não discordo, é a isso que a lógica materialista pode conduzir. mas nem os materialistas são computadorezinhos. mesmo sem religião a ética não raro é fundada em questões estéticas e mesmo metafísicas.
Mas se você prestar a atenção, foi isso mesmo que eu disse. Não é o materialismo que torna alguém bom ou mal. Isso é intrínseco à pessoa, que não é um computardorzinho. Assim como não é o Espiritismo, ou as outras religiões que tornam alguém bom ou mal. Elas são apenas ferramentas que se propõem a nos ajudar a enxergar a realidade como ela é.
Eu estudei em uma Universidade Católica e numa das aulas de religião (católica) o professor disse: "o homem é predestinado ao bem; o homem sempre busca o próprio bem, em qualquer situação." E não venham me dizer que isso é egoísmo, por favor. O que ocorre conosco é que muitas vezes a nossa visão é embaçada e praticamos o mal nessa busca pelo nosso próprio bem. O mal é um erro de cálculo e que tráz conseqüências desagradáveis a quem o pratica, nada mais.
O próprio egoísmo faz parte do processo da busca pelo nosso bem. Só que ele se revela ineficaz no sentido que não podemos nos sustentar sozinhos. Não podemos viver sozinhos e, quando somos egoístas, somos deixados de lado. Então, aos poucos percebe-se que trabalhar pelo bem comum é na verdade trabalhar pelo próprio bem. Os ditos "bons" hoje são aqueles que já perceberam isso. Os ditos "maus" são aqueles que ainda não se deram conta que o egoísmo não é uma boa opção.
Os sistemas religiosos e filosóficos (materialismo incluso), implicitamente se propõem a nos mostrar aonde se encontra a verdade e aonde se encontram os nossos verdadeiros interesses. Quem estiver, eu não diria com a verdade, mas mais próximo da verdade, conduzirá os seus adeptos ao maior progresso e à maior prosperidade pessoal (que não é necessariamente prosperidade material). Quem estiver mais longe da verdade, tenderá a conduzir os seus adeptos à ruína pessoal e à estagnação. Mas os adeptos são livres para seguir ou não, integralmente ou parcialmente, as doutrinas e suas conseqüências. As doutrinas puxam o indivíduo, mas ele vai se quiser, pois não é um computadorzinho, como você mesmo disse.
a única fonte da moral não é a religião.
Não é porque a religião foi deturpada em seus objetivos. A religião (ou sistema equivalente) deveria trabalhar para tornar o homem melhor, mas ao invés disso, substituíram os ensinamentos morais por rituais e práticas que visam à salvação de castigos e não ao melhoramento. É o mesmo culto ao bezerro de ouro a que se refere o velho testamento bíblico.
No meu entendimento, e foi o que me ensinaram nas aulas de filosofia na faculdade, a filosofia é a simples busca da verdade, nua e crua, agradável ou desagradável, em todos os campos. Enquanto buscamos a verdade, somos filósofos. Quando abandonamos essa busca, tornamo-nos céticos. A ciência é só uma das ferramentas de que se serve a filosofia para essa busca. Já à religião propriamente dita (ou sistemas equivalentes substitutivos, como o conjunto de conseqüências provenientes do materialismo) cabe deduzir as conseqüências do que obtém a filosofia. Mas é justamente isso o que ela não tem feito. Para preencher a lacuna existente, muitos atribuem à filosofia, e às vezes até à ciência, o papel moralizador que caberia às religiões*.
É tudo questão de palavras e seus significados.
Um abraço.