a imagem deste tribunal no mercado.

Há também preocupações quanto ao fato de vítimas pobres não serem capazes de arcar com serviços jurídicos, ou com vítimas que morrem sem deixar herdeiros (de novo, os randianos são muito preocupados com vítimas que morrem sem herdeiros).  No caso de vítimas pobres, é possível fazer o que se fazia na Islândia medieval.  Se você é pobre demais para pagar por serviços jurídicos e alguém prejudicou você, você tem o direito de requerer indenização daquela pessoa.  Você pode vender esse direito à indenização — toda ela ou apenas uma parte dela — para outra pessoa.  Na realidade, funciona como se você contratasse um advogado na condição de só pagar honorários se houver ganho de causa.  Você poderá vender sua indenização para alguém que tenha condições de impingir suas reivindicações.  Ou, se você morrer e não deixar herdeiros, em certo sentido os bens que você deixar passam a ser a reivindicação de indenização, e poderão ser objetos de apropriação.

(9) Robert Bidinotto: as massas irão demandar leis ruins

Outra preocupação que aflige Bidinotto — e esta é praticamente oposta à preocupação de que os ricos irão dominar — tem a ver com a questão de o mercado ser, como Mises havia dito, uma grande democracia na qual a soberania do consumidor decide quem prospera e quem vai à falência.  Segundo Bidinotto, esse tipo de democracia é ótimo quando se trata de geladeiras, celulares, automóveis, computadores etc.  Mas certamente não é uma coisa boa quando se trata de leis.  Porque, afinal, as massas nada mais são do que um bando de ignaros intolerantes que, se puderem criar as leis que quiserem, certamente inventarão as coisas mais pavorosas imagináveis.

A diferença entre a democracia econômica do tipo misesiano e a democracia política é óbvia: na democracia econômica, você consegue o que quer, mas tem de pagar por isso.  Por outro lado, é verdade que, em um arranjo sem governo, se houver pessoas suficientemente fanáticas que desejam impor algo ignóbil a outras pessoas, e tal grupo de pessoas for grande o suficiente, então de fato a anarquia poderá levar a resultados nada libertários.

Se você vive em um estado povoado por pessoas de mentalidade mais progressista, você certamente estará rodeado de fanáticos que querem banir o cigarro de tudo quanto é lugar.  Se você vive em um estado mais conservador, a tendência é que, em vez do cigarro, as pessoas queiram banir a homossexualidade — neste caso, pode ser que tais pessoas sejam tão fanáticas, que elas irão conseguir a proibição.  Mas vale lembrar que elas terão de pagar por isso.

Logo, quando elas receberem suas apólices mensais de suas agências de segurança privada, lá vai constar o preço do serviço básico — proteção contra agressões — e depois uma taxa adicional pelo serviço extra de posicionar agentes de tocaia para espiar os vizinhos pelas janelas e se certificar de que eles não estavam fumando ou praticando atos homossexuais.

Agora, as pessoas realmente fanáticas dirão "Sim, vou desembolsar mais dinheiro para pagar por isso." (Obviamente, se elas forem fanáticas a esse ponto, serão um problema em um arranjo minarquista também).  Mas se elas não forem tão fanáticas assim, dirão: "Bem, se tudo o que eu preciso fazer é apoiar e votar em candidatos que defendem leis que restrinjam a liberdade das outras pessoas, então é claro que farei isso, é muito fácil ir e votar."  Porém, se elas tiverem efetivamente de pagar um preço para impor seus desejos, então são enormes as chances de que elas se resignem e desistam de suas tentações totalitárias.

(10) Robert Nozick e Tyler Cowen: agências de proteção privada irão se transformar em um genuíno governo

Meu último ponto.  Essa é uma questão que foi originalmente levantada por Robert Nozick e, desde então, vem sendo desenvolvida por Tyler Cowen.  Nozick disse: se não houver governo, um destes três fenômenos ocorrerá.  As agências de proteção brigarão entre si — e isso, segundo Nozick, levará a dois cenários distintos.  Porém, como já falei acima sobre o que aconteceria se elas brigassem, não irei me concentrar nestes dois cenários e vou pular logo para a terceira opção. 

E se elas não brigarem?  Então, segundo ele, se elas concordarem com todos esses contratos de arbitramento mútuo, então basicamente todo o arranjo de agências de proteção iria simplesmente se transformar em um governo.

