A crença na entidade metafísica satanás é irrelevante. Mas a filosofia ou religião satanista de LaVey, seja lá qual for o nome que se escolha, é na melhor das hipóteses uma piada de muito mau gosto e não merece simpatia.
Não conheço o satananismo de LaVey o suficiente para questionar isso. Você pode explicar por que não merece simpatia e por que é uma piada de muito mau gosto?(não estou sendo sarcástico, quero realmente saber os motivos) Apenas vi alguns trechos da "doutrina" de LaVey e achei interessantes. De qualquer forma, assim como o Ricardo, peguei a definição de "satanista" do site do teste e seguindo aquela definição eu sou satanista.
Estou tendo dificuldade em localizar essa definição exata (deve haver cerca de uma dúzia naquela página
http://www.religioustolerance.org/satanis2.htm e em seus links diretos). A versão menos controversa que encontrei está bem no final:
Accepts Satan as a pre-Christian life-principle concept worth emulating. These are religious Satanists, who follow a number of religious traditions, of which the largest by far is the Church of Satan. Há também, como disse o Ricardo, a questão da
valorização do eu e do prazer social - em vez de, pelo que entendi, se submeter a uma divindade externa ou a seus representantes. O problema é que esse é um conceito muito vago que ainda por cima reforça alguns preconceitos das formas mais toscas do Cristianismo e de outras crenças dualistas. O próprio uso da palavra "Satã" é na melhor das hipóteses uma provocação (desnecessária) às crenças abraâmicas. Talvez ela tenha tido um sentido diferente séculos atrás, mas
hoje é uma provocação.
Quanto à
valorização do conceito de princípio vital pré-cristão, a rigor nada impede que um cristão valorize a vitalidade e o prazer. Muitos o fazem. Há na idéia de que "um satanista se valoriza" uma acusação implícita (e muitas vezes injusta) de que "um cristão não gosta de si mesmo". Sim, em muitos casos isso é verdade, mas nem por isso convém ficar bancando crianças birrentas.
Valorização em contraste a que exatamente?
Como diz no site do teste, é em contraste à valorização e submissão perante alguma divindade metafísica.
Por essa definição, qualquer pessoa que se ame é satanista. Desde que não ame mais a alguma divindade, é claro. É uma definição tão exageradamente ampla que perde a utilidade e traz confusão em vez de esclarecimento, além de esconder o fato muito significativo de que muitos religiosos teístas tem uma relação de amizade com suas divindades, e não de submissão.
Os satanistas que conheço parecem rejeitar bem mais do que apenas um Senhor Divino. Deixam de lado um mínimo de idealismo e consideração pelo próximo. ISSO é difícil de engolir ou mesmo de aceitar calado.
Isso infelizmente pode ser uma verdade. E é mais infeliz ainda o fato de que não só "satanistas" agem assim, como a grande maioria dos cristãos que eu conheço e gente de outras religiões também.
E muitos ateus e agnósticos que não se consideram satanistas, também. É de fato lamentável. Há quem procure justificar isso como "aceitar a sombra", "ser autêntico", "assumir sua natureza animal", mas nada muda a realidade de que é um comodismo egocêntrico e, em última análise, auto-destrutivo. Sim, o ser humano é no fundo um animal como qualquer outro. Mas é também o único conhecido que consegue abstrair os sentimentos dos outros e construir culturas. Não sei se os satanistas costumam ter o sonho de ter nascido como animais puros como cavalos, lobos e gambás em vez de seres humanos com tanto potencial, mas de alguma forma suspeito que não é bem esse o caso. Seja como for, lamento o desperdício, e mais ainda a hipocrisia dessa postura - que até evidência em contrário eu considero típica e representativa do satanismo, inclusive por definição.
Egocentrismo é uma grave falha de caráter de qualquer jeito - e uma interpretação religiosa que a encoraja merece repúdio. O que dizer então de uma religião que a toma como pedra fundamental?
Para mim o que merece mais repúdio do que o egocentrismo, que inclusive é algo inerente ao ser humano, é o teocentrismo, ou seja, a subversão da natureza, a anulação do ser humano e da vida em prol dos desejos egocêntricos de uma divindade. O que dizer então de uma religião que a toma como pedra fundamental? O cristianismo, por exemplo.
[]'s
Submissão à divindade é uma forma imatura de praticar o Cristianismo. Cristãos esclarecidos aprendem a superá-la e a buscar inspiração construtiva. Eu gostaria que os satanistas seguissem esse exemplo. Qualquer religião que não consegue ensinar seus praticantes a amar a si próprios sem esquecer de ver os seus semelhantes como igualmente dignos é uma religião fracassada, e até onde posso ver o Satanismo se põe muito mais próximo desse fracasso do que convém a qualquer um.
Metta,
Luis.