Autor Tópico: A Homo Mania  (Lida 10977 vezes)

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Offline Luis Dantas

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Re: A Homo Mania
« Resposta #50 Online: 09 de Junho de 2008, 07:31:57 »
Louvada seja a minha boa fortuna na vida sexual.  No meu caso não é só estética que conta.

(Ainda bem, já que sou feio como uma ameixa seca).
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Offline FZapp

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Re: A Homo Mania
« Resposta #51 Online: 09 de Junho de 2008, 07:38:24 »
Citação de: Nightstalker
A medicina já evoluiu ao ponto de conseguir criar um órgão sexual masculino que funcione?

Sim, o pênis ou vagina 'funcionam' porque o sistema nervoso, circulatório, excretor e até mesmo músculatura, tudo é preservado -digamos invertido, em termos de musculatura. Então sim, não é simplesmente pelo ego, ou por estática, e sim uma operação para 'corrigir' um órgão do corpo.

Mas pelo jeito essa é uma dúvida que muita gente deve ter, Nightstalker, pois hoje na CBN o Heródoto Barbeiro leu um e-mail de um ouvinte utilizando o seu mesmo argumento.
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Offline FZapp

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Re: A Homo Mania
« Resposta #52 Online: 09 de Junho de 2008, 07:52:15 »
Como comparação: uma mulher que sofra de câncer de mama e tenha essa região retirada. Ela utiliza do recurso público para uma cirurgia plástica de reconstrução, que envolve uma tatuagem para recriar o aspecto de um mamilo (e isso é o processo real realizado na operação).
Mas caso uma mulher simplesmente queira tatuar uma borboleta, a