Autor Tópico: Funcionário questiona politica de diversidade do Google  (Lida 2331 vezes)

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Funcionário questiona politica de diversidade do Google
« Online: 07 de Agosto de 2017, 22:12:22 »
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Resumo
Eu valorizo a diversidade e a inclusão, e não estou negando que o sexismo existe, e não endosso o uso de estereótipos. Ao lidar com a lacuna de representação da população, precisamos olhar diferenças a nível populacional nas distribuições. Se não pudermos ter uma discussão honesta sobre isso, então nunca resolveremos verdadeiramente o problema. A segurança psicológica é construída sobre o respeito mútuo e a aceitação, mas infelizmente nossa cultura da reprimenda e da deturpação do que foi falado é desrespeitosa e intolerante a qualquer um fora de sua bolha. Apesar do que a reação pública parece ter sido, recebi muitas mensagens pessoais de companheiros de trabalho da Google expressando sua gratidão por eu ter trazido à tona essas questões muito importantes, com as quais eles concordam mas nunca teriam coragem de dizê-lo ou defendê-las por causa da nossa cultura da reprimenda e da possibilidade de serem demitidos. Isso precisa mudar.

  • O viés político da Google igualou a liberdade de não ser ofendido à segurança psicológica, mas reprimir as pessoas ao silêncio é a antítese da segurança psicológica.
  • Esse silenciamento criou uma bolha ideológica onde as mesmas ideias são sagradas demais para serem discutidas honestamente.
  • A falta de discussão alimenta os elementos mais extremos e autoritários dessa ideologia.
  • Extremo: todas as disparidades na representação são devidas à opressão
  • Autoritário: devemos discriminar para corrigir essa opressão
  • Diferenças entre distribuições de características entre homens e mulheres podem explicar em parte por que não temos 50% de representação de mulheres na tecnologia e na liderança. A discriminação para atingir a representatividade igual é injusta, polarizadora e ruim para os negócios.

Background [1]
As pessoas geralmente têm boas intenções, mas todos nós temos vieses que são invisíveis para nós. Felizmente, a discussão aberta e honesta com aqueles de quem discordamos pode revelar nossos pontos cegos e nos ajudar a crescer, e é por isso que eu escrevi este documento.[2] A Google tem vários vieses e a discussão honesta sobre esses vieses está sendo silenciada pela ideologia dominante. O que está a seguir não é nem de longe a história completa, mas é uma perspectiva que precisa desesperadamente ser contada dentro da Google.

Os vieses da Google
Na Google, falamos tanto sobre o viés inconsciente em raça e gênero, mas raramente discutimos nossos vieses morais. A orientação política é na verdade um resultado de preferências morais profundas e, dessa forma, tendenciosidades. Considerando que a esmagadora maioria das ciências sociais, da mídia e da Google pende para a esquerda, devemos examinar criticamente esses preconceitos.

Vieses de esquerda
  • Compaixão pelos fracos
  • Disparidades são devidas a injustiças
  • Humanos são inerentemente cooperativos
  • A mudança é boa (instabilidade)
  • Aberta
  • Idealista

Vieses de direita
  • Respeito pelos fortes/autoridades
  • Disparidades são naturais e justas
  • Humanos são inerentemente competitivos
  • A mudança é perigosa (estabilidade)
  • Fechada
  • Pragmática

Nenhuma das duas está 100% correta e ambos os pontos de vista são necessários para uma sociedade funcional ou, neste caso, uma empresa funcional. Uma empresa que esteja muito profundamente na direita pode ser lenta para reagir, hierárquica demais, e pode confiar muito pouco nos outros. Em contraste, uma empresa que esteja muito profundamente na esquerda estará constantemente em mudança (desativando serviços muito amados), diversificará em demasia seus interesses (ignorando ou tendo vergonha de seu principal negócio), e confiará demais em seus empregados e competidores.

Somente os fatos e a razão podem lançar luz sobre esses vieses, mas no que diz respeito à diversidade e à inclusão, o viés de esquerda da Google criou uma monocultura politicamente correta que se mantém pela reprimenda aos discordantes, empurrados ao silêncio. Esses silêncio retira qualquer fiscalização contra políticas invasivas, extremistas e autoritárias. Para o resto deste documento, vou me concentrar na posição extrema de que todas as diferenças de resultados são devidas ao tratamento diferencial e no elemento autoritário que é necessário para na verdade discriminar para criar igual representação.

Um possível não-viés causa a lacuna de gêneros na tecnologia [3]
Na Google estamos ouvindo constantemente que os vieses implícitos (inconscientes) e explícitos estão prejudicando as mulheres na tecnologia e na liderança. Evidentemente, homens e mulheres vivenciam viés, tecnologia e o ambiente de trabalho de formas diferentes e devemos estar cientes disso, mas essa não é a história completa.

Em média, homens e mulheres são biologicamente diferentes de muitas formas. Essas diferenças não são apenas construção social, porque:

  • São universais nas culturas humanas
  • Amiúde têm causas biológicas claras e ligações à testosterona pré-natal
  • Pessoas biologicamente masculinas que foram castrados ao nascer e criados como meninas frequentemente ainda se identificam e agem como meninos
  • As características subjacentes são altamente herdáveis
  • Elas são exatamente o que preveríamos de uma perspectiva da psicologia evolutiva

Notem que eu não estou dizendo que todos os  homens são diferentes das mulheres das seguintes maneiras ou que essas diferenças são “justas”. Estou simplesmente afirmando que a distribuição de preferências e habilidades de homens e mulheres diferem em parte devido a causas biológicas e que essas diferenças podem explicar por que não vemos representação igual de mulheres na tecnologia e na liderança. Muitas dessas diferenças são pequenas e há uma intersecção significativa entre homens e mulheres, então não se pode dizer nada sobre um indivíduo dadas essas distribuições em nível populacional.

Diferenças de personalidade
Mulheres, em média, têm mais:

  • Abertura direcionada a sentimentos e estética em vez de ideias. As mulheres geralmente também têm um interesse maior em pessoas do que em coisas, relativamente aos homens (o que também é interpretado como empatia vs. sistematização).
  • Essas duas diferenças explicam em parte por que as mulheres preferem relativamente empregos em áreas sociais e artísticas. Pode ser que mais homens gostem de programação porque ela requer a sistematização e, mesmo dentro da engenharia de sofware [SWE], mais mulheres, comparativamente, trabalham com interface de usuários [front end], que lida tanto com pessoas quanto com estética.
  • Extroversão expressada como sociabilidade [gregariousness] em vez de assertividade. Também maior agradabilidade [agreeableness]. [N. do T.: são termos técnicos da psicologia da personalidade.]
  • Isso leva as mulheres a geralmente terem mais dificuldade de negociar salário, pedir por aumentos, serem assertivas e liderarem. Notem que essas são apenas diferenças em média e há intersecção entre homens e mulheres, mas isso é visto como apenas um problema das mulheres. Isso leva a programas excludentes como o Stretch [programa de metas de ação afirmativa interno à Google] e a muitos homens sem apoio.
  • Neuroticismo [termo técnico entre os “big five” componentes de personalidade] (maior ansiedade, menor tolerância a estresse). Isso pode contribuir para os níveis mais altos de ansiedade que as mulheres relatam no Googlegeist [programa de bem-estar de funcionários] e para o menor número de mulheres em empregos de alto estresse.

Notem que, ao contrário do que defenderia um construcionista social, as pesquisas sugerem que “maior igualdade de gênero no nível nacional leva a dissimilaridade psicológica entre as características de personalidade de homens e mulheres”. Porque quando “a sociedade se torna mais próspera e mais igualitária, as diferenças de propensões inatas entre homens e mulheres têm mais espaço para se desenvolverem, e a lacuna que existe entre homens e mulheres em sua personalidade se torna mais larga”. Precisamos parar de presumir que lacunas de gênero indicam sexismo.

Motivação por status maior em homens
Sempre nos perguntamos por que não vemos mulheres em posições altas de liderança, mas nunca nos perguntamos por que vemos tantos homens nesses empregos. Essas posições muitas vezes demandam horas longas e estressantes que podem não valer a pena se você quer uma vida equilibrada e satisfatória.

O status é a principal medida sob a qual os homens são julgados[4], empurrando muitos homens para esses empregos que pagam muito bem mas são menos satisfatórios, por causa do status que eles dão. Notem, as mesmas forças que levam homens a empregos lucrativos/estressantes na tecnologia e na liderança fazem com que os homens aceitem empregos indesejáveis e perigosos como mineração de carvão, coleta de lixo e combate a incêndios, e eles sofrem 93% das mortes relacionadas a trabalho.

