Como fui TJ por quatro anos, tenho algumas coisas para relatar aqui sobre essa seita.
Os membros dessa seita nos transmitem uma falsa aparência.
A visão das pessoas que estão de fora da seita é completamente equivocada em relação ao que acontece realmente dentro dela.
Qual é a visão que o mundo tem das TJ?
Pessoas dóceis, de bem com a vida, roupas bonitas, honestas, dedicadas e aparentemente se importam com o próximo, visto que vão bater de porta em porta aos finais de semana nas casas com o intuito de propagarem sua doutrina por meio de livretos, revistas e tratados.
Quando recebemos uma TJ em nossa casa, às vezes ficamos admirados com a atenção excessiva (até enjoativa) que eles nos dão, aparentando realmente importarem conosco.
Mas... Será mesmo essa a realidade?
Será que são realmente o que aparentam ser?
Vejamos o outro lado...
Como fui TJ por quatro anos, percebi o que é enganar e ser enganado.
Muitas das vezes eu “enganava” as pessoas para não sofrer pressões dentro da seita. Pressões essas que se dão de forma dura, constante e imperativa.
A “perseguição” e policiamento dos membros é equivalente aos sistemas de governo com bases na ditadura.
A pregação das TJ nos lares é algo espontâneo?
Inicialmente explico o “porque” da insistência das TJ em pregar as doutrinas deles para os moradores. Muitas das vezes você pode ter percebido que eles insistem até demais, ultrapassando os limites do “desconfiômetro”.
A justificativa dessa insistência é um “relatório de serviço de campo” que toda a TJ deve obrigatoriamente ter.
Esse relatório engloba quantas horas de pregação que a TJ fez no mês, quantos livros ou revistas vendeu, e quantos “estudos bíblicos” conseguiu dar.
Trata-se de um relatório que é “policiado” pelos anciãos e toda a TJ se sente “pressionada” a cumprir com uma determinada “quota”.
A pressão que é feita em cima do membro é o equivalente a pressão que um estudante tem em conseguir notas azuis em seu boletim, caso contrário toma bomba.
Lembro-me como se fosse hoje.
Quando andando nas ruas aos pares a conversa que rodava entre as TJ não era exatamente o de buscar almas para Deus, mas sim quanto tempo haviam trabalhado e quanto tempo ainda restava para atingir a quota de horas.
Ao invés de dizermos:
- Vamos visitar mais duas residências. Quem sabe ali tem alguma ovelha perdida...
Dizíamos:
- Vamos visitar mais duas residências, pois ainda restam 10 minutos para completarmos a quota de hoje.
O “medo” de não atingirmos a quota mensal era justificável, pois as punições englobavam perca de privilégios dentro do Salão juntamente com comentários depreciativos tais como: “Testemunha de Jeová fraca de fé.”
Claro que existem TJ que tem real zelo pela obra (se é que tem mesmo; não da para ler a mente das pessoas) mas na maioria das vezes a pregação é por pressão, e não por amor ao próximo. Esse é o “ar” que corre entre as TJ. Todas percebem e sentem isso, mas nunca exteriorizam verbalmente, por medo de sofrerem sanções.
Excomunhão (Ou desassociação e dissociação)
As TJ pregam o amor e a união de porta em porta. Dizem que são o único povo que não pegam em armas para guerrear, pois tem um amor universal.
Dizem que a religião em geral é em grande parte responsável pelas guerras, mas a religião deles promove somente o amor e a união.
Essa declaração é falaciosa e maldosa.
De fato as TJ não vão à guerra. Se para uma guerra forem convocadas, preferem ser presas por desobedecer a justiça do que ir para a guerra matar o próximo. Isso, de fato, é verdade!
Porém existe outra guerra fria e silenciosa de igual ou piores conseqüências do que essas, ao que eles omitem para os que não são da sua seita. Trata-se da “prisão” a que se submetem e quais são as conseqüências que sofrerão se vierem a fugir dessa “prisão”.
Uma TJ não tem paz.
Vive sufocada pelos líderes e pelos seus irmãos. Cada passo que dão na sociedade é policiado pelos membros.
Certa vez houve um caso que um membro (“Zé”) quase foi expulso da seita simplesmente porque estava com uma caneta branca na boca, e outro membro da seita, vendo “Zé” do outro lado da rua, achou que este estava fumando e levou o caso para os líderes.
Uma TJ não tem o livre arbítrio de sair da seita da mesma forma que entrou.
Uma TJ pode ser expulsa da seita por ter praticado um pecado (sexo fora do casamento, fumar, forjar relatórios de serviço de campo, matar, roubar, beber em excesso, trabalhar para a política, receber transfusões de sangue, comeram carne de animal sufocada ou até mesmo ir visitar outra igreja de outra religião a convite de um amigo não TJ).
A expulsão se chama desassociação.
