Autor Tópico: Filho de Stálin  (Lida 8902 vezes)

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Offline Eremita

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Re: Filho de Stálin
« Resposta #75 Online: 07 de Abril de 2007, 02:51:28 »
Esqueci de responder uma...

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Repito o que eu disse: a riqueza está "nas mãos" de cada um. É a questão da "mão invisível" do mercado de livre concorrência: a pessoa para buscar a riqueza deve saber satisfazer a vontade alheia, ou seja, oferecer produtos e serviços cada vez melhores por um preço cada vez menor. O indivíduo, tentando fazer o que acha melhor para si, acaba fazendo o bem para todos e, em conseqüencia, a qualidade de vida geral aumenta.

A riqueza e a qualidade de vida aumentam e o custo de vida diminui. Quanto custava há dez anos atrás o computador que você está usando agora?
E a cem anos atrás, qual era o custo de um computador? E a utilidade?
O custo de vida aumenta, sim senhor. Pois mais coisas devem ser consideradas nele.

"Mão invisível do mercado"... a pessoa para buscar a riqueza deve ter meios de produção, e saber criar nas pessoas vontades de coisas que elas não tinham antes. Nisto, sugiro ler A Ilha (Aldous Huxley) - a melhor crítica não-comunista à sua mão invisível que já vi.
Latebra optima insania est.

Offline Herf

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Re: Filho de Stálin
« Resposta #76 Online: 07 de Abril de 2007, 20:02:58 »
Vou sintetizar o que entendi com o seu "mérito", me corrija se não peguei a definição, ok? Mérito, segundo você, significa a criação de bens de consumo que satisfaçam efetivamente as necessidades humanas. Sejam do estômago ou do fetiche.

Significa ter sucesso na criação das coisas que satisfaçam os outros. Se foi isso que quis dizer, está certo.


[…]

Vou pular a matéria-prima e o mercado, por enquanto. Quanto aos meios de produção… como obtê-los, inclusive o capital inicial? Ter dinheiro, nessa hora, ajuda. Com uma pequena fortuna herdada, posso montar um pequeno negócio, para ir ampliando com o tempo. O passo necessário é menor. Então, vamos incluir "ter dinheiro" como coisas a serem levadas em conta, na sua definição de mérito.

Ter uma educação com qualidade também pode ser incluído como meio de produção, pois não é algo que se gaste com o processo. Um mínimo de gestão empresarial, conhecimento do processo, engenharia social e marketing, são coisas que você aprende formal ou informalmente. Vamos incluir no seu mérito: "educação voltada ao empreendorismo".
[…]
Há um "quê" de caos e de probabilidades, também… ter uma idéia eficiente não é questão de criação, mas também da chance da idéia dar certo. Isso explicaria os Sílvio Santos da vida. Porém, se analisados em relação ao todo, você percebe que são só "ruído estatístico". O modelo que fiz, assim como o behaviorismo, tem um problema: não explicar casos específicos. Entretanto, em termos gerais, acho que reduzi o seu "mérito" como herança (financeira e intelectual) e probabilidades, não? Ou seja, o mérito principal está em ter nascido em uma família com dinheiro e educação.

"Com uma pequena fortuna posso começar"? Segundo a sua análise o nosso mundo não existe, se pensa que todas as pessoas que têm o seu próprio negócio hoje partiram de uma pequena fortuna. Na verdade, a maioria delas partiu do "nada". Há muito mais Sílvios Santos por aí do que você pensa! Se a educação de que você fala fosse algo tão herdado como você faz parecer, apenas pessoas ricas poderiam ter fundado as empresas que hoje são as maiores, o que evidentemente não é verdade. E também não haveria empresas grandes falindo, não acha? (Já que por essa lógica, elas são de pessoas ricas e estas têm "educação" para gerí-las…)

Mas o problema comunista começa na definição de "meios de produção". Nós realmente não vamos entrar em um acordo se para você os meios de produção são apenas coisas como enxadas, foices, máquinas de costura ou fábricas. Creio que você irá concordar comigo se eu definir meio de produção como "aquilo que é usado para ganhar dinheiro em uma sociedade capitalista". Apesar de não ser a definição formal, me parece satisfatória para o que estamos discutindo. Usarei as palavras de Rodrigo Constantino para expressar a minha opinião:

[…] o que seriam os meios de produção no mundo atual? As idéias têm mais valor que quaisquer máquinas facilmente replicáveis. Vivemos na era do capital intelectual, onde uma dupla de nerds em uma garagem pode ameaçar a posição de liderança de uma empresa gigante e estabelecida.
[…]
Num mundo onde o verdadeiro meio de produção é a mente, as máquinas não desfrutam de tanto valor assim.

O texto pode ser encontrado aqui. Fala sobre o que estamos falando, se quiser comentar sobre ele, aí está.

Então, tudo se resume à meritocracia. A organização social onde os mais competentes em satisfazer a vontade alheia são os que mais ganham. Sortudos que receberam uma herança mas que a usam só em putas, bebidas e lojas caras não têm o mérito de que estamos falando. Não adianta ser rico, não adianta ter as máquinas: tem que ter competência.

Oi, só uma coisa… volte à realidade. Ainda que todos trabalhassem com afinco, e produzindo bens de consumo úteis, as Ferraris ainda seriam limitadas.

Desde quando "as Ferraris" são limitadas? Em que mundo você vive?? A riqueza é produzida, criada a todo momento! A produção de um bem é controlada pela demanda que há por ele.

Estou falando estritamente em horas de trabalho útil à sociedade. Ninguém enriquece de acordo com as horas de trabalho, ou os professores brasileiros seriam milionários.

Entretanto, falo de trabalho sem considerar o grau de produção desse trabalho, a "qualidade" dele. Mas a qualidade de um trabalho é definida essencialmente pelos meios de produção que você usa.

É claro que ninguém enriquece de acordo com as horas de trabalho. Ao dizer isso, você demonstra estar caindo mias uma vez no engano de entender a palavra "trabalho" apenas como o trabalho "suado". É o mérito. É a capacidade em ser bom fazendo o que os outros querem. (E não faz sentido citar os professores, pois só os da rede pública é que são realmente desvalorizados, e os que são da rede pública estão fora da nossa conversa sobre mercado).

Esqueça meu apelo à moral, um dia me livro dele.

Não havia entendido o que você quis dizer com "contando dinheiro"… Esqueçamos isso.

