Ele apenas defendeu que a disparidade de gênero em cargos técnicos e de liderança pode ocorrer em parte por diferenças genéticas, e não necessariamente por discriminação ou sexismo. Ou seja, ele não defendeu a redução de mulheres nestes cargos nem negou a existência do sexismo ou da discriminação.
Eu acho curiosa e difícil de entender essa aposta na significância dessa hipótese causal última para a coisa, em vez de apenas expor o aspecto cultural que deve ser predominante, mesmo que haja também algum fator genético.
Na melhor das hipóteses, seria algo real, mas irrelevante, já que o que realmente importa seria o resultado mais tardio disso, qualquer que seja sua causa última. E deve ser algo com o que qualquer um pode concordar, independentemente de orientação ideológica ou status de confirmação científica da hipótese.
Ao mesmo tempo, por maior que seja o grau de confirmação que se conceba poder obter disso, ainda terá que admitir a realidade de que sempre que se retrocede um pouco no tempo, tempo insuficiente para qualquer mudança em termos genéticos, vai se encontrar diferentes freqüências desses "fenótipos", talvez na maior parte do tempo se aproximando mais do que seriam as supostas freqüências "genéticamente verdadeiras" dos fenótipos na população, com menos mulheres em áreas "masculinas", com menos não-brancos em áreas majoritariamente ocupadas por brancos. É uma significativa "margem de erro", produzida por outros fatores, argumentavelmente mais relevantes que a suposta causa última.
Uma hipótese genética "forte", que seria menos irrelevante, está a toda geração tendo que conceder que o que se observava ainda não era ainda o "verdadeiro fenótipo", e sempre reafirmando que "agora sim, chegamos nele, e só vamos estabilizar ou retroceder a outros índices históricos, finalmente não tem nada dessas coisas de '''fatores sociais''', '''construtos''' ou qualquer '''influência do meio''', não há mais nada a questionar;
agora sim, é como discutir que tipo de obstáculos sociais e preconceitos existem para impedir que mais pessoas tenham olhos azuis".
Ironicamente então, insistir nessa hipótese apenas serve para ajudar a embasar as argumentações que inflam o papel de preconceitos e discriminações indevidas reduzindo o número de mulheres ou outros grupos não-majoritários-não-masculinos-hétero-brancos em alguma área.
Os fatos concretos são diferentes interesses culturais de gênero. Abandonando a parte mais hipotética sobre suas origens últimas, se tem menor fragilidade na argumentação, além de não ter se perdido nada importante. É ainda perfeitamente possível questionar a idéia de que discriminações injustas sejam a explicação predominante para explicar disparidades de presença. E, dentro dos fatos, ainda se tem inclusive essa própria ideologia mimimizista politicamente correta como fator, numa espécie de "auto-sabotagem", ao cultivarem hipersensibilidade* e enfraquecerem a resiliência, reduzindo a aptidão dos seus "adeptos" e ajudando a reforçar os preconceitos que motivam a discriminação factual.
Tenho a impressão disso ser bastante raro, essa linha de argumentação (contrária ao argumento de injustiça) que se abstém de teorizar causas últimas genéticas.
* Me refiro a coisas como o caso em que uma mulher em alguma palestra ouviu homens fazendo qualquer piada com "dong", termo referente a "plugs machos" de hardware e também termo informal ao mesmo hardware biológico, os filmou e/ou postou qualquer coisa no twitter, nas linhas de "sexismo rampante na indústria", e acabaram todos demitidos -- ela também.
Escrevo esses posts e fico com a impressão de que dava para ter usado só umas três frases para dizer tudo de forma mais concisa, sem perder nada relevante...