Tyler Cowen desenvolveu ainda mais essa argumentação.  Ele disse que, basicamente, todo esse arranjo viraria um cartel, e seria do total interesse desse cartel se transformar em um governo.  Qualquer nova agência privada que porventura quisesse entrar no mercado seria imediatamente boicotada pelo o cartel.

E o argumento prossegue: assim como é do seu interesse, caso você invente um novo cartão de débito, que ele seja compatível com as máquinas de todos os estabelecimentos, se você criar uma nova agência de proteção também será de seu interesse conseguir fazer parte do mesmo sistema de contratos e arbitramento do qual as agências existentes já fazem parte.  Você não conseguirá clientes caso as pessoas descubram que sua agência não possui nenhum acordo com as outras agências especificando o que ocorrerá caso um cliente de sua agência entre em uma contenda com um cliente de outra agência.  Sendo assim, agindo desta forma, esse cartel seria capaz de boicotar a entrada de novas agências no mercado.

E então, isso poderia ocorrer?  Sim, é claro que poderia.  Qualquer tipo de coisa pode ocorrer.  Metade da população do país pode se suicidar amanhã.  Mas isso é provável?  Seria provável que esse cartel conseguisse abusar de seu poder dessa maneira?  O problema é que cartéis são arranjos inerentemente instáveis, pois, por sua própria organização, as possibilidades de ganhos para quem furar o cartel, ofertar preços menores e com isso atrair mais clientes são enormes.  Isso não significa que é impossível um cartel ser bem-sucedido; afinal, as pessoas têm livre arbítrio.  No entanto, tal sucesso é algo improvável, pois os mesmos incentivos que levam você a formar um cartel também levam você a querer romper o acordo — pois é sempre do interesse econômico de alguém fazer acordos fora do cartel quando se está dentro dele.

Bryan Caplan faz uma distinção entre boicotes que se mantêm automaticamente e boicotes que não se mantêm automaticamente.  Os boicotes que se mantêm automaticamente são bastante estáveis porque são boicotes contra, por exemplo, pessoas que trapaceiam seus parceiros comerciais.  Você não precisa ser uma pessoa dotada de extrema rigidez moral para não querer fazer negócios com pessoas conhecidas por trapacear seus parceiros comerciais.  Você tem um total interesse próprio em não querer fazer negócio com este tipo de pessoa.

Por outro lado, pense no que ocorreria caso você não quisesse fazer negócios com um determinado indivíduo porque você não gosta da religião dele, ou da opção sexual dele, ou da cor dele ou simplesmente porque ele é cliente de uma agência de proteção com a qual a sua agência recomenda não fazer negócio — sim, o boicote poderá funcionar.  Transpondo este raciocínio para um cartel, talvez uma quantidade suficiente de pessoas (talvez todo mundo) no cartel esteja tão decidida a manter esse cartel, que elas simplesmente não se relacionarão com este indivíduo.  Isso seria possível?  Sim.  Mas a que custo de oportunidade?  Esse é um boicote que não se mantém automaticamente.

Se essas pessoas formaram um cartel motivadas por um interesse econômico próprio, então esse interesse próprio é exatamente o que levará à quebra do cartel, pois é do interesse econômico delas lidar com o indivíduo em questão, assim como é sempre do seu interesse incorrer em transações econômicas mutuamente benéficas.


Roderick T. Long é membro sênior do Ludwig von Mises Institute, professor de filosofia na Universidade de Auburn, Alabama, e autor do livro Reason and Value: Aristotle Versus Rand.  Ele preside o Molinari Institute e a Molinari Society.  Seu website: Praxeology.net.

Fonte: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1556

Offline JJ

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Re:Deixe aqui sua pergunta para anarquistas... ou responda
« Resposta #43 Online: 04 de Julho de 2016, 08:04:40 »
Ele vale a pena ser postado!

É realmente necessário haver um estado para termos segurança e ordem?
por Emílio Lacombi Lauss, domingo, 19 de junho de 2016


O outro caso ocorreu no Texas, na comunidade de Sharpstown, situada no sudeste da cidade de Houston. Em 2012, a comunidade, representada pela Associação Cívica de Sharpstown (no original Sharpstown Civic Association) resolveu demitir todo seu departamento público de policiamento e contratar a empresa privada de patrulhamento S.E.A.L. Security Solutions. Para quem já está acostumado com o básico de ciência econômica o resultado não deve surpreender: em apenas 20 meses a taxa de crimes registrados na comunidade caiu 61%, segundo James Alexandre, o diretor de operações da S.E.A.L.



