Ué? Citei três condições que dizem por que ela não é tão absurda: nem todos reencarnariam, a reencarnação pode se dar em estado avançado de desenvolvimento, almas novas têm de ser possíveis. São três coisas que, juntas, podem evitar essa zona que fala. E disse indícios delas. Vc passou solenemente por cima.
Vamos lá então Cyrix. Quem não reencarnaria? Um ou outro aleatoriamente? Um povo? Uma raça? Quem seriam os "escolhidos" para voltar a viver? Qual seria o critério? E o que entende por "estado avançado de desenvolvimento"? Invente um sistema para vermos se resiste a um exame lógico.
Quanto à questão das almas novas, somos nós mesmos que dizemos que Deus nunca parou de criar.
Bem, pela lógica o Sol e os demais planetas giram em torno da Terra. Quando solto um objeto ele cai na vertical, não fica para trás, portanto não deve haver rotação da Terra. A Lua não acompanharia a Terra enquanto esta percorreria uma veloz translação em torno do Sol. E mais: as estrelas deveriam também mudar de posição no céu durante o ano, mas continuam lá fixas no firmamento. Portanto, provo por lógica que o heliocentrismo é uma teoria disparatada. E não estou fazendo piada. Todos estes argumentos foram realmente usados contra a teoria de Copérnico. A questão é que estes argumentos lógicos ignoravam três fatos só constados depois, respectivamente: inércia dos corpos, atração gravitacional e a paralaxe estelar. Portanto, meu caro, este teu elogio ao poder da lógica é um provável caminho para um monte de arapucas. Busque no Google informações sobre o paradoxo de Zenão, em que, com simples lógica, posso provar que um velocista (no original, o herói Aquiles) é incapaz de ultrapassar uma tartaruga, caso lhe dê uma vantagem inicial numa corrida. Obviamente a experiência comum diz que isto é falso, mas em termos de “lógica” o paradoxo foi inatacável por milênios. Ou seja, fiar-se exclusivamente em lógica pode lhe levar a um monte de furadas, pois vc não sabe a priori que tipo de sutilezas a natureza esconde.
Você mesmo deu a resposta ao seu questionamento. O problema não estava nem na lógica nem na dedução. O problema estava na observação incompleta ou errônea dos fatos. No caso do paradoxo de Zenão, o observador provavelmente nunca havia estudado séries infinitas e não sabia que nem todas as séries divergem. Como o observador não sabia desse fato, deduziu que havia um paradoxo onde este não existia.
O nosso conhecimento ainda é muito falho, o que nos leva por vezes a deduções errôneas. As Leis de Newton provieram dessa observação imprecisa, que Einstein teve acesso e formulou teoria melhores. Mas não são ainda perfeitas e, portanto, essas questões de física ainda continuam em aberto.
Contudo, existem certas verdades que podemos considerar definitivas. Por exemplo: 2+2=4. Há também certas mentiras que também podemos considerar definitivas e irrevogáveis. Por exemplo: 2+2=5. Através desses fundamentos básicos, podemos tirar outras conclusões lógicas definitivas. Por exemplo: Se 2+2=4, então 2+2 não pode ser igual a nenhum outro número. Por outro lado, mesmo não sabendo o que é exatamente uma coisa, partindo de fundamentos sólidos, posso deduzir o que ela não pode ser. Por exemplo: aproximo um ímã de um material qualquer nas CNTP e este não o atrai ou repele. Sem saber precisar de que é feito o material, posso dizer com certeza absoluta que não é ferro comum. E assim sucessivamente.
Quanto à reencarnação aleatória a que você se referiu, ela se encaixa nesse critério. Apesar de não sabermos em detalhes como ela se processa, podemos dizer com certeza que, se existir, não é aleatória. Ela tem que ser dirigida por um princípio inteligente, ainda que seja o próprio ser reencarnante. Senão, imagine as probabilidades de uma alma ser lançada no universo e conseguir, por obra do acaso, se associar a um corpo recém formado. Como ela o encontraria? Ainda que fosse possível, você poderia explicar porque essa alma perde a consciência após a morte e a retoma após a nova vida? Uma dedução óbvia é de que a alma não teria consciência do que se passa, pois caso contrário poderia interferir inteligentemente no processo reencarnatório. Percebe com é infantil e ridícula essa tese da reencarnação aleatória? Mais fácil seria tentar fundamentar que não existe reencarnação de modo algum, como já disse. Mais ainda assim é preciso explicar coisas que, sem ela, é impossível explicar. Mas isso é assunto para outro tópico...
