Autor Tópico: Multa do Google pela UE - ajuda ou atrapalha o livre-mercado?  (Lida 1231 vezes)

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Offline Cinzu

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Re:Multa do Google pela UE - ajuda ou atrapalha o livre-mercado?
« Resposta #25 Online: 20 de Julho de 2018, 01:01:38 »
É o equivalente a dizer que problemas ambientais ocasionados pelo homem são autoelimináveis, uma vez que as pessoas teriam consciência de que não é vantajoso ter o planeta destruído e cooperariam mutuamente entre si para deixarem de poluir.

Parece ser o tipo de coisa que se encontra no site "https://www.mises.org.br/"
"Não é possível convencer um crente de coisa alguma, pois suas crenças não se baseiam em evidências; baseiam-se numa profunda necessidade de acreditar"

Offline Skeptikós

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Re:Multa do Google pela UE - ajuda ou atrapalha o livre-mercado?
« Resposta #26 Online: 20 de Julho de 2018, 03:03:32 »
Ou de que o mercado é sempre racional. As pessoas não agem de forma racional em boa parte do tempo (incluindo quando o assunto é economia e dinheiro) como Khanemam e Tversky demonstraram numa série de estudos sobre psicologia da decisão em economia comportamental.
"Che non men che saper dubbiar m'aggrada."
"E, não menos que saber, duvidar me agrada."

Dante, Inferno, XI, 93; cit. p/ Montaigne, Os ensaios, Uma seleção, I, XXV, p. 93; org. de M. A. Screech, trad. de Rosa Freire D'aguiar

Offline -Huxley-

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Re:Multa do Google pela UE - ajuda ou atrapalha o livre-mercado?
« Resposta #27 Online: 20 de Julho de 2018, 08:53:06 »
É o equivalente a dizer que problemas ambientais ocasionados pelo homem são autoelimináveis, uma vez que as pessoas teriam consciência de que não é vantajoso ter o planeta destruído e cooperariam mutuamente entre si para deixarem de poluir.

Parece ser o tipo de coisa que se encontra no site "https://www.mises.org.br/"

Analogia falsa. Celulares com sistemas operacionais de smartphones são bens de mercado puros, isto é, são bens rivais e excluíveis. Recursos comuns são bens semipúblicos, isto é, não são bens são bens rivais E excluíveis. Isso é um espantalho equivalente a dizer que, se eu acreditasse no que eu digo, eu teria que concordar que a oferta de defesa nacional e segurança interna seriam resolvidos pela interação espontânea entre capitalistas e consumidores. Pois a hipótese da eficácia dos mecanismos de preços e de mercado convencional pressupõe que existam bens rivais e excluíveis para funcionar plenamente.
« Última modificação: 20 de Julho de 2018, 10:09:26 por -Huxley- »

Offline -Huxley-

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Re:Multa do Google pela UE - ajuda ou atrapalha o livre-mercado?
« Resposta #28 Online: 20 de Julho de 2018, 09:16:09 »
O grande problema do tamanho gigante das empresas não é o monopólio. É o "Too Big to Fail". Monopólios, carteis, etc. geralmente são ineficientes do ponto de vista do consumidor e, portanto, autoelimináveis.

Parece tão utópico quanto o comunismo.

Não. Reconhecer que "monopólio contra a vontade do consumidor" é essencialmente um fenômeno de intervencionismo estatal, e não um fenômeno de mercado, não é utopia. É apenas reconhecer a realidade. Agora, acreditar que o intervencionismo estatal pode fazer um ajuste fino da defesa da concorrência sem incorrer em grandes riscos, isso sim é uma utopia.
« Última modificação: 20 de Julho de 2018, 09:33:18 por -Huxley- »

Offline -Huxley-

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Re:Multa do Google pela UE - ajuda ou atrapalha o livre-mercado?
« Resposta #29 Online: 20 de Julho de 2018, 09:50:46 »
Ou de que o mercado é sempre racional. As pessoas não agem de forma racional em boa parte do tempo (incluindo quando o assunto é economia e dinheiro) como Khanemam e Tversky demonstraram numa série de estudos sobre psicologia da decisão em economia comportamental.

Não. O trabalho de Kahneman e Tversky que foi exposto em "Rápido e Devagar" é sobre a raciocínio e tomada de decisão do indivíduo. Só que, como as teorias de complexidade mostram, o comportamento médio do participante do mercado não nos permitirá entender o comportamento geral do mercado. Quanto maior o número de interações possíveis, mais difícil de entender o macro do micro, o geral das unidades. E a interação média, na medida em que revela o comportamento individual, não nos permite generalizar as preferências e o comportamento dos grupos.

É justamente porque o indivíduo é tão não racional que ele precisa dos mecanismos de preços e de mercado. Racionalidade coletiva pode funcionar mesmo que ninguém tenha racionalidade substantiva do ponto de vista individual. O mecanismo de preços funciona bem justamente porque o participante do mercado precisa saber tão pouco para tomar a decisão mais correta. O que Kahneman mostrou nos seus experimentos nos permite ficar ainda mais céticos do intervencionismo estatal como defendido no caso do tópico. Pois o planejador social também é alguém que está sob a influência de vieses cognitivos irracionais, com o agravante de que o conhecimento que ele precisa para fazer o certo não está concentrado nele, mas sim disperso pela sociedade. Ele precisaria ser quase um deus para conseguir agregar conhecimento necessário para coordenar as decisões individuais eficazmente.
« Última modificação: 20 de Julho de 2018, 09:55:57 por -Huxley- »

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Multa do Google pela UE - ajuda ou atrapalha o livre-mercado?
« Resposta #30 Online: 20 de Julho de 2018, 13:40:37 »
Qual é o problema significativo que a regulamentação da UE resolve mesmo? :hein: O que não está ao alcance do consumidor através do efeito substituição nesse caso?

