Legal. Isso me tranquiliza diante da sugestão irresponsável de um forista para que você se matasse, o que não é aceitável nem por brincadeira. (Aliás, denunciei à moderação, que não tomou nenhuma atitude como esperado).
Sim, eu sei que é irresponsável o que eu disse, mesmo que tenha sido por brincadeira. Não acho que mereço um cartão, mesmo que eu tenha sido um idiota (seja incentivando um crime, seja cometendo outro ou porque eu simplesmente desrespeitei algum valor moral teu), mas aproveitando o meu deboche, gostaria de saber o que você tem contra o suicídio?
Voltando ao tópico, mas não muito longe do parágrafo anterior, creio que a grande questão da vida, por mais clichê que seja, seja decidir se ela vale a pena ser vivida. Esqueçamos do suicídio por enquanto, e vamos nos focar na minha experiência com o ateísmo. Se você perguntar à algum ateu se ele sempre foi ateu, ele provavelmente dirá que já foi religioso, mas começou a se tornar (você se torna ateu num longo e esquisito processo)durante a pré-adolescência, por volta dos 10 aos 12 anos. O processo é basicamente o mesmo: Você questiona a moral de sua religião, depois o sentido da vida, logo depois a moral de deus, e então te tornas alguma espécie agnóstico (você parece que ainda está nesse processo), depois, como se tivesse saído de um sono, você se acorda que é ateu. O ateísmo, por mais que os ateus gostem de pensar, não é uma "escolha" racional, mas o abandono de uma herança irracional que não nos é natural. Você pode ser ateu e não ter nenhum bom argumento para justificar o seu ateísmo (há vezes que eu me pergunto se não fosse por certas situações, eu não me tornaria ateu tão jovem quanto eu fui).
O meu caso não foi diferente. Quando eu era criança, eu era bastante supersticioso, acreditando em coisas como lobisomens, ETs, demônios e espíritos, e inclusive, experienciei situações toscas por causa dessas crenças. Me lembro quando tinha 8 anos, eu tive uma crise de choro porque um amigo do meu irmão me disse que a minha vizinhança estava cheia de lobisomens e que eles iriam querer me pegar caso me vissem pelas janelas (isso me fez dormir por debaixo das cobertas por um longo tempo). A minha primeira experiência com o ateísmo (até uns 9 anos, eu não sabia que existiam pessoas que não acreditavam em deus) foi com um amigo meu que disse que não acreditava em deus. Isso pra mim foi um choque, e me desesperou. Foi a primeira vez que eu me perguntei se não havia nada além da vida que compensasse o sofrimento mundano. Na época, minha família estava passando por uma grave tragédia, com a demência e morte do meu pai e as tentativas melodramáticas de suicídio da minha mãe, comecei a questionar a moral divína, e o fazia durante as chatas aulas de catequese da minha igreja. Fazia algumas perguntas à minha professora e ela não conseguia me responder, e quando respondia, a resposta era péssima (devo ter plantado algumas plantinhas de ceticismo nos meus coleguinhas com as minhas perguntas sobre pra onde vão os bebês quando morrem). Eu ainda não tinha me tornado ateu nessa época, mas já me questionava o se a vida valia a pena ser vivida. O tempo que se seguiu depois da morte do meu paí foi péssimo pra mim, já que minha família mudou de cidade, minha mãe continuava depressiva (e alcoólatra), eu era solitário na escola e quando chegava em casa, só me restava dormir. Às noites, eu tinha insônia, mas era ótimo ficar madrugando até às 3 ou 4 horas, mesmo tendo que acordar Às 7 horas da manhã, eu gostava porque era o único período do dia que eu tinha silêncio e estava solitário, aproveitando esse tempo para ler bastante, e a cada noite que se passava, eu me tornava mais ateu, mas por mais seguro que eu estivesse, essa questão que te atormenta hoje ainda me atormentava, mas sobre uma outra forma. O que eu posso te dizer por experiência é que isso vai ficando cada vez mais irrelevante a medida que você tem noção de que você quer fazer, do que você gosta de fazer, e isso responde a pergunta inicial do segundo parágrafo; Viva o que vale a pena ser vivido.