Uma TJ pode também sair por si mesma, escrevendo uma carta para a congregação de sua cidade, manifestando interesse de se desligar da seita, seja por qual motivo for. Isto se chama dissociação, ou alto-expulsão. (Meu caso)
Quais são as conseqüências disso?
Um membro que é expulso da seita nunca mais pode se relacionar com seus até então “irmãos”; Nem mesmo um “oi” como cumprimento pode ser dado!!
Geralmente quando um expulso cruza com um TJ pelas ruas, este vira o rosto ou até mesmo atravessa a rua para o outro lado, para nem mesmo passar perto do ex-TJ.
Para vocês terem mais ou menos uma idéia, o sentimento mútuo que o TJ sente em relação ao ex-TJ é bem similar ao sentimento que um ex-namorado sente por uma ex-namorada no dia seguinte que se encontram após terem terminado o relacionamento. Ambos sem graça e coração apertado... Cada um olhando para um lado e passando longe um do outro.
Vou colocar aqui algumas situações que passei como exemplo:
- Pessoas atravessarem a calçada da rua para o outro lado, me evitando.
- Olharem para mim como quem olha para satanás.
- Chegarem em uma roda de pessoas e cumprimentarem todos, pulando, claro, a minha pessoa.
- Saírem da fila de um banco, somente porque eu cheguei e tomei essa fila.
- Saírem da sala de espera de um dentista, somente porque eu cheguei e me sentei.
- Virarem a cadeira de uma mesa de um restaurante, dando as costas para mim.
- Dizerem para os outros que sou uma pessoa maligna e diabólica.
- Andando de carro, percebendo que eu estou com meu carro na frente, mudarem o caminho.
- Etc, etc, etc...
Essa “guerra fria” também acontece nos lares das TJ´s, quando algum deles sai a seita.
Bem de frente a minha casa existe uma família (pai mãe e três filhas menores de idade) de TJ. As filhas resolveram sair da seita. Sabem o resultado?
Os pais arrumaram um barracão no fundo da casa deles para colocarem as três filhas, pois não poderiam ficar mais debaixo do mesmo teto.
Quando acontece um problema desses entre marido e mulher, os membros da seita exortam o TJ a ter o mínimo contato possível com seu conjugue, falando somente o necessário do dia a dia em casa e fazendo as orações costumeiras distante do transgressor.
O resultado disso na prática é a separação. Não conheço nenhum caso que a união entre marido e mulher sobrevivesse a esse baque.
Quando o problema acontece entre irmãos e estes não moram debaixo do mesmo teto, a orientação que a seita dá é de se comunicarem apenas quando tiver algum processo judicial de divisão de heranças, ou mediante alguma outra extrema necessidade.
Entre pais e filhos é o mesmo, caso morem debaixo de tetos diferentes.
Esta é a guerra fria e silenciosa que as TJ fazem. Vivem policiando uns aos outros, e quando um sai, resulta nisso:
Divisão de famílias e guerra fria entre o próximo, a mando da seita.
Mas fica a pergunta. Quem sai da seita não pode se arrepender e retornar?
Sim, pode!
Essa pressão que fazem tem esse objetivo também. O transgressor se sentir pressionado ( e que pressão!) e acabar voltando para a seita.
Só que para ser admitido novamente o “pecador” fica no mínimo seis meses freqüentando as reuniões e sendo humilhado pelos membros, onde esses devem agir como se nem visse a pessoa. São seis meses no mínimo de isolamento total, mesmo estando ao lado dos amigos e parentes.
Como se você fosse invisível.
É o preço que se paga.
É a vara da disciplina, para que nunca mais caiam no “erro”.
É uma guerra tão ou mais prejudicial do que a guerra literal, onde se matam as pessoas, sem falar que é uma tremenda falta de amor.
Preconceito espiritual. (ou psicológico para nós)
Dizem tratar todas as pessoas por igual, sem distinções, mas omitem a condição: contando que sejam da mesma religião deles.
Dificilmente se vê uma TJ em uma festa, onde nesta festa a grande maioria também seja de TJ´s.
Dificilmente se vê uma TJ namorando ou casando com uma pessoa que não seja TJ. Caso isso aconteça, essa TJ ficaria na corda bamba; tendo todos os seus privilégios cortados como TJ, e correndo grande risco de ser expulsa.
Quando eu era TJ, me sentia como se fosse uma pessoa colorida, onde o resto do mundo e todas as pessoas fossem em preto e branco. Todos os irmãos de fé também se sentiam assim.
Somos levados a pensar que somos o único povo eleito de Deus para herdar o paraíso.
Em um discurso feito por um ancião durante meus tempos de TJ, a seguinte frase foi dita:
- Qual gratificante é sabermos que estamos entre os menos de 1% da população que Deus escolheu para salvar!