O consumidor não encontra no mercado opções alternativas às ofertas tal como convém ao google. Monopólio obtido por limitação da distribuição de concorrentes.

Isso não mostra que os celulares com aplicativos Google pré-instalados estão fora do alcance do efeito substituição. Se os consumidores realmente se opusessem às ações do Google, considerando que as trocas resultantes delas fossem prejudiciais, eles poderiam boicotar tais celulares Android de forma a tornar a curva de demanda de seus produtos elástica. Ninguém é obrigado a consumir determinados produtos, e há um preço em que certamente é preferível abdicar do consumo ou procurar substituto (Apple iPhone SE, por exemplo).

As pessoas não têm a sua disposição ofertas alternativas às desejadas pelo google.

É claro que eles "poderiam boicotar", apesar do efeito disso ser desprezível.

Isso se dá apenas da mesma forma que as pessoas "poderiam boicotar" qualquer monopólio ou cartel.

Boicote é muito mais difícil e ainda mais insignificante do que sem o estabelecimento desse controle de distribuição eliminando a concorrência.

Uma gigante do arroz tem um acordo com todas as maiores redes de supermercados para vender só o seu arroz? "As pessoas podem boicotar; não precisam comer arroz." "Isso só mostra como o arroz dourado é uma inovação da qual as pessoas podem abdicar".

A Volkswagen faz acordos com toda organização vendendo carros para tirar concorrentes do mercado? "Se os consumidores realmente se opusessem, poderiam boicotar os carros VW, mesmo tendo muito maior dificuldade de encontrar alternativa e tendo que pagar mais caro".

E o problema não são os aparelhos android, mas o cerceamento de opções mesmo nessa plataforma.



Esse raciocínio de "o que quer que alguém com poder financeiro faça controlando o mercado é ótimo ou na pior das hipóteses insignificante" consegue ser até mais ingênuo do que o em favor de controle centralizado da economia de cima para baixo de modo geral. É igualmente um controle "de cima para baixo", mas arbitrariamente dado como válido, só por não ser o estado a fazê-lo, ao que ao menos poderia se cogitar como amenizante ter como função o serviço à sociedade, e não apenas o auto-enriquecimento. Mesmo a corrupção estatal em favor de grandes empresas seria então ótima-ou-insignificante.

Tem que se aceitar o monopólio da Petrobras como algo dentro "ideal", já que não é nem imposto por lei.

Offline Gauss

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Re:Multa do Google pela UE - ajuda ou atrapalha o livre-mercado?
« Resposta #31 Online: 20 de Julho de 2018, 18:11:30 »
Eu como consumidor simplesmente não me importo de meu Android vir com um bilhão de coisas do Google. Eu pago um preço que acho justo e tenho um celular que para mim tem uma qualidade considerável, que atende todas as minhas necessidades. É simplesmente isso que importa para o consumidor. Não há nada que impeça uma empresa de não aceitar a proposta do Google e tentar criar ou utilizar outro sistema operacional de uma empresa diferente. A SAmsung, por exemplo, tem dinheiro de sobra para desenvolver o próprio SO, mas não o faz porque simplesmente não quer. Querer justificar esse protecionismo esquizofrênico da UE como algo bom para o consumidor é ter muita fé cega na burocracia e na bondade estatal. Mas isso não me surpreende, visto que quem geralmente apoia esse tipo de medida são os mesmos que vivem no Progreworld, que acham que toda decisão intervencionista tomada pelo governo é bem intencionada, colocando sempre a coletividade à frente da individualidade. Quem apoia esse tipo de medida tomada pela UE simplesmente não pode reclamar quando Trump baixa decretos tributários protecionistas, ou quando os nacional-desenvolvimentistas brasileiros (estes em sua maioria progressistas) criam mais tributos ou impõem multas a multinacionais estrangeiras em "defesa da indústria nacional".
Citação de: Gauss
Bolsonaro é um falastrão conservador e ignorante. Atualmente teria 8% das intenções de votos, ou seja, é o Enéas 2.0. As possibilidades desse ser chegar a presidência são baixíssimas, ele só faz muito barulho mesmo, nada mais que isso. Não tem nenhum apoio popular forte, somente de adolescentes desinformados e velhos com memória curta que acham que a ditadura foi boa só porque "tinha menos crime". Teria que acontecer uma merda muito grande para ele chegar lá.

Offline -Huxley-

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Re:Multa do Google pela UE - ajuda ou atrapalha o livre-mercado?
« Resposta #32 Online: 20 de Julho de 2018, 22:42:48 »

As pessoas não têm a sua disposição ofertas alternativas às desejadas pelo google.



