Se a menina engravidou é porque (...) tudo necessário para que ela pudesse engravidar. Ou seja, o corpo dela estava preparado, sim.
Bem, nao exatamente.
Fora as adaptações fisiológicas que você citou, existem ainda adaptações biomecânicas fundametais tanto para a gestação quanto para o parto - especialmente para o periodo expulsivo.
Em miúdos, durante a gestação as doses de
relaxina (proteína fundamental de um hormônio que relaxa ligamentos, cartilagens interarticulares, tendões - enfim, praticamente todo tecido conjuntivo) aumenta progressivamente. Os objetivos principais (conhecidos) são,
Para a Gestaçãoa) aumento da lordose lombar (adaptação postural para o novo centro de gravidade);
b) reorganização das articulações de apoio de carga (joelhos, tornozelos...)
Para o Parto: aumentar diâmetro do canal de parto para a expulsãoa) desviando o cóccix posteriormente;
b) permitindo o alargamento da sínfise púbica - junção dos ossos do quadril palpada acima do clitóris;
Quando essas adaptações ocorrem de maneira ineficiente, o resultado é sobrecarga especialmente da coluna lombar da mulher, resultando em
lesão e dor.
Como a gestação ocorreu, foi bem lembrado que os hormônios necessários estavam presentes, portanto também a relaxina e as alterações biomecânicas citadas. Contudo, comparando as proporções existentes entre uma gestante adulta e um feto a termo (8 a 9 meses) com a de uma menina de 5 anos e o mesmo feto, é possível imaginar que a estrutura da menina, muito provavelmente, teve maiores dificuldades de se adaptar aos cerca de 11 kilos do feto e seus anexos.
Assim sendo, acho complicado dizer que o corpo de uma menina de 5 anos estava preparado para a gestação. Talvez fisiologicamente, mas parece certo que o grau de lesão mecânica ao qual ela foi submetida deve ter sido bastante maior do que o normal. É um caso muito interessante, gostaria de saber detalhes a respeito. Vou tentar achar.
Quanto ao caráter evolutivo, muito ainda se está descobrindo a respeito do parto. Em 2002, Dietz & Bennet (J. Am. Col. of Gyn. Obst) publicaram um artigo onde comparavam os graus de lesão mecânica do assoalho pélvico em partos normais e cesarianas. E pasmem: as lesões foram praticamente idênticas. Isso mesmo:
cesária arrebenta o períneo tanto quanto o parto normal.
Divide-se usualmente o parto em 2 períodos: o primeiro (ou de dilatação) e o segundo (ou de expulsão). No primeiro período o corpo da gestante vomeça a se preparar para a expulsão. No segundo, quando sao alcançados os famosos 9 cm de dilatação do colo uterino, o trabalho é levado a cabo. Em suma: dilatou, arrebentou. Pouco importa a via de saída depois disto, ou seja, tanto faz se for cesária ou vaginal.
Pois bem, Dietz & Bennet mostraram que que, nos casos onde a cesariana era efetuada ainda no primeiro período do parto (ou seja, ANTES de alcançados os 9 cm de dilatação), as lesões eram mínimas.
Obviamente esse trabalho provovou um tremendo furdunço na comunidade científica, afinal punha abaixo o antigo (e, como sempre, obvio) dogma de que a cesariana lesionava menos que o parto normal. Ainda, vale o contexto moderno, onde todo mundo defende apaixonadamente as supostas (até agora, de comprovado apenas a recuperação pós-operatória mais rápida) vantagens do parto normal.
Em 2003 e 2004, DeLancey (série de artigos no ACOG) mostrou através de ressonância magnética, os tipos de lesão causadas pelo parto, tanto normais quanto cesários. Da mesma equipe, Lien (2004) mostrou através de reconstrução computadorizada os tipos de lesão que acontecem (é realmente impressionante, ver algo como uma bola de basquete passar pela boca de um balão de aniversário).
Os resultados dessas lesões no assoalho pélvico são os famosos prolapsos genitais "de vó" (bexiga caída, no popular), quando os órgãos pélvicos (útero, bexiga, reto e até a própria vagina) perdem a sustentação e herniam (viram do avesso mesmo). Além, a não menos famosa incontinência urinária.
Ou seja, parto é pra arrombar tudo mesmo. Quando deus projetou essa parte, estava com muita, muita raiva das mulheres (normal, para uma entidade machista). A conclusão é que, ao que parece, que fomos mesmo projetados para viver até os 35 anos - como foi uma vez. O resto, é pura teimosia... inclusive - ou talvés até principalmente - por parte daqueles que dedicam a vida à tentar resolver esses males.
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