O mérito (na sua def.) do empréstimo do dinheiro só cabe dentro do capitalismo. Não caberia dentro do socialismo ou do feudalismo. É uma necessidade que nasceu com o capitalismo e morrerá com ele, não uma necessidade humana intrínseca.

Sim, é verdade. O empréstimo de dinheiro só vale dentro do capitalismo. Nasceu com ele e vai morrer com ele. Mas no que isso invalida algo que eu disse?

E a minha vontade da Ferrari, o capitalismo não supre. Por que professores não podem ter Ferraris??? Acho que vou montar uma fábrica automotiva pra mim.

Ah! "O capitalismo não supre". Cara, vai trabalhar para conseguir a Ferrari e os bens dos seus sonhos. Mais do que isso, vai ter mérito. Quer tudo de mão beijada?

E tenha muito cuidado para não levar o exemplo da Ferrari longe demais: começamos a conversa usando "Ferrari" como sinônimo de bem de consumo, e agora você está estendendo a dificuldade em ter uma Ferrari para todos os outros bens. Sugiro pararmos com a Ferrari daqui em diante.

Falando sério, a "liberdade de produção e consumo", no capitalismo, é exclusiva para 10% da população. Vamos ao mundo real, Procedure.

No comunismo eu posso pensar em uma Ferrari que ela vai aparecer na minha frente, é isso? :lol:

No capitalismo, eu tenho que trabalhar bastante para conseguir um bem desejado. No comunismo, eu não posso ter o bem desejado se o "bem coletivo" assim desejar, por mais que eu trabalhe. Triste perspectiva essa!

Ter uma Ferrari é, de fato, para bem menos de 10% da população de hoje, do mesmo modo que ter um computador era para 10% da população há dez anos atrás. E, ora, vejam só: passaram-se dez anos e os computadores são cada vez mais acessíveis.
Um Ipod de 1 GB há dois anos custava mais que o dobro do que custa hoje. Milagre? Não, mercado.

Sem dúvida, o capitalismo é mais eficiente na supressão das vontades que os sistemas anteriores, entretanto, ele ainda deixa muito a desejar.

Isso me faz lembrar daquela frase: "o capitalismo é o pior dos sistemas econômicos, exceto todos os outros." E aí está incluído o seu. O seu e todos os outros sistemas que ainda não foram tentados, pois a liberal democracia é o último dos sistemas, a refinação máxima de todos eles, por uma razão simples: é a que mais alcança o equilíbrio entre a liberdade individual e o bem coletivo, ambos fundamentais à civilização humana.

Comunismo, no sentido mais puro da palavra, não é para humanos, é para formigas.

Eu posso, no máximo, arriscar uma definição do que seria uma necessidade. Mas apenas especulativa, sem caráter taxativo.

Ou seja, não dá para definir.

Vai dizer que necessidade significa, como me disseram em outra conversa, "aquilo sem o que não se pode viver"? É uma definição bem imprecisa, mas de fato, só não se pode manter-se vivo se não tiver comida e o mínimo de cuidados médicos. O resto, então, é futilidade, "é coisa de individualista". Resumamos então as nossas vidas em comer e ter cuidados médicos, apenas o necessário. Não parece uma vida feliz…

Essencialmente, questões biológicas. Necessidades primárias - comida, medicamentos, educação; como você disse, necessidades simples. Pois necessidades psicológicas atreladas a bens de consumo são meramente psicológicas, nelas não há "quem precise mais".

A propósito, educação (no sentido em que falamos) não é uma necessidade biológica. Tirando isso só restam os cuidados médicos e a comida, dos quais eu acabei de falar.

Necessidades psicológicas atreladas a bens de consumo? Tudo que está fora do universo "comida e cuidados médicos" é, para você, definido como "um bem fútil de consumista"?

Citar
Diz que "não é necessário negar ao ser humano o direito da individualidade" mas é só o que faz quando defende que a pessoa seja submissa do coletivo!
Submissa… interessante palavra. Não é necessária a submissão forçada da pessoa, dela abdicar da sua individualidade. Entretanto, considerar que seus atos vão afetar o corpo social. Ok, foda-se o corpo social, mas afetarão outras pessoas também. Isso, para mim, se chama bom senso.

Em qualquer meio social, não importa em qual sistema, os atos de uma pessoa afetam a outra de alguma maneira. Isso é uma conseqüência do fenômeno da sociedade. É algo que não tem relação com o sistema adotado, está fora da nossa conversa.

A falácia está em dizer que, pelo fato do ser humano ter um lado individualista, uma sociedade na qual ele viva precisa se basear nisso. Somos artificiais por natureza.

Comparei a individualidade com a agressão apenas quanto a isso: nossa sociedade não é baseada na agressão, embora ela seja natural ao ser humano. E só.

Então torno a dizer: a questão não é ir ou não pelos instintos, e sim ir por aqueles que não afetam os outros de forma negativa e reprimir os que afetam. Minha liberdade individual diz respeito apenas a mim e a mais ninguém, sempre de acordo com o princípio de que a liberdade de um termina onde começa a do próximo.

Não é sempre que a propensão à agressão viola a liberdade individual. O football estadunidense, o boxe, ou mesmo quando você desconta a sua raiva cavando buraco numa horta são exemplos. Você não está ferindo liberdades, entretanto, usa a agressividade inata para coisas que, se não produtivas, ao menos não prejudiciais. Somos a espécie dominante do planeta por sermos agressivos. Isso não quer dizer que eu vou sair dando porrada no primeiro que me aparecer na frente, por simples bom senso: viver num lugar onde todos fazem isso não é muito interessante.

Sim é verdade. Como isso invalida algo que eu disse eu não entendo.

Assim como a individualidade. Aliás, "individualidade" quando você tem explicar ao seu chefe aonde estava por ter chego 15min atrasado? Ao explicar, você já abdicou de parte da sua individualidade por algo que você considera mais interessante - manter seu emprego, talvez.

A individualidade de se pegar uma hora de folga e vadiar sem rumo, ou ler um livro, ou ir pro bar tomar cerveja… quando não produtivas, ao menos não prejudiciais. Tanto no capitalismo como no socialismo.

Desculpe mas não entendi o que você quis passar com este trecho.
 
Corrija-me se eu estiver errado, mas me parece que você acha que falo em coerção.

A coerção é a única forma de manter uma sociedade comunista, por todos os motivos que expliquei acima (não acho que você esteja pregando a violência, acho que você ainda não se deu conta disso). Humanos não vivem pacificamente sem esta coisa chamada liberade individual, a inimiga número um do comunismo.