Ora, ora, será que ainda não caiu a ficha: não propus nada. Estou mostrando fatos discordantes encontrados por alguns cientistas usados por espiritualistas e vendo como reage a eles. Pelo jeito se esquiva.
Sobre reencarnação? Que
fatos são esses? Pensei que eram hipóteses, aliás, em se referindo as que você citou, descartadas pela mais simples aplicação de lógica. Quer dizer então que já considera a reencarnação (ainda que seja só de alguns) um fato, já que os usa para me rebater?
Para vc o fato não é a reencarnação. É a reencarnação no modelo kardecista. E, desculpe, vc não me refutou coisíssima nenhuma.
Vamos inverter a situação então. Proponha um sistema reencarnatório. Se fosse você que controlasse esse sistema, como o faria? Usaria reencarnações regressivas, ou seja, faria um grande gênio reencarnar, por exemplo, como um boi, para passar alguns anos comendo capim? Selecionaria os indivíduos que reencarnariam e os que seriam aniquilados? Colocaria um justo numa terra má ou um mau numa terra justa? Como você controlaria esse processo, se existisse? Sem saber o que responderá eu sei que o seu sistema irá ao encontro da tese kardecista.
E se não fosse controlado, se fosse aleatório; como seria? Vamos pensar juntos no problema. Quem sabe, afinal, você não teria razão.
Aí que está, tens um modelo de ciência ao estilo do século XIX. Verdades são provisórias e sempre haverá um ou outro cientista discordante neste ou naquele aspecto. Portanto, pode esperar sentado. Outra coisa: quem vai mudar a doutrina ou determinar que já haja relativo consenso? Nem a FEB é consenso entre os espíritas. É muito mais provável que o espiritismo se divida a que evolua como um todo monolítico. Como qualquer outra agremiação humana.
Ora, houve um tempo em que se duvidava que o homem algum dia pudesse atingir a Lua. Hoje é consenso universal que podemos fazê-lo. Houve um tempo em que se pensava ser o tempo absoluto. Hoje é consenso absoluto que não é. Houve um tempo em que se pensava ser a Terra plana. Hoje é consenso absoluto que é redonda. Da mesma forma teremos também, um dia, consenso absoluto sobre hipóteses fora da doutrina que podem ser inseridas, assim como hipóteses de dentro da doutrina que devem ser ignoradas. Basta dar tempo ao tempo, para a ciência e as idéias se desenvolverem. É que você é um pouco impaciente e não consegue aguardar uns cinqüenta, cem, duzentos, quinhentos ou mil anos para ver isso gradativamente ocorrer. Espere e verá. Nós é que não forçaremos agora uma mudança para passar o vexame de ter que voltar atrás logo em seguida. Que as idéias se desenvolvam à margem da doutrina. Os espíritas têm toda a liberdade para pesquisar teorias estranhas à doutrina, caso vejam que há possiblidade de a levarem a bom termo. As idéias só não serão por ora consideradas espíritas. Não vejo aonde está o problema. Não vejo qual é a necessidade das novas teorias ostentarem o título de "espíritas".
O que vc teme é que o espiritismo se fragmente em várias escolas distintas. Isto é compreensível, mas já está ocorrendo.
O que você fala é uma inverdade. O Espiritismo está se fragmentando em interpretações diferentes de um mesmo conjunto de obras, que são as de Allan Kardec. Mas nunca se verá Allan Kardec distanciado de qualquer escola espírita que exista ou venha a ser criada. Não se pode impedir os ratos de invadirem o navio. Mas os mesmos ratos, da mesma forma, jamais poderão expulsar o capitão.
Estou no Espiritismo de forma completamente desapaixonada. Faço a minha parte para ajudar a conduzir as coisas como eu acho que devem ser conduzidas. Mas se o barco rumar para um destino que não é do meu agrado, eu me resigno, porque sei que tenho apenas uma visão restrita do conjunto e posso não estar enxergando todas as variáveis. Não vou deixar de fazer o meu trabalho, da maneira que julgo melhor, só porque as coisas não saem a meu contento. Pelo que sei, o Espiritismo precisa vencer essas provas do joio misturado no meio do trigo para provar a sua força. Se ele não conseguir, então ele é fraco e é bom que desapareça mesmo da Terra. Mas, na minha opinião, não é. E vamos provar, mas com o tempo. E esteja certo que não expulsaremos ninguém do nosso meio ou proibiremos quem quer que seja de usar o qualificativo de "espírita". Eles mesmos se convencerão, pela força dos argumentos, que estão na embarcação errada e se unirão aos nós; ou pularão fora de livre vontade do barco espírita por perceberem que nele não conseguirão vender suas idéias. Quem viver, verá...