As pessoas não têm a sua disposição ofertas alternativas às desejadas pelo Google, da mesma forma como o mendigo sem teto não tem a disposição a oferta alternativa do abrigo de sua casa (ao invés da rua). Mesmo se você imaginasse a associação do Google com as empresas de hadware como se fosse a existência de uma "empresa fusão temporária Google", o cerceamento de opções nessa plataforma não é diferente do cerceamento de opções para o mendigo mencionado. A casa em que você mora é propriedade SUA, assim como as ferramentas da "empresa fusão temporária Google" é de propriedade DELE. O Google cerceia as opções de oferta do que é DELE, ele não cerceia as opções do mercado como um todo.

E o Google não é monopólio, a participação de mercado do Android na UE não é de 100%, mas sim de 70%. E isso não é trivial. Ser ou não o próprio mestre na escolha de ações é algo totalmente separado sobre a quantidade de possibilidades disponíveis para a escolha ser grande ou pequena.

Também acho fraco a noção de competição que é tomada pelos defensores da política de defesa de concorrência convencional. Explicarei com mais detalhes adiante.

Mas, contrariamente ao que foi mau interpretado nos meus posts, meu argumento não é contra a noção de intervenção. O meu caso tratado é sobre a necessidade de se ter um protocolo sistemático para quando intervir e quando deixar os sistemas em paz.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Multa do Google pela UE - ajuda ou atrapalha o livre-mercado?
« Resposta #33 Online: 20 de Julho de 2018, 23:29:08 »

As pessoas não têm a sua disposição ofertas alternativas às desejadas pelo google.



As pessoas não têm a sua disposição ofertas alternativas às desejadas pelo Google, da mesma forma como o mendigo sem teto não tem a disposição a oferta alternativa do abrigo de sua casa (ao invés da rua). Mesmo se você imaginasse a associação do Google com as empresas de hadware como se fosse a existência de uma "empresa fusão temporária Google", o cerceamento de opções nessa plataforma não é diferente do cerceamento de opções para o mendigo mencionado. A casa em que você mora é propriedade SUA, assim como as ferramentas da "empresa fusão temporária Google" é de propriedade DELE. O Google cerceia as opções de oferta do que é DELE, ele não cerceia as opções do mercado como um todo.

Com esse argumento de "é como se fosse a sua casa", pode-se defender qualquer coisa como cartel ou monopólio (sem falar de discriminação racial ou sexual).

"Competidores" numa mesma área estão acordando os preços? "Okay, é o que eles fazem com a propriedade deles, não é diferente de você e seu vizinho não ofertarem um preço qualquer ao mendigo para um quarto."

Isso deve ter como princípio não eficiência de mercado para o consumidor, mas apenas uma primazia à liberdade individual de quem detém maior poder financeiro, sobre qualquer outro valor.



Citar
E o Google não é monopólio, a participação de mercado do Android na UE não é de 100%, mas sim de 70%. E isso não é trivial. Ser ou não o próprio mestre na escolha de ações é algo totalmente separado sobre a quantidade de possibilidades disponíveis para a escolha ser grande ou pequena.


É trivial, pois o google está eliminando todo um leque de opções do mercado, e não por superioridade do produto, mas por controlar a distribuição, eliminar a oferta da concorrência.











Eu como consumidor simplesmente não me importo de meu Android vir com um bilhão de coisas do Google.

Esse é provavelmente o menor dos problemas, o mais significativo sendo a supressão de alternativas, seja de coisas do Google, ou do Android em si.



Citar
Não há nada que impeça uma empresa de não aceitar a proposta do Google e tentar criar ou utilizar outro sistema operacional de uma empresa diferente. A SAmsung, por exemplo, tem dinheiro de sobra para desenvolver o próprio SO, mas não o faz porque simplesmente não quer.

????

Mas há outras opções, que são eliminadas do mercado pelo google. Tanto de grandes empresas, como a Amazon, em menor grau, quanto iniciativas menores, com condições ainda mais insignificantes de competir.



Citar
Querer justificar esse protecionismo esquizofrênico da UE como algo bom para o consumidor é ter muita fé cega na burocracia e na bondade estatal.

Você quer dizer que não seria bom para o consumidor ter mais opções? :hein:

Por que o google tirando opções do mercado é bom, mas se fosse o estado em si exercendo o mesmo controle, seria ruim?

É uma incoerência gritante, um endeusamento nem do mercado, como processo (que é controlado), mas "dos poderosos".

"Seja lá o que for que alguém tiver grande PODER estimar que for o melhor para eles pessoalmente, é o melhor para todos".

Talvez, "a menos que se trate de PODER estatal, esse poder é do Mal, enquanto que o PODER de empresas é do Bem".




Citar
Mas isso não me surpreende, visto que quem geralmente apoia esse tipo de medida são os mesmos que vivem no Progreworld, que acham que toda decisão intervencionista tomada pelo governo é bem intencionada, colocando sempre a coletividade à frente da individualidade.

Non sequitur total e ad hominem.


Citar
Quem apoia esse tipo de medida tomada pela UE simplesmente não pode reclamar quando Trump baixa decretos tributários protecionistas, ou quando os nacional-desenvolvimentistas brasileiros (estes em sua maioria progressistas) criam mais tributos ou impõem multas a multinacionais estrangeiras em "defesa da indústria nacional".

Afinal, só o protecionismo do Google que é aceitável.  ::)

Se o governo faz, é ruim, lógico; mas se é o google (ou talvez outra empresa com poder suficiente), então é ótimo, lógico; quem não entende isso é porque acha que qualquer protecionismo é ruim deve haver cotas para mulheres com cabelo azul que se identificam como água.