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E a cem anos atrás, qual era o custo de um computador? E a utilidade?

O custo seria altíssimo, e a utilidade também. Não lhe parece evidente?

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O custo de vida aumenta, sim senhor. Pois mais coisas devem ser consideradas nele.

O custo de vida cai se comparado com o aumento na qualidade de vida. É óbvio que o valor absoluto das coisas que uma pessoa possui em casa hoje é muito maior do que uma pessoa da mesma classe tinha há cem anos atrás, pois a qualidade de vida aumentou muito desde então, mais do que o suficiente para compensar o custo. Se você quer ficar sempre no mesmo custo de vida nunca vai evoluir, o seu padrão de vida nunca vai melhorar. Não vejo o que há de errado nisso.

"Mão invisível do mercado"… a pessoa para buscar a riqueza deve ter meios de produção, e saber criar nas pessoas vontades de coisas que elas não tinham antes. Nisto, sugiro ler A Ilha (Aldous Huxley) - a melhor crítica não-comunista à sua mão invisível que já vi.

Você acaba de expressar um pensamento tipicamente comunista, estático e retrógrado ao máximo: "saber criar nas pessoas vontades de coisas que não tinham antes"… tsc tsc…

Vou deixar em itálico, negrito e sublinhado: Não consegue perceber que toda evolução tecnológica e cultural humana decorre desta vontade das pessoas de terem coisas que não tinham antes?
« Última modificação: 08 de Abril de 2007, 13:37:44 por Procedure »

Offline Eremita

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Re: Filho de Stálin
« Resposta #77 Online: 09 de Abril de 2007, 05:32:49 »
Citação de: Procedure
Significa ter sucesso na criação das coisas que satisfaçam os outros. Se foi isso que quis dizer, está certo.
Tá, "coisas" = "bens de consumo", serviços, etc. Ok.

Citação de: Procedure
"Com uma pequena fortuna posso começar"? Segundo a sua análise o nosso mundo não existe, se pensa que todas as pessoas que têm o seu próprio negócio hoje partiram de uma pequena fortuna. Na verdade, a maioria delas partiu do "nada". Há muito mais Sílvios Santos por aí do que você pensa! Se a educação de que você fala fosse algo tão herdado como você faz parecer, apenas pessoas ricas poderiam ter fundado as empresas que hoje são as maiores, o que evidentemente não é verdade. E também não haveria empresas grandes falindo, não acha? (Já que por essa lógica, elas são de pessoas ricas e estas têm "educação" para gerí-las…)
Estou dizendo que o passo necessário é menor, que ter fortuna ajuda, e muito. E que portanto, isso deve ser incluído em "mérito". Leia de novo o trecho que você quotou.

Qual a relevância social da subida dos Sílvio's Santos? Compare com toda a população e você vai ver que dá pra até desconsiderar no modelo. Emílio's Batistella, Ratinho's e Sílvio's Santos não ocorrem a cada esquina. De qualquer forma, se formos considerar quem sobe socialmente, vamos ter que considerar quem desce também, mesmo que seja torrando dinheiro.

Citação de: Procedure
Mas o problema comunista começa na definição de "meios de produção". Nós realmente não vamos entrar em um acordo se para você os meios de produção são apenas coisas como enxadas, foices, máquinas de costura ou fábricas. Creio que você irá concordar comigo se eu definir meio de produção como "aquilo que é usado para ganhar dinheiro em uma sociedade capitalista".
Acho-a incompleta, só dá pra usar no sistema capitalista. Para usar em outros, você precisaria de analogias: "isso daria dinheiro no capitalismo?"

Se você reler o que escrevi, vai ver que considero também os conhecimentos acumulados (intelecto) como meio de produção, pois é algo necessário à produção mas que não se gasta com ela.
Unh… "aquilo que é usado para produzir bens que as pessoas consumam mas não é gasto no processo", está ok para você? Dá pra incluir numa boa o conhecimento e a criatividade, dá pra incluir o capitalismo numa boa, enfim, é uma definição mais ampla.

Citação de: Procedure
[…] o que seriam os meios de produção no mundo atual? As idéias têm mais valor que quaisquer máquinas facilmente replicáveis. Vivemos na era do capital intelectual, onde uma dupla de nerds em uma garagem pode ameaçar a posição de liderança de uma empresa gigante e estabelecida.
[…]
Num mundo onde o verdadeiro meio de produção é a mente, as máquinas não desfrutam de tanto valor assim.
Como você define "mente", Procedure? Acho que ambos caímos em joguinho de definições e não percebemos.
Como se pode obter idéias sobre determinado assunto?
Se os caras do Google não tivessem acesso a computadores, você acha que teriam a idéia deles?
Ou, se os computadores fossem muito mais popularizados em 1995, você acha que ninguém teria a idéia antes?
Citei o exemplo da indústria por ser mais simples de elaborar, só isso.
Além do mais, o Google é de 1995… a Internet, e a busca em si, era um mercado nascente.

Citação de: Procedure
O texto pode ser encontrado aqui. Fala sobre o que estamos falando, se quiser comentar sobre ele, aí está.
Quero lê-lo, assim que passar da época das provas, ok? Preciso ler com cuidado, sério mesmo. Vou ler o blog todo.

Citação de: Procedure
Então, tudo se resume à meritocracia. A organização social onde os mais competentes em satisfazer a vontade alheia são os que mais ganham. Sortudos que receberam uma herança mas que a usam só em putas, bebidas e lojas caras não têm o mérito de que estamos falando. Não adianta ser rico, não adianta ter as máquinas: tem que ter competência.
O seu modelo tem um grave problema, considerar a competição e o mercado consumidor como infinitos; considerar que a competição sempre ocorre.

Proponho um experimento mental. Eu ia citar o clássico (mercadinho vs. Wal-Mart), mas vou usar o Google.

Ok, os dois caras foram lá e estabeleceram seu império. Agora, supomos que você teve uma idéia para mecanismos de busca (um "mérito" seu), que dá de 10 a 0 no PageRank do Google. Ou seja, um mecanismo de busca com a sua idéia seria muitas vezes melhor que o Google. Você vai patentear sua idéia, seria sensato, não? E você faz um mecanismo de busca tosquinho, com poucos recursos, mas que use sua idéia.