Talvez não se precise ser imprudente, mas ousado. Praticantes de esportes radicais têm suas medidas de segurança. Mas e daí? Talvez não haja uma quantidade de exemplos que lhe seja satisfatória para que deixe de temer “exceções”. Assim com minha intuição me diz que eu posso lhe dar um detalhado exemplo e receber uma avaliação em uma única linha. Indiretamente, um exemplo eu dei ao longo deste debate. Vejamos se o pesca.
Desculpe-me, mas não tenho paciência para jogos de adivinhação. Ou você diz o que é ou encerramos.
Então ela morreu com ele. Vou contar um caso pessoal (ressalto, pessoal) que pode ser didático. Certa vez conversei com uma amiga psicóloga e ela me confessou que gostaria muito que Freud se levantasse da tumba. Ela não agüentava mais ela não agüentava mais “Freud quis dizer isto, ele disse aquilo”. Ao longo da vida ele fez obra gigantesca, mas mudou opiniões várias vezes. Quando morreu, a psicanálise se viu em situação parecida com a do espiritismo. Começou como ciência, mas começou a se cristalizar com uma religião. Não foi à toa que o historiador Paul Johson, em sua “História dos Judeus” retratou Freud com ares de guru. Felizmente sugiram novas escolas que mantiveram a renovação da psicanálise. Mas seus fundadores um dia morriam e o ciclo se repetia…
E a sua amiga não tinha opinião própria? E por que precisava ficar atrelada ao que Freud dizia ou não? Você está muito enganado se pensa que aceitamos os ensinamentos de Allan Kardec porque alguém disse que era inspirado. A minha leitura das obras foi extremamente crítica, mais para procurar os erros e os furos do que os acertos. Qual a minha surpresa quando descobri que as suas idéias eram completamente coincidentes com o meu modo pessoal de pensar. Mesmo aquilo que antes discordava, fui conduzido naturalmente a mudar de opinião pela força dos argumentos. Até mesmo sentimentos instintivos que possuía e considerava anômalos, hoje entendo como completamente naturais, conduzido pela argumentação de Kardec e dos espíritos. Eu sempre fui espírita, mesmo quando achava que discordava da doutrina por ter um conhecimento incompleto e distorcido. Se algum dia eu não puder vir a público e defender Allan Kardec numa única situação sequer que seja colocada, eu abandono a doutrina espírita no mesmo dia. Mas isso não acontecerá, porque eu já li toda a sua obra. Não há nada que você coloque sobre o Espiritismo e sobre Kardec que eu ainda não conheça e não tenha refletido sobre. Até mesmo quando errou, ele foi genial (opinião).
Apesar de estar aqui defendendo princípios espíritas, estou antes defendendo convicções pessoais. E se Allan Kardec nunca tivesse existido, eu estaria defendendo as mesmas idéias com outros nomes, desde que tivesse tido a oportunidade de obter esses conhecimentos através outras fontes.
No livro “O que é o espiritismo?”:
Definição de espiritismo contida no preâmbulo:
O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os espíritos; como filosofia, compreende todas as conseqüências que dimanam dessas mesmas relações. Podemos defini-lo assim: O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal.
Na parte “Espiritismo e espiritualismo” do Cap. I
"Pergunto-vos, em primeiro lugar, qual a necessidade da criação de novos termos: espírita e espiritismo, para substituir: espiritualista e espiritualismo, que são da língua vulgar e por todos compreendidos? Já ouvi alguém classificar tais termos de barbarismos."
A.K. "De há muito tem já a palavra espiritualista uma acepção bem determinada; é a Academia que no-la dá: Espiritualista, aquele ou aquela pessoa cuja doutrina é oposta ao materialismo. Todas as religiões são necessariamente fundadas sobre o espiritualismo. Aquele que crê que em nós existe outra coisa, além da matéria, é espiritualista, o que não implica a crença nos Espíritos e nas suas manifestações. Como o podereis distinguir daquele que tem esta crença? Ver-vos-eis obrigado a servir-vos de uma perífrase e dizer: É um espiritualista que crê ou não crê nos Espíritos.