Formas não-discriminatórias de reduzir a lacuna de gênero
Abaixo tratarei de algumas das diferenças na distribuição de características entre homens e mulheres às quais aludi na seção anterior, e sugerir formas de lidar com essas diferenças para aumentar a representação das mulheres na tecnologia sem recorrer à discriminação. A Google já está trabalhando em muitas dessas áreas, mas eu penso que ainda é instrutivo listá-las:

  • As mulheres em média apresentam um interesse maior em pessoas, e os homens em coisas
  • Podemos fazer a engenharia de software mais voltada a pessoas com programação em pares e mais colaboração. Infelizmente, pode haver limites ao quão voltadas a pessoas podem ser certas tarefas e a Google, e não deveríamos mentir para nós mesmos ou para estudantes que não é assim (alguns dos nossos programas para atrair estudantes mulheres para a programação podem estar fazendo isso).
  • As mulheres são em média mais cooperativas
  • Permitir àquelas pessoas que têm mais comportamento cooperativo que cresçam. Algumas atualizações recentes às Perf [ferramentas de performance da Google] podem estar fazendo isso em certa medida, mas talvez haja mais que possamos fazer. Isso não significa que devemos remover toda a competitividade da Google. Competitividade e autonomia podem ser características valiosas e não devemos necessariamente por em desvantagem aqueles que as têm, como foi feito na educação. As mulheres são em média mais propensas à ansiedade. Façamos a tecnologia e a liderança menos estressantes. A Google já faz isso em parte com seus muitos cursos de redução de estresse e benefícios.
  • As mulheres, em média, procuram mais por um equilíbrio entre trabalho e vida social, enquanto homens têm uma motivação maior para o status, em média
  • Infelizmente, enquanto a tecnologia e a liderança permanecerem como carreiras de alto status e lucrativas, os homens vão querer estar nelas, desproporcionalmente. Permitir e de fato endossar (como parte da nossa cultura) o trabalho em meio período pode manter mais mulheres na tecnologia.
  • O papel de gênero masculino é atualmente inflexível
  • O feminismo fez grande progresso ao libertar as mulheres do papel de gênero feminino, mas os homens ainda estão muito atados ao papel de gênero masculino. Se nós, como uma sociedade, permitirmos aos homens serem mais “femininos”, então a lacuna entre gêneros vai encolher, embora provavelmente será porque os homens vão deixar a tecnologia e a liderança por papéis tradicionalmente femininos.

Filosoficamente, eu não acho que devemos fazer engenharia social arbitrária na tecnologia só para fazê-la atraente para iguais proporções de homens e mulheres. Para cada uma dessas mudanças, precisamos de razões justificadas para por que ajudam a Google; isto é, devemos otimizar para a Google — com a diversidade da Google sendo um componente disso. Por exemplo, atualmente aqueles que estão tentando trabalhar por horas extras ou enfrentar mais estresse inevitavelmente vão tomar a dianteira e, se tentarmos mudar isso demais, pode ter consequências desastrosas. Além disso, quando consideramos os custos e benefícios, devemos ter em mente que os recursos da Google são finitos, de forma que sua alocação é mais um jogo de soma zero do que se costuma reconhecer.

O prejuízo dos vieses da Google
Creio firmemente na diversidade de gênero e racial, e penso que devemos nos esforçar por mais. No entanto, para atingir uma representação maior de gênero e raça, a Google criou várias práticas discriminatórias:

  • Programas, mentoria e aulas somente para pessoas de certo gênero ou raça [5]
  • Uma alta prioridade e tratamento especial para candidatos da “diversidade”
  • Práticas de contratação que podem efetivamente diminuir as exigências para candidatos da “diversidade” ao diminuir a taxa de falsos negativos
  • Reconsiderar qualquer conjunto de pessoas se não for “diverso” o suficiente, mas não mostrar o mesmo escrutínio na direção inversa (um claro viés da confirmação)
  • Traçar metas de resultados [OKRs] pela maior representação que podem incentivar discriminação ilegal [6]

Essas práticas são baseadas em pressupostos falsos gerados por nossos vieses e podem na verdade aumentar as tensões de raça e gênero. A administração sênior nos diz que o que estamos fazendo é a coisa certa tanto moral quanto economicamente, mas sem evidências isso é apenas ideologia de esquerda velada [7] que pode causar danos irreparáveis à Google.

Por que estamos cegos
Todos temos vieses e usamos raciocínio motivado para dispensar ideias que vão contra nossos valores internos. Da mesma forma que alguns na direita negam a ciência que vai contra a hierarquia “Deus > humanos > meio ambiente” (por exemplo, evolução e mudanças climáticas), a esquerda tende a negar a ciência sobre diferenças biológicas entre as pessoas (por exemplo, QI [8] e diferenças de sexo). Felizmente, cientistas do clima e biólogos evolutivos geralmente não estão na direita. Infelizmente, a ampla maioria das humanidades e cientistas sociais pendem para a esquerda (cerca de 95%), o que cria um enorme viés da confirmação, muda o que está sendo estudado, e mantém mitos como o construtivismo social e a diferença de salários entre gêneros [9]. A tendência de esquerda da Google nos faz cegos diante desse viés e acríticos quanto a seus resultados, que estamos usando para justificar programas altamente politizados.

Além da afinidade da esquerda àqueles que ela vê como fracos, humanos são geralmente enviesados em direção a proteger as mulheres. Como mencionado antes, isso provavelmente evoluiu porque os homens são biologicamente descartáveis e porque as mulheres são geralmente mais cooperativas e agradáveis que os homens. Temos extensos programas de governo e da Google, campos de estudo e normais legais e sociais para proteger as mulheres, mas, quando um homem reclama de um problema de gênero que afeta a homens, ele é logo rotulado como misógino e reclamão [10]. Quase toda diferença entre homens e mulheres é interpretada como uma forma de opressão das mulheres. Como em muitas coisas da vida, as diferenças de gênero são muitas vezes um caso de “a grama do vizinho é mais verde”; infelizmente, o dinheiro do contribuinte e da Google é gasto para regar apenas um lado do gramado.

A mesma compaixão por quem é visto como fraco cria o politicamente correto [11], que restringe o discurso e é complacente com autoritários politicamente corretos extremamente sensíveis que usam de violência e reprimendas para avançar a sua causa. Enquanto o Google não tem abrigado tais protestos esquerdistas violentos que estamos vendo em  universidades, as reprimendas frequentes nas reuniões informais de sexta-feira [TGIF, em que, por exemplo, a chefia partilha informações pessoais] e na nossa cultura criaram o mesmo ambiente psicologicamente inseguro de silêncio.

Sugestões
Espero que esteja claro que não estou dizendo que a diversidade é ruim, que a Google ou a sociedade são 100% justas, que não devemos tentar corrigir vieses existentes, ou que as minorias têm a mesma experiência que aqueles que estão na maioria. Meu ponto principal é que temos uma intolerância a ideias e evidências que não se encaixam numa certa ideologia. Também não estou dizendo que devemos restringir as pessoas a certos papéis de gênero; estou defendendo bem o contrário: tratemos as pessoas como indivíduos, não como apenas mais um membro de seu grupo (tribalismo).

Minhas sugestões concretas são:

Tirar o moralismo da diversidade
  • Assim que começamos a moralizar uma questão, paramos de pensar nela em termos de custos e benefícios, dispensamos qualquer um que discordar como imoral, e asperamente punimos aqueles que vemos como vilões para proteger as “vítimas”.

Parar de alienar os conservadores
  • A diversidade de pontos de vista é defensavelmente o mais importante tipo de diversidade, e a orientação política é uma das formas mais significativas e fundamentais pelas quais as pessoas divergem.
  • Em ambientes altamente progressistas, os conservadores são uma minoria que sente que deve ficar no armário para evitar a hostilidade aberta. Devemos encorajar aqueles que têm ideologias diferentes a se expressarem.
  • Marginalizar os conservadores é tanto algo não-inclusivo quanto geralmente ruim para os negócios, pois os conservadores tendem a ter mais conscienciosidade, que é necessária para muito do trabalho maçante e de manutenção que é característico de uma empresa madura.

Enfrentar os vieses da Google
  • Concentrei-me na maior parte em como nossos vieses turvam nosso pensamento sobre a diversidade e a inclusão, mas nossos vieses morais vão mais longe que isso.
  • Eu começaria por particionar os escores do Googlegeist por orientação política e personalidade para mostrar melhor como os nossos vieses estão afetando a nossa cultura.

Parar de restringir programas e aulas a certos gêneros ou raças
  • Essas práticas discriminatórias são tanto injustas quanto divisivas. Em vez disso, foco em algumas das práticas não-discriminatórias que delineei.