O Google começou como uma idéia de dois nerds. Agora, é uma megaempresa. Eles viram sua idéia (patenteada), acharam boa. Oferecem a você certa quantia pelo seu mérito, que vai depender da qualidade da idéia. Se você a vender, tudo continua como estava - o Google a incorpora a seu mecanismo de busca e continua sendo a empresa de maior mérito. Você ganha, digamos, 15 milhões (o preço que Gates quis pela Micro-soft um dia). O que você fará com seus 15 milhões, Procedure? Deixo-a para você desenvolver.

Vou desenvolver a idéia oposta. Que você não aceitou a venda. O Google, então, coloca sua equipe de think-tanks para funcionar. Duas coisas podem ocorrer:
1)Eles conseguem superar a sua idéia e você vai à falência (isso se chama "matar no ninho" a concorrência. A empresa de Gates é ótima nisso, veja como o IE7 é cópia descarada do Firefox). Pois não são somente os dois caras que vão estar competindo com você, mas toda uma equipe cujo trabalho é pensar e ter idéias. E o mérito deles é sistematicamente comprado pelos dois caras. Mais tarde, se eles comprarem sua idéia a preço de banana (pois eles tem uma melhor) ou a ignorarem é irrelevante, eles continuam com o mérito.

2)A sua idéia é tão boa que o Google não consegue a superar, e o império cai. E o mercado é tomado pelo "império Procedure". Só que vai ser muito mais difícil tomar o lugar da Procedure Corp. que do Google, pois é uma idéia melhor, e você vai ter à sua disposição um exército de think-tanks muito maior para venderem seus méritos a você. Vai ser necessário muito mais mérito, como você diz - mérito de gente que passe anos a fundo estudando os sistemas de busca para ter uma idéia melhor que a sua, que dedicou anos a fundo para estudar sistemas de busca. Esse mérito vai estar inacessível a gente que trabalhe em outra área do conhecimento, e à maior parte dos nerds. A não ser os que trabalham pra você, mas tudo bem, é trabalho deles lhe vender seus méritos.

O mérito continuará sendo coisa de uma casta cada vez menor, e cada vez mais trabalho (intelectual, criativo ou braçal) será necessário para subir à "casta do mérito".

Citação de: Procedure
Desde quando "as Ferraris" são limitadas? Em que mundo você vive?? A riqueza é produzida, criada a todo momento! A produção de um bem é controlada pela demanda que há por ele.
A Ferrari é uma mercadoria de fetiche. O desempenho dela, por exemplo, não é tão melhor que o de outro carro mais barato, ela é cara por causa do valor que as pessoas pagam pelo fetiche. A partir do momento que todo mundo a tem, ela perde seu principal atributo. Claro que a fábrica não iria permitir isso - aumentaria os preços até o ponto que somente uma parcela da população voltasse a consumir Ferraris, pois ganha mais vendendo o fetiche que ganha vendendo o carro em si. E ela continuaria limitada a certo grupo.

Citação de: Procedure
(E não faz sentido citar os professores, pois só os da rede pública é que são realmente desvalorizados, e os que são da rede pública estão fora da nossa conversa sobre mercado).
Citação de: Procedure
Ah! "O capitalismo não supre". Cara, vai trabalhar para conseguir a Ferrari e os bens dos seus sonhos. Mais do que isso, vai ter mérito. Quer tudo de mão beijada?
Tô vendo que eu vou trabalhar feito um burro e ainda assim não vou ter minha Ferrari (Vou ser professor, é o que gosto de fazer). Ok, e eu paro com a Ferrari ^^.
Quanto ao mérito, já expliquei acima.

Citação de: Procedure
No comunismo eu posso pensar em uma Ferrari que ela vai aparecer na minha frente, é isso?
A idéia é minha da Ferrari é minha, tá???
Mas, falando do comunismo, imagino os carros no comunismo mais ou menos como as distros de Linux: vai ter uma penca de modelos, de acordo com os gostos, mas mais ou menos com a mesma funcionalidade. É o que me aparece quando vejo meios de produção na mão do coletivo.

Citação de: Procedure
Ter uma Ferrari é, de fato, para bem menos de 10% da população de hoje, do mesmo modo que ter um computador era para 10% da população há dez anos atrás. E, ora, vejam só: passaram-se dez anos e os computadores são cada vez mais acessíveis.
As facilidades da Ferrari vão sendo incorporadas aos carros populares, mas a Ferrari vai continuar sendo brinquedinho de luxo. Os computadores não vendiam por ser luxo, mas por serem úteis. Não há muita diferença entre a utilidade da Ferrari ou de um Celta, ambos andam do mesmo modo.

Citação de: Procedure
Comunismo, no sentido mais puro da palavra, não é para humanos, é para formigas.
Depende. Tire as castas, faça todos ao mesmo tempo operários, soldados e rainhas. Some a isso a intelectualidade de uma espécie que escreve a sua própria história, mas nunca do jeito que querem.
Aí sim, é comunismo como eu penso que será.

Uma sociedade especializada pode ser mais efetivo a curto prazo, mas o será a longo prazo? Lembre-se, estamos lidando com seres racionais.

Citação de: Procedure
O seu e todos os outros sistemas que ainda não foram tentados, pois a liberal democracia é o último dos sistemas, a refinação máxima de todos eles, por uma razão simples: é a que mais alcança o equilíbrio entre a liberdade individual e o bem coletivo, ambos fundamentais à civilização humana.
Nessas horas, caro girondino, seria interessante ver o que alguém de 1100 D.E.C. pensava sobre o feudalismo.
Qualquer regime dura pra sempre, até que cai…
Não se esqueça que o feudalismo no geral foi um progresso, em relação ao escravismo (também no geral).

Citação de: Procedure
Ou seja, não dá para definir.

Vai dizer que necessidade significa, como me disseram em outra conversa, "aquilo sem o que não se pode viver"? É uma definição bem imprecisa, mas de fato, só não se pode manter-se vivo se não tiver comida e o mínimo de cuidados médicos. O resto, então, é futilidade, "é coisa de individualista". Resumamos então as nossas vidas em comer e ter cuidados médicos, apenas o necessário. Não parece uma vida feliz…
Semântica.

Citação de: Procedure
A propósito, educação (no sentido em que falamos) não é uma necessidade biológica. Tirando isso só restam os cuidados médicos e a comida, dos quais eu acabei de falar.
Ops, falha minha. De qualquer modo, com a sucessão de regimes, cada vez mais são supridas e geradas necessidades (ao inferno com as definições, lá vou eu… rsrsrs). Um sistema gera necessidades que ele mesmo não supre, e não vejo ser diferente com o capitalismo.
O capitalismo gera a propriedade privada (como a conhecemos hoje), e também a necessidade desta; porém, ele mesmo é incapaz de suprir propriedade a todos.
Gera bens de fetiche, que perdem seu valor se popularizados.
Gera a liberdade intelectual no papel, mas que não pode ser exercida se você tem que se especializar em algo.