Para novas coisas são necessários termos novos, quando se quer evitar equívocos. Se eu tivesse dada à minha Revista a qualificação de espiritualista, não lhe especificando o objeto, porque, sem desmentir-lhe o título, bem poderia nada dizer nela sobre espíritos, e até combatê-los".
Em “Dissidências”, Cap. I
V.(isitante) – “Essa diversidade, na crença que vós chamais uma ciência, é, parece-me a sua condenação. Se ela se baseasse nos fatos positivos, não deveria ser a mesma na América e na Europa?”
A.K. – “A isso responderei, primeiramente, que tal divergência só existe na forma, sem afetar o fundo; realmente ela apenas se limita ao modo de encarar alguns pontos da doutrina e não constituir um antagonismo radical nos princípios, como afirmam nossos adversários, sem ter estudado a questão.
Dizei-me, porém, qual a ciência que, em seu começo, não deu nascimento a dissidências, até que seus princípios ficassem claramente assentados? Não encontramos as mesmas dissidências nas ciências melhormente constituídas? Estarão os sábios de perfeito acordo sobre todos os pontos? Não tem cada qual seus sistemas particulares? As sessões das Academias apresentam sempre o quadro de perfeito e cordial entendimento? Em medicina não há as Escolas de Paris e a Escola de Montpellier? Cada descoberta, em qualquer ciência, não em produzido cismas entre os que querem adiantar-se e os que desejam estacionar?(…)´”
Desta obra de Kardec, estes três trechos mostram algo interessante no começo do espiritismo:
1)Ele tinha uma definição flexível, capaz de comportar muito daquilo que hoje chamas de espiritualismo.
2)O espiritismo não estava atrelado à figura de Kardec, considerando o trabalho em outros continentes também como espiritismo.
3)”Espiritualismo” era qualquer coisa que se opusesse ao materialismo. Catolicismo poderia ser um “espiritualismo”, coisa que hoje não é mais dita.
4)Kardec era tolerante com dissidências e as via como algo normal no processo de evolução da ciência. Certo que ele pouco depois se gaba da unidade relativa do espiritismo, mas idéias do “joãozinho” não eram um bicho de sete cabeças.
Conclusões incorretas:
1 e 2. Os fenômenos, sejam eles quais forem, venham eles de onde vierem, nos interessam. O que diferencia os espíritas dos espiritualistas são as interpretações que dão para os mesmos fenômenos e as conseqüências que tiram destes. O que ainda nos diferencia é que nos recusamos a produzir determinados fenômenos que, por observações, se mostraram inúteis ou prejudiciais à causa. Por exemplo: a mediunidade paga com fins de adivinhação. Mas não é porque nos recusamos a reproduzi-los que nos recusamos a observá-los e analisar os seus efeitos e conseqüências.
3. Tudo depende do sentido que damos à palavra "Espiritualismo". No sentido que Kardec utilizou, o catolicismo pode ser considerado espiritualista, e isso até nos nossos dias. Mas como espiritualismo lembra "espíritos", a própria Igreja se esforçou para se desvincular desse termo, lhe atribuindo outro significado. Não se atenha à letra, mas ao espírito da coisa.
4. A dissidência a que Kardec se referia era sobre a reencarnação, que era aceita na Europa e não aceita nos Estados Unidos, ou aceita de modo diferente. Em primeiro lugar, as escolas européias eram espíritas, e as escolas americanas eram espiritualistas, ou seja, eram desvinculadas. Então, essa divergência não poderia ser considerada dissidência. Mas ambas analisavam o mesmo fenômeno, ou seja, a reencarnação. O fato é que na América ainda existia muito preconceito racial, até mesmo entre os espiritualistas, e a muitos repugnava a razão a possibilidade de já terem pertencido, ou de algum dia vir a pertencer à raça negra, por exemplo. Os que nesse país criam na reencarnação acreditavam que ela necessariamente se daria em outros mundos. Mas esse sistema caiu pela falta de lógica. Se porventura o sistema americano fosse mais lógico, Kardec o teria adotado na Europa.
