Não estou sendo "exigente", apenas declarando o FATO de que as pessoas usam "visualização" e "imaginação" de maneira bem menos literal, não são normalmente, talvez nem excepcionalmente, alucinações voluntárias controladas.
Não sei. Cérebro é um troço surpreendente. Talvez algumas pessoas tenham uma habilidade natural auto hipinótica de visualizar imagens mentalmente, algo próximo de uma alucinação ou talvez uma capacidade de concentração que torna o que recordam/imaginam mais vívido em suas mentes. Só me parece que se algo parecido for realmente possível não é a regra, como sugere o tópico, mas a exceção.
Ao ler o tópico recordei de relatos que parecem confirmar a capacidade de visualização - o que, como eu disse, sempre interpretei como um erro de interpretação das pessoas. Mas me identifiquei, por exemplo, com os relatos de estranhamento do conselho de contar carneirinhos para pegar no sono. Lembro que quando minha irmã disse isso lá na minha infância perdi o sono de vez tentando encontrar uma forma de fazer aquilo. Ela, inclusive, é dessas pessoas que diz ver um filme passando na sua frente quando fecha os olhos. Tempos atrás, nosso pai já havia falecido, eu estava rabiscando um papel enquanto conversávamos, ela pediu que eu fizesse um desenho do rosto dele. Quando eu disse que não conseguia, ela ficou muito surpresa, com uma expressão meio confusa, desconfiada talvez que eu não quisesse fazer o desenho e estivesse dando uma desculpa. Ainda não tive a oportunidade de encontrá-la, mas algumas pessoas com quem estive conversando sobre o assunto esses dias, reagiram como o criso descreveu, relatando dificuldade de enxergar a escuridão, pedindo um tempo para se concentrarem. O que elas me relataram foi que não visualizam exatamente como nos sonhos, mas algo mais próximo disso do que daquela escuridão que tinham acabado de experimentar, aparentemente, pela primeira vez. Elas, inclusive, não conseguiram experimentar o efeito que produz o negativo das imagens, porque segundo elas, automaticamente começavam a visualizar o que estavam pensando ao fechar os olhos.
Tudo isso me parece estranho (*), porque sempre recordo/imagino as coisas de olhos abertos, as imagens aleatórias que se formam na minha visão me distraem de tal forma que atrapalham a concentração. Mesmo no escuro costumo abrir os olhos para evitar isso. O que só atenua num estado sonolento e então consigo me concentrar de olhos fechados. O que notei foi que quando recordo/imagino as coisas meus sentidos, não só a visão, parecem estar num outro plano, fora de mim. Uma sensação meio que de mergulhar num universo paralelo, como num transe hipinótico suponho, mas sem alucinações visuais, auditivas, olfativas, gustativas ou táteis, o mundo real parece virtual por instantes, enquanto viajo num vazio quântico, parece que tudo que há é uma flutuação de energia. Entro com facilidade nesse estado, mas não consigo me manter nele quando estou prestando atenção nisso, fico "indo e voltando". Noto até uma sensação física, uma leve contração no estômago quando "aterrizo", recobrando a concentração.
(*) e muito estressante. É um alívio poder fechar os olhos e ficar viajando nos traços e pontos que surgem e desaparecem na escuridão, com o pensamento e demais sentidos meio anestesiados. É como esvaziar a cabeça. Ao menos, para mim, funciona como uma faxina mental, aliviando a tensão, aumentando até a disposição física.
No caso do garoto autista, só consigo imaginar duas formas dele reproduzir paisagens urbanas com quase fidelidade e numa proporção tão próxima da realidade (minha maior dificuldade ao desenhar é achar a proporção, tenho que comparar, tipo "a distância entre os olhos é de aproximadamente a de um olho", não consigo fazer o cálculo instintivamente como aparentemente alguns desenhistas fazem): uma memória excepcional, o que me parece mais provável - ele contabilizaria os detalhes, número de prédios, de andares e janelas, calcularia a proporção, posição, sobreposição para depois recordar ou uma capacidade de visualização excepcional, conseguindo reproduzir mentalmente a cena como numa alucinação visual, contabilizando e fazendo os cálculos ali no momento em que desenha. Já li que autistas costumam experimentar sensações físicas de forma intensa como se fossem reais, tipo alucinações sensitivas, auditivas, táteis, mas não sei se também visuais.