Ter uma discussão aberta e honesta sobre os custos e benefícios de nossos programas de diversidade.
  • Discriminar só para aumentar a representação das mulheres na tecnologia é tão enganoso e enviesado quanto exigir um aumento da representação das mulheres entre os sem-teto, entre as mortes relacionadas ao trabalho ou por violência, nas prisões e entre desistentes escolares.
  • Há atualmente muito pouca transparência sobre o tamanho dos nossos programas de diversidade, o que os deixa imunes a críticas daqueles que estão fora de sua bolha ideológica.
  • Esses programas são altamente politizados, o que aliena ainda mais os não-progressistas.
  • Estou ciente de que alguns dos nossos programas pode ser precauções contra acusações de discriminação vindo do governo, mas eles podem sair pela culatra pois incentivam discriminação ilegal.

Foco na segurança psicológica, não em diversidade de raça/gênero
  • Deveríamos nos focar em segurança psicológica, que tem mostrado efeitos positivos e não deveria (espera-se) levar à discriminação injusta.
  • Precisamos de segurança psicológica e de valores compartilhados para ganhar os benefícios da diversidade.
  • Ter pontos de vista representativos é importante para aqueles que estão projetando e testando nossos produtos, mas os benefícios são menos claros para aqueles mais afastados da experiência de usuário [UX].

Desenfatizar a empatia
  • Ouvi muitos chamados por mais empatia em questões de diversidade. Enquanto eu apoio firmemente a tentativa de entender como e por que as pessoas pensam da forma que pensam, contar com a empatia afetiva — sentir a dor do outro — faz com que nos foquemos em casos anedóticos, favoreçamos indivíduos similares a nós, e tenhamos outros vieses irracionais e perigosos. Ser emocionalmente desengajados nos ajuda a raciocinar melhor sobre os fatos.

Priorizar a intenção.
  • Nosso foco em microagressões e outras transgressões não intencionais aumenta nossa sensibilidade, o que não é universalmente positivo: a sensibilidade aumenta tanto nossa tendência a ficarmos ofendidos quanto nossa autocensura, levando a políticas autoritárias.
  • Expressar-se sem medo de ser cruelmente julgado é algo central na segurança psicológica, mas essas práticas podem retirar essa segurança ao julgar transgressões não propositais.
  • O treinamento sobre microagressões incorreta e perigosamente iguala a expressão à violência e não tem base em nenhuma evidência.

Abrir-se para a ciência da natureza humana
  • Uma vez que reconhecermos que nem todas as diferenças são construção social ou atribuíveis à discriminação, abriremos os olhos a uma visão mais precisa da condição humana, que é necessária se realmente queremos resolver problemas.

Reconsiderar a decisão de tornar o treinamento sobre viés inconsciente obrigatório para comitês de promoção
  • Não conseguimos medir até hoje qualquer efeito do nosso treinamento sobre viés inconsciente, e ele tem o risco de correção excessiva ou retaliação, especialmente se for obrigatório.
  • Alguns dos métodos sugeridos do treinamento atual (v2.3) são provavelmente úteis, mas o viés político da apresentação é claro pelas imprecisões factuais e os exemplos mostrados.
  • Passar mais tempo nos muitos tipos de vieses além dos estereótipos. Os estereótipos são muito mais precisos e adaptáveis a novas informações do que o treinamento sugere (não estou defendendo o uso de estereótipos, estou apenas apontando a imprecisão factual e o que é dito no treinamento).

[Notas]
[1] Este documento foi escrito na maior parte com a perspectiva do campus Mountain View da Google, não posso falar por outros escritórios ou países.

[2] Evidentemente, posso ser enviesado e apenas estar vendo evidências que apoiem meu ponto de vista. Em termos de vieses políticos, considero-me um liberal clássico e valorizo fortemente o individualismo e a razão. Eu ficaria feliz em discutir mais o documento e dar mais referências.

[3] Ao longo do documento, ao dizer “tecnologia” refiro-me principalmente à engenharia do software.

[4] Para relacionamentos românticos heterossexuais, homens são mais fortemente julgados pelo status e mulheres pela beleza. Mais uma vez, isso tem origens biológicas e é culturalmente universal.

[5] Stretch, BOLD, CSSI, Engineering Practicum (até certo ponto) e muitos outros programas internos e externos financiados pela Google são para pessoas com determinado gênero ou raça.

[6] Em vez disso, traçar metas [OKRs] do Googlegeist, potencialmente para certos grupos demográficos. Podemos aumentar a representação num nível organizacional fazendo dele um ambiente melhor para certos grupos (que seriam vistos em escores de enquetes) ou discriminar com base num status de proteção (que é ilegal, e eu já vi acontecendo). As OKRs de maior representação podem incentivar o último caso e criar batalhas de soma zero entre organizações.

[7] O comunismo prometeu ser superior ao capitalismo moral e economicamente, mas todas as tentativas se tornaram moralmente corruptas e um fracasso econômico. Como ficou claro que a classe trabalhadora das democracias liberais não queria derrubar seus “opressores capitalistas”, os intelectuais marxistas mudaram da luta de classes para política de gênero e raça. O cerne da dinâmica entre opressor e oprimido ficou, mas agora o opressor é o “patriarcado branco, hétero e cisgênero”.

[8] Ironicamente, os testes de QI foram inicialmente incentivados pela esquerda, quando a meritocracia significava ajudar as vítimas da aristocracia.

[9] Sim, num agregado nacional, as mulheres têm salários menores que os homens por uma variedade de motivos. No entanto, para o mesmo trabalho, as mulheres ganham o mesmo que os homens. Considerando que as mulheres gastam mais dinheiro que os  homens e que o salário representa a quantidade de sacrifício do empregado (por exemplo, mais horas, estresse e riscos), precisamos realmente repensar nossos estereótipos sobre o poder.

[10] “O sistema tradicionalista de gênero não lida bem com a ideia de os homens precisarem de apoio. Espera-se que os homens sejam fortes, que não reclamem, e que lidem com seus problemas sozinhos. Os problemas dos homens são mais frequentemente vistos como fracassos pessoais em vez de vitimização, devido à nossa ideia de agência baseada em gênero. Isso desencoraja os homens a chamar a atenção para seus problemas (tanto individuais como do grupo), por medo de serem vistos como reclamões ou fracos.”

[11] O politicamente correto é definido como “evitar formas de expressão ou ação que são percebidas como excludentes, marginalizadoras o ofensivas a grupos de pessoas que são socialmente desfavorecidas ou discriminadas”, o que deixa claro por que é um fenômeno da esquerda e uma ferramenta de autoritários.

 

***

N. do T.: Esta carta, escrita por um engenheiro de software experiente da Google, circulou internamente nas redes de funcionários da empresa até ser publicada pelo site Gizmodo. O site a publicou já a adjetivando pejorativamente. Até o momento, todas as publicações em português na imprensa tradicional e a maioria das publicações em inglês xingam o autor de machista, às vezes já nas manchetes. A incapacidade de separar notícia de opinião é assustadora e confirma os vieses discutidos pelo autor.

Tradução: Eli Vieira
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Algumas manchetes que saíram na mídia referentes a este caso:

"Che non men che saper dubbiar m'aggrada."
"E, não menos que saber, duvidar me agrada."

Dante, Inferno, XI, 93; cit. p/ Montaigne, Os ensaios, Uma seleção, I, XXV, p. 93; org. de M. A. Screech, trad. de Rosa Freire D'aguiar

Offline Skeptikós

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Re:Funcionário questiona politica de diversidade do Google
« Resposta #1 Online: 07 de Agosto de 2017, 22:19:11 »
Acho que o título que escolhi paro tópico foi o único que não foi sensacionalista nem distorceu a opinião do funcionário (comparado as manchetes que vi por ai).

O cara apenas discordou da política de diversidade da empresa, apresentando uma política alternativa. Ou seja, ele não é contra a diversidade ou a igualdade (pelo menos não de oportunidade).

Ele apenas defendeu que a disparidade de gênero em cargos técnicos e de liderança pode ocorrer em parte por diferenças genéticas, e não necessariamente por discriminação ou sexismo. Ou seja, ele não defendeu a redução de mulheres nestes cargos nem negou a existência do sexismo ou da discriminação.

No geral, mesmo que eu possa discordar em alguns pontos, a opinião dele parece sensata, e vocês, o que acham?

"Che non men che saper dubbiar m'aggrada."
"E, não menos que saber, duvidar me agrada."

