Começo afirmando que uma alma ocupa lugar no espaço.
E explico, partindo dos pressupostos pelo que geralmente se entende por alma:
Uma alma está associada a um corpo (em vida), anima este corpo e esta confinada a ele.
Mesmo quando uma alma qualquer já não pertence a um ser vivente e perambula por ai, ela tem um limite, pois se não tivesse, englobaria outras almas e outros seres viventes e se misturaria com eles. Se não tivesse limite algum, não poderia ser localizada quer seja no "céu", paraíso, umbral, inferno ou purgatório. Não estaria em lugar algum ou em todos os lugares. Isso obviamente não acontece, a menos que se queira assumir teses como as de Avicena, de uma alma coletiva compartilhada por todos.
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Para ocupar lugar no espaço a coisa precisa ser matéria, a alma é alegadamente constituída de algo não material, portanto, não precisa de espaço para ocupar. Mas, mesmo concebendo-se que seja um construto material sutil nenhum problema teria em ocupar o mesmo lugar que ocupa o corpo, visto que este tem espaço de sobra para acomodar uma ou mais almas. No espaço intercelular cabe qualquer alma. Se recuarmos mais no diminuto, o mundo microscópico tem muitas moradas!
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Um’alma material poderia ser um tiquinho petitinho de qualquer coisa, tão diminuta que se acomodaria em algum desvão do organismo sem incomodar ninguém...
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Ora, se ocupa lugar no espaço e em adição a isto muda no decorrer do tempo, conforme seus méritos e deméritos, forçosamente esta sujeita a corrupção (morte, destruição, dissolução, etc). Pois não parece haver nada que se situe no espaço e no tempo e seja tambem incorruptível, indestrutível e eterno. Usando um exemplo da ciência, especula-se que mesmo um próton desintegraria no decorrer de um tempo de 10^200 anos. É um número ridiculamente grande, mas não infinito. Alem disso, tais atributos de incorruptibilidade e eternidade são comumente associada a deus (ou deuses), que forçosamente teriam que transcender espaço e tempo e não se aplicam a uma alma, que do contrário se igualariam a deuses. No entanto, AS RELIGIÕES ALEGAM SER A ALMA IMORTAL.
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“As religiões” alegam muitas coisas sobre a alma. Mesmo dentro de grupos religiosos que comunguem similar linha de pensamento, qual é o caso do cristianismo com sua multiplicidade de denominações, há grupos que defendem a imortalidade da alma e outros que questionam, estes pontificam que as almas podem ser aniquilados pelo poder superior, e afiançam que algumas certamente serão!
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Outro modo de pensar a alma é não pensá-la em termos de individualidade. A alma individual seria efeito temporário de fenômeno místico (ilusão), mais ou menos comparável às fagulhas que se alçam ao ar quanto se agita uma fogueira: por um lapso de tempo apartam-se do fogo que as produziu, brilham faceiras como se tivessem vida própria e logo caem de volta sobre as chamas que as geraram...
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Ocupar lugar no espaço não necessariamente implica em estar sujeito à corrupção, muito menos em termos de méritos e deméritos. As almas poderiam ser imortais independente de terem produzido boas ou más obras. Se o espaço é indestrutível há de haver algo que nele esteja que acompanhe essa indestrutibilidade. O que acaba com as coisas é o desgaste que sofrem ao longo do tempo (ôpa, mais uma constante: agora temos espaço e tempo!). Se puder se manter no espaço sem desgaste, ou se recompondo indefinidamente quando sofrer perda, a coisa será indestrutível, ou imortal.
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Eternidade, infinitude e imortalidade são coisas distintas. Eternidade é propriedade divina, posto que Deus não tem princípio nem fim. Infinitude é característica do que seja infindável, mas que pode ter princípio. Alguns infinitos progridem numa única direção, qual a série dos números inteiros positivos. Se a esta se junta a série dos números inteiros negativos teremos um infinito bidirecionado... Já a imortalidade pressupõe sempre um início mas não um fim: o imortal tem começo, mas depois que começa não acaba mais...
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Tambem, se ocupa lugar no espaço, como pode animar qualquer corpo que seja, já que não se concebe que mais de um corpo possa ocupar o mesmo lugar no espaço?
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Respondida acima...
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Mas as religiões alegam que uma alma animam um corpo e pode transmigrar de um corpo a outro. No caso de mediunidade e canalização, o problema se agrava, pois temos o corpo do médium, a alma dele e a alma canalizada ocupando o mesmo espaço...
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“As religiões” não alegam que almas transmiguem de um corpo a outro, apenas ALGUMAS religiões defendem isso!
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Na mediunidade não temos duas almas ocupando o mesmo espaço, isso ocorreria na possessão. A mediunidade kardecista propõe a intersecção de perispíritos.
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Não vejo que o espaço fosse problema para as almas, mesmo que mais de uma estivesse no mesmo corpo. A questão a elucidar, neste caso, seria de comando: teriam espíritos desencarnados a faculdade de usurpar o comando de um corpo legitimamente ocupado pela alma que a ele foi destinada, ainda que temporariamente, a fim de usá-lo em proveito próprio?
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Um ponto a ressaltar é que Kardec durante bom tempo resistiu à ideia de que um espírito desencarnado pudesse dominar um corpo vivo (possuí-lo). Até que teve conhecimento de relatos de possessos, principalmente possessas, que acabaram por convencê-lo.
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E o problema que já é ruim, piora ainda mais se incluirmos entidades intermediárias, como por exemplo perispíritos, que por sua vez, pelas mesmas razões da alma, tambem teriam que ocupar lugar no espaço.
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Se ocupa lugar no espaço, como pode escapar a detecção? A ciência moderna é capaz de detectar mesmo coisas não visíveis como matéria escura e buracos negros e coisas que praticamente não se interagem com matéria, como os neutrinos. A física não concebe como algo que esteja no espaço-tempo einsteniano possa escapar totalmente a qualquer meio de detecção, como tambem de que modo algo que se supõe de uma natureza radicalmente distinta da matéria (mas ainda assim no espaço-tempo) possa interagir e influenciar aquela.
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Se pode interagir de alguma forma, pode ser detectada pelos meios existentes, ou pode-se no mínimo tentar conceber uma forma de detecta-la e fazer experimentos. No entanto, mesmo após mais de 2000 anos de crenças em almas (remontando ao orfismo e ao hinduísmo), os resultados são nulos.
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Assim sendo, sou forçado a concluir que almas não existem e as religiões, como sempre, estão erradas.
Materialism rulez again!
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Em relação ao perispírito concordo centos por cento. Se essa interface, como postulou Kardec, tem sua parcela material, então deveria ser detectável...
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No que diz respeito à alma não, ela pode ser inalcançável pelos detetores tecnológicos e estar por aí, livre, leve e solta... solta não: presa ao corpítio que lhe foi destinado...