Deixa eu te perguntar: vc é circuncidado (não vale fimose), guarda o sábado, e come só alimento kosher? Jesus foi antes de tudo judeu. Mesmo seus ditos “sábado foi para o homem e não o homem para sábado”, “o que corrompe não é pela boca mais o que sai dela”, não foram exclusivas dele e outros notórios rabinos e literatura targúmica os utilizavam. A primeira assembléia de Jerusalém era uma seita apocalítipca judaica aguardando um iminente retorno de Jesus. E eram tremendamente judaizantes ao ponto de os seguidores de Tiago relutarem contra a admissão de gentios ao cristianismo sem antes passar pelo judaísmo. Foi a ação de Paulo que moldou o cristianismo moderno e o fez descolar do judaísmo. Posteriormente, os judeus-cristão dos ebionitas passaram a ser tratados como hereges pela ortodoxia paulínica, agora dominante. A ortodoxia cristã-helênica se julgou o verdadeiro cristianismo e hoje se sabe que muitas passagens anti-semitas dos evangelhos são glosas deste grupo. Curiosamente, gnósticos também se julgavam o verdadeiro cristianismo e a debochavam dos ortodoxos, como foi atestado em sua literatura. Portanto, vai ter que definir muito bem cristianismo antes de se julgar dono dele. Eu juro que não sei definir. O Novo Testamento é insuficiente para definir isso: ele é um conjunto de “cânons dentro de cânons”, um apanhado de diversos escritos relativamente aceitos pelas comunidades cristãs do Mediterrâneo oriental, muitas vezes contraditório. Parece que cada apóstolo teve uma visão ligeiramente diferente da pregação de Cristo. Talvez o verdadeiro cristianismo tenha morrido com seu criador e flutuações de credo começaram desde o início, principalmente na rixa judeus x gentios.
Os cristãos podem ter se desviado do cristianismo, mas isso não implica que o cristianismo tenha deixado de existir. Como bom ex-espírita que sei que é, tenho certeza que já leu O Evangelho segundo o Espiritismo, que é 100% baseado nas palavras de Jesus. Mas então você poderia perguntar: "com que autoridade você diz que a interpretação espírita é mais verdadeira que as outras?" Nenhuma autoridade no sentido de impor esse pensamento a quem quer que seja. Com toda liberdade e direito no sentido de expressar uma opinião. Não queremos ser aceitos por imposição. Emitimos as nossas idéias e as pessoas imparciais que leiam, e nos aceitem ou rejeitem de livre vontade. Não vamos mudar de opinião porque alguns não concordam conosco. E ninguém que está conosco o faz obrigado. Nós nem sequer ameaçamos com o inferno aqueles que deixam as nossas fileiras. Para falar a verdade, eu nem gosto muito do qualificativo de "Cristão". Eu prefiro ser chamado simplesmente de "Espírita".
Ficou patente que o intuito é mais importunar do que fazer pesquisa histórica que valha.
Veja bem, só entramos no território alheio quando somos atacados, num direito legítimo de defesa. O Espiritismo não corrobora atitudes agressivas ou proselitistas com relação a outras crenças e quem o faz, o faz por conta própria. Em princípio, não saímos por aí espalhando pregações pelos fóruns que visitamos. Apesar de estar neste fórum cético, nunca abri um único tópico de propaganda espírita por aqui. Foram sempre outros que o fizeram, normalmente com o intuito de zombar ou criticar. Só entrei depois para a defesa (quando julguei que fomos injustamente atacados) ou para a troca de idéias. Se os fóruns não nos quiserem por perto, basta apenas não falarem de nós. Ou então fechem os fóruns ao público.
Kardec chegou a dizer, quando perguntado sobre o que faria de um milhão se o tivesse, que antes usaria na divulgação da doutrina, mas que depois percebeu que seria desnecessário, pois os adversários fazem isso as suas expensas. A mesma coisa ocorre hoje em dia. Cada crítica que nos lançam nos dá a oportunidade de divulgarmos a nossa doutrina. E assim vamos caminhando...
"Se há os que crêem estar em erro, são livres para olhar para a luz, que brilha para todo mundo; aqueles que crêem estar na verdade são livres para afastar os olhos". (KARDEC)
Se vc, ao que indica, adota um conceito flexível de cristianismo a partir de uma seleção e interpretação sui generis de versículos, textos (não que ela seja inválida, mas de ótica espírita) e alegorias; ao passo que por outro lado adota um conceito rígido de espiritismo destoante das palavras de Kardec contidas em “O que é espiritismo” vc está, sim, usando dois pesos e duas medidas. A lógica dedutiva pode ser até a mesma. Mas como suas premissas são diferentes (flexibilidade de um lado, rigidez do outro), as conclusões são diferentes.