Dante, Inferno, XI, 93; cit. p/ Montaigne, Os ensaios, Uma seleção, I, XXV, p. 93; org. de M. A. Screech, trad. de Rosa Freire D'aguiar

Offline AlienígenA

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Re:Funcionário questiona politica de diversidade do Google
« Resposta #2 Online: 07 de Agosto de 2017, 23:03:34 »
A julgar pelo sucesso eu diria que, seja lá qual for sua política interna, seu viés, aparentemente está funcionando muito bem para a empresa.  :hein:

Offline Skeptikós

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Re:Funcionário questiona politica de diversidade do Google
« Resposta #3 Online: 07 de Agosto de 2017, 23:20:29 »
A politica de diversidade questionada é nova, os efeitos positivos ou negativos podem demorar um pouco a surgir.
"Che non men che saper dubbiar m'aggrada."
"E, não menos que saber, duvidar me agrada."

Dante, Inferno, XI, 93; cit. p/ Montaigne, Os ensaios, Uma seleção, I, XXV, p. 93; org. de M. A. Screech, trad. de Rosa Freire D'aguiar

Offline AlienígenA

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Re:Funcionário questiona politica de diversidade do Google
« Resposta #4 Online: 08 de Agosto de 2017, 00:07:10 »
A politica de diversidade questionada é nova, os efeitos positivos ou negativos podem demorar um pouco a surgir.

Bom, acho provável que tal política tenha sido adotada mais por motivos estratégicos do que ideológicos, afinal, quem melhor do que o Google para medir as expectativas de sua clientela? Isso talvez tenha mais a dizer sobre o viés dominante no mundo do que na empresa.  :hein:

Offline Skeptikós

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Re:Funcionário questiona politica de diversidade do Google
« Resposta #5 Online: 08 de Agosto de 2017, 03:57:37 »
Por essa eu não esperava:

Google demite funcionário após polêmica sobre falta de chefe mulher. Folha de S. Paulo

Acho que no final das contas o cara tinha razão ao menos sobre uma coisa: existe de fato uma ditadura de opinião no Google, pois aqueles que discordam da ideologia dominante não são livres para se manifestarem. O manifesto dele é super sensato e equilibrado, mesmo que se discorde do mesmo, peecebe-se que ele não é agressivo, que o tom é de debate, não de ataque. Fiquei chocado com a decisão do Google de demitir o funcionário que em nenhum momento fez ataques ou faltou com decoro em seu manifesto.
"Che non men che saper dubbiar m'aggrada."
"E, não menos que saber, duvidar me agrada."

Dante, Inferno, XI, 93; cit. p/ Montaigne, Os ensaios, Uma seleção, I, XXV, p. 93; org. de M. A. Screech, trad. de Rosa Freire D'aguiar

Offline Skeptikós

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Re:Funcionário questiona politica de diversidade do Google
« Resposta #6 Online: 08 de Agosto de 2017, 04:05:49 »
A politica de diversidade questionada é nova, os efeitos positivos ou negativos podem demorar um pouco a surgir.

Bom, acho provável que tal política tenha sido adotada mais por motivos estratégicos do que ideológicos, afinal, quem melhor do que o Google para medir as expectativas de sua clientela? Isso talvez tenha mais a dizer sobre o viés dominante no mundo do que na empresa.  :hein:
A estratégia é motivada por ideologia. Este tipo de ideologia é atualmente dominante no mundo. Ações afirmativas são usadas em instituições privadas e públicas. No entanto não é uma unanimidade, existe divergênciao (Thomas Sowell é um dos exemplos de crítico conceituado das ações afirmativas). O problema é que, como você pode ver, as vozes divergentes são silenciadas (como no caso do engenheiro, que foi demitido após sua opinião se tornar de conhecimento público).
"Che non men che saper dubbiar m'aggrada."
"E, não menos que saber, duvidar me agrada."

Dante, Inferno, XI, 93; cit. p/ Montaigne, Os ensaios, Uma seleção, I, XXV, p. 93; org. de M. A. Screech, trad. de Rosa Freire D'aguiar

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Funcionário questiona politica de diversidade do Google
« Resposta #7 Online: 08 de Agosto de 2017, 08:27:22 »
Ele apenas defendeu que a disparidade de gênero em cargos técnicos e de liderança pode ocorrer em parte por diferenças genéticas, e não necessariamente por discriminação ou sexismo. Ou seja, ele não defendeu a redução de mulheres nestes cargos nem negou a existência do sexismo ou da discriminação.

Eu acho curiosa e difícil de entender essa aposta na significância dessa hipótese causal última para a coisa, em vez de apenas expor o aspecto cultural que deve ser predominante, mesmo que haja também algum fator genético.

Na melhor das hipóteses, seria algo real, mas irrelevante, já que o que realmente importa seria o resultado mais tardio disso, qualquer que seja sua causa última. E deve ser algo com o que qualquer um pode concordar, independentemente de orientação ideológica ou status de confirmação científica da hipótese.

Ao mesmo tempo, por maior que seja o grau de confirmação que se conceba poder obter disso, ainda terá que admitir a realidade de que sempre que se retrocede um pouco no tempo, tempo insuficiente para qualquer mudança em termos genéticos, vai se encontrar diferentes freqüências desses "fenótipos", talvez na maior parte do tempo se aproximando mais do que seriam as supostas freqüências "genéticamente verdadeiras" dos fenótipos na população, com menos mulheres em áreas "masculinas", com menos não-brancos em áreas majoritariamente ocupadas por brancos. É uma significativa "margem de erro", produzida por outros fatores, argumentavelmente mais relevantes que a suposta causa última.

Uma hipótese genética "forte", que seria menos irrelevante, está a toda geração tendo que conceder que o que se observava ainda não era ainda o "verdadeiro fenótipo", e sempre reafirmando que "agora sim, chegamos nele, e só vamos estabilizar ou retroceder a outros índices históricos, finalmente não tem nada dessas coisas de '''fatores sociais''', '''construtos''' ou qualquer '''influência do meio''', não há mais nada a questionar; agora sim, é como discutir que tipo de obstáculos sociais e preconceitos existem para impedir que mais pessoas tenham olhos azuis".


Ironicamente então, insistir nessa hipótese apenas serve para ajudar a embasar as argumentações que inflam o papel de preconceitos e discriminações indevidas reduzindo o número de mulheres ou outros grupos não-majoritários-não-masculinos-hétero-brancos em alguma área.

Os fatos concretos são diferentes interesses culturais de gênero. Abandonando a parte mais hipotética sobre suas origens últimas, se tem menor fragilidade na argumentação, além de não ter se perdido nada importante. É ainda perfeitamente possível questionar a idéia de que discriminações injustas sejam a explicação predominante para explicar disparidades de presença. E, dentro dos fatos, ainda se tem inclusive essa própria ideologia mimimizista politicamente correta como fator, numa espécie de "auto-sabotagem", ao cultivarem hipersensibilidade* e enfraquecerem a resiliência, reduzindo a aptidão dos seus "adeptos" e ajudando a reforçar os preconceitos que motivam a discriminação factual.


Tenho a impressão disso ser bastante raro, essa linha de argumentação (contrária ao argumento de injustiça) que se abstém de teorizar causas últimas genéticas.


* Me refiro a coisas como o caso em que uma mulher em alguma palestra ouviu homens fazendo qualquer piada com "dong", termo referente a "plugs machos" de hardware e também termo informal ao mesmo hardware biológico, os filmou e/ou postou qualquer coisa no twitter, nas linhas de "sexismo rampante na indústria", e acabaram todos demitidos -- ela também.






Escrevo esses posts e fico com a impressão de que dava para ter usado só umas três frases para dizer tudo de forma mais concisa, sem perder nada relevante... :/

Offline AlienígenA

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Re:Funcionário questiona politica de diversidade do Google
« Resposta #8 Online: 08 de Agosto de 2017, 09:25:09 »
Por essa eu não esperava:

Google demite funcionário após polêmica sobre falta de chefe mulher. Folha de S. Paulo

Acho que no final das contas o cara tinha razão ao menos sobre uma coisa: existe de fato uma ditadura de opinião no Google, pois aqueles que discordam da ideologia dominante não são livres para se manifestarem. O manifesto dele é super sensato e equilibrado, mesmo que se discorde do mesmo, peecebe-se que ele não é agressivo, que o tom é de debate, não de ataque. Fiquei chocado com a decisão do Google de demitir o funcionário que em nenhum momento fez ataques ou faltou com decoro em seu manifesto.

Eu esperava. Ontem quando li aqui a notícia foi a primeira coisa que pensei. Empresas não tem ideologia, tem uma demanda a atender. E desse ponto de vista, o manifesto dele é tudo, menos sensato e equilibrado - transparece o discurso de um funcionário insatisfeito que não se adequa à política da empresa, ou pior, à política do consumidor. Infelizmente, é como as coisas funcionam: ou nos adequamos ou somos eliminados. Isso vale tanto para empregados quanto para empresas, principalmente para essas. A ditadura da opinião comanda o mercado. A oferta obedece à demanda. Foi assim no passado quando a ideologia era outra, é assim no presente e será no futuro, independente da ideologia predominante. A liberdade de opinião é uma cilada. Não culpe o Google, culpe o mundo. 