Offline -Huxley-

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Re:Multa do Google pela UE - ajuda ou atrapalha o livre-mercado?
« Resposta #34 Online: 20 de Julho de 2018, 23:39:59 »

É claro que eles "poderiam boicotar", apesar do efeito disso ser desprezível.

Isso se dá apenas da mesma forma que as pessoas "poderiam boicotar" qualquer monopólio ou cartel.


É aqui que você está redondamente enganado. A concorrência não envolve conceitos específicos como números de empresas, tamanho das empresas, preços cobrados, números de fusões e aquisições, etc

A barganha dos consumidores em monopólio, duopólio, oligopólio, etc. não significa que seja uma barganha de uma competição fraca. Se a participação de um ofertante no mercado for 1, a curva de demanda da empresa é igual a curva de demanda do mercado. Mas se a participação da empresa no mercado cair, isso significa que, quanto menor a participação da empresa no mercado, mais elástica é a curva de demanda com a qual ela se defronta. O Google tem participação de 0,7 no mercado mencionado, mas nada impede a priori que isso caia para um valor bem baixo. Assim, a posição do Google no mercado pode ser simplesmente o resultado de uma combinação de vantagem de custo e de vantagem de diferenciação de produto (ou vantagem de publicidade, etc.), podendo ser derrubada quando um rival põe o mesmo para trás nesses quesitos (e uma adaptação lenta do mercado não significa necessariamente uma competição fraca). Assim, um monopólio baseado na eficiência superior, faz comparativamente pouco dano, desde que seja assegurado que desaparecerá assim que alguém se tornar mais eficiente em proporcionar satisfação aos consumidores. 

Ademais, um pequeno número de ofertantes no mercado pode ser compatível com uma boa competição com bens substitutos próximos. Quando a variedade de substitutos próximos é grande e muda rapidamente, onde leva muito tempo para descobrir os méritos relativos das alternativas disponíveis, ou onde a necessidade de toda uma classe de bens ou serviços ocorre apenas descontinuamente em intervalos irregulares, o ajuste deve ser lento mesmo que a concorrência seja forte e ativa. Lembrando que a competição com bens substitutos também torna a curva de demanda elástica.
« Última modificação: 20 de Julho de 2018, 23:48:23 por -Huxley- »

Offline -Huxley-

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Re:Multa do Google pela UE - ajuda ou atrapalha o livre-mercado?
« Resposta #35 Online: 20 de Julho de 2018, 23:46:06 »
Uma gigante do arroz tem um acordo com todas as maiores redes de supermercados para vender só o seu arroz? "As pessoas podem boicotar; não precisam comer arroz." "Isso só mostra como o arroz dourado é uma inovação da qual as pessoas podem abdicar".

A Volkswagen faz acordos com toda organização vendendo carros para tirar concorrentes do mercado? "Se os consumidores realmente se opusessem, poderiam boicotar os carros VW, mesmo tendo muito maior dificuldade de encontrar alternativa e tendo que pagar mais caro".



Aqui você pressupõe ficções teóricas que não tem relevância prática. Não existe modo como monopólios ou carteis possam ser estáveis num mercado desobstruído. Vou explicar mais adiante o porquê. Pressupor fantasias teóricas não serve como argumento.
« Última modificação: 20 de Julho de 2018, 23:52:31 por -Huxley- »

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Multa do Google pela UE - ajuda ou atrapalha o livre-mercado?
« Resposta #36 Online: 20 de Julho de 2018, 23:57:38 »
Assim, a posição do Google no mercado pode ser simplesmente o resultado de uma combinação de vantagem de custo e de vantagem de diferenciação de produto (ou vantagem de publicidade, etc.)

O google "pode" ter qualquer vantagem assim, mas não é possível saber, e nem tem relevância aqui.

No caso, é uma vantagem no controle da distribuição, que não é o tipo de coisa que racionalmente é visto como uma vantagem ao consumidor. Seria se o google de alguma forma tivesse conseguido ofertar mais a um maior número de pessoas, que outras empresas não conseguissem alcançar por algum motivo, mas é o contrário, o google reduz a oferta de competidores.

Vantagem em distribuição desse tipo é algo muito mais efetivo do que qualquer vantagem funcional, diferenciação real do produto em si.





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podendo ser derrubada quando um rival põe o mesmo para trás nesses quesitos (e uma adaptação lenta do mercado não significa necessariamente uma competição fraca). Assim, um monopólio baseado na eficiência superior, faz comparativamente pouco dano, desde que seja assegurado que desaparecerá assim que alguém se tornar mais eficiente em proporcionar satisfação aos consumidores. 

Que é evitado se controlando a distribuição, com a qual se pode garantir monopólio apesar de não prover qualquer diferenciação positiva.



Citar
Ademais, um pequeno número de ofertantes no mercado pode ser compatível com uma boa competição com bens substitutos próximos. Quando a variedade de substitutos próximos é grande e muda rapidamente, onde leva muito tempo para descobrir os méritos relativos das alternativas disponíveis, ou onde a necessidade de toda uma classe de bens ou serviços ocorre apenas descontinuamente em intervalos irregulares, o ajuste deve ser lento mesmo que a concorrência seja forte e ativa.

