Este aqui foi um devaneio meu para uma historinha que estou escrevendo:
EU, VAMPIRO
“Penso, logo, existo!”
Sofisma! Zotismo! Bobagem!
Nada sou, mas estou nisto
Puro instinto de voragem
Sensível e Indiferente: Misto
Sangue quente é meu apisto
Mitológico personagem
Penso sim, mas sou miragem…
Enquanto vivo, busquei-a incansável
Bela e irresistível figura feminina
Capturei-a, fera linda, indomável
Seria o fim daquela rotina
Não fosse seu poder inenarrável
De sedução; tornou-me vulnerável
Dominou-me rápida, à surdina
Desviando-se, assim, de sua sina
Na promessa de ser eterno
Entreguei minh’alma à morte
Sua destra em meu esterno
Sua arcada mostrou porte
Hauriu meu sangue, sugar terno
Boca gélida qual ártico inverno
Cobrou, destarte, o caro importe
Entregando-me a esta sorte
Não mais sinto das rosas o perfume
Por minhas narinas não entra mais ar
Meu coração não possui acume
Está cada dia a atrofiar
Tornei-me de mim mesmo nume,
Mas, nada além me vem a lume
De uma sede mórbida saciar
E esta sede poder controlar
Poder sonhar é meu aloite
Posto que só almejo a cor berne
Quando me acorda a sonoite
Todos me negam, até o verme
Perpétuo recluso nas muralhas da noite
Assim, porque o Sol, pior que açoite
Aniquilar-me-ia, todo meu cerne
Após ter consumido minha derme
Sinto falta de sentimento
De como eu era antes de morrer
Mesmo que só por um momento
Eu gostaria poder renascer
Ter de novo amor, de volta alento
Não mais olhar como alimento
Aquelas que, antes de eu perecer,
Eram a razão do meu viver