A politica de diversidade questionada é nova, os efeitos positivos ou negativos podem demorar um pouco a surgir.

Bom, acho provável que tal política tenha sido adotada mais por motivos estratégicos do que ideológicos, afinal, quem melhor do que o Google para medir as expectativas de sua clientela? Isso talvez tenha mais a dizer sobre o viés dominante no mundo do que na empresa.  :hein:

A estratégia é motivada por ideologia. Este tipo de ideologia é atualmente dominante no mundo. Ações afirmativas são usadas em instituições privadas e públicas. No entanto não é uma unanimidade, existe divergênciao (Thomas Sowell é um dos exemplos de crítico conceituado das ações afirmativas). O problema é que, como você pode ver, as vozes divergentes são silenciadas (como no caso do engenheiro, que foi demitido após sua opinião se tornar de conhecimento público).

Sim, com certeza, uma estratégia motivada pela ideologia predominante. O objetivo da empresa é o lucro. Do seu ponto de vista provavelmente é um investimento na imagem, assim como "empresas amigas do planeta". Nesse caso, o funcionário se tornou um problema e problemas precisam ser eliminados. Num passado não muito distante, quando a ideologia era outra, adotar essa política, provavelmente levaria a empresa à falência. Hoje, não adotar é que pode ser fatal. Minha avó foi empresária numa época difícil para mulheres empreenderem e nunca teve uma funcionária em funções estratégicas, não por ideologia, já que a vida a obrigou a ser uma feminista (se divorciou numa época em que isso era um escândalo e precisou se virar), nem por falta de mão de obra, segundo ela própria, mas devido a ideologia predominante na época. Vozes divergentes sempre são silenciadas pela ideologia predominante até o dia em que, enfim, se tornam dominantes.

Thomas Sowell talvez esteja em melhores condições de exercer sua liberdade de opinião sem maiores consequências do que a maioria de nós. É preciso medir as consequências. O preço da liberdade de expressão pode ser, quase sempre é, alto.

Voltando ao discurso do funcionário, basicamente o que leio é mimimi o mundo não é legal, mimimi eu não me adequo ao mundo, mimimi quero mudar o mundo. Antes, contudo, ele vai ter que arrumar um novo emprego ou quem sabe empreender e finalmente, compreender o ponto de vista da empresa. O mercado pouco se importa com as diferenças biológicas de homens, mulheres, brancos ou coloridos - eles que tratem de se adequar. E é o que estamos fazendo. Há cem anos mulheres e negros seriam provavelmente considerados incapazes biologicamente de ocuparem a maioria dos cargos que ocupam hoje. Imagina se um negro teria condições biológicas de ser presidente dos EUA na mentalidade dos EUA de cem anos atrás, por exemplo. Eu tenho sinceras dúvidas de que as tais diferenças biológicas são um empecilho. Tenho mais fé no poder do mercado, ele supera tudo, dependendo só da demanda.

Offline Skeptikós

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Re:Funcionário questiona politica de diversidade do Google
« Resposta #9 Online: 08 de Agosto de 2017, 12:42:58 »
Concordo com boa parte do que vocês disseram, mas discordo da crítica que fizeram sobre o argumento do engenheiro sobre os fatores biológicos. Ele apenas defendeu que, com a existência destes fatores, uma igualdade plena nunca seria alcançada (mesmo que toda discriminação seja eliminada). Você nunca verá a engenharia ou a enfermagem dividida ao meio em relação a homens e mulheres, o que é preciso é oferecer igualdade de oportunidades, não de ocupação dos cargos (ignorando completamente os fatores biológicos e demais fatores complexos que influenciam no resultado final)

Se vocês não assistiram ao documentário norueguês sobre o paradoxo da igualdade seria uma boa oportunidade para faze-lo. Ele crítica premissas de cientistas sociais que colocam a influência social como predominante (muitas vezes ignorando por completo a biologia), e demonstra o impacto da biologia nas escolhas e preferências das pessoas (algumas das conclusões vão de encontro as idéias do engenheiro apresentadas no memorando):

"Che non men che saper dubbiar m'aggrada."
"E, não menos que saber, duvidar me agrada."

Dante, Inferno, XI, 93; cit. p/ Montaigne, Os ensaios, Uma seleção, I, XXV, p. 93; org. de M. A. Screech, trad. de Rosa Freire D'aguiar

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Re:Funcionário questiona politica de diversidade do Google
« Resposta #10 Online: 08 de Agosto de 2017, 14:19:49 »
Sempre que eu vejo esse documentário postado por aí, recomendo a apresentação de Spelke no debate contra Pinker sobre essas questões, além de acrescentar coisas como o aspecto da pesquisa psicologica ser desproporcionalmente feita com pessoas WEIRD (Western, Educated, Industrialised, Rich, and Democratic) e mesmo vieses de pesquisadores enxergarem traços culturais próprios na análise do comportamento animal (elefantes de índole japonesa ou americana) -- na linha de pesquisa sobre divergências sexuais temos o curioso caso de terem "descoberto" que macaquinhas fẽmeas gostariam até mais de brincar com fogõezinhos e panelinhas de brinquedo.

O que Spelke expõe de mais relevante nisso é que as pessoas, mesmo liberais/esquerdistas tendem a interpretar bebês de maneira estereotipada de acordo com o sexo suposto. Um mesmo bebê, fazendo a mesma coisa, será adjetivado de maneira diferente, até quase antônima (menina triste, menino bravo), se é dito ser menino ou menina. Isso é algo que inevitavelmente irá influenciar tanto na criação (mesmo por pais não-sexistas), quanto até mesmo na pesquisa referenciada em documentários como esse, se não houver cuidados para se precaver disso (duplo cego e coisas do tipo).

Isso reforça, junto com as mudanças históricas na direção contrária, a irrelevância de uma hipotética raiz genética das diferenças.

Você pode perfeitamente sustentar que é tremendamente equivocado tentar forçar proporções iguais de ocupações de qualquer grupo demográfico em qualquer área que seja (em vez de apenas dar oportunidades iguais), sem especular que as diferentes fraqüências seriam um "verdadeiro fenótipo genético". É algo que apenas enfraquece a argumentação, que reforça o argumento adversário sobre a importância de preconceitos motivando discriminação injusta.


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Re:Funcionário questiona politica de diversidade do Google
« Resposta #11 Online: 08 de Agosto de 2017, 15:21:20 »
Então você argumenta que bebês de 9 meses já podem estar sob a influência do ambiente social no qual está inserido no momento em que escolhem brinquedos de meninos ao invés de meninas? E quanto as diferenças cerebrais observadas universalmente, isso não indicaria no mínimo uma predisposição genética? E quanto a observação de que em países mais livres, desenvolvidos e igualitários (como os países nórdicos em comparação a países como índia e Paquistão) a diferença entre os sexos na hora de escolher uma profissão tende a se intensificar ao invés de diminuir, ao contrário do que postula os cientistas sociais (que evidentemente neste caso estariam ignorando as evidências)? No documentário me pareceu convincente a explicação de que quando somos mais livres para escolher, nossas predisposições inatas se tornam mais influente, suplantando as limitações ou imposições sociais (sem extingui-las, evidentemente). Sei lá, só acho que, de fato, parte da diferença (mas não toda ela) pode sim ser atribuída a fatores genéticos, e é isso que este documentário e o engenheiro da Google defenderam, por isso achei absurdo a forma como o argumento do engenheiro foi tratado, como se ele tivesse defendido um determinismo genético e/ou menosprezado a capacidade das mulheres (coisas que ele não fez). Mas a demissão do funcionário pelo Google e a forma como seu manifesto foi interpretado pela mídia ao menos passou essa impressão.
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Re:Funcionário questiona politica de diversidade do Google
« Resposta #12 Online: 08 de Agosto de 2017, 15:27:49 »
Mas vamos supor que o engenheiro esteja completamente equivocado em suas suposições, devemos concordar que ele fez um manifesto num tom que convida ao debate. Ele faz sugestões de mudança e pede abertura e tolerância para pontos de vista discordantes, e em todo o texto, ele é educado e sensato em suas opiniões. Não acham que sua intenção foi distorcida pela mídia e pela empresa que o demitiu (já que tratam seu manifesto não como um convite ao debate e abertura a opiniões divergentes, e sim, como um ataque machista a diversidade)?
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Re:Funcionário questiona politica de diversidade do Google
« Resposta #13 Online: 08 de Agosto de 2017, 16:36:11 »
Então você argumenta que bebês de 9 meses já podem estar sob a influência do ambiente social no qual está inserido no momento em que escolhem brinquedos de meninos ao invés de meninas?