Teoria abstrata desconexa do caso. Em analogia, é como dizer que pode ser aceitável tirar do mercado muitos daqueles que não forem seus "campeões nacionais" escolhidos, que isso não prejudica significativamente ao mercado ou ao consumidor. Ou seja, toda a situação da petrobrás aqui é ótima, já que nem há monopólio estabelecido por lei. Isso significa que o consumidor aprova tudo como está.








Uma gigante do arroz tem um acordo com todas as maiores redes de supermercados para vender só o seu arroz? "As pessoas podem boicotar; não precisam comer arroz." "Isso só mostra como o arroz dourado é uma inovação da qual as pessoas podem abdicar".

A Volkswagen faz acordos com toda organização vendendo carros para tirar concorrentes do mercado? "Se os consumidores realmente se opusessem, poderiam boicotar os carros VW, mesmo tendo muito maior dificuldade de encontrar alternativa e tendo que pagar mais caro".



Aqui você pressupõe ficções teóricas que não tem relevância prática. Não existe modo como monopólios ou carteis possam ser estáveis num mercado desobstruído. Vou explicar mais adiante o porquê. Pressupor fantasias teóricas não serve como argumento.

"Não existe modo como monopólios ou carteis possam ser estáveis num mercado desobstruído. Vou explicar mais adiante o porquê."

Nem precisa. É uma ficção também, crença que de alguma forma sempre vão surgir competidores que acabem com o cartel.

Mais cega ainda a crença se por "mercado desobstruído" se aceite um em que uma das empresas dominantes obstrua à competição.

Offline -Huxley-

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Re:Multa do Google pela UE - ajuda ou atrapalha o livre-mercado?
« Resposta #37 Online: 21 de Julho de 2018, 00:21:19 »
Porque os monopólios não são estáveis num mercado desobstruído? Ver os parágrafos 2 e 4 desse post:
../forum/topic=27601.375.html#msg969156

Acho que a questão da atração de potenciais entrantes está bem explicada. Analisemos melhor o outro item...

Para uma empresa aumentar de tamanho até ameaçar a ocupar todo espaço do mercado, esse aumento de tamanho geralmente se torna uma desvantagem. Não há ganhos com aumento de tamanho a partir de certo ponto, como mostra a "teoria do hubris" de Richard Roll. E pressões se tornam não linearmente mais custosas conforme o tamanho aumenta: quando há custos extras inesperados, as sobrecargas - tomadas como uma porcentagem dos custos totais - são altas em momentos de estresse. E existem dados que mostram os débeis registros históricos de fusões. Cartweight e Schoenberg (2006) publicaram algo desse registro num periódico chamado "British Journal of Management". Portanto, a proposição de que "a unidade combinada é mais eficiente" da "teoria das economias de escala", não se sustenta empiricamente, e aparentemente isso é aceito no livro do Varian que citei.

Faltou eu falar sobre os carteis, mas farei isso em breve...
« Última modificação: 21 de Julho de 2018, 02:05:57 por -Huxley- »

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Re:Multa do Google pela UE - ajuda ou atrapalha o livre-mercado?
« Resposta #38 Online: 21 de Julho de 2018, 00:27:33 »
Santo Deus! "vantagem no controle da distribuição, que não é o tipo de coisa que racionalmente é visto como uma vantagem ao consumidor. ". Amazon é o que, então? https://www.zerohedge.com/news/2017-09-01/amazon-has-twice-many-fulfillment-centers-rest-entire-us-retail-industry

Bezos = foco na distribuição, não em produtos "tech" de risco.
« Última modificação: 21 de Julho de 2018, 00:31:23 por -Huxley- »

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Re:Multa do Google pela UE - ajuda ou atrapalha o livre-mercado?
« Resposta #39 Online: 21 de Julho de 2018, 00:31:02 »
E é engraçado que venham citar Peter Thiel. Eu tenho um livro dele chamado "De zero a um" em que ele argumenta justamente o contrário do que foi argumentado buckarooneamente. Ele mostra que a pressuposição de que monopólio ("do zero a um") significa posição pior para o consumidor no mercado é falsa.
« Última modificação: 21 de Julho de 2018, 00:33:37 por -Huxley- »

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Re:Multa do Google pela UE - ajuda ou atrapalha o livre-mercado?
« Resposta #40 Online: 21 de Julho de 2018, 00:44:39 »
Para manter um cartel efetivo, as empresas precisam encontrar um meio de detectar e punir a burla. Mas haverá sempre a tentação de burlar os acordos de produção, especialmente vindo das que se beneficiaram menos do cartel. Sempre será lucrativo para uma empresa aumentar unilateralmente a produção - se ela esperar que a outra mantenha fixa sua produção, especialmente se elas não tiverem como observar a produção uma da outra. Há também a questão da burla da guerra de preços para aumentar a participação no mercado. Também tem a questão da "burla" de quem está fora do cartel, por exemplo, recém-entrante no mercado. Um empreendedor de fora chega, pratica preços marginalmente menores, e com isso toma clientela dos cartelistas e obtém portentosos lucros.

