Há alguns dias fiz uma visita à região sinistrada pela Samarco, no Rio Doce.
Conversei com algumas pessoas, algumas muito simples.
Quando voltei, lembrei me de uma delas, realmente engraçada e escrevi isto?
JOAQUIM E SEUS MORTOS
         - Um Conto de Assombração
Nossa história começou assim:
Todo flagelo, chega de repente
E o Rio Doce não teve piedade
levou toda a família do Joaquim
Seu amado pai, Clemente
Seu filho, Serafim,  
e o irmão, Zé Trindade
Joaquim era um homem bom e puro
Via seus trespassados em todo lugar
Por isso tinha horror ao escuro
E estava sempre a orar
Naquela tarde de breu, 
Ele estava mais cismado, 
Depois de cuidar da  horta
E do porquinho Camafeu
Voltou pra casa, apressado, 
E quase trombou na porta
com os olhos arregalados, 
as botas sujas de lama
Mal se benzeu, e do banho foi pra cama
Dirigiu me estranhas palavras, 
Sem mesmo olhar pra mim
Mas ouviu-se um grande estalido
 e um grito do Joaquim
Um raio caiu ali perto e apagou a nossa luz
A escuridão assombrava o lugar
Foi aí que, baixinho, ouvi a voz do Joaquim
Por certo, estava a rezar
 
Ele sempre, começava assim:
“Sinhô do Céu, meu amado Jesus”
“me iscuta, se faz o favor”
“Aqui quem fala é o Joaquim”
“Ajuelhado na iscuridão”
“Ti peço  duas coisa pra mim”
“Anímo pra levá minha dor”
“E luz pro meu barracão”
“Assinados eu, Joaquim”  
“Seu pai, seu filho e seu irmão”