Tirando bebês que tenham sido tratados apenas em laboratório por cuidadores que nunca fossem informados de seus sexos, sim. Eles são tratados de maneira diferente.

Citar
http://pediatrics.aappublications.org/content/early/2014/10/29/peds.2013-4289?sid=72eeac58-1f40-4268-bc17-0e2b3ea19766
...
 Mothers responded preferentially to girls versus boys at birth (P = .04) and 44 weeks PMA (P = .0003) with a trend at 7 months (P = .15), and there were trends for fathers to respond preferentially to boys at 44 weeks PMA (P = .10) and 7 months (P = .15).
...

Citar
http://www.jstor.org/stable/1128775?seq=1#page_scan_tab_contents

Abstract

Mothers of 32 firstborn infants aged 5-10 months were videotaped playing with a 6-month-old "actor baby." 2 female infants and 2 males appeared equally often as actor babies in sex-appropriate and cross-sex clothes and names. Sex-typed and sex-neutral toys were available. Initial toy choice varied with perceived sex of infant. Perceived boys were verbally encouraged to gross motor activity more often than perceived girls, but there were no significant differences in overall physical stimulation. However, mothers responded to the gross motor behavior of perceived boys with gross motor activity significantly more often. Results suggest early socialization in the direction of a masculine stereotype of activity and physical prowess.

Ainda tem diferenças de avaliação dos pais sobre qual inclinação os bebês de diferentes sexos (próprios filhos) conseguem subir, com as pessoas subestimando a capacidade das meninas.




Citar
E quanto as diferenças cerebrais observadas universalmente, isso não indicaria no mínimo uma predisposição genética?

Eu não nego diferenças cerebrais, que podem até ter em parte origem genética. Elas não são contudo totalmente genéticas (os cérebros das pessoas se modificam no decorrer de sua carreira profissional, por treinamento), e podem mesmo assim ser menores do que alguns estudos estimam:

Citar
http://www.sciencemag.org/news/2015/11/brains-men-and-women-aren-t-really-different-study-finds

...
The majority of the brains were a mosaic of male and female structures, the team reports online today in the Proceedings of the National Academy of Sciences. Depending on whether the researchers looked at gray matter, white matter, or the diffusion tensor imaging data, between 23% and 53% of brains contained a mix of regions that fell on the male-end and female-end of the spectrum. Very few of the brains—between 0% and 8%—contained all male or all female structures. “There is no one type of male brain or female brain,” Joel says.
...



Citar
E quanto a observação de que em países mais livres, desenvolvidos e igualitários (como os países nórdicos em comparação a países como índia e Paquistão) a diferença entre os sexos na hora de escolher uma profissão tende a se intensificar ao invés de diminuir, ao contrário do que postula os cientistas sociais (que evidentemente neste caso estariam ignorando as evidências)?

Eu não sei o quanto tal "observação" é correta, apenas penso que não é algo que seja informativo direto da genética, da mesma forma que não são variações históricas e geográficas em "feminilidade" e "masculinidade". Em países mais desenvolvidos, deve haver oportunidade um desvio de ambos os sexos para mais atividades "femininas", ou "leves", e nos subdesenvolvidos, masculinas, "duras". Há até mesmo diferença no que é considerado atraente numa mulher, uma preferência a menor feminilidade, supostamente por sugerir maior aptidão em trabalho duro.



Hehehe



880 - 1580 - ALGO DE MUITO ERRADO ACONTECEU




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No documentário me pareceu convincente a explicação de que quando somos mais livres para escolher, nossas predisposições inatas se tornam mais influente, suplantando as limitações ou imposições sociais (sem extingui-las, evidentemente). Sei lá, só acho que, de fato, parte da diferença (mas não toda ela) pode sim ser atribuída a fatores genéticos, e é isso que este documentário e o engenheiro da Google defenderam, por isso achei absurdo a forma como o argumento do engenheiro foi tratado, como se ele tivesse defendido um determinismo genético e/ou menosprezado a capacidade das mulheres (coisas que ele não fez). Mas a demissão do funcionário pelo Google e a forma como seu manifesto foi interpretado pela mídia ao menos passou essa impressão.

Eu não nego que possa haver "diferenças genéticas", apenas acho que esse ponto é desprezível para a crítica a políticas equivocadas, uma fragilidade, por ter equívocos e incógnitas ele mesmo. Quando se observa padrões inversos do esperado pelo determinismo genético pela vaga e praticamente irrefutável "influência genética", o que se tem então? Aberrações genéticas, ou é apenas um espaço fenotípico possível dentro da variação genética normal, reduzindo então a importância de qualquer influência genética?



Mas, "passando os olhos por cima" de tudo, as manchetes também me pareceram exageradas para o que parece que ele colocou, algo mais "light" do que por James Watson sobre negros (e mulheres), talvez até mesmo que Larry Summers. Por isso meu ponto inicial era apenas sobre a insistência nessa hipótese de grande peso da genética na questão, que, como se observa, ajuda mais a desqualificar do que a promover o argumento de que disparidades não se devem primordiamente a discriminação injusta.


Talvez haja uma propensão genética masculina a preferir uma argumentação mais "completa", mesmo que incluindo pontos que são fracos tanto sob o aspecto empírico quanto dialético. Talvez seja uma faceta intelectual do compotamento guerreiro, levar mais armas. Enquanto as manchetes revelam a mais subreptícia estratégia feminina para matar, através do veneno.

Offline Skeptikós

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Re:Funcionário questiona politica de diversidade do Google
« Resposta #14 Online: 08 de Agosto de 2017, 18:06:26 »
Tirando bebês que tenham sido tratados apenas em laboratório por cuidadores que nunca fossem informados de seus sexos, sim. Eles são tratados de maneira diferente.

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http://pediatrics.aappublications.org/content/early/2014/10/29/peds.2013-4289?sid=72eeac58-1f40-4268-bc17-0e2b3ea19766
...
 Mothers responded preferentially to girls versus boys at birth (P = .04) and 44 weeks PMA (P = .0003) with a trend at 7 months (P = .15), and there were trends for fathers to respond preferentially to boys at 44 weeks PMA (P = .10) and 7 months (P = .15).
...

Citar
http://www.jstor.org/stable/1128775?seq=1#page_scan_tab_contents

Abstract

Mothers of 32 firstborn infants aged 5-10 months were videotaped playing with a 6-month-old "actor baby." 2 female infants and 2 males appeared equally often as actor babies in sex-appropriate and cross-sex clothes and names. Sex-typed and sex-neutral toys were available. Initial toy choice varied with perceived sex of infant. Perceived boys were verbally encouraged to gross motor activity more often than perceived girls, but there were no significant differences in overall physical stimulation. However, mothers responded to the gross motor behavior of perceived boys with gross motor activity significantly more often. Results suggest early socialization in the direction of a masculine stereotype of activity and physical prowess.

Citar
http://www.sciencemag.org/news/2015/11/brains-men-and-women-aren-t-really-different-study-finds

...
The majority of the brains were a mosaic of male and female structures, the team reports online today in the Proceedings of the National Academy of Sciences. Depending on whether the researchers looked at gray matter, white matter, or the diffusion tensor imaging data, between 23% and 53% of brains contained a mix of regions that fell on the male-end and female-end of the spectrum. Very few of the brains—between 0% and 8%—contained all male or all female structures. “There is no one type of male brain or female brain,” Joel says.
...


Citação de: Larry Cahill, Ph.D.
(...)

The presence of biological limits to plasticity-and hence the presence of limits to how much experiences can affect the brain-is perhaps made most clear in elegant studies by J. Richard Udry. In his important but underappreciated paper entitled "Biological Limits of Gender Construction," Udry examines the interaction between two factors-how much a mother encouraged her daughter to behave in "feminine" ways, and how much the daughter had been exposed to masculinizing hormonal influences in the womb-on how "feminine" the daughter behaved when she was older.31 The figure below illustrates the key findings.

The graph illustrates that, indeed, the more mothers encouraged "femininity" in their daughters, the more feminine the daughters behaved as adults, but only in those daughters exposed to little masculinizing hormone in utero. Crucially, the greater the exposure to masculinizing hormonal effects in utero (the progressively lower lines), the less effective was the mother's encouragement, to the point where encouragement either did not work at all (line with squares) or even tended toward producing the opposite effect on the daughters' behavior (line with diamonds).
All those wishing to understand sex influences on the human brain need to fully grasp the implications of the animal literature, and then think about the Udry data, which captures an incontrovertible fact from brain science: Yes, brains are plastic, but only within the limits set by biology. It is decidedly not the case that environmental experience can turn anything into anything, and equally easily, in the brain. The specious plasticity argument invoked by anti-sex difference authors appears to be just a modern incarnation of the long-debunked "blank slate" view of human brain function, the idea that all people's brains start out as blank slates, thus are equally moldable to become anything through experience.