Quando é que proibimos quem quer que seja de distorcer os nossos princípios? O mesmo direito que damos a outros de flexibilizar os nossos ensinos, pedimos igualmente para flexibilizar a Bíblia, ou qualquer outra obra, da maneira que julgarmos melhor. Da mesma forma que os cristãos dizem que o Espiritismo não deveria se intitular cristão, por pensarem que nós distorcemos os ensinos bíblicos (o que lhes é um direito legítimo de opinião), também dizemos que quem distorce os nossos ensinos não são espíritas. Não há proibições de nenhum dos lados. Somente argumentos que procuram fundamentar um ponto de vista ou outro. Estou aqui agora opinando a respeito do Espiritismo. A minha função é apenas pesar na balança com a minha argumentação. Quem discorda, que coloque uma argumentação melhor. Se for realmente melhor, um dia será universalmente aceita e a minha ignorada.
Você fala como se tivéssemos autoridade para proibir ou permitir qualquer prática no Espiritismo. A única coisa que temos é a liberdade de dizer que certas coisas são ou não moralmente lícitas no Espiritismo. Cada um que pese os argumentos pró e contra e decida de foro íntimo de que lado está a razão. A maioria das opiniões espontâneas resolverá a questão.
Eu sei que vcs não queimariam dissidentes mesmo que pudessem. Parabéns. Mas seu clamor por correção doutrinária é quase análogo ao de Irineu, de Hipólito e outros. E olha que eles escreveram grossos tratados refutando uma a uma das heresias e mostrando tudo por meio de lógica e base bíblica, i.e., um proto-cânon comparável à sua codificação, em termos de status. Os personagens são outros, os tempos também, mas a vontade de monopolizar dos homens parece que não muda. Talvez tenha ficado mais educada.
Você tem meia razão. Antes de defender o que é ou não doutrinário, defendemos o que é ou não racional. E também não monopolizamos os homens. Cada um é livre para crer no que quiser. A única coisa que nos esforçamos é para manter a originalidade dos ensinos espíritas, tais como preconizados por Allan Kardec. A doutrina, no sentido metodológico, é perfeita. Se ela pode conter falhas ou omissões em seu corpo doutrinário, ela é perfeita na metodologia de identificação e reparo dessas falhas. Essa metodologia a protege de alterações indevidas feitas a torto e a direita por qualquer um e faz com que a doutrina só assimile verdades adquiridas. Kardec mais uma vez foi genial. Estabeleceu um processo absolutamente democrático para a evolução da doutrina. Eu sei que a democracia tem seus efeitos colaterais, mas ainda assim é o melhor sistema já inventado.
Alguns dizem que o Espiritismo nunca assimilou nenhuma verdade nova. Isso não é verdade. E as descobertas realizadas pela ciência depois de Kardec? Não são universalmente aceitas, inclusive pelos espíritas? Podemos dizer que são verdades assimiladas pela doutrina. Não negamos a física nuclear, a mecânica quântica, a teoria da relatividade, etc... Essas coisas são até ensinadas no catecismo espírita! E também já rejeitamos alguns erros crassos da Gênese, como o número errado de luas em alguns planetas, por exemplo. Isso tudo é unânime. E não precisou nenhum decreto de nenhuma instituição espírita oficial para assimilar essas verdades. Foi tão natural que nem percebemos.
Ora, Cyrix. Uma resposta tão simples a uma pergunta tão simples. Eu creio em determinadas hipóteses e digo porque creio. E também descarto outras, e digo porque descarto. Eu tenho plena consciência de que posso estar errado e considero isso.
Ta querendo enganar a quem? Só se for a ti mesmo. Vc disse mais acima que reencarnação já lhe era um fato. Quanto a isso vc não acha que está errado.
Não, eu não acho. Para mim é um fato incontestável, dado o número de fatos e relatos que dispomos para deduzir essa opinião. O fato de dizer que posso estar errado é só para deixar claro que não fecho os meus olhos e ouvidos para as opiniões contrárias e que me disponho a analisá-las sem idéias pré-concebidas. Que se algum dia ocorrer de descobrir outra teoria que melhor explica (a meu gosto, é claro) tudo sem usar a reencarnação, eu a aceitaria. Mas eu não creio que essa melhor explicação algum dia aparecerá, pois a reencarnação consegue explicar tudo, absolutamente tudo, sem desmentir em um único ponto sequer a bondade e justiça divinas.
continua...