A quase totalidade dos animais e vegetais (está bem, fungos, protistas, moneras, etc.) já se extinguiu. Existem hipóteses para a extinção de alguns, outros foram em períodos de extinção em massa, mas o fato é que os menos adaptados aqui somos nós, porque não estamos mais sendo selecionados pela natureza, pelo menos como já o fomos um dia, mas estamos adaptando o ambiente às nossas necessidades.
Tenho pensado, há alguns poucos anos, em como se dará nossa extinção. Não consigo imaginar que duraremos muito tempo por aqui.
Fala-se em catástrofes, doenças, etc., mas o fato é que somos frágeis demais para durarmos o tempo que duraram outros serem a alguns ainda duram, como o
Peripatus acacioi.
Li, recentemente, um artigo de Freeman Dyson (bem antigo) que discorre exatamente sobre este assunto. Vou transcrevê-lo aqui e espero que o assunte desperte algum interesse, pois gostaria de ver a opinião de cada um de vocês.
FREEMAN DYSON é um cientista profissional que desenvolveu uma segunda carreira escrevendo livros para leigos. Ele gosta de alternar suas atividades científicas com incursões na engenharia, política, controle de armas, história e literatura. A maioria de seus textos é sobre pessoas e fatos que observa, às vezes sobre pessoas e fatos que imagina. Nasceu e foi criado na Inglaterra, trabalhou durante a Segunda Guerra Mundial como pesquisador cientifico do comando-bombardeiro da Royal Air Force, emigrou para a América depois da guerra e se tornou famoso resolvendo alguns problemas matemáticos esotéricos, das teorias sobre átomos e radiação.
Desde 1953, é professor de física do Institute for Advanced Studies de Princeton, New Jersey. O principal lema de sua vida é buscar variedades. Isso inclui variedade de pessoas, de teorias científicas, de truques técnicos, de culturas e línguas. Ele é o autor de cinco livros destinados ao público em geral: Disturbing the Universe, Weapons and Hope, Origins of Life, Infinite in All Directions e From Eros to Gaya.
QUANTO TEMPO DURARÁ A ESPÉCIE HUMANA ? - Discussão com Robert Malthus e Richard Gott - Freeman DysonHá quase duzentos anos, o reverendo Thomas Robert Malthus publicou seu famoso “Essay on the principie of population as it affects the future improvement of society” [Ensaio sobre o princípio da população e seus efeitos sobre o futuro progresso da sociedade]. Malthus observou a situação humana de modo sombrio. Ele começou estabelecendo duas leis gerais. Primeiro, ele disse, a população sempre tende a aumentar geometricamente, isto é, o aumento anual é dado por uma determinada fração da população. Segundo, a quantidade de alimento disponível aumenta aritmeticamente, ou seja, a quantidade de comida produzida anualmente cresce uma determinada fração independentemente do aumento da população. E, portanto, matematicamente garantido que o aumento geométrico da população superará o aumento aritmético da produção de alimento. Malthus deduziu de suas duas leis que o crescimento populacional resultará apenas em fome, guerra e doença. Os membros menos afortunados de nossa espécie sempre viverão na pobreza, â beira da inanição.
Malthus era um clérigo inglês e um dos pais da economia. Suas previsões pessimistas fizeram com que a economia fosse chamada de “a ciência sombria”. No tocante à Inglaterra, suas previsões se revelaram incorretas. Após a publicação de seu ensaio, a população da Inglaterra cresceu rapidamente, mas o suprimento de alimentos e outras necessidades cresceu de forma mais veloz. Ainda não se provou se suas previsões serão ou não corretas para a humanidade como um todo. O ponto fraco de sua argumentação foi sua incapacidade de distinguir entre um simples modelo matemático e o complexo mundo real.
