Também acho adequado uma atualização sobre os termos politicamente correto, é melhor do que fazer chacota deles.
Muito melhor seria se fossem abandonados.
Se não se desse tanto peso às palavras, todo esse poder de afetar a auto-estima e etc. Acho que a defesa dos termos PCs só ajuda as pessoas a verem mais discriminação além da existente.
Isso é muito discutível, pois a linguagem tem uma grande importância. A filosofia da linguagem mostra bem a importância da semântica, e ocorre de quem tem mais poder fazer imperar o seu significado com as suas muitas justificativas. Foucault também desenvolve algo sobre isso. O termo politicamente correto não é atoa.
Eu não disse que a linguagem não tem importância, mas justamente o contrário.
Disse que dão importância exagerada. Que, como você disse, uns fazem imperar significados nocivos, com muitas justificativas.
No caso, acho que o movimento PC "autentica" desnecessariamente significados pejorativos onde eles não existem intrinsecamente.
Isso é muito ruim, principalmente para o discriminado, que se sente mais discriminado até do que já é, quando acha que onde quer que esteja um termo X tem uma ofensa inerente.
Tudo é questão de esclarecimento, não são adotados termos inócuos, são feitos estudos com base nas práticas sociais.
Eu me refiro ao fato de que muitas pessoas, usam termos canonizados como politicamente incorretos, sem saber que são politicamente incorretos, sem ter ter qualquer má intenção por trás, e sem qualquer coisa no contexto que implique algo ofensivo a alguém.
Mas devido à doutrinação PC, as pessoas dentro das condições descritas/rotuladas pelo termo, podem se sentir ofendidas, pelo estigma criado em cima da palavra, não tanto pela sociedade, mas mais pela canonização do movimento politicamente correto.
Se uma parcela da sociedade incute um sentido pejorativo, ou usa num contexto pejorativo, vem o movimento PC declara oficial. Daí por diante, o uso do termo é ruim, invariavelmente.
Exemplo: o movimento politicamente correto decide que "negro" ou "preto" é ofensivo; que as pessoas afro-descendentes tem diversas gamas de cor de pele, não são apenas "negros", e mesmo os mais escuros, não são coisas redutíveis à sua cor de pele, mas que tem uma rica ascendência cultural africana, etc, etc, e que dizer que alguém é negro ou preto é então ofensivo.
Aí presumivelmente a maioria das pessoas, que não estão por dentro dessas elucubrações/escolástica PC, simplesmente usam o termo "negro" no dia a dia, normalmente, sem querer dizer que são inferiores, sem ter inconscientemente racismo velado nem nada assim. E então, os afro-descendentes ao verem o termo "negro" ser continuamente utilizado, acham que isso é reflexo do racismo arraigado na sociedade.
E isso não é bom para eles, se sentirem mais vítimas do que realmente são. Acabam sendo vítimas, dessa vez, do politicamente correto.
Ficam condicionadas a captar/sentir uma carga pejorativa, que não está necessariamente presente. Dependeria do contexto, totalmente.
É ruim também para toda a sociedade... o assunto vira tabu... e se for abordado, se a pessoa não está por dentro dos corretismos políticos... eventualmente há rodeios, invenções de novos eufemismos..... gerando o que em inglês chamam de "self consciousness"... um incômodo, embaraço, um desconforto, por parte de todo mundo, tanto da pessoa, por exemplo, sem AIDS/HIV ou de uma pessoa com.... meio como o Jô Soares diz de vez em quando... acaba muitas vezes sendo mais anti-natural/dramática a procura de um eufemismo do que usar um termo mais direto..... se é um eufemismo bem popular, tanto menos problemático... mas se a pessoa acaba tendo que inventar..... há aquelas pausas na conversa, em momentos estratégicos e etc....
Não há eufemismos, são termos que evitam exatamente o contrário do que está dizendo, o tabu, os termos buscam possibilitam discutir os motivos dessas utilização e os motivos de outros não. Tabu é não querer discutir isso.
É claro que são eufemismos sim. Se por exemplo "cego" é tido como politicamente incorreto, então, ao abordar o tema, eu me lembro apenas disso, eu teria que eventualmente pensar em uma outra forma de expressar a mesma condição, sem usar a palavra "feia", ofensiva. Aí, nessas, podem ocorrer pequenas pausas desconfortáveis para todos; para aquele que não quer ofender, e para aquele que, seria, no caso, cego, mas que é completamente consciente de que essa pausa tem como objetivo encontrar uma forma de expressar igualmente a condição com o termo declarado tabu, feio, ofensivo. "Bem, por favor aguarde um instante enquanto eu encontro o livro em.... <qual é o termo mesmo, para os livros que os cegos lêem com o tato? Não lembro> ... o livro na versão para pessoas ... <ops... "cego" é xingamento.... hummm o que eu digo agora?> ... não... dotadas.... efetivamente.... de capacidade visual plena... "
O pobre ceguinho ouvindo isso, claro, achou tudo muito normal, nem percebeu as pausas nem achou nada estranho nessa peculiar descrição...
