Sociedades são sistemas complexos. Você entende o que isso quer dizer?
Então sistemas complexos são coisas impossíveis de serem entendidas? Problemas complexos não podem ser atacados com vários graus de eficiência? Melhor deixar de lado, que a natureza cuida? Ainda bem que cientistas que estudam o cérebro, processos químicos complexos, meteorologia etc... não concordam com você, se não até hoje ainda estaríamos acreditando que doença mental é demônio e que devemos rezar para os deuses da chuva e do sol (quem sabe fazer da dança da chuva).
Não são impossíveis de estudar mas nossos modelos são pouco ou nada eficazes, do ponto de vista de eficácia preditiva, quando o horizonte de análise temporal é muito longo.
Primeiro, nos já conseguimos muita melhorias em vários modelos estudados, como o aplicado ao funcionamento cerebral, que de tão razoável nos permitiu fazer a IA dar um salto gigantesco ao fazermos engenharia reversa no cérebro. E olha que não foi gasto nesta tarefa nenhuma fração do que se deveria ser gasto e que é gasto em coisas como construção de bombas e armas de destruição em massa. Temos modelos muito bons também em meteorologia, que antes eram péssimos, mas melhoraram absurdamente com poucas mentes trabalhando neles, imagine se fossem voltados recursos massivos para este fim. E qual a escolha que temos, se não encarar os problemas complexos de frente? Continuar trabalhando com sistemas econômicos mecanicistas e caóticos sobre os quais não temos quase nenhuma condição de interferir racionalmente?
Segundo, para se atacar problemas complexos temos que trabalhar de forma interdisciplinar entre as várias áreas da ciência e também fazer uso massivo de computação. Hoje, com sistemas de comunicação altamente eficientes e práticos e um nível considerável de conhecimento científico acumulado, este trabalho interdisciplinar é muito facilitado. Além disso, os avanços nas ultimas décadas em TI nos proporcionou capacidades computacionais poderosas, sendo que tudo indica que elas só tendem a aumentar exponencialmente como sempre foi.
Terceiro, temos que trabalhar com horizontes temporais mais curtos possíveis para tentar contornar este problema da previsibilidade. Neste sentido temos que copiar os sistemas complexos mais eficientes em atenuar a entropia interna: os sistemas vivos (claro que de acordo com as devidas proporções e fazendo adaptações para o mundo humano). E como eles fazem isto? Tendo uma fonte de energia abundante, sendo extremamente eficientes na alocação desta energia, tendo um sistema de feedback ambiental poderoso para serem extremamente adaptáveis às mudanças imprevistas (estabelecimento de homeostase), sendo, ciberneticamente falando, altamente dinâmicos na criação e circulação de informação e mensagens. A burocracia na circulação de energia e informação interna ao sistema deve ser sempre eliminada ao máximo. Por exemplo, um organismo vivo, quando é atacado por algum corpo estranho, não faz uma reunião entres as células e órgãos para traçar uma estratégia, depois levam pra votação, depois pra segunda votação e mais discussão. Não, ele simplesmente libera automaticamente os anticorpos que irão combater imediatamente o problema, modulam o metabolismo, liberam substâncias etc., sem precisar de uma autorização central ou burocracia corporal e muito blá blá blá para realizarem as adaptações necessárias no momento. Sendo as grandes fontes de burocracia dentro dos sistemas sociais atuais que os tornam totalmente ineficientes: leis burocráticas, meritocracia, propriedade privada dos meios de produção, dinheiro, patentes... tudo isto deve ser eliminado ou atenuado ao extremo se quisermos ter alguma chance de uma abordagem eficiente no sentido da utilização do paradigma de sistemas complexos aplicados à criação de modelos sociais.
Enfim, temos que mimetizar os seres vivos dentro de nossos sistemas sociais, criar cidades que trabalhem como se fossem células altamente eficientes, usando e abusando da cibernética, sendo que o conjunto destas cidades (células sociais) formariam um organismo maior multicelular, que seria a própria sociedade trabalhando como um ser vivo eficiente e extremamente adaptável.