Isso é alguma piada ?????


Essa  empresa  está sujeita as leis americanas, se ela afrontasse as leis estaduais e federais ela seria ferrada.  O que a impede de passar a agir como uma máfia (e/ou de cometer abusos contra os direitos humanos)  é a possibilidade de levar ferro das forças de segurança estaduais e federais. 


Num  ambiente anárquico a única coisa que poderia impedir um grupo suficientemente poderoso, rico e armado de  forçar outros grupos  (mais fracos, menos poderosos, menos ricos, menos armados)  a se submeterem a sua vontade (a vontade do Chefão, seja um Coronel, um "Senhor Feudal" , um Senhor da Guerra ou Warlord  (pra quem quer falar de modo chique   :hihi:  )), seria outro grupo rico e armado suficientemente poderoso,  no final isso iria virar um monte de grupos (de tamanhos pequenos e médios, e grandes) constantemente guerreando entre si, até que um grupo maior, mais poderoso, mais rico e mais armado  vencesse  e impusesse sua vontade sobre os outros grupos (em determinado território),  o que aliás era o que acontecia (em territórios menores) antes de  surgirem os Estados nacionais.




« Última modificação: 04 de Julho de 2016, 09:14:42 por JJ »

Offline JJ

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Re:Deixe aqui sua pergunta para anarquistas... ou responda
« Resposta #44 Online: 04 de Julho de 2016, 08:17:25 »
É realmente necessário haver um estado para termos segurança e ordem?
por Emílio Lacombi Lauss, domingo, 19 de junho de 2016

Dada uma breve descrição de agências privadas, bem como exemplos de algumas aplicações diversas em contextos históricos distintos, a pergunta natural que vem à mente é: seria esse sistema estável caso seja maciçamente acolhido hoje em dia? Ou, dito de outra forma, o que impediria as principais agências de segurança de se unirem para dominar coercitivamente territórios e assim formar um novo estado?

A resposta é que não há absolutamente garantia alguma de que isso não aconteça.




Uma das poucas coisas sensatas deste texto. E o pior é que estes mini novos Estados poderiam perfeitamente não terem nada de Estados de direito, poderiam perfeitamente serem  mini Estados  absolutistas  (ou coisa semelhante).




Citação de: L
Na verdade, hoje em dia também não temos tal garantia e, com efeito, a ameaça globalista está cada vez maior.
Historicamente, vemos inúmeras agressões arbitrárias feitas por estados mais belicamente poderosos sobre mais fracos: além das famosas guerras mundiais e os inúmeros casos que ocorreram ao longo do século XX no Oriente Médio. 


Qualquer  pessoa com o mínimo de conhecimento de história  e de  geopolítica sabe disso,  e  é  justamente por causa disso que  pessoas já propuseram uma solução que já foi reiteradas vezes sucesso para acabar com guerras em  territórios  menores.






« Última modificação: 04 de Julho de 2016, 08:44:02 por JJ »

Offline Buckaroo Banzai

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« Resposta #45 Online: 04 de Julho de 2016, 10:21:53 »
1 - Como o anarco-capitalismo não seria automaticamente sinônimo de plutarquia em vez de anarquia?

Quais países se parecem mais com uma plutocracia, os mais liberais no ranking do Fraser Institute os ou menos?
Austrália ou Brasil?
Suíça ou Rússia?
Nova Zelândia ou Congo?

Pelo contrário, livre mercado é a diluição do poder econômico concentrado, anarquia é puro livre mercado.

Não, isso é uma hipótese, uma crença, um desejo.

A comparação tenta colocar como análogo a anarquia estados altamente funcionais, que mantém economias liberais, mercados eficientemente regulados.

São tão ou mais argumentáveis como analogia os locais onde o estado de fato colapsa, como favelas dominadas pelo tráfico, Somália.



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2 - Como anarco-proprietaristas privariam os bens/"propriedade" que consideram ser seus dos anarco-comunistas/aproprietaristas/mutualistas, sem ferir o princípio da não-agressão?

O PNA diz que é errado INICIAR agressão. Se defender nunca é errado. Legítima defesa não é errado. Você tem todo direito de defender sua propriedade com a força proporcional que o caso exija.