É por isso que historicamente as empresas acharam muito mais conveniente que uma terceira parte, o governo, fazer isso de detectar e coibir essas violações. 
« Última modificação: 21 de Julho de 2018, 02:59:17 por -Huxley- »

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Re:Multa do Google pela UE - ajuda ou atrapalha o livre-mercado?
« Resposta #41 Online: 21 de Julho de 2018, 00:50:11 »
Milton Friedman pergunta... Cadê a evidência empírica de monopólios essencialmente construídos pelo mercado, e não pela intervenção governamental? E o mais importante do vídeo, que é similar ao que já falei... Se a subtração de coerções está associado com a prevenção de oligopólios, então os oligopólios seriam melhor combatidos pela via negativa do intervencionismo:

« Última modificação: 21 de Julho de 2018, 03:15:12 por -Huxley- »

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Re:Multa do Google pela UE - ajuda ou atrapalha o livre-mercado?
« Resposta #42 Online: 21 de Julho de 2018, 00:59:52 »
Xiii, usar o Thiel como arma argumentativa aqui não dá certo. Vejam o que Peter Thiel diz sobre o monopólio do Google e de outras gigantes do Vale do Silício, mais especificamente os fatores que fazem as mesmas serem empresas com grandes fluxos de caixa num futuro distante... Citação do livro "De Zero a Um":...

 
« Última modificação: 21 de Julho de 2018, 01:54:42 por -Huxley- »

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Re:Multa do Google pela UE - ajuda ou atrapalha o livre-mercado?
« Resposta #43 Online: 21 de Julho de 2018, 01:19:07 »
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1. Tecnologia proprietária

A tecnologia proprietária é a vantagem mais substantiva de que uma empresa pode dispor, porque torna seu produto difícil ou impossível de replicar. Os algoritmos de busca do Google, por exemplo, produzem melhores resultados do que o de qualquer outra empresa. As tecnologias proprietárias para o carregamento das páginas em um tempo extremamente curto e a função de autocompletar bastante precisa contribuem para robustez e defensabilidade do produto de busca. Seria dificílimo para qualquer um fazer com o Google o que o Google fez com todas as empresas de mecanismos de busca no início da década de 2000.

Como uma boa regra de bolso, a tecnologia proprietária deve ser ao menos dez vezes melhor do que seu substituto nais próximo em alguma dimensão importante para resultar em uma vantagem monopolista real. Qualquer coisa que não seja melhor em uma ordem de magnitude de será provavelmente percebida como uma melhoria marginal e será difícil de vender, sobretudo em um mercado apinhado.

A forma mais clara de obter uma melhoria de dez vezes é inventar algo completamente novo. Se você desenvolver algo novo, o aumento de valor será teoricamente infinito. (...)

Ou você pode melhorar radicalmente uma solução existente: sendo dez vezes melhor, você escapa da concorrência.

(...)

2. Efeitos de rede

Os efeitos de rede tornam o produto mais útil à medida que mais pessoas o utilizam. (...)

3. Economias de escala (...)

Se você tem um estúdio de ioga, por exemplo, só conseguirá atender certo número de clientes. Pode contratar mais instrutores e se expandir para outros locais, mas suas margens permanecerão razoavelmente baixas e você nunca alcançará o ponto em que um grupo de pessoas talentosas possa oferecer algo de valor para milhões de clientes separados, como conseguem os engenheiros de software.
« Última modificação: 21 de Julho de 2018, 01:25:12 por -Huxley- »

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Re:Multa do Google pela UE - ajuda ou atrapalha o livre-mercado?
« Resposta #44 Online: 21 de Julho de 2018, 01:49:26 »
E, por fim, a alegação de que o Google restringe opções. Restringe o quê, se qualquer pessoa pode baixar os aplicativos gratuitos rivais pelo Android!?? Sinto muito, mas "não ver o aplicativo rival na forma pré-instalada" NÃO É eliminação de oferta concorrente. A verdade é que os consumidores geralmente não consideram importante essa baboseira detalhista da opcionalidade de ver os aplicativos rivais disponíveis já na versão pré-instalada. Se considerassem, restringiriam o consumo a ponto de tornar a curva de demanda elástica do pacote hadware/software que envolve o Google. Existe uma diferença entre preferência declarada e preferência revelada. Preferência declarada sem ação é... papo furado. Preferência revelada é o que você faz. O que as pessoas dizem (em pesquisas de opinião ou em outros lugares) não é tão relevante, pois os indivíduos revelam suas preferências com dinheiro vivo ou, mais geralmente, ações caras.
« Última modificação: 21 de Julho de 2018, 02:31:14 por -Huxley- »

Offline -Huxley-

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Re:Multa do Google pela UE - ajuda ou atrapalha o livre-mercado?
« Resposta #45 Online: 21 de Julho de 2018, 09:05:34 »
E sim, os consumidores PODERIAM SIM abdicar do consumo de arroz e literalmente ter o poder de levar a falência um gigante do arroz que TIVESSE um acordo com todas as redes de supermercados só para vender seu arroz e insistisse em preços excessivos.  Ninguém jamais morreu ou entrou em depressão porque deixou de comer arroz e arroz tem N bens substitutos PRÓXIMOS, p.ex., outras hortaliças (e moto, moto-táxi, bicicleta elétrica, bicicleta pedlec, automóvel usado não VW de cliente comum, uberista ou locadora de carros podem substituir automóveis 0 km da VW; bens substitutos próximos são considerados concorrentes). Mas o que seria praticamente inevitável de acontecer seria que as decisões dos consumidores, burladores do cartel e oportunistas outsiders eliminassem sem dó a concentração de poder dos cartelistas do Grande Cartel. Não existe manutenção involuntária do Grande Cartel por parte dos consumidores no longo prazo e só no mundo das pressuposições fantasiosas de não existência de oportunismo de roubo de lucro de cartel, o cartel iria tão longe - e mesmo o governo seria superpressionado para tomar medidas de intervencionismo negativo como as sugeridas por Friedman se o cartel chegasse minimamente longe. Se existisse um texto constitucional (cláusula pétrea) proibindo regulamentação estatal anticartel, é óbvio que o governo seria pressionado a adotar a solução friedmaniana e há todos os motivos para acreditar que essa via resolutiva funcionaria. As razões já foram expostas no post de 00:44 de hoje.

