Obrigado, Alegra! Tens sido muito simpática.
Ainda acabo por me casar com alguém do Clube Cético.
Este "post" é sobre exemplos de alguns termos vagos usados nos debates do fórum. O uso desses termos sem qualquer explicação para precisá-los leva a dar passos maiores do que se deve, a catalogar indivíduos de modo preconceituoso e a evitar que haja acordos.
– Problema das linguagens naturais É necessária estrita racionalidade com concordância às regras lógicas de uma linguagem formal, algo que muitas pessoas parecem não ter em relação à realidade. Se um programa informático estoira ou não faz o que é pretendido, fica demonstrado que está errado. Por isso acho um óptimo exercício aprender uma linguagem informática: se não consegue fazer um programa que faça o pretendido, como pode pensar que pode ter certeza quanto às suas crenças em relação à realidade?
Um engenheiro antes de resolver um problema tenta compreendê-lo, e para isso começa por fazer um modelo conceptual. Isso ajuda a perceber que entidades e suas relações existem no problema. Uma coisa muito importante é entender os conceitos de modo muito preciso para o contexto do problema. No final esses conceitos podem ser representados em estruturas, tal como na Matemática.
De qualquer modo no dia-a-dia não usamos linguagem formal; usamos linguagem natural, que é muito vaga. Se uma árvore cai numa floresta sem ouvidos para ouvir, ela provoca som?
– Ateu? Deus? "Ateu", etimologicamente, significa "sem deus". Em sentido restrito, significa: aquele que nega a existência de deus teísta.
Há quem use o termo "teísmo" como significando a crença num deus, mas isso é falso. O teísmo é a crença na existência de um deus com características específicas: único deus, pessoal, primeira causa e transcendental ao Universo. Muitos dão respostas como se esse fosse o único deus possível, mas não é, e isso é mostrado por muitas outras ideias de Deus, como no panteísmo e deísmo, e há crenças politeístas. Além disso em cada categoria geral de definições de deuses há miríades de deuses possíveis para cada crença.
Ser cristão não implica ser teísta; aliás, não implica acreditar na Bíblia. Quanto a "verdadeiros cristãos", cada um tem o seu conceito.
O sentido de "ateu" já mostrado é simples, mas é problemático no sentido lato (aquele que nega a existência de qualquer deus), pois é necessário entender o que significa deus.
Um panteísta chama Deus ao Universo. Se assim for, o que diferencia um ateu de um panteísta? O que difere Einstein de Sagan? Einstein chamava ao cosmos de Deus, e tentava obter informação desse Deus. Sagan também tentava compreender o cosmos.
O deísta crê na existência de um deus criador, e assegura a sua existência apenas a pela razão; pela ciência e leis naturais. Os deístas em geral são laicos, não são partidários de grupos religiosos organizados e são independentes, usando a razão para as opções éticas. Não encontro, na prática, muitas diferenças entre deístas e ateus em geral.
O termo "deus" tem o problema de ser muito vago. Mas não vejo motivos para ser um obstáculo nos debates, pois a questão dá-se em deuses com determinadas características de crenças existentes. Em geral debate-se sobre um deus omnipotente, omnipresente e sumamente bom, sobre um deus cuja revelação apresenta-se em livros sagrados, ou qualquer deus teísta.
Em geral usa-se o termo "agnóstico" como significando suspensão da crença em relação à existência de algum deus. Nas enciclopédias e dicionários é dito que agnosticismo é a declaração de que é impossível conhecer se deus existe, ou não. Vejo alguns "sites" ateus que incluem os agnósticos como ateus, mas um agnóstico pode ser teísta.
Vê-se, pois, que dizer-se simplesmente ateu pode gerar mal-entendidos. Alguém pode pensar que os ateus são arrogantes, pensando que implica a certeza absoluta de que qualquer deus não existe. Um ateu é "sem deus", e alguém pode que acredita num determinado deus pode chamar ateu a qualquer outra pessoa que não acredite no seu deus, como os romanos pagãos que chamavam aos cristãos de ateus.
– Fé (entre outras coisas)? Quanto a fé… os dicionários apresentam diversas definições para essa palavra. Há quem impinja de que os ateus e cépticos têm fé, concluindo que eles têm dogmas, religião ou algo parecido. O termo fé tem definições vulgares para além das teológicas. Se tiver convicção em algo, isso é suficiente para dizer que tenho fé. Algumas frases tais como "a ciência precisa de fé" leva-me a pensar que se referem à elaboração de hipóteses, e relacionam abusivamente à fé teológica, que significa dogma.
Alguém pode crer que alguém é culpado de um crime e vai usar uma impressão digital como evidência, mas pode acontecer que essa impressão não corresponda ao suspeito. Nesse caso, apesar de originar-se em fé (significando crença), ela mostra-se falsa.
"É preciso ter fé para crer em Deus". Acho que quem diz uma frase dessas, não sabe o que diz, ou eu não o estou a entender. O que significa fé? Seja qual for a definição escolhida dos dicionários, continua vaga ou mostra-se ridícula. É preciso crer em Deus para crer em Deus? É preciso ter confiança para crer em Deus? É preciso ter dogmas para crer em Deus?
Há tantos termos que são usados como se aquele que os emprega não soubesse os seus significados, tais como "raciocício", "perspicácia", "lógico", "evidente". Há também palavras que são consideradas más por si mesmo, como "inveja" e "orgulho". Há até mesmo palavras que são usadas com significados obscuros, chegando ao cúmulo de usar o termo "
mentir" como significando "dizer uma falsidade a alguém que tem o direito de saber a verdade, e fazer isso com a intenção de enganar ou prejudicar a este ou a outro."