Citação de: Procedure
Em qualquer meio social, não importa em qual sistema, os atos de uma pessoa afetam a outra de alguma maneira. Isso é uma conseqüência do fenômeno da sociedade. É algo que não tem relação com o sistema adotado, está fora da nossa conversa.
Talvez tenha relação. Bom senso supre qualquer necessidade de coerção.

Citação de: Procedure
Então torno a dizer: a questão não é ir ou não pelos instintos, e sim ir por aqueles que não afetam os outros de forma negativa e reprimir os que afetam. Minha liberdade individual diz respeito apenas a mim e a mais ninguém, sempre de acordo com o princípio de que a liberdade de um termina onde começa a do próximo.
(sem cair na questão de reprimir vs. direcionar, nem de "positivo" ou "negativo")
Indo para a estrutura do capitalismo: como os proprietários do Google afetam seus funcionários? Será que pagam por todo o "mérito" dos funcionários ou ficam com uma pequena/grande parte para si do mérito alheio, independente de pegarem o seu quinhão de "mérito"?
Pelo que entendi da sua liberdade quase kantiana, a liberdade individual é a de se permitir que outra pessoa pegue parte do seu mérito, pois não se tem a liberdade de usufruí-lo [o mérito] completamente.

Citação de: Procedure
Sim é verdade. Como isso invalida algo que eu disse eu não entendo.
Eu fiz analogia da agressão com a individualidade, lembra? Pois bem. Num sistema ideal e perfeito*, você tem sua individualidade em fazer o que bem entende nas suas horas de folga, de usá-las o quanto quiser para dormir, viajar ou fofocar. Você tem a individualidade de escolher um, ou dois, ou três empregos que você goste, dentre vários, e dividir sua carga horária entre eles (digamos, 8 horas neste, 8 nesse e 8 naquele). Pode escolher um braçal, um intelecto-criativo e um burocrático, por exemplo. Pode mudar a hora que quiser para outro que tenha vagas, se não gostar do trabalho que pegou. Mas você sabe que precisará trabalhar as 24h semanais de forma que contribua com a sociedade como um todo. Você sabe que se há um máximo de trabalho braçal (p.ex.) necessário na sociedade, e que alguém terá que suprir os outros trabalhos. E que se houver gente demais no trabalho braçal, você vai precisar gastar suas horas de trabalho em outra coisa.

Resumindo, você dirige a sua individualidade à(s) tarefa(s) que exerce, e não a outras coisas que sejam socialmente danosas. O que é danoso ou não vai depender da sociedade, mas isso mostra que é possível exercer individualidade num sistema socialista por exemplo.

*Não estou falando nem de comunismo nem capitalismo - comunismo não é panacéia, não cura dor de dente ou de cotovelo; estou apenas idealizando. A aplicabilidade dessa verborragia ainda teria de ser analisada.

Citação de: Procedure
Desculpe mas não entendi o que você quis passar com este trecho.
1) Dirigir a individualidade, ao invés de coibí-la; e
2) Mostrar que o capitalismo coíbe a individualidade muito mais do que parece.

Citação de: Procedure
A coerção é a única forma de manter uma sociedade comunista, por todos os motivos que expliquei acima (não acho que você esteja pregando a violência, acho que você ainda não se deu conta disso). Humanos não vivem pacificamente sem esta coisa chamada liberade individual, a inimiga número um do comunismo.
Não estamos falando em URSS. E, como eu disse, quando há bom senso, não há a necessidade de coerção.

Citação de: Procedure
O custo seria altíssimo, e a utilidade também. Não lhe parece evidente?
Siiiim, muito evidente. O custo simplesmente não existia.
Há 10 anos, você não considerava os custos de celular e computador nos custos de vida.
Há 20, o de uma TV colorida.
Há 30, o de qualquer TV, e de qualquer telefone.
Há 50, o de qualquer eletrodoméstico, senão um rádio com válvulas.
Há 100, o custo de água, luz, cinema nas sextas…
Não, Procedure, o custo de vida não diminui, ele sempre aumenta. As coisas podem baratear com a produção em massa, mas barateiam até certo ponto; enquanto isso, vão sendo agregadas mais coisas ao custo de vida.

Citação de: Procedure
O custo de vida cai se comparado com o aumento na qualidade de vida. É óbvio que o valor absoluto das coisas que uma pessoa possui em casa hoje é muito maior do que uma pessoa da mesma classe tinha há cem anos atrás, pois a qualidade de vida aumentou muito desde então, mais do que o suficiente para compensar o custo. Se você quer ficar sempre no mesmo custo de vida nunca vai evoluir, o seu padrão de vida nunca vai melhorar. Não vejo o que há de errado nisso.
Você lembra por que eu citei o custo de vida? Porque você falou que a riqueza aumenta, como falha no modelo. A qualidade de vida aumenta, é tão óbvio que desnecessário dizer. Nem vi algo de errado no custo de vida aumentar.

Eu falei que, embora a riqueza aumente, o custo de vida também. E, ainda assim, a riqueza vai se concentrando, o que faz a qualidade de vida relativa à média diminuir para a maior parte da população, enquanto aumenta para uma pequena parte dela. Não se compara a qualidade de vida em relação aos nossos pais, mas sim em relação aos nossos vizinhos. Por isto, relativa à média.

Citação de: Procedure
Você acaba de expressar um pensamento tipicamente comunista, estático e retrógrado ao máximo: "saber criar nas pessoas vontades de coisas que não tinham antes"… tsc tsc…

Vou deixar em itálico, negrito e sublinhado: Não consegue perceber que toda evolução tecnológica e cultural humana decorre desta vontade das pessoas de terem coisas que não tinham antes?[/u][/b]
E você fez a típica caricatura, quase um espantalho, do pensamento comunista. Por favor, volte e leia o meu trecho que você quotou. Sério.