E se fosse verdade que o Android com as pré instalações de aplicativo rivais  Google fossem indispensáveis para o consumidor, e o Google estivesse lucrando majoritariamente por causa de seu Android com aplicativos Google pré-instalados, seria praticamente inevitável que um oportunista lucrasse com a burla das regras do "cartel".
« Última modificação: 21 de Julho de 2018, 12:56:55 por -Huxley- »

Offline Skeptikós

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Re:Multa do Google pela UE - ajuda ou atrapalha o livre-mercado?
« Resposta #46 Online: 21 de Julho de 2018, 11:22:39 »
Ou de que o mercado é sempre racional. As pessoas não agem de forma racional em boa parte do tempo (incluindo quando o assunto é economia e dinheiro) como Khanemam e Tversky demonstraram numa série de estudos sobre psicologia da decisão em economia comportamental.

Não. O trabalho de Kahneman e Tversky que foi exposto em "Rápido e Devagar" é sobre a raciocínio e tomada de decisão do indivíduo. Só que, como as teorias de complexidade mostram, o comportamento médio do participante do mercado não nos permitirá entender o comportamento geral do mercado. Quanto maior o número de interações possíveis, mais difícil de entender o macro do micro, o geral das unidades. E a interação média, na medida em que revela o comportamento individual, não nos permite generalizar as preferências e o comportamento dos grupos.

É justamente porque o indivíduo é tão não racional que ele precisa dos mecanismos de preços e de mercado. Racionalidade coletiva pode funcionar mesmo que ninguém tenha racionalidade substantiva do ponto de vista individual. O mecanismo de preços funciona bem justamente porque o participante do mercado precisa saber tão pouco para tomar a decisão mais correta. O que Kahneman mostrou nos seus experimentos nos permite ficar ainda mais céticos do intervencionismo estatal como defendido no caso do tópico. Pois o planejador social também é alguém que está sob a influência de vieses cognitivos irracionais, com o agravante de que o conhecimento que ele precisa para fazer o certo não está concentrado nele, mas sim disperso pela sociedade. Ele precisaria ser quase um deus para conseguir agregar conhecimento necessário para coordenar as decisões individuais eficazmente.
Concordo, no entanto não podemos afirmar também que determinadas práticas são auto-eliminaveis pelo próprio mercado por não serem práticas que analisadas racionalmente sejam positivas para o consumidor. O consumidor agirá de forma irracional em boa parte do tempo, o que pode permitir que empresas com práticas condenáveis ou prejudiciais continuem a existir e até mesmo dominar o mercado. Talvez seja racional eu trocar meu aparelho Android por um aparelho com sistema operacional alternativo, mas não o faço por diversos fatores não racionais, como o fato do sistema Android ser mais popular. O sabor e a qualidade de uma vodka Grey Goose pode ser indistinguível de uma Smirnoff, no entanto eu aceito pagar mais caro por ela simplesmente por ela ser mais famosa, e por aí vai.
"Che non men che saper dubbiar m'aggrada."
"E, não menos que saber, duvidar me agrada."

Dante, Inferno, XI, 93; cit. p/ Montaigne, Os ensaios, Uma seleção, I, XXV, p. 93; org. de M. A. Screech, trad. de Rosa Freire D'aguiar

Offline -Huxley-

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Re:Multa do Google pela UE - ajuda ou atrapalha o livre-mercado?
« Resposta #47 Online: 21 de Julho de 2018, 11:46:03 »
Ou de que o mercado é sempre racional. As pessoas não agem de forma racional em boa parte do tempo (incluindo quando o assunto é economia e dinheiro) como Khanemam e Tversky demonstraram numa série de estudos sobre psicologia da decisão em economia comportamental.

Não. O trabalho de Kahneman e Tversky que foi exposto em "Rápido e Devagar" é sobre a raciocínio e tomada de decisão do indivíduo. Só que, como as teorias de complexidade mostram, o comportamento médio do participante do mercado não nos permitirá entender o comportamento geral do mercado. Quanto maior o número de interações possíveis, mais difícil de entender o macro do micro, o geral das unidades. E a interação média, na medida em que revela o comportamento individual, não nos permite generalizar as preferências e o comportamento dos grupos.