(...)

Larry Cahill, Ph.D., Equal ≠ The Same: Sex Differences in the Human Brain
Nem eu ou você nega a influência sociocultural ou biológica, eu apenas concordei com o engenheiro do Google que estudos apontam que as diferenças comportamentais de homens e mulheres (incluindo suas escolhas por certas profissões) podem ser explicadas em parte por fatores biológicos. Nem ele nem eu negamos a existência de discriminação de gênero ou sexismo no mercado de trabalho, apenas salientamos que nem toda disparidade de gênero observadas em algumas profissões implicam em sexismo e discriminação de gênero por parte do empregador ou dos colegas de trabalho.

Eu não nego que possa haver "diferenças genéticas", apenas acho que esse ponto é desprezível para a crítica a políticas equivocadas, uma fragilidade, por ter equívocos e incógnitas ele mesmo. Quando se observa padrões inversos do esperado pelo determinismo genético pela vaga e praticamente irrefutável "influência genética", o que se tem então? Aberrações genéticas, ou é apenas um espaço fenotípico possível dentro da variação genética normal, reduzindo então a importância de qualquer influência genética?
Acho que sua crítica seria desprezível se estivesse completamente equivocada, mas não está, já que em nenhum momento ele afirma que a genética ou a biologia é a resposta para todo o fenômeno, e sim, que ela pode explicar parte do fenômeno. E na média, pelo que já li e vi, os argumentos de ambos os lados (aqueles que defendem a influência sociocultural e aqueles que defendem a influência genética) no mínimo se anulam, quando tentam ser deterministas  ou quando concordam que ambos os fatores causam influencia mais discordam sobre qual deles é mais prevalente. Se a politica de diversidade da empresa está pautada em argumentos que podem ser anulados por argumentos de igual poder de convencimento mas em sentido contrário, o argumento do engenheiro se torna relevante sim (pelo menos em mostrar que a ideia dominante não é irrefutável ou uma unanimidade dentro da comunidade cientifica).


Mas, "passando os olhos por cima" de tudo, as manchetes também me pareceram exageradas para o que parece que ele colocou, algo mais "light" do que por James Watson sobre negros (e mulheres), talvez até mesmo que Larry Summers. Por isso meu ponto inicial era apenas sobre a insistência nessa hipótese de grande peso da genética na questão, que, como se observa, ajuda mais a desqualificar do que a promover o argumento de que disparidades não se devem primordiamente a discriminação injusta.
Não tenho certeza se ele deu grande peso, já que ele deixa claro em vários momentos que parte do fenômeno pode ser explicado pela biologia, mas não ele todo. Mas se você acha que o peso foi indevido, que linha argumentativa você acha que teria sido mais eficiente em criticar a politica de diversidade da empresa?

É bom lembrar que ele também fala sobre liberdade de expressão e em como pontos de vista divergentes são penalizados pela ideologia dominante na empresa. O que você acha sobre essa parte do memorando (visto que ele de fato foi demitido por manifestar sua opinião divergente)?
« Última modificação: 08 de Agosto de 2017, 18:10:58 por Skeptikós »
"Che non men che saper dubbiar m'aggrada."
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Dante, Inferno, XI, 93; cit. p/ Montaigne, Os ensaios, Uma seleção, I, XXV, p. 93; org. de M. A. Screech, trad. de Rosa Freire D'aguiar

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Re:Funcionário questiona politica de diversidade do Google
« Resposta #15 Online: 08 de Agosto de 2017, 18:36:07 »
Eu ainda não li os textos, só tive a impressão de ser algo mais "light", também não sei qual é exatamente a "política de diversidade" da empresa.

Acho que você pode criticar tentativas "forçadas" de inclusão de diversidade, quando forem realmente prejudiciais, até mesmo considerando a hipótese (por mais esdrúxula que se possa imaginar ser) de que o determinismo biológico verdadeiro fosse o contrário do padrão tradicionalmente defendido (por seus defensores).

Isso dependerá das políticas serem realmente mais prejudiciais do que benéficas, o que não sei se é necessariamente o caso com o Google. Acho que é algo pior ou mais relevante em crítica quando é ordenado pelo estado. Sendo iniciativa privada, ela que incorre mais isoladamente nos riscos, e talvez possa se dar mesmo de forma que não haja exatamente uma discriminação injusta no sentido oposto do que se tenta compensar.

E deve poder ser ilustrado com coisas como "cotas de torneiro mecânico para cozinheiro", "cotas de jogador de ping-pong para time de futebol", "cotas de punk-roqueiros para compositores de samba-enredo", etc. Coisas que geralmente não se julga terem bases biológicas significativas, mas nas quais contudo há diferenças cultivadas de habilidade; mesmo que pessoas de diferentes históricos tenham gosto e "talento" para outra atividade, estas estarão sempre em desvantagem numérica até de habilidade se comparadas àqueles que sempre tiverem foco exclusivo nessa atividade.

Offline Skeptikós

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Re:Funcionário questiona politica de diversidade do Google
« Resposta #16 Online: 08 de Agosto de 2017, 18:55:43 »
Eu ainda não li os textos, só tive a impressão de ser algo mais "light", também não sei qual é exatamente a "política de diversidade" da empresa.
Acho que você pode criticar tentativas "forçadas" de inclusão de diversidade, quando forem realmente prejudiciais, até mesmo considerando a hipótese (por mais esdrúxula que se possa imaginar ser) de que o determinismo biológico verdadeiro fosse o contrário do padrão tradicionalmente defendido (por seus defensores).
Ele critica por exemplo os treinamento de sensibilidade para grupos específicos de funcionários (tipo, homens brancos e héteros recebem treinamentos de sensibilidade, mas mulheres negras e lésbicas não), já que ele questiona as premissas que justificariam estes treinamentos e argumento que este tipo de tratamento que discrimina seus participantes por gênero, orientação sexual e grupos étnicos pode mais aumentar do que diminuir as tensões raciais e de gênero no ambiente de trabalho.

Isso dependerá das políticas serem realmente mais prejudiciais do que benéficas, o que não sei se é necessariamente o caso com o Google. Acho que é algo pior ou mais relevante em crítica quando é ordenado pelo estado. Sendo iniciativa privada, ela que incorre mais isoladamente nos riscos, e talvez possa se dar mesmo de forma que não haja exatamente uma discriminação injusta no sentido oposto do que se tenta compensar.
Eu concordo, no entanto, a minha crítica maior é no sentido da empresa se apresentar como defensora da diversidade mas punir seus funcionários que apresentam opinião divergente daquela adotada pela empresa. O cara pode estar errado, ou a empresa pode estar no direito de definir suas regras e os funcionários no dever de segui-las. Mas quando o comportamento da empresa é contraditório em relação aos próprios valores que defende, isso deixa tudo mais confuso.
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Re:Funcionário questiona politica de diversidade do Google
« Resposta #17 Online: 08 de Agosto de 2017, 19:11:27 »
Não vejo problema no treinamento ser focado no grupo que seria o maior infrator, o problema mesmo é que deve ser nula a efetividade de tais programas, tem muito pouco de confirmação científica nisso. É geralmente área dominada por "palpiteiros" que conseguem se vender como especialistas.

No Penn & Teller BS eles fizeram uma entrevista com um que inclusive tinha como metodologia de trabalho reforçar os preconceitos raciais/étnicos, "conscientizando" os brancos de que os negros e os latinos são mais sociais e descontraídos que os brancos, anal-retentivos e super-rígidos, que só pensam em enriquecer e não dão valor à família e amigos.

Também achei besteira o google demitir o cara, pelo pouco que vi, apesar de não ser exatamente incoerente numa defesa da diversidade, se a diversidade no caso é uma posição meio "anti-diversidade" (o paradoxo da tolerância). Mas, como não parece ser um "manifesto contra genocídio masculino politicamente correto opressor -- um chamado para os verdadeiros homens retomarem seu devido lugar na sociedade", acho desmedida uma demissão. E outro problema é que autores de algo com esse título também reforçarão seu discurso em episódios como esse.