Em sublinhado, negrito, itálico, caixa alta, e fonte vermelha: VOCÊ NÃO CONSEGUE PERCEBER QUE ESSA VONTADE DE TER COISAS QUE NÃO EXISTIAM ANTES É ANTERIOR AO CAPITALISMO (NASCEU COM O SER HUMANO) E SERÁ POSTERIOR AO CAPITALISMO (MORRERÁ COM O SER HUMANO)?[/u][/b][/color]

Note, eu não estou criticando a vontade de ter mais do que se tem hoje; não sou cristão, retrógrado ou estático.
Estou criticando o seu conceito de "mão invisível do mercado", mão que é completamente ineficaz para manter a livre-concorrência da qual ela mesma depende.
Estou criticando que você considera os meios de produção sempre disponíveis a todos - mesmo os intelectuais e criativos, quase como se achasse que idéias brotam da alma por inspiração divina, sem considerar que a criatividade humana precisa de terreno cultural e de conhecimentos para poder se expressar.
Estou criticando o seu girondismo de achar que o capitalismo é eterno, comparável ao de um feudal achando que suserania e vassalagem durariam para sempre.
E, estou criticando a visão do marketing, de criar a necessidade de acordo com o estado do sistema econômico, quando em algo voltado ao ser humano deveria ser exatamente o contrário - regulamos o sistema econômico pelas novas necessidades que surgem. Pois as necessidades surgem, isso é esperado e saudável, mas são de e para o ser humano.

(Me enrolei um pouco nessa… a frase original não saiu do jeito que eu queria, tampouco a explicação dela. Deixa pra lá.)

Em off, pois termino aqui: não se esqueça, também, que a maioria dos comunistas (me inclua) não considera o comunismo como "alternativa" ao capitalismo, mas a evolução deste. Podem discordar quanto a o que é um capitalismo tardio, com certeza; alguns acham que o de hoje é tardio e estamos prontos para a revolução, outros acham que daqui a mil anos, outros acham que já passou. Eu considero a Grande Guerra Mundial como o marco médio do capitalismo, que divide entre baixo e alto capitalismo, e considero que demora mais uns 200 anos pra ele estar maduro o suficiente, nos Estados de vanguarda. Tenho o risco de estar errado; sempre tenho. Porém, todos concordam (inclusive eu) que o surgimento do comunismo no meio do capitalismo é tão impensável quanto o surgimento do capitalismo no século X. Com ou sem revolução, com ou sem estado de transição. E o fato de todos concordarem não altera a "qualidade" do pensamento, mas lhe revela como os comunistas pensam. Só pra lembrar.

Considero a minha parte do debate como encerrada. Ainda vou ler as suas respostas, como fiz antes (e a referência que você me passou). Porém, abstenho-me de responder.
A gente quase caindo na porrada… huahuhauah (isto é uma brincadeira).
Falando sério, o debate já rendeu o que tinha que render, e considero que foi bem produtivo pra mim.

Abraços!!!
« Última modificação: 09 de Abril de 2007, 05:34:55 por Eremita »
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Offline Herf

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Re: Filho de Stálin
« Resposta #78 Online: 10 de Abril de 2007, 21:25:10 »
Há coisas novas para serem comentadas, sugiro que continue.

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Qual o motivo para ser tão avesso a definir os conceitos de maneira rigorosa? Um princípio básico para uma conversa racional é que ambos tenham as mesmas definições para uma palavra.

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Citar
Estou dizendo que o passo necessário é menor, que ter fortuna ajuda, e muito. E que portanto, isso deve ser incluído em "mérito". Leia de novo o trecho que você quotou.

Sim, ajuda. Ao menos reconheça que nem de longe é o principal fator, como demonstra a realidade.

E isso não é nada mais do que uma conseqüência do princípio de que cada um pode fazer o que quizer com seus bens, inclusive dá-los todos para os filhos.

Citar
Como você define "mente", Procedure? Acho que ambos caímos em joguinho de definições e não percebemos.

Por "mente" me refiro apenas à capacidade intelectual.

Citar
Se os caras do Google não tivessem acesso a computadores, você acha que teriam a idéia deles?

Por que leva o exemplo específico do Google tão a sério? Sim, foi um desenvolvimento intelectual dependente da tecnologia (meios físicos de produção), óbvio. Mas foi intelectual, isso é o que importa. Muito diferente de um trabalho braçal.

Citar
O seu modelo tem um grave problema, considerar a competição e o mercado consumidor como infinitos; considerar que a competição sempre ocorre.

Volto, então, a repetir o trecho que você ignorou antes:

Não faz sentindo exagerar essa tendência à acumulação por uma razão simples: ninguém consegue manter uma fortuna absolutamente sozinho, sem empregar outras pessoas e sem oferecer produtos e serviços de qualidade!

Então você pode querer argumentar: "mas e quando a empresa tal dominar o seu ramo? Não haverá mais concorrência, a qualidade dos produtos vai cair, e as pessoas não terão mais escolha, terão que consumir produtos de baixa qualidade." Errado! No momento em que a qualidade dos produtos e serviços começa a decrescer, mesmo que a empresa seja a dominante absoluta do mercado, abrem-se as portas para as outras nascerem e crescerem oferecendo os produtos e serviços de acordo com o desejo da demanda. (Muito diferente do caso em que o estado possui o monopólio de um serviço.). Com as coisas rolando livremente no mercado, há o que um autor chamou de "plebiscito constante" pelas pessoas.

Tudo é perfeitamente dinâmico e auto-eqüilibrável, não faz o menor sentido pensar desta maneira estática! O ponto central do seu engano é não concordar que a verdadeira riqueza não pode ser possuída como uma máquina, pois ela está "nas mãos" de cada pessoa, e só pode ser transferida para outro por meio de um contrato de trabalho, com o consentimento de ambas as partes, naturalmente.

Citar
Proponho um experimento mental. Eu ia citar o clássico (mercadinho vs. Wal-Mart), mas vou usar o Google.

Onde você quis chegar com este exemplo? Não vejo por que ele invalida o meu argumento, pelo contrário, está de acordo com tudo o que eu disse.

Em todos os casos as empresas se deram bem porque compraram os serviços de pessoas que estavam afim de vendê-lo ao invés de usá-lo para seus próprios benefícios. Elas tiveram o "mérito", e certamente ganharam muito por isso ao vendê-lo. Tudo com o consentimento de ambas as partes.

Citar
O mérito continuará sendo coisa de uma casta cada vez menor, e cada vez mais trabalho (intelectual, criativo ou braçal) será necessário para subir à "casta do mérito".

Que o "mérito" será coisa de uma casta cada vez menor não faz sentido. Muito pelo contrário.

