Quando vejo algumas posições do Olavo de Carvalho sobre assuntos que me são pertinentes, vejo que na maioria das vezes ele está redondamente enganado, e algumas vezes, não. No entanto, digo que o Olavo é um homem que domina a arte de defender o que está certo, da forma errada.
O que Olavo escreveu foi uma crítica pretensiosa, pouco informativa e muito especulativa sobre a metafísica newtoniana. Um dos conceitos mais proeminentes dentro do
Principia é a existência do espaço absoluto, no qual todas as três leis de Newton são válidas e coerentes. Como sabemos, há casos onde as três leis de Newton são válidas, nos referenciais inerciais; e casos onde elas não são válidas, nos referenciais não-inerciais. Isaac Newton contornou isso descrevendo o espaço como absoluto: os referenciais não são os observadores ou os pontos que escolhemos, mas o espaço que existe per si.
O espaço absoluto, por sua própria natureza, sem relação com qualquer coisa que seja exterior, permanece sempre semelhante e imóvel. I. Newton, Philosophiae Naturalis Principia Mathematica, (1687).
A ideia de um espaço absoluto foi criticada fortemente por diversos filósofos, matemáticos e/ou físicos, como Leibniz, Berkeley, Mach, Einstein, entre outros. Berkeley expôs de forma clara a contradição interna da metafísica newtoniana: o caráter cientifico da física newtoniana dependia da experiência, mas a metafísica newtoniana eliminava o caráter experimental da física newtoniana, pois se fundamentava em uma ideia de espaço absoluto, metafísico e independente. Cito:
Imaginemos que todos os corpos tenham sido destruídos e reduzidos a nada: desse modo, daremos àquilo que resta, onde, juntamente com os corpos, fica suspensa toda relação de situação e de distância entre eles, o nome de espaço absoluto. Este espaço é, então, infinito, imóvel, indivisível e não constitui objeto algum de percepção, desde o momento em que cessou em relação a ele toda possibilidade de relação e de distinção. Todos os atributos são, dito em outras palavras, privativos ou negativos; não parece significar, portanto, mais do que o simples nada. A única dificuldade estriba em que é algo extenso e que a extensão representa, apesar de tudo, uma qualidade positiva. Porém que classe de extensão é esta que não se pode medir nem dividir e na qual não há uma só parte que se possa perceber por meio dos sentidos ou captar-se por meio da representação? Se examinarmos a fundo semelhante ideia - supondo que podemos chamá-la assim - vemos que é a mais perfeita representação do nada que podemos imaginar. G. Berkeley, De Motu, (1721)
É justamente isso que Olavo de Carvalho ataca em sua exegese sobre a obra de Newton. Esse ponto final dele é o que nós concordamos hoje - vide Teoria da Relatividade. O problema, além de insultar a figura de Isaac Newton e seus seguidores, foi ele tentar usar conceitos vagos e falaciosos das três leis de Newton para formular sua crítica.