Garanto que não é essa a proposta que ouço muitas vezes, às vezes só querem vigiar para evitar migração para cá sem nem separar.
Não duvido. Acho ingenuidade, ou pior, mas não duvido.
Mas a questão é, se é para ser algo como o mercosul deveria ter sido, ou a união européia, que são claramente passos em direção à uma União, só não o sendo hoje por xenofobia ou descaso, porque separar se vai unir depois?
Em boa parte é exatamente por causa do motivo que você acabou de apresentar; porque a união que há hoje não "funciona" corretamente, não foi bem assimilada. Além dessa xenofobia e racismo tolos, há questões políticas e sócio-econômicas muito mais respeitáveis que falam a favor de uma revisão da situação atual.
Os atuais Estados não apenas não são responsáveis por si próprios na medida em uma Federação teoricamente pede, mas também são em vários sentidos recompensados por se tornar menos competentes. O modelo político atual é o primeiro a atacar a autonomia dos Estados.
Cabe perguntar: por que esse povo não está com as famílias de origem hoje? A distância física é a mesma. A motivação para retornar aumentaria? Por que?
Esse povo volta para as famílias no natal, ou em algo do tipo, numa cidade estranha, onde você é mal visto por muitos apenas por ser o que você é, às vezes a única coisa que sobra é a esperânça de visitar sua família no final do ano. Por mais simples que sejam essas novas fronteiras pelo simples fato de serem fronteiras já causa um efeito psicológico forte, você não só está em outra terra, está em outro país, sem contar as dificuldades extras que isso criaria para viagens entre esses países.
Não seria essa uma visão excessivamente romântica, Pedro? Parece que você está dizendo, essencialmente, que
já há um problema econômico-social sério devido basicamente à falta de verdadeira autonomia dos Estados da Federação, e que você considera as dificuldades adicionais (burocráticas e psicológicas) que uma separação formal traria mais significativas do que os eventuais benefícios. Sem dúvida isso será verdade para muitas pessoas - pelo menos em um primeiro momento - mas não acho que seria o fator mais significativo. E mesmo que haja toda essa intolerância e incompreensão interna no Brasil atual, penso que é melhor encarar o problema de frente do que tentar fugir dele.
Atos imediatos e impensados raramente trazem boas consequências. Isso por si só não desmerece a idéia de uma separação política e administrativa, apenas mostra que é um assunto sério.
Bem pensado por bem pensado, não é mais fácil fazer um programa de desenvolvimento sustentável nas regiões mais pobres do país?
Se minha interpretação dos fatos das últimas décadas estiver correta, aparentemente não, não é. Adoraria que me provassem o contrário.
Isso só é impossível por causa das outras regiões, ou por causa do governo federal?
Para mim o maior obstáculo é a mentalidade popular mesmo. Todos nós estamos excessivamente acostumados a um país enorme, desunido, desmotivado e envaidecido pela própria reputação de ser uma "potência do amanhã". E acabamos vivendo sempre em função desse amanhã que misteriosamente se torna cada vez mais distante.
Se o eleitorado fosse suficientemente consciente, qualquer número de Estados da Federação poderia ser viável. Mas conscientização e cidadania são exatamente o fator problemático da equação.
Na minha opinião isso só não acontece por causa do Brasil como um todo, e como mudar o Brasil é necessário separando ou não, pelo menos essa vez não vamos ficar na contra-mão da história.
Eu gostaria de poder acreditar na sabedoria desse rumo. Mas não posso. Para mim ir na contra-mão, no sentido de desintegrar a suposta Federação atual, é uma etapa necessária para desfazer uma série de vícios políticos consolidados. Depois, é claro, eu acredito e espero que se acabe por construir uma integração com governos mais e mais amplos. Mas sem uma base sólida de cidadania, nem vale a pena tentar.