Pode parecer que não, mas eu na verdade concordo com o Tarcísio
Não acho que exista um momento mágico
específico em que o feto se torne um humano completo. O que dá para dizer é que existe uma escala de desenvolvimento sempre se movendo
1. Esse é um dos motivos que me leva a ser pessoalmente contra o Aborto.
Mas, para os propósitos deste problema (e, tangencialmente, para o debate no STF amanhã), o bebê já é um ser humano completo, enquanto os embriões (e
não fetos) nas barrigas das mães, não.
No mais, o Dantas resumiu bem. Escolher dentro do razoável é o melhor que se pode fazer.
EDIT LONGO:
1 - Vamos explicar isso um pouco melhor. Eu quis dizer que há um espectro contínuo entre "pacotinho de células" e "ser humano completo". Se considerarmos o momento imediatamente antes do espermatozóide romper o óvulo como 0 e um bebê saindo do ventre da mãe como 1 nessa escala, existe uma gama contínua de desenvolvimento.
Mas como valorar essa escala? Um bebê prematuro de sete meses é 1, é 0.89, ou o quê? Quais seriam os critérios para adotar uma escala fixa? A resposta óbvia é que tal valoração
fixa não é possível.
Assim, parece-me que eu acabei misturando três situações distintas nas minhas últimas argumentações. Vou tentar destrinchá-las agora:
Quanto ao problema apresentado neste tópico: não creio que mude muito o que já foi dito. Escolher os embriões é válido, assim como escolher o bebê. EU escolheria o bebê; mas se em vez de embriões fossem grávidas em estágios avançados pode muito bem ser que eu escolhesse as grávidas. Embora a situação seja extrema e irreal, pessoas reais às vezes precisam fazer julgamentos extremos.
Quanto ao julgamento no STF de amanhã: não vejo grandes problemas. O óvulo é fertilizado in vitro e o embrião resultante é congelado mais ou menos no 3º dia depois disso. São literalmente pacotinhos de 100 ou 200 células, que sequer se sabe se dariam num único indivíduo, ou dois, ou mais. Não consigo enxergar nesses embriões uma pessoa completa, por mais que tente. Quanto mais não seja, se é para derrubar o Artigo 5º da Lei de Biossegurança, que se derrube também as clínicas de fertilização. É apenas coerente.
Quanto ao aborto: sou pessoalmente contrário. Há situações extremas como o estupro, mas talvez até neste caso eu preferisse levar a gravidez a termo. Entretanto, é uma decisão que cabe à mulher (ou ao casal, dependendo), e que não deveria ser imposta pela sociedade. Por isso gostaria que a prática não fosse ilegal.