Mas a alguém que não crê que toda sua "propriedade" seja realmente sua/"propriedade", sua defesa é uma forma de iniciar agressão -- da mesma forma que você deve enxergar com a defesa à propriedade intelectual, por exemplo.

A privação do acesso a bens que não estão em uso imediato sempre envolverá alguma forma de iniciação de agressão, nem que seja ameaça (não diferente daquela num assalto, enxergaria o questionador da propriedade privada), ou, na melhor das hipóteses, "agressão passiva", em obstrução física ao acesso de bens sem "dono" real, ou ameças. Aqueles que não crêem em propriedade privada simplesmente não veriam como legítimas essas tentativas de defesa e se veriam no direito de driblar tais obstáculos ou mesmo responder a essas agressões, como legítima defesa.


Parece portanto impossível a coexistência pacífica dessas linhagens diferentes de anarquistas sem um contrato ou regulação legal regional onde cada parte faz concessões sobre suas crenças quanto a sobre o que podem privar de outros ou do que podem se apropriar dentro de um dado perímetro.




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3 - a emergência espontânea de organizações voluntárias proto-estatais -- acordos voluntários entre moradores, pessoas, limitando as externalidades, sem fins lucrativos, visando a melhoria de condições sociais (ou evitar deterioração) -- deveria ser de alguma forma policiada e coibida para não evoluir num estado de fato, por alguma espécie de anti-estado? Há esboço de legislação/constituição nesse sentido? Ou a idéia é que em comunidades anarquistas as pessoas já seriam naturalmente avessas a fazer compromissos para o suposto benefício coletivo?

A lei seria de ordem policêntrica e acredito que haveria uma cultura anti-estado. O estado é uma super-máfia, logo, um grupo que quisesse construir um novo estado seria visto como um agressor por todos, seria alvo de todos, incluindo leis, tribunais, agencias de segurança.

Poli-centros legais seriam análgos a proto-estados (ou tribos, bandos, clãs, etc, que comumente são vistos como tendo já "elementos" estatais, se não plenamente "mini-estados", proto-estados, estados embrionários), comunidades vivendo sob uma organização política-governamental que consideram legítima, ainda que talvez com mais e mais complexas/nubladas concessões a soberania por outros centros legais do que comumente se vê, mas ainda de acordo com acordos/legislações.

Offline Gauss

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Re:Deixe aqui sua pergunta para anarquistas... ou responda
« Resposta #46 Online: 04 de Julho de 2016, 10:50:41 »
4- Se para termos a garantia da segurança pública devêssemos pagar por ela, qual seria a lógica de acabarmos com o estado e o imposto? Se a resposta for a questão voluntária(paga quem quer, recebe quem paga), não haveria de alguma forma uma pressão das prestadoras de serviço para quem não paga começar a pagar? Como evitar isso?

Depende, quando vc visita um shopping center, você não está pagando pela segurança, pelo menos não diretamente. As ruas seriam parecidas. Agora, agências de segurança, armas, câmeras, cercas elétricas, tudo isso já existe e tem seu custo além dos impostos. Conheço um pouco da teoria das seguradores na área da segurança, mas é tudo muito especulativo, não tem como prever um mercado que nem existe. Quem guia o mercado é a ordem espontânea, milhões de pessoas interagindo livremente. Em vários pontos, há teorias anarcocapitalistas divergentes, principalmente entre jusnaturalistas e utilitaristas (ou economicistas). Seria como adivinhar o que seria o trabalho no campo depois de abolir a escravidão.
Quando você visita um shopping center quem está pagando pela segurança é a empresa dona do shopping, que arrecada esse dinheiro através do aluguel das salas ou até mesmo através de lojas próprias. Se parar para analisar, não é diferente de um estado hipoteticamente mínimo e eficiente que cobra imposto(aluguel) para o contribuinte poder usufruir de um local limpo e seguro.
Citação de: Gauss
Bolsonaro é um falastrão conservador e ignorante. Atualmente teria 8% das intenções de votos, ou seja, é o Enéas 2.0. As possibilidades desse ser chegar a presidência são baixíssimas, ele só faz muito barulho mesmo, nada mais que isso. Não tem nenhum apoio popular forte, somente de adolescentes desinformados e velhos com memória curta que acham que a ditadura foi boa só porque "tinha menos crime". Teria que acontecer uma merda muito grande para ele chegar lá.