Agora, que cada vez mais trabalho físico e intelectual seja necessário para superar uma empresa bem estabelecida, é meio óbvio, não? As coisas vão evoluíndo, fazer um computador hoje exige muito mais conhecimento do que fazer um há 30 anos atrás. As idéias vão ficando obsoletas…

Citar
A Ferrari é uma mercadoria de fetiche. O desempenho dela, por exemplo, não é tão melhor que o de outro carro mais barato, ela é cara por causa do valor que as pessoas pagam pelo fetiche. A partir do momento que todo mundo a tem, ela perde seu principal atributo. Claro que a fábrica não iria permitir isso - aumentaria os preços até o ponto que somente uma parcela da população voltasse a consumir Ferraris, pois ganha mais vendendo o fetiche que ganha vendendo o carro em si. E ela continuaria limitada a certo grupo.

Mas e qual o problema de o fetiche estar em jogo, e não o desempenho? Tudo bem que isso seja o ápice da futilidade, futilidade que eu abomino, mas se as pessoas estão dispostas a gastar suas fortunas em uma Ferrari ou em um frasco com as fezes de um cara reconhecido como "artista", que gastem.

Veja que não há nenhuma diferença entre isso e um produto cujo desempenho é o que realmente está em jogo. Os computadores comuns de hoje eram o máximo há dez anos atrás, coisa para muito pouca gente. Hoje são para "todos", mas já há computadores ainda melhores, e estes estão, hoje, nas mãos dos ricos. Amanhã estarão também nas das pessoas comuns, mas aí já haverá computadores ainda melhores e assim por diante…

Citar
Tô vendo que eu vou trabalhar feito um burro e ainda assim não vou ter minha Ferrari (Vou ser professor, é o que gosto de fazer). Ok, e eu paro com a Ferrari ^^.

Insiste tanto na idéia de que trabalhar não faz uma pessoa enriquecer! Mas que falta de bom senso…

Usou tão mal o exemplo da Ferrari que estendeu a dificuldade de ter esta com a dificuldade de possuir qualquer outro bem.

Citar
Mas, falando do comunismo, imagino os carros no comunismo mais ou menos como as distros de Linux: vai ter uma penca de modelos, de acordo com os gostos, mas mais ou menos com a mesma funcionalidade. É o que me aparece quando vejo meios de produção na mão do coletivo.

Diga-me: o que exatamente há nos carros de hoje que você considera fútil? Dê-me exemplos.

Citar
As facilidades da Ferrari vão sendo incorporadas aos carros populares, mas a Ferrari vai continuar sendo brinquedinho de luxo. Os computadores não vendiam por ser luxo, mas por serem úteis. Não há muita diferença entre a utilidade da Ferrari ou de um Celta, ambos andam do mesmo modo.

O debate não rendeu o que tinha que render, pois isso chama um novo assunto a ser discutido: eu também acho que futilidade é uma coisa abominável. Como gastar em um carro só por causa de um fetiche, gastar altas somas em um bicho de estimação tratando-o como uma pessoa, consumismo em geral (comprar coisas só pelo ato de comprar), enfim, tudo isso me dá nojo.

Mas ao dizer isso, você demosnstra a natureza repressiva da ideologia que defende, na medida em que deseja proibir as pessoas de serem do jeito que elas quiserem ser mesmo que isso só diga respeito a elas. Dito de um modo mais grosso, não respeita o direito delas de serem "fúteis". E aí já teríamos, inevitavelmente, que definir o que é futilidade exatamente, pois na maioria das vezes o que um considera desnecessário é fundamental a outro.

Dito de um modo ainda mais grosso, quer dizer a elas o que devem fazer com os seus dinheiros. Quer invadir as suas liberdades individuais. E isso é repressão.

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Depende. Tire as castas, faça todos ao mesmo tempo operários, soldados e rainhas.

Muito bonito, só falta um ser humano perfeito, que não existe.

Um sistema que trata de modo igual os desiguais não pode dar certo.

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Uma sociedade especializada pode ser mais efetivo a curto prazo, mas o será a longo prazo? Lembre-se, estamos lidando com seres racionais.

Eu não tenho a menor dúvida disso. Não é por acaso que estamos bem à frente dos antigos gregos no que se refere a tecnologia, tempos aqueles em que todo o conhecimento disponível se resumia à palavra "filosofia" e um único ser humano era capaz de abarcá-lo.

Citar
Qualquer regime dura pra sempre, até que cai…

Desde que o ser humano não tenha nascido para a repressão, a conquista da liberdade individual será sempre o seu objetivo máximo, caso não a tenha. Só pode manter-se em pé um sistema que a respeite.

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Um sistema gera necessidades que ele mesmo não supre, e não vejo ser diferente com o capitalismo.
O capitalismo gera a propriedade privada (como a conhecemos hoje), e também a necessidade desta; porém, ele mesmo é incapaz de suprir propriedade a todos.

"O capitalismo não supre…" Denovo!

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Gera a liberdade intelectual no papel, mas que não pode ser exercida se você tem que se especializar em algo.

Não entendo essa sua aversão à especialização… Não quer ser especialista? Não se especialize então. Seja um "generalista" se assim preferir. Viu como é bom ter liberdade? Não ter um estado para dizer o que você deve ser ou gostar?

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Indo para a estrutura do capitalismo: como os proprietários do Google afetam seus funcionários? Será que pagam por todo o "mérito" dos funcionários ou ficam com uma pequena/grande parte para si do mérito alheio, independente de pegarem o seu quinhão de "mérito"?

Lá vem você com essa mais-valia…

Há um tópico que ia falar sobre isso aqui no Clube Cético, infelizmente parou com poucas mensagens: ../forum/topic=10029.0.html

Considere isso:

- Não há como quantificar perfeitamente o valor de um trabalho.

- O valor do bem produzido, como disseram no tópico do link, não é "inerente" a ele, é, ao invés, determinado pelo interesse que há em adiquirí-lo e vendê-lo.

- No capitalismo tudo é feito na base do livre acordo entre as partes.

Quando isso é compreendido, o conceito de mais-valia vai abaixo, e com ele, boa parte da ideologia comunista (senão toda).
 
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Pelo que entendi da sua liberdade quase kantiana, a liberdade individual é a de se permitir que outra pessoa pegue parte do seu mérito, pois não se tem a liberdade de usufruí-lo [o mérito] completamente.