Passaram-se duzentos anos, e meu amigo Richard Gott também publicou um ensaio sombrio. Ele saiu em maio de 1993, na revista científica britânica Nature, com o título de “Implicações do princípio de Copérnico em nossas expectativas futuras”. Richard Gott é um astrônomo famoso e, como eu, interessado em questões referentes à existência e destino da vida no universo. Por “princípio de Copérnico” ele quis se referir ao postulado de que os seres humanos não ocupam uma posição privilegiada no universo. O princípio recebeu esse nome em homenagem a Copérnico, o astrônomo que colocou, pela primeira vez, o Sol e não a Terra como o centro do sistema solar. Depois que a herética teoria de Copérnico se tornou ortodoxa, aprendemos gradativamente que estamos vivendo num planeta comum, que orbita em torno de uma estrela comum, situada na região periférica de uma galáxia comum. Nossa situação não é, de modo algum, especial ou central. O princípio de Copérnico, de acordo com Richard Gott, afirma que não há nada de extraordinário em nossa situação no tempo e no espaço.
Para aplicar o princípio de Copérnico à situação humana no tempo, Gott confia na noção matemática de “probabilidade prioritária”. A probabilidade prioritária de um evento é a probabilidade de esse evento ocorrer se ignorarmos completamente quaisquer circunstâncias especiais que possam influenciá-lo. O princípio de Copérnico afirma que o lugar e o momento em que vivemos nunca deveria ter uma pequena probabilidade prioritária. Por exemplo, uma posição central numa galáxia tem uma probabilidade prioritária muito menor que uma posição periférica qualquer. Portanto, o princípio de Copérnico diz que devemos estar vivendo numa posição periférica, como de fato estamos. Quando o princípio de Copérnico é aplicado à nossa situação no tempo, ele diz que nem eu nem Richard Gott devemos estar vivendo num ponto próximo ao começo ou ao fim da história da humanidade. Deveríamos estar vivendo aproximadamente no ponto central da trajetória da humanidade. Já que sabemos que a espécie humana se originou há cerca de 200 mil anos, o fato de ocuparmos uma posição não privilegiada no tempo implica que nossa espécie ainda vai durar aproximadamente 200 mil anos. É muito pouco tempo em comparação com a expectativa de duração da Terra, do Sol ou da galáxia. Esse é o motivo pelo qual chamo o argumento de Richard de sombrio. Ele defende que o ser humano não ficará aqui definitivamente, que provavelmente estaremos extintos em, no máximo, poucos milhões de anos, e que não é provável que sobrevivamos tempo suficiente para colonizar o resto da galáxia e nos espalharmos por ela.
O argumento de Gott tem o mesmo ponto fraco do argumento de Malthus. Ambos usam um modelo matemático abstrato para descrever o mundo real. Quando Gott aplica seu princípio de Copérnico à situação real em que nos encontramos, supõe que as probabilidades prioritárias podem ser usadas para estimar probabilidades reais. Na verdade, não ignoramos completamente as circunstâncias especiais que cercam nossa existência. Portanto, probabilidades prioritárias podem nos fornecer estimativas deficientes do que é ou não provável que aconteça.
Depois que li o artigo de Richard Gott e pensei um pouco sobre ele, escrevi a seguinte carta a Richard. Ela explica as razões pelas quais discordo de suas conclusões, apesar de considerar seu ponto de vista importante e esclarecedor.
Caro Richard,
Bom dia, sr. Malthus. Obrigado por mandar-me seu ensaio deliciosamente sombrio sobre as implicações do princípio de Copérnico. A lógica de sua análise é impecável. Tenho que admirar o modo pelo qual você extrai uma gama tão grande de conclusões a partir de uma hipótese aparentemente plausível. Como você disse, ela é passível de ser testada e, portanto, uma legítima hipótese científica. Seu reverenciado predecessor, Thomas Robert Malthus, chegou, de forma muito semelhante, a consequências terríveis a partir de uma hipótese verificável. Em minha opinião, em ambos os casos a hipótese é simples demais para ser verdadeira. Além do mais, em ambos o estudo das consequências da hipótese é útil, já que elas servem como alerta para uma espécie incauta.
Eu me lembro de que quando era criança, nos meados de 1930, época em que a Grã-Bretanha ainda era a maior potência, ficava confuso pelo paradoxo da improbabilidade de minha própria situação. Nasci no seio da classe dominante do império dominante, o que significava que eu nascera no grupo dos 10% mais elitizados da população mundial. A probabilidade de eu ter tido tamanha sorte era de apenas uma em mil.