As pessoas que não são TJ´s são tratadas entre os TJ como “mundanos”. Um tratamento pejorativo, que visa dizer que são apenas “criaturas de Deus”.
Claro, dizem isso somente entre eles.
Quando uma TJ cria um laço de amizade forte com uma não TJ, todos os membros da seita como os anciãos ficam “de olho” nesse irmão, constantemente o alertando do perigo de se relacionar com pessoas “do mundo”.
Outras restrições.
Outros pecados e atitudes que não dão expulsão, mas que denigrem a TJ e a torna perseguida e policiada pelos membros da seita.
- Ir a campos de futebol para assistir jogo.
- Ir a festas de aniversário (crêem que é uma atitude pecaminosa)
- Escreverem livros (Se fazem, devem esses livros passar por uma vistoria da seita, antes de serem publicados.)
- Filiarem a alguma entidade, mesmo não sendo religiosa ou política.
- Deixarem a barba crescer. (Essa eu fiquei sabendo recentemente. Não sei se é verdade, mas por outro lado nunca vi uma TJ com barba)
- Terem em suas casas livros de qualquer natureza, ou CD´s de música que não sejam os cânticos da seita.
- Cursarem uma faculdade e se formarem. (Tempos atrás – na época em que eu era TJ - uma TJ fazer curso superior era uma grande perda de tempo e um sério risco a sua espiritualidade, visto que satanás é quem governa o mundo e o estudo secular é controlado por ele. Hoje em dia não estão tão rigorosos nesse aspecto, mas quem decide fazer um curso superior ainda fica sobre os olhares depreciativos de alguns)
Existem outras questões para falar sobre as TJ´s, mas estão dentro do campo teológico onde aborda assuntos como a Trindade, imortalidade da alma, batismo, Inferno, Céu, falsas profecias, origens na maçonaria, etc, etc, que não vão acrescentar nada aqui.
O estopim da minha saída na época (dissociação) foi depois de uma revelação, que inclusive poucas TJ tem conhecimento.
Segundo os lideres mundiais das TJ, o mediador entre Deus e a humanidade não é Jesus, mas sim ELES !!!
Isso mesmo!
O Corpo Governante (Conjunto de doze senhores idosos que moram em Brooklin; os lideres mundiais das TJ) se auto-entitulam o canal de comunicação de Deus e os homens, e não Jesus Cristo, contrariando 1Tomóteo 2:5, biblicamente falando.
O outro lado que eu quis expor aqui é o que uma TJ verdadeiramente sente sobre pressão dos lideres dessa seita.
Eles não tem vontade própria, ou se tem, não devem manifestá-la.
São obrigados psicologicamente a saírem de porta em porta ensinando o que lhes é passado em seus cultos.
São obrigados a darem uma falsa aparência do que realmente sentem para os “mundanos”.
Existem muitos casos de depressão e suicídio entre as TJ, vítimas dessa pressão. Procuram sempre omitir e ocultar isso da sociedade para "não dar mal testemunho" como dizem...
A única coisa que as impede de sair da seita é a ameaça de tratamento que eles dão para os desassociados e dissociados. Todos tem um medo mortal da desassociação e por isso permanecem, mesmo sob forte pressão nessa seita.
Certa vez, antes de sair dessa seita, perguntei a um irmão de fé o que ele achava de certos ensinamentos que éramos obrigados a repassar aos “mundanos”.
Ele me respondeu:
- Bem, compete aos “mundanos” saber discernir o certo do errado. O nosso papel é apenas informar...
Ou seja, “não temos vontade própria. Trabalhamos para essa seita em total submissão pois é assim que deve ser.”
São pessoas sofredoras. Merecem a nossa piedade ao invés do nosso desprezo. Precisam de apoio moral e psicológico para se libertarem do tão duro cativeiro que lhes foi imposto.
Cerca de 2/3 (Dois terços das TJ) reconhecem que aquele não é o verdadeiro caminho, mas lhes falta força e animo para ter que enfrentar suas famílias e amigos de frente, caso queiram sair.
Certamente os laços familiares são destroçados após a sua saida da seita, e por isso preferem sofrer em silêncio.
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Obs: Os dois terços que citei foram baseados estatisticamente em uma conversa que tive com 20 membros da organização antes de sair dela. Quatorze deles disseram em outras palavras “que não tem para onde ir”, e por isso preferem ficar sobre os desmandos dos superiores, achando que isso é a vontade de Jeová. Muitos deles nem carregam o cartão de sangue que os identifica como Testemunha de Jeová, para no caso de um acidente, não ficarem sem sangue.
Obviamente não é um dado estatistico concreto, uma vez que se formos fazer uma pesquisa com esses membros não teremos 100% de fidelidade nas suas respostas, mas dá para se ter uma noção superficial acerca do que acontece "nos bastidores das Testemunhas de Jeová".