Offline JJ

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Re:Deixe aqui sua pergunta para anarquistas... ou responda
« Resposta #47 Online: 04 de Julho de 2016, 11:57:49 »
4- Se para termos a garantia da segurança pública devêssemos pagar por ela, qual seria a lógica de acabarmos com o estado e o imposto? Se a resposta for a questão voluntária(paga quem quer, recebe quem paga), não haveria de alguma forma uma pressão das prestadoras de serviço para quem não paga começar a pagar? Como evitar isso?

Depende, quando vc visita um shopping center, você não está pagando pela segurança, pelo menos não diretamente. As ruas seriam parecidas. Agora, agências de segurança, armas, câmeras, cercas elétricas, tudo isso já existe e tem seu custo além dos impostos. Conheço um pouco da teoria das seguradores na área da segurança, mas é tudo muito especulativo, não tem como prever um mercado que nem existe. Quem guia o mercado é a ordem espontânea, milhões de pessoas interagindo livremente. Em vários pontos, há teorias anarcocapitalistas divergentes, principalmente entre jusnaturalistas e utilitaristas (ou economicistas). Seria como adivinhar o que seria o trabalho no campo depois de abolir a escravidão.
Quando você visita um shopping center quem está pagando pela segurança é a empresa dona do shopping, que arrecada esse dinheiro através do aluguel das salas ou até mesmo através de lojas próprias. Se parar para analisar, não é diferente de um estado hipoteticamente mínimo e eficiente que cobra imposto(aluguel) para o contribuinte poder usufruir de um local limpo e seguro.


Uma boa analogia é a dos condomínios privados, quem mora num condomínio privado é obrigado a pagar pela segurança do condomínio.  Caso contrário sofrerá conseqüências. No caso de uma  minarquia, podemos fazer uma analogia na qual os cidadãos de um país podem  ser vistos como moradores de um grande condomínio, no qual quem mora  é obrigado a pagar pela segurança. Caso contrário sofrerá conseqüências.



Offline Buckaroo Banzai

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Re:Deixe aqui sua pergunta para anarquistas... ou responda
« Resposta #48 Online: 04 de Julho de 2016, 19:20:04 »
Ou, pode ser que se desenvolva uma minarquia mais filantrópica/do bem estar social, onde as pessoas contribuem de acordo com suas possibilidades para o custeio dessas funções de que todos se beneficiam.

Como tudo tenderia a ser mais produtivo dentro de uma minarquia eficientemente regulada (legislada), também haveria pouca pobreza para começar, e a coisa nunca descenderia ao nível de se ter abuso desse sistema, tanto por uma cultura pró-social/responsável, como por medidas para inserir os indivíduos nas cadeias produtivas, bem como medidas reeducativas e punitivas, até mesmo eventual banimento -- como último recurso.

A maior preocupação acabará sendo a de conflitos com outros estados, ou com hordas de piratas anarquistas.

Mas mesmo estes tenderiam a eventualmente se converter e a imitar o meio de vida do estado mínimo, ou podendo se mudar para lá, dado que a tendência seria de sempre levarem a pior, seja em confrontos, ou apenas em comparação de sua qualidade de vida em situações mais pacíficas. Divisões étnicas/religiosas poderiam prolongar esses conflitos, de qualquer forma, na medida em que os vizinhos resistem a adotar os valores dos "outros", possivelmente os enquadrando como seus opressores.

Rhyan

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Re:Deixe aqui sua pergunta para anarquistas... ou responda
« Resposta #49 Online: 05 de Julho de 2016, 00:45:19 »
JJ, que parte da frase "Mercados não são planejados é difícil de entender?"

Não, isso é uma hipótese, uma crença, um desejo.

A comparação tenta colocar como análogo a anarquia estados altamente funcionais, que mantém economias liberais, mercados eficientemente regulados.

São tão ou mais argumentáveis como analogia os locais onde o estado de fato colapsa, como favelas dominadas pelo tráfico, Somália.

Eu falando de países mais liberais e você falando de regulação eficiente. Primeiro entenda a base do liberalismo pra depois querer debater anarquismo de mercado.

Isso não é um crença, é um fato, mercado aberto é, por definição lógica, menos concentrado.

Sinceramente, é uma chuva de espantalhos que não valem o tempo de resposta, os links postados são suficientes.

 

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