Como eu poderia explicar minha sorte? Nunca encontrei uma explicação satisfatória. A noção que eu deveria ter de que havia probabilidades prioritárias iguais de eu ter nascido em qualquer lugar do mundo entrava em conflito com o fato de eu ter nascido um inglês de classe alta. Parece que a noção de probabilidade prioritária não funcionou nesse caso.
Acho que o paradoxo de meu nascimento também surge em seu ensaio. A noção de probabilidade prioritária só faz sentido quando ignoramos totalmente fatos particulares que podem influenciar as probabilidades. Se soubermos que um evento improvável qualquer de fato ocorreu, então a probabilidade de ocorrência de todos os eventos relacionados pode ser drasticamente alterada, Vou dar um exemplo artificial. Suponha que descubramos dois planetas ocupados por civilizações alienígenas em lugares remotos do espaço. Enviamos uma missão para fazer contato e estabelecer uma base humana em um desses planetas. Como achamos muito caro mandar emissários para os dois planetas, escolhemos aquele que será visitado atirando uma moeda para cima. Bem, acontece que os habitantes do planeta A são ogros que devoram imediatamente todos os humanos, enquanto os habitantes do planeta B são zoólogos benevolentes que colocam os visitantes num zoológico e os encorajam a se reproduzirem, protegendo-os de todo e qualquer mal por 1 bilhão de anos. Desconhecemos esses fatos sobre os alienígenas no momento em que escolhemos o planeta a ser visitado. Agora, de acordo com sua hipótese de Copérnico, a probabilidade de prolongar a vida de nossa espécie visitando o planeta B é muito menor do que a probabilidade de visitarmos o planeta A e nos extinguirmos em alguns milhões de anos, dadas as próprias vicissitudes da vida no planeta Terra. Mas sabemos que, neste caso, as probabilidades de A e B são iguais. O ponto ao qual quero chegar com esse exemplo é que o conhecimento de um único fato improvável, como a existência do planeta B e de seus habitantes bondosos, faz com que a estimativa das probabilidades prioritárias de Copérnico a respeito da vida esteja completamente errada.
Retornando desse exemplo artificial para nossa situação real, me parece que a hipótese de Copérnico já se encontra comprometida por nosso conhecimento de um fato improvável: o de que estamos vivendo há poucos séculos do momento em que surgirá a possibilidade técnica de a vida sair de um planeta e se espalhar pelo universo. Se a espécie humana vai ou não tirar proveito dessa possibilidade é irrelevante. O fato é que ela existe agora e não existia nos últimos 4 bilhões de anos. Como tudo indica, nascemos numa época privilegiada, tiremos ou não proveito disso. O conhecimento desse fato improvável muda todas as probabilidades prioritárias, pois a saída da vida de um planeta muda as regras do percurso a ser seguido pela vida.
Outro desmentido independente da hipótese de Copérnico surge do fato de que calhamos de estar vivendo na era do nascimento da engenharia genética. No passado, como Darwin ressaltou, a maioria das criaturas não deixou progénie porque as espécies não produziam híbridos. A extinção da espécie implicava a extinção da progénie. No futuro, as regras do jogo podem ser diferentes. A engenharia genética pode confundir e erodir as barreiras entre as espécies, de modo que a extinção delas não tenha mais um significado claro. Então, as suposições de Copérnico sobre a longevidade das espécies e de sua progénie não serão mais válidas.
Concluindo, me permita dizer que não estou contestando a lógica de seu argumento, mas a plausibilidade de suas suposições. Se a hipótese de Copérnico é verdadeira, então as consequências a respeito dela, apontadas por você, procedem. Estou encantado com a maneira pela qual você expôs as consequências, de forma tão clara e direta. Estou apenas apreensivo, pois espero que o público não seja levado a acreditar que sua hipótese seja um fato estabelecido. O exemplo de seu predecessor Malthus mostra que isso pode representar um verdadeiro perigo. A crença indiscriminada nas previsões de Malthus provocou um atraso do progresso econômico e social da Inglaterra por centenas de anos. Acredito que você não deixará que uma crença indiscriminada em suas conclusões atrasem o progresso atual.
Obrigado por dar-me essa oportunidade de pensar sobre questões importantes sob um novo ângulo.
Sinceramente,
Freeman Dyson
Esta carta não será a última palavra da discussão entre mim e Richard. Estou agora esperando ansiosamente por sua resposta.