Acho que isso é mais uma racionalização - desculpa para tornar socialmente e "auto-psicologicamente" aceitável o que seria inaceitável - talvez um tanto popularizada, talvez um tanto em moda, do que "o problema" em si.
Se fosse simplesmente um estado psicológico determinado pelo desnível, as classe média e média baixa por exemplo consideraria difícil viver sem carro, ao lado de vizinhos numa situação um pouco melhor com seus carros econômicos, na maioria usados, que por sua vez invejam os donos de carros zero (econômicos), e todos esses invejam os de um bairro mais adiante quando passam por ele ou pelas ruas das cidades, com seus modelos de carros bem mais caros e casas de luxo.
Não é justificando algo, apenas mostrando um dos motivos.
O fato é que, nas classes acima do nivel de "miséria", ainda existem chances. Emrpegos (mesmo que ruins e dificeis de achar), um salário (mesmo que muito pouco), etc. Mas imagine a situação, você sem ter o que comer e vendo na televisão que os mais pobres da novela tem mais coisa no café da manhã que você tem o dia inteiro. Não vejo como comprar fome e necessidade com carros.
Bem, como eu disse antes, não é que não hajam crimes motivados por necessidade mesmo. Mas acho que isso é uma fração quase despresível, e que nossos presídios não estão abarrotados de ladrões de galinha ou de pão.
Em vez disso, a maior parte dos crimes deve sim, ser motivado por algum ganho, mas mais supérfluo, não algo tão essencial, e não deve ser cometido pela maioria das pessoas daquela classe.
Ninguém pensa que vai sofrer alguma punição, porque se fosse assim, ninguém que vive em favelas/periferias iria cometer crimes, pois todo dia morrem vários e outros tantos vão presos.
Mas muitos enxergam o crime como o único caminho pra sair daquela vida miserável. E outros seguem esse caminho mesmo sendo consciente que o crime só leva a 3 coisas: cadeia, morte ou cadeira de rodas.
Eu acho que você essencialmente não me contradisse em nada aí... acho que os criminosos cometem os crimes supondo que há boa chance de sairem impunes, e vêem o crime como modo de subir na vida, obter o que querem de forma mais fácil ou da única forma que parece ser viável... só acho que adicionou o elemento favela/periferia desnecessariamente aí; tanto faz se o criminoso é da favela ou "dos jardins", vale para todos.
Continuo achando que o fato das pessoas serem de um ou de outro lugar não afeta em muito. Teoricamente poderia afetar de modo até meio "matematicamente previsível", porque quanto mais pobre se é, mais a vida poderia melhorar. Mas acho que de modo geral as pessoas não são [tão] inescrupulosas e isso acaba não pesando, e a honestidade não é inversamente proporcional à pobreza.
Desse jeito, não acho mais "coitado" um que mata por um nike do que a Suzane Htichtofen. Não que o primeiro não pudesse (não necessariamente também) passar necessidades mais sérias, como educação escolar ruim, não ter sempre comida na mesa, poucas roupas e daí para pior. Mas isso acaba sendo irrelevante, e é fundamentalmente diferente de aqueles casos de pessoas que roubam um remédio ou comida.
Acho que crimes por necessidade/falta de opção são até que "aceitáveis", mas isso não passa de uma teoria. É como querer julgar o ruim pelo mal feito.
Também acho.... queria ter deixado isso mais óbvio dese o início e feito melhor essa distinção entre crimes por necessidades vitais e por puta inescrupulosidade.
Assim não se pode ver tanto os criminosos do crime organizado e aspirantes/admiradores como vítimas da pobreza, e cair naquelas conversas dos advogados deles. Eles até "são" no sentido de que talvez guetos favoreçam alguma presença estratégica da criminalidade e causem uma certa banalização do crime e da violência, que vai sendo introduzida na educação de alguns. Mas essa situação subjetiva poderia ser considerada análoga a qualquer situação de vivência pessoal da Hitchtoffen que tenha lhe dado "falta de estrutura psicológica" ou qualquer coisa do tipo. (não estou defendendo ela!)
Isso eu concordo, existe uma grande diferente entre querer mais do que já tem e querer apenas o que precisa.
Mas é como diz a música, "Quem ta por baixo sonha em ser grande, quem ta por cima quer mais ouro e diamante".
Não entendi bem, a parte da música meio que contradiz o que disse antes, acho, mas aparentemente ficou claro que distingue entre um cara que rouba pães e traficantes.
Mas enfim, resumindo o que eu quis dizer no outro post. Como convencer um garoto de 15 anos que tem a chance de ter dinheiro e ser respeitado, que isso não vale a pena? Sendo que nem estudo, nem conselhos de pai ou mãe ele teve. É dificil.