Eu me sentiria na verdade um tanto incomodado com isso, não ofendido, mas constrangido, por despertar essa preocupação desncessária em não me ofender, como se fosse de cristal. Já seria chato ter a cegueira em si, causando problemas para mim, quanto mais gerando esses desconfortos para os outros, é o que eu pensaria.
Não me lembro de já ter passado por nada tão sério, mas por exemplo, uma vez uma amiga minha me desejou feliz natal, e em seguida pediu desculpas, envergonhada, lembrando que eu era ateu! (É americana, e acho que lá os ateus são mais pé-no-saco politicamente corretos que aqui, com todo aquele protesto contra o juramento de lealdade à bandeira e etc)
De forma similar, ainda que "ateu" seja originalmente pejorativo, não veria problema algum em usarem esse termo na maior parte do tempo, por qualquer motivo que seja.... a coisa muda quando, pessoas como o Geraldo Alckmin vem e falam "a corrupção é o distanciamento de Deus", onde nem usou o termo ateu em si; ou quando falam de "ateu" como alguém desqualificado, dentro de um certo contexto qualquer, que implique imoralidade ou qualquer coisa. Mas simplesmente "ateu", não estou nem aí.
Não precisaria ser "bright", "não teísta", "pessoa que não crê na existência de deidades"... para não implicar que sou "sem deus", que é o significado literal, que implica a existência de deus, mas que eu seria meio que um rejeitado ou algo do tipo.
Ocorre uma diferenciação entre ser portador do vírus hiv e ser aidético, que significa o desenvolvimento das doenças oportunistas.
Bem, eu meio que disse isso nesse trecho mesmo. Mas acho que "aidético" seria não para alguém afetado por doenças oportunistas, mas alguém já com o sistema imune comprometido, independentemente de ter sido afetado por alguma doença.
De qualquer forma, não vejo a relevância disso para ser ou não ofensivo um termo....
Achar/usar um termo geral implicando que uma pessoa já pode estar com o sistema imune comprometido seria ofensivo?
O comprometimento do sistema imunológico se daria com a alta carga viral a tal ponto de comprometer o organismo através do desenvolvimento das doenças oportunistas. O contágio do vírus é apenas o primeiro passo de todo um desenvolvimento do vírus no ataque do sistema imunológico. O tratamento auxilia muito em reduzir a velocidade de desenvolvimento do vírus no organismo, sendo a carga viral sempre monitorada. Por isso se diz que as pessoas soropositivas são saudáveis e levam uma vida normal. Dizer que estão com o sistema imunológico comprometido apenas por estarem contaminas é equivocado. Pelo menos clinicamente.
Não disse que estariam com o sistema imune comprometido pela mera contaminação.
Isso já está tomando direções diferentes, mas que eu saiba, a pessoa pode estar com o sistema imune comprometido, sem que no entanto tenha sido ainda contaminado por alguma outra doença. Aí, enquanto puder permanecer sem entrar em contato com outros patógenos, permanecerá saudável, penso eu. Mesmo já tendo AIDS em si, não sendo apenas portador de HIV.
Independentemente disso, a minha dificuldade está em entender no que seria ofensiva a ignorância sobre essas coisas todas, e a utilização de um termo só, imaginando que não existe a fase latente, ou a que não sofre com doenças oportunistas, apesar do vírus não estar apenas latente. Seria ofensivo apenas para a pessoa com o vírus latente, por uma certa discriminação dessas para com aquelas com os sintomas, não querendo ser associadas com elas, ou seria também por exemplo, para quem já tem os sintomas, talvez até sofrendo com doenças oportunistas, por falta de consideração da pessoa em saber que ele não esteve nesse estado desde o instante em que contraiu o vírus?
A relevância é total com relação a latência da doença. Ainda mais no caso do contágio com o hiv que possibilita uma vida normal por mais muitos anos, bem diferente do início da epidemia. E o que tudo indica é que cada vez mais será prolongado esse período. Assim o entendimento do termo como algo pejorativo, é o fato de não se fazer essa distinção entre ser portador assintomático do vírus hiv e ser aidético, que é estar manifestando as doenças oportunistas.
Ainda estou longe de ver a relevância disso... é meio como se para o portador assintomático acharem que na verdade é sintomático, ou "ligá-lo" aos sintomáticos, fosse ofensivo..... sei lá, me parece estranho, sem conexão.....
Pode ser ofensivo por associar as doenças com as pessoas não doentes. Aidético é usado mais no caso da pessoa doente. São critérios pertinentes.
A sua comparação é igual dizer que podemos chamar alguém de soropositivo mesmo que não esteja contaminado pelo vírus, já que não tem nada de ofensivo ter o vírus. O erro é em confundir, em não saber distinguir, e muitas vezes por pouco caso, por não querer se ater aos critérios que diferenciam os termos, causando assim um constrangimento.
Não sei, acho que é meio como se sentir ofendido por acharem que eu estou gripado (vírus influenza), quando estou na verdade apenas resfriado (coronavirus), ou em início de gripe, e talvez vice-versa também. Achar que alguém é soropositivo sem estar contaminado seria puramente ignorância, sem sentido, achando que as doenças surgem por geração espontânea, mas não acho que seria ofensivo.