Eu não confio nos brasileiros para escolher o futuro deste país. Aliás, não confio em um "brasileiro padrão" nem para ler um artigo e, em seguida, me falar o que está escrito.
Não acho o pensamento "se o povo é burro, que eleja representantes burros, paciência" justo. A questão aqui, ao meu ver, não é o que merece cada nação, mas sim como escolher melhores representantes para cada nação. E acho que, na situaçao atual brasileira, o nosso sistema é ótimo para escolher os políticos mais sofríveis.
As campanhas são a melhor demonstração do fracasso da democracia na terra que Cabral teve a infelicidade de descobrir. Bastam alguns minutos em frente à televisão para perceber que os programas são feitos para um público burro, despreparado. Bastam alguns dias por aqui para perceber que o perfil dos nossos políticos é voltado para um povo sem instrução, sem consciência política. Vejam a que ponto chegamos: os candidatos fazem malabarismos publicitários para ganhar os votos dos ignorantes da pátria, mas não dão valor algum a um debate sério, como fazemos aqui no fórum. Isso não rende votos.
Não sabemos a opinião do nosso presidente sobre praticamente tudo. E, provavelmente, ele sequer possui muitas opiniões. Ele não dá entrevistas quase nunca. E, se nós não conhecemos nossos candidatos, e se eles não possuem consistência alguma, é porque o povo não possui consistência alguma. Os brasileiros escolhem o candidato pelo carisma, pelo apelo, mas não valorizam em nenhum momento a posição política ou a visão de questões sociais como aborto, legalização das drogas ou casamento homossexual. O brasileiro não observa diferença entre o socialista e o liberal. O voto não possui vínculo ideológico, possui vínculo individual: se o candidato parece ser um homem "bom" ou não.
Por isso, questiono até que ponto muita gente, muita gente mesmo, deveria participar da decisão do futuro desse país. O voto obrigatório é uma aberração, leva o povão imbecil para votar. Voto facultativo é uma necessidade urgente. Citando o Roberto Campos:
"O subdesenvolvido procura soluções mágicas. Quando faltava chuva, o inca não tinha dúvida: sacrificava algumas crianças ao deus de plantão. Aqui, a mágica agora é o denuncismo do 'pega corrupto'. Esquecemos as razões profundas da corrupção, a falência múltipla do Estado, obsoleto, corporativo, ocupado por interesses espúrios, cuja ineficiência tem por maiores vítimas os pobres e indefesos. Se continuarmos a pensar nos sintomas, e não na doença, não conseguiremos mudar as coisas. Só se Deus for mesmo brasileiro..."
O Congresso vai continuar podre enquanto o eleitorado de Severino Cavalcanti prosseguir considerando certo votar neste querido político nordestino. O Brasil continuará destruído enquanto as pessoas que votam escolherem seus representantes pelo seu jeito seguro de falar ou pelo seu sorriso convincente. Eu penso, sinceramente, até que ponto uma limitação do direito ao voto não seria interessante. Só não consigo imaginar um sistema onde se pudesse tirar o poder das massas ignorantes, mas ao mesmo tempo manter as portas abertas para qualquer cidadão interessado que seja capaz de votar utilizando-se de maior discernimento. O voto facultativo é um primeiro passo interessante.