A área de humanidades, principalmente sociologia e filosofia, tem séria fama de não só ter, como incentivar o pouco rigor na busca e avaliação do conhecimento. Muitas dessas pessoas, ao invés de procurar meios de tornarem suas áres mais rigorosas e capaz de formular previsões testáveis, tendem ao invés disso a se enviesar ideologicamente e criticar a ciência (que chamam de "cartesiana", "ocidental", "mecanicista", etc). Ou seja, ao invés de procurarem "endurecer" sua área, pregam o "amolecimento" das ciências exatas.
Oras, por favor. Jamais negarei que tem gente, alguns, que pegam pesado na ideologia e acabam submetendo os fatos a ela. Mas esta NÃO É a tendência predominante na academia. Talvez um leigo que acompanhe os trabalhos, e não entenda a linguagem rebuscada daquelas pessoas - que, a meu ver, não é demonstração sem-noção de erudição, mas necessidade de deixar os conceitos MUITO claros, o que facilita a vida da pessoa do meio mas dificulta a leitura de quem não tem as manhas - não compreenda direito e ache que é amolecimento, mas, enfim, a gente tenta esclarecer.
As ciências humanas têm como objeto o homem. Homem não é maquininha. Tem uma coisa chamada ideologia que complica tudo, e que não existe na natureza - é criação nossa. O pesquisador precisa tentar elucidar isso, senão fica positivista burro. Não dá pra ser positivista nas CH - no meu caso, por exemplo, determinar se um documento ou si lá é autêntico, é muito importante, mas não é porque não é autêntico que se joga fora; na verdade, estes são os melhores, porque se alguém forja alguma coisa é porque quer esconder outra, e esta outra pode ser descoberta, e você revela como o poder se faz, então é JÓIA.
Não há maneiras de fazer "leis", queridão. Imagino que todo físico, antes de dormir, ajoelhe e reze pra algum conseguir escrever a teoria unificada. Acho que esta é uma verdade entre nós, também... cada caso é um caso, o modelo se submete ao fato, não tem o que fazer. A pessoa pode escrever: "a vida do camponês do séc IX no condado portucalense era assim", mas não dá, geralmente, pra estender pra todo mundo em todas as épocas. Mesmo o que não deu certo antes pode dar certo agora, porque o objeto de estudo NÃO PÁRA de mudar, então bobeando até dá certo.
O RIGOR está nisso, em compreender que mais que isso é teologia.
E às vezes acho que as pessoas precisam superar esta mania de "pureza" . Acho que chamar as ciências exatas de "duras" é um grande erro. Que elas tenham um objeto mais "passivo" e isso facilite o enunciado de leis, ok. Mas o que determina os objetos a serem pesquisados ou não? Não tem um quezão de influência da ideologia aí? Em que coisa que a gente faz que não existe um quezão de ideologia?
O que faz a ciência exata ser mais ciência que a humana? O Popper?
Outra característica é a valorização do inusitado:as idéias mais extravagantes tendem a serem consideradas mais geniais
As "extravagantes" são chamadas assim porque fogem do padrão. O padrão, muitas vezes, não explica, mas reitera. E é ciência, tem que explicar. As "extravagãncias", portanto, são bem vindas para quebrar paradigmas. A gente vê disso nas exatas também... supercordas, buracos de minhoca, partículas sub-atômicas é coisa que se chama de extravagante também, e não se tira sarro delas.
e, por fim, existe uma espécie de "cavalheirismo" entre os cientistas: ao invés da crítica impiedosa às idéias e teorias, temos ao contrário uma "benevolência" para com as outras idéias, principalmente se vierem de cientistas sociais famosos e consagrados.
Imagina só. Isso não existe. Se há um autor neste mundo com quem o estudioso tem um certo "tato" é o Marx (no seu alter-ego O Profeta), mas o marxismo mudou muito dos 70 pra cá.
E tem muita gente tentando ser "trans-marxista", parar com este adventismo maluco e compreender no seu esttudo a DINÂMICA das sociedades.
Não é possível sequer ENTENDER a produção das CH se não tiver a DINÂMICA em mente: as pessoas mudam, as idéias mudam, os modos de produção mudam, tudo neste mundo muda e a eternidade é um desejo vão.
Conceito numérico é tranqüilo de trabalhar, nunca ninguém vai dizer "veja bem, a raiz de 4 só é número inteiro em cálculo diferencial, em equação de 5o grau ela é dízima" ou sei lá o quê.