É justamente porque o indivíduo é tão não racional que ele precisa dos mecanismos de preços e de mercado. Racionalidade coletiva pode funcionar mesmo que ninguém tenha racionalidade substantiva do ponto de vista individual. O mecanismo de preços funciona bem justamente porque o participante do mercado precisa saber tão pouco para tomar a decisão mais correta. O que Kahneman mostrou nos seus experimentos nos permite ficar ainda mais céticos do intervencionismo estatal como defendido no caso do tópico. Pois o planejador social também é alguém que está sob a influência de vieses cognitivos irracionais, com o agravante de que o conhecimento que ele precisa para fazer o certo não está concentrado nele, mas sim disperso pela sociedade. Ele precisaria ser quase um deus para conseguir agregar conhecimento necessário para coordenar as decisões individuais eficazmente.
Concordo, no entanto não podemos afirmar também que determinadas práticas são auto-eliminaveis pelo próprio mercado por não serem práticas que analisadas racionalmente sejam positivas para o consumidor. O consumidor agirá de forma irracional em boa parte do tempo, o que pode permitir que empresas com práticas condenáveis ou prejudiciais continuem a existir e até mesmo dominar o mercado. Talvez seja racional eu trocar meu aparelho Android por um aparelho com sistema operacional alternativo, mas não o faço por diversos fatores não racionais, como o fato do sistema Android ser mais popular. O sabor e a qualidade de uma vodka Grey Goose pode ser indistinguível de uma Smirnoff, no entanto eu aceito pagar mais caro por ela simplesmente por ela ser mais famosa, e por aí vai.

Dizer "Prefiro X, mas mesmo assim, eu SISTEMATICAMENTE boicoto a busca de X" é papo furado. Preferência declarada sem ação é NADA. Crenças sem consequências externas detectáveis no comportamento é a versão "Dragão Invisível de Sagan" da psicologia econômica.

Offline Gauss

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Re:Multa do Google pela UE - ajuda ou atrapalha o livre-mercado?
« Resposta #48 Online: 21 de Julho de 2018, 13:00:48 »
[...]
Esse é provavelmente o menor dos problemas, o mais significativo sendo a supressão de alternativas, seja de coisas do Google, ou do Android em si.
[...]
O problema é como que ocorre esta suposta "supressão de alternativas". Como eu já disse, ninguém é impedido de baixar da maneira mais acessível possível algum app alternativo dentro do próprio sistema Android que preste algum serviço semelhante
aos oferecidos pelo Google DENTRO DO SEU PRÓPRIO SISTEMA.

Citar
????

Mas há outras opções, que são eliminadas do mercado pelo google. Tanto de grandes empresas, como a Amazon, em menor grau, quanto iniciativas menores, com condições ainda mais insignificantes de competir.
Exemplos?


Citar
Você quer dizer que não seria bom para o consumidor ter mais opções? :hein:

Por que o google tirando opções do mercado é bom, mas se fosse o estado em si exercendo o mesmo controle, seria ruim?
Espantalho. Não é isso que está sendo afirmado por mim.

Citar
É uma incoerência gritante, um endeusamento nem do mercado, como processo (que é controlado), mas "dos poderosos".

"Seja lá o que for que alguém tiver grande PODER estimar que for o melhor para eles pessoalmente, é o melhor para todos".

Talvez, "a menos que se trate de PODER estatal, esse poder é do Mal, enquanto que o PODER de empresas é do Bem".
Mais espantalhos, com requintes de nonsense.



Citar
Citação de: Gauss
Mas isso não me surpreende, visto que quem geralmente apoia esse tipo de medida são os mesmos que vivem no Progreworld, que acham que toda decisão intervencionista tomada pelo governo é bem intencionada, colocando sempre a coletividade à frente da individualidade.

Non sequitur total e ad hominem.
Não há nada disso em minha afirmação. Este tipo de decisão tomada pela UE só é apoiada por burocratas (lobistas, corporativistas, nacionalistas econômicos e progressistas), que acreditam na eterna bondade nas ações estatais. É apenas uma constatação, sem valor argumentativo.

Citar
Afinal, só o protecionismo do Google que é aceitável.  ::)

Se o governo faz, é ruim, lógico; mas se é o google (ou talvez outra empresa com poder suficiente), então é ótimo, lógico; quem não entende isso é porque acha que qualquer protecionismo é ruim deve haver cotas para mulheres com cabelo azul que se identificam como água.
Esta afirmação simplesmente não tem lógica, pois não existe o tal "protecionismo privado". :hein:
Citação de: Gauss
Bolsonaro é um falastrão conservador e ignorante. Atualmente teria 8% das intenções de votos, ou seja, é o Enéas 2.0. As possibilidades desse ser chegar a presidência são baixíssimas, ele só faz muito barulho mesmo, nada mais que isso. Não tem nenhum apoio popular forte, somente de adolescentes desinformados e velhos com memória curta que acham que a ditadura foi boa só porque "tinha menos crime". Teria que acontecer uma merda muito grande para ele chegar lá.

Offline -Huxley-

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Re:Multa do Google pela UE - ajuda ou atrapalha o livre-mercado?
« Resposta #49 Online: 21 de Julho de 2018, 13:09:46 »
Por fim, o Google agora ensaia em cobrar preço pelo uso do Android. Se confirmado isso... O amplo conjunto de consumidores que não estava nem aí para a baboseira do detalhe da pré-instalação, mas se incomodaria com um aumento de preços dos seus Huaweis e Lenovos, vão poder CONTINUAR baixando os aplicativos rivais do Google no Android, mas agora com um aumento de preço causado por burocratas da UE.

Mas os estatólatras uéfilos vão dizer que seu conhecimento da preferência dos consumidores por meio de sua análise de planejamento central é superior às decisões individuais que os consumidores planejaram para si próprios guiando-se pelo sistema de preços.
« Última modificação: 21 de Julho de 2018, 13:15:45 por -Huxley- »

 

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