Recentemente teve um caso de uma hóspede do AirBNB ser condenada a fazer aulas sobre cultura dos imigrantes asiáticos, como pena por ter se recusado a hospedar uma mulher asiática (com quem já tinha sido acordado isso), justificando isso pelo fato dela ser asiática (e logo sovina, aproveitadora -- e também dizendo "elegemos Trump por isso", ou algo assim :hehe: ), acho que algo mais por essa linha acabaria sendo mais positivo. Talvez conseguissem bolar algum tipo de experiência que o "convertesse" em algum grau, amenizando sua posição ou dando um spin mais compatível com o politicamente correto. Não teve muito tempo que um dos fundadores de um dos maiores sites neonazistas também alegadamente largou mão disso tudo, em função de maior contato com judeus e outros tipos.

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Re:Funcionário questiona politica de diversidade do Google
« Resposta #18 Online: 08 de Agosto de 2017, 19:30:12 »
Pois é, concordo com você. Eles deveriam ter feito a ele um convite ao debate ou outra coisa (como você sugeriu) e tentado convence-lo de que estava errado. Por ter demitido o cara, isso com certeza vai ser usado como exemplo de intolerância pelos mais diversos grupos críticos destas políticas, dos mais moderados aos mais extremistas.
"Che non men che saper dubbiar m'aggrada."
"E, não menos que saber, duvidar me agrada."

Dante, Inferno, XI, 93; cit. p/ Montaigne, Os ensaios, Uma seleção, I, XXV, p. 93; org. de M. A. Screech, trad. de Rosa Freire D'aguiar

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Re:Funcionário questiona politica de diversidade do Google
« Resposta #19 Online: 09 de Agosto de 2017, 00:55:16 »
Concordo com boa parte do que vocês disseram, mas discordo da crítica que fizeram sobre o argumento do engenheiro sobre os fatores biológicos. Ele apenas defendeu que, com a existência destes fatores, uma igualdade plena nunca seria alcançada (mesmo que toda discriminação seja eliminada). Você nunca verá a engenharia ou a enfermagem dividida ao meio em relação a homens e mulheres, o que é preciso é oferecer igualdade de oportunidades, não de ocupação dos cargos (ignorando completamente os fatores biológicos e demais fatores complexos que influenciam no resultado final)

Eu nem entrei no mérito porque, sinceramente, sequer me atrevo a chutar quais seriam as diferenças fundamentais, para além das diferenças reprodutivas, quais as características tipicamente masculinas/femininas, isolando, se isso fosse possível, a influência do meio. Apenas suponho que as diferenças reprodutivas devam levar a diferenças comportamentais, mas sem muita convicção de que seria algo fixo, independente da condições. Para mim tudo isso é muito nebuloso, prefiro continuar apenas assistindo, comendo minha pipoca.

Mas vamos supor que o engenheiro esteja completamente equivocado em suas suposições, devemos concordar que ele fez um manifesto num tom que convida ao debate. Ele faz sugestões de mudança e pede abertura e tolerância para pontos de vista discordantes, e em todo o texto, ele é educado e sensato em suas opiniões. Não acham que sua intenção foi distorcida pela mídia e pela empresa que o demitiu (já que tratam seu manifesto não como um convite ao debate e abertura a opiniões divergentes, e sim, como um ataque machista a diversidade)?

O que eu li nas entrelinhas foi o de um desabafo de um funcionário insatisfeito com a política da empresa travestido de alerta para as possíveis consequências nefastas dessa política. Péssima estratégia. Melhor talvez que ele tivesse apenas exposto sinceramente suas frustrações, sem essa presunção mal disfarçada. Mas é só minha opinião. É um assunto muito espinhoso para tratar dessa forma.

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Re:Funcionário questiona politica de diversidade do Google
« Resposta #20 Online: 09 de Agosto de 2017, 01:10:24 »
Sim, é um desabafo que profetiza consequências negativas. Mas tudo feito de forma educada e sensata. Quase todas as suas afirmações evitam generalizações e não são feitas de maneira absoluta ("pode ser" ao invés "é" é o que ele usa antes de quase todas as suas afirmações). Ele defende a diversidade (inclusive a de opinião) e deixa claro que sua intenção não é negar a existência de sexismo e discriminação de gênero no ambiente de trabalho. Ele em suma é a favor de uma a politica de diversidade, só discorda da adotada pela empresa e apresenta uma alternativa para uma nova política de diversidade (convidando ao debate).
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Re:Funcionário questiona politica de diversidade do Google
« Resposta #21 Online: 09 de Agosto de 2017, 01:12:56 »
Se ele tivesse feito um manifesto com discurso de ódio ou que fizesse apologia ao sexismo, seria mais compreensível a reação da mídia ao detonar com ele e a empresa ao demiti-lo, mas com base no que ele escreveu, achei tanto a atitude da mídia quanto da empresa (levando em conta a justificativa que deram para demiti-lo) exageradas, para dizer o mínimo.
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Re:Funcionário questiona politica de diversidade do Google
« Resposta #22 Online: 09 de Agosto de 2017, 10:27:08 »
Sim, é um desabafo que profetiza consequências negativas. Mas tudo feito de forma educada e sensata. Quase todas as suas afirmações evitam generalizações e não são feitas de maneira absoluta ("pode ser" ao invés "é" é o que ele usa antes de quase todas as suas afirmações). Ele defende a diversidade (inclusive a de opinião) e deixa claro que sua intenção não é negar a existência de sexismo e discriminação de gênero no ambiente de trabalho. Ele em suma é a favor de uma a politica de diversidade, só discorda da adotada pela empresa e apresenta uma alternativa para uma nova política de diversidade (convidando ao debate).

A proposta dele é tão ideológica quanto a que critica, só que na contramão. Pretende mudar o estado atual das coisas assim como a política de inclusão da empresa. Só que ao adotar essa política, a empresa está passando a mensagem de que acredita no sucesso da diversidade, o que significa, quebrar paradigmas estabelecidos, isto é, dar mais oportunidade a minorias, buscar perfis diferentes do que normalmente se verifica no mercado. Diversidade, no caso, não significa diversidade ideológica, mas o contrário. O que na minha opinião é uma estratégia, ou seja, a empresa quer com isso passar a seus clientes a mensagem de que adota uma determinada visão ideológica. Justamente o que ele critica. Trocando em miúdos, ele está declarando que não apenas discorda da política da empresa como duvida do seu sucesso. Veste a camisa quem quer, ninguém é obrigado a trabalhar na empresa. Pode não ser justo, mas é como as coisas funcionam. Na minha opinião, ele foi infeliz, sem noção, para dizer o mínimo, não na argumentação em si, mas no conflito irreconciliável de sua proposta com a da empresa. O que para ele é um problema, para a empresa é uma solução, só que ele inverte as coisas, transferindo o problema para a empresa, se vendendo como solução. Uma péssima estratégia. E note que não estou entrando no mérito da questão, nem tomando partido, apenas avaliando a situação. 

Se ele tivesse feito um manifesto com discurso de ódio ou que fizesse apologia ao sexismo, seria mais compreensível a reação da mídia ao detonar com ele e a empresa ao demiti-lo, mas com base no que ele escreveu, achei tanto a atitude da mídia quanto da empresa (levando em conta a justificativa que deram para demiti-lo) exageradas, para dizer o mínimo.

Demanda, Skeptikós. Tanto a mídia quanto a empresa atendem a demanda. Vendem o que seu público quer comprar. Estão apenas visando o lucro. Culpe o consumidor, não a mídia, não a empresa - elas apenas refletem a visão do consumidor. Não se coloca sal na prateleira para vender açúcar. É prudente entender como as coisas funcionam, sobretudo, suas consequências, mesmo discordando delas.
« Última modificação: 09 de Agosto de 2017, 10:32:11 por AlienígenA »

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Re:Funcionário questiona politica de diversidade do Google
« Resposta #23 Online: 09 de Agosto de 2017, 15:00:48 »
Ele acredita na diversidade de pessoas e não só de opinião. Só que ele crítica o metodo usado pelo Google para atingi-la (ações afirmativas, que são em si mesmas discriminatórias).

Talvez a estratégia da empresa em demiti-lo não tenha sido muito inteligente, já que as ações da empresa caíram cerca de 2% logo após o anúncio de demissão do funcionário (isso pode ter se dado por uma série de fatores, mas uma queda dessa logo após um evento deste é indício de que um pode ter [em parte] causado o outro).
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Re:Funcionário questiona politica de diversidade do Google
« Resposta #24 Online: 09 de Agosto de 2017, 16:36:28 »
Justamente. Enquanto para a empresa ações afirmativas são inclusivas, refletindo seus valores ou, pelo menos, essa é a mensagem que passa, para ele são discriminatórias. Um conflito ideológico irreconciliável, me parece.

Não há consenso quanto a isso, mas a balança, suponho, pende a favor das ações afirmativas, na opinião popular. É a impressão que tenho.

« Última modificação: 09 de Agosto de 2017, 16:38:31 por AlienígenA »

 

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