"Pegue"? Deu uma forçada aí hein…

Parece até feio se você não disser que há em jogo um contrato com o consentimento de ambas as partes, uma aceitando vender os seus serviços para outra em troca de algo.

Citar
[…] Mas você sabe que precisará trabalhar as 24h semanais de forma que contribua com a sociedade como um todo. Você sabe que se há um máximo de trabalho braçal (p.ex.) necessário na sociedade, e que alguém terá que suprir os outros trabalhos. E que se houver gente demais no trabalho braçal, você vai precisar gastar suas horas de trabalho em outra coisa.

Resumindo, você dirige a sua individualidade à(s) tarefa(s) que exerce, e não a outras coisas que sejam socialmente danosas. O que é danoso ou não vai depender da sociedade, mas isso mostra que é possível exercer individualidade num sistema socialista por exemplo.

[…]

1) Dirigir a individualidade, ao invés de coibí-la; e

Ha! "Dirigir a individualidade"! Que bela manipulação de palavras hein! Isso é exatamente o mesmo que coibir. Liberdade individual, por definição, significa não ser dirigido por ninguém mais além de si próprio.

"Liberdade individual dirigida" é uma contradição das feias. Tão coerente quanto "voluntariado obrigatório".

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2) Mostrar que o capitalismo coíbe a individualidade muito mais do que parece.

Nunca vou entender a postura "8 ou 80" dos comunistas com relação à liberdade: se para viver pacificamente em sociedade devemos abdicar de um pouco de nossas liberdades, isso já justifica a tomada de todas as outras.

Reveja o princípio que diz "a liberdade de um termnina quando começa a do outro". A liberdade é, evidentemente, limitada apenas por isso.

E depois, você dá a entender que se tiver que se esforçar para conseguir algo isso deve ser compreendido como uma "não-liberdade". Em nenhum sistema econômico, muito menos no comunismo, você poderá conseguir algo sem esforçar-se para tal (abrir mão de prazeres, de liberdades).

Citar
Não estamos falando em URSS. E, como eu disse, quando há bom senso, não há a necessidade de coerção.

Não é por acaso que todas as tentativas grandiosas de implantar o comunismo tenham resultado em tirania. China, URSS, Camboja, Cuba… A que pensa que se deveu a tirania nestes casos?

Bom senso? parece que temos definições diferentes para isso…

Citar
O custo simplesmente não existia.

????

Citar
Não, Procedure, o custo de vida não diminui, ele sempre aumenta. As coisas podem baratear com a produção em massa, mas barateiam até certo ponto; enquanto isso, vão sendo agregadas mais coisas ao custo de vida…

Respondo isso repetindo o que disse: "O custo de vida cai se comparado com o aumento na qualidade de vida. É óbvio que o valor absoluto das coisas que uma pessoa possui em casa hoje é muito maior do que uma pessoa da mesma classe tinha há cem anos atrás, pois a qualidade de vida aumentou muito desde então, mais do que o suficiente para compensar o custo."

Ou seja, para ter naquela época a qualidade de vida que temos hoje o custo seria imensamente grande. Simples.

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Eu falei que, embora a riqueza aumente, o custo de vida também. E, ainda assim, a riqueza vai se concentrando, o que faz a qualidade de vida relativa à média diminuir para a maior parte da população, enquanto aumenta para uma pequena parte dela. Não se compara a qualidade de vida em relação aos nossos pais, mas sim em relação aos nossos vizinhos. Por isto, relativa à média.

Volte ao ponto em que falo sobre o erro de se exagerar a tendência ao acúmulo.

Citar
VOCÊ NÃO CONSEGUE PERCEBER QUE ESSA VONTADE DE TER COISAS QUE NÃO EXISTIAM ANTES É ANTERIOR AO CAPITALISMO (NASCEU COM O SER HUMANO) E SERÁ POSTERIOR AO CAPITALISMO (MORRERÁ COM O SER HUMANO)?

Nada além do óbvio. O desejo de possuir coisas que não haviam antes, muitas vezes considerado fútil, desnecessário, é o motor do progresso.

Citar
Estou criticando o seu conceito de "mão invisível do mercado", mão que é completamente ineficaz para manter a livre-concorrência da qual ela mesma depende. Estou criticando que você considera os meios de produção sempre disponíveis a todos - mesmo os intelectuais e criativos, quase como se achasse que idéias brotam da alma por inspiração divina, sem considerar que a criatividade humana precisa de terreno cultural e de conhecimentos para poder se expressar.

Volte ao ponto onde digo que ninguém pode manter uma riquezas sozinho. O engano do acúmulo está sendo cometido novamente.

Citar
Estou criticando o seu girondismo de achar que o capitalismo é eterno, comparável ao de um feudal achando que suserania e vassalagem durariam para sempre.

Na verdade, não acho que a liberal-democracia será o último, pois sempre haverá gente descontente tentando se rebelar com ou sem causa, infelizmente… Quis dizer, ao invés, que trata-se da refinação máxima, não pode haver nada que equilibre mais o individual com o coletivo do que a liberal-democracia.

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E, estou criticando a visão do marketing, de criar a necessidade de acordo com o estado do sistema econômico, quando em algo voltado ao ser humano deveria ser exatamente o contrário - regulamos o sistema econômico pelas novas necessidades que surgem. Pois as necessidades surgem, isso é esperado e saudável, mas são de e para o ser humano.

Mas é exatamente assim que as coisas funcionam com o capitalismo! A produção e o custo de determinado bem são controlados pela demanda que há por ele! Ou nas suas palavras, a economia é regulada pelas necessidades. Sinceramente, gostaria que explicasse esse seu ponto de vista melhor. Pois se eu entendi direito, não é possível que você não perceba algo tão evidente.
« Última modificação: 10 de Abril de 2007, 21:36:06 por Procedure »

Offline Eremita

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Re: Filho de Stálin
« Resposta #79 Online: 11 de Abril de 2007, 01:19:15 »
Ok. Vamos continuar, então. Mas peço pra esperar até o fim de semana. As únicas coisas que penso, nesse momento, é em ressonância nuclear, espectros IR, partículas em caixas e coisas do tipo.
(Provas me deixa assim... :| isso que dá facul de Química).

E, engraçado... eu ia reclamar que você não formaliza seus conceitos. O que quer dizer, provavelmente, que a gente simplesmente não está conseguindo se entender.

Não sou avesso às definições formais; porém, no caso de "necessidade", parecia beco sem saída.

Abraços!
« Última modificação: 11 de Abril de 2007, 01:41:29 por Eremita »
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