E porque a maioria dos pobres e miseráveis ainda assim não recorre ao crime? E também não acho que todos não tenham tido educação moral só porque são pobres. Onde na história que a educação moral se associou a alguma faixa de renda e como exatamente?
Pergunte-se por que a maioria dos presidiários são pobres.
Por que há uma maioria de pobres no Brasil, e porque os crimes mais acessíveis aos pobres são de mais difícil escapatória da lei, enquanto há uma minoria de ricos que justamente por serem ricos podem se safar de punições mais comumente. E no meio termo o meio termo.
Acha mesmo que é tudo uma questão de ter mais ou menos chances de se safar?
Não, eu não disse que é só isso; principalmente é o fato de a maioria das pessoas no Brasil serem pobres, por si só isso faz com que a maioria dos criminosos sejam pobres. Esse é o principal motivo, na minha opinião.
Outros motivos do crime em geral - para ricos ou pobres - são: ver uma possibilidade de conseguir qualquer coisa que se queira de forma mais fácil, porém ilegal; a aparente possibilidade de fazer isso e sair impune, e como catalisador, não ter escrúpulos, moral que condene isso.
E como eu disse antes, a pobreza não está relacionada à imoralidade, nem riqueza a níveis mais altos de moral. Eu ainda mantenho todas as minhas questões anteriores:
* por que a maioria dos pobres e miseráveis não recorre ao crime? * Onde na história que a educação moral se associou a alguma faixa de renda e como exatamente?As pessoas têm valores a seguir, mesmo as mais pobres que não tiveram acesso a uma educação formal. Mas a miséria as torna muito mais propensas a "esquecer" esses valores para tentar colocar logo algo na mesa (ou nos pés, na cabeça, no bolso).
Acho que isso explica uma parecela minima dos crimes, como ja disse, os de necessidade "fisiológica": roubar comida, remédios, ou coisas mais diretamente ligadas às necessidades básicas - não psicológica, de status: roubar ítens de luxo especificamente, ou só querer se ter mais do que se tem, ao mesmo tempo em que outras pessoas (a maioria) estejam nesse mesmo nível social não recorrem a isso.
Esse mesmo tipo de correlação, "a maioria das pessoas X é Y", embasa pensamentos de que por exemplo negros sejam intelectualmente inferiores, biologicamente condenados à pobreza e ao crime. Não é suficiente para estabelecer vínculo causal.
Realmente, há ignorantes que pensam desta forma e a usam como base para argumentações racistas, mas se eles deixarem de ser ignorantes verão que é uma questão de que a maioria das pessoas desta ou daquela etnia são mais pobres. Aí não tem vínculo casual.
Mas parte da afirmação dos racistas é que
a pobreza é geneticamente determinada, que seriam geneticamente incapazes de prosperar na sociedade se não forem favorecidos por cotas e outros sistemas, ou talvez a despeito disso.
Fora isso, o cerne da questão é o que eu havia dito anteriormente: a maioria dos pobres não é criminosa; e ninguém demonstrou que é muito desproporcional o número de criminosos em classes sociais diferentes. Como existem casos de corruptos, criminosos de colarinho branco e de classe média, fica sendo a hipótese nula de que o crime é mais ou menos homogeneamente distribuido entre todas as classes, havendo apenas mais criminosos entre as classes mais baixas porque a maioria das pessoas é de classes mais baixas, além do fato de que com dinheiro é mais fácil de se safar.
Nada disso de que a pobreza ou a desigualdade social são as culpadas pela violência e criminalidade implica em que não se deveriam ter políticas para diminuir a miséria e a pobreza, para garantir que as pessoas tenham um mínimo de condições dignas. Tem mais a ver com refutar a falácia dessa aparente (e não demonstrada, tanto quanto sei) correlação, que é um tipo de terrorismo psicológico misturado com apelo à piedade, e peça de jogo político - de todos "lados", quem quer que se olhe vai usar esse argumento se tiver tempo no horário eleitoral gratuito, ainda que as respostas possam diferir um pouco.
Acho que a desigualdade social em si, não é problema algum. Se é, a Suzane é vítima da desigualdade social porque há os mais ricos que ela, e só teremos paz quando todos ganharem absolutamente igualzinho, a despeito do que quer que façam ou possam fazer para ganhar mais, que teria que ser coibido.
Mesmo se houvesse uma igualdade social imposta, ainda assim haveriam crimes porque nada me diz que ninguém nunca vai querer ter algo mais e não ter escrúpulos para fazer algo imoral para obter, a despeito de ninguém mais nessa sociedade ter esse algo mais. Exatamente como se a renda de todas as as classes sociais subisse proporcionalmente, de forma que a que hoje é a mais miserável fosse equivalente a média atual; ainda haveriam crimes "motivados pela desigualdade social", tal como há crimes cometidos pelas pessoas entre os pobres e os mais ricos. Porque não é verdadeiramente a desigualdade o problema, mas poder se ter sempre mais, que é inevitável, mesmo que se criminalizasse a desigualdade em si.
Acho mais sensato em vez de coibir a desigualdade pela desigualdade simplesmente, combater a miséria e a pobreza extrema, através de estruturas que gerem oportunidades e sei lá mais o que, ao mesmo tempo em que se combate a criminalidade, que não vai acabar simplesmente se todos fossem forçados a ganhar igualmente.