Bem, eu acho que boa parte senão a imensa maioria das pessoas da favela tem pai e mãe, e recebem educação moral, incluindo que devem ser honestos. E não vejo as más influências de uma favela como mais "inocentadoras", que sejam mais vítimas do que um garoto de classe média pode ter de um grupinho de playbas marginais que botam fogo num índio por diversão, consomem e/ou vendem extasy. Todos estão passíveis de ter más companhias em qualquer classe social.
No livro Falcão - Meninos do Tráfico o Celso Athayde eo MV Bill entrevistaram 17 falcões (garotos que vigiam as bocas) e só 1 sobreviveu até o livro ser publicado. Esse que sobreviveu saiu dessa vida com ajuda do MV Bill, começou a trabalhar na CUFA pra sustentar a esposa eo filho. Porém saiu da CUFA e voltou pro crime, porque o dinheiro não era o suficiente, infelizmente.
Não era o suficiente para que? Para viver, ou para manter o nível de vida que tinha quando vivia do crime? A segunda possiblidade não vejo como desculpa, porque acredito que a imensa maioria dos pobres e miseráveis é honesta.
Mas quase ninguém faz nada por isso, eu vi em um fórum a noticia que o coronel Ubiratam (que comandou o massacre do Carandiru) foi assassinado, tinha comentários como: Ele matou um monte de assaltando e estupradores, deviam existir várias como ele no Brasil, quem sabe iria melhorar alguma coisa.
Eu acho ridiculo isso, querer parar a violência com mais violência, acho que pessoas assim não pensam no próximo e provavelmente não pensariam 2 vezes em roubar quando tivessem fome.
Eu já acho que aí está misturando um monte de coisas... primeiro e mais OT de tudo, eu não sei se o massacre do carandiru foi mesmo um massacre. O livro do Varela só teve depoimentos dos presos, que eu saiba, e talvez seja tendenciosidade minha, mas não confio muito em criminosos

Dentro das cadeias os presos tem sempre suas desavenças, no meio da confusão de uma rebelião é um momento ideal para quitar algumas situações pendentes, e fora isso, os presidiários nem desarmados estavam, mas tinham armas de fogo e logo de início jogaram um botijão de gás contra a polícia, que explodiu. Eu não culpo policiais por uma reação mais violenta (supondo que pudesse ter sido menos violenta, e ser eficaz - claro, cobrando a não-violência apenas dos policiais, porque isso não é esperado dos presos rebelados, deles não se cobra tratamento digno para com as vítimas) com essas "boas vindas" se o trabalho deles é controlar uma rebelião de pessoas que estão condenadas lá por diversas coisas que podem incluir crimes violentos e não são muito fãs de policiais, que aliás, se conseguissem matar, provavelmente seriam bem vistos entre os seus.
Bem, fim desse OT... continuando:
não sou a favor de violência máxima total e desenfreada contra o crime, mas muitos dos criminosos (possivelmente uma boa parte da maioria, todos outros além dos ladrões de pão ou de galinha) são violentos, e não dá para querer fazer policiamento hippie, o cara está lá com um rifle na mão e você vem saltitando e jogando flores para os lados, o abraça bem forte e fala para vir para a cadeia que isso de crime é o maior baixo astral. Violência é uma necessidade contra a violência. Violência pura não adianta nada, é necessária inteligência e prevenção, e excelência estratégica que pode evitar violência em muitos casos.
Outra pequena mistura que acho que fez foi dizer que "acho que pessoas assim não pensam no próximo e provavelmente não pensariam 2 vezes em roubar quando tivessem fome"... também acho, e não culpo, mas não acho que pessoas que se sentem raiva da violência que os ameaça não pensam no próximo. Elas pensam sim, muitas delas talvez nem tenham sofrido algum assalto, mas alguém próximo a elas pode ter sido assaltado ou até morto. E não acho que esse sentimento de raiva e desejo de justiça olho-por-olho seja injustificado.
Mas principalmente, volta àquilo que é quase o tema principal: essas pessoas não estão comemorando a morte de ladrões de galinha ou de pão, mas de traficantes e outros com motivação menos desculpável para o grau de violência (ou de prejuízo a sociedade de outra forma) que cometem. Repito novamente, é comum ver as pessoas revoltadas quando é presa uma pessoa por roubar remédio, ou uma empregada que rouba uma lata de ervilha da casa do patrão, e acho que isso ocorre até mesmo dentre algumas pessoas (se não for a maioria) que defendem repressão mais violenta ou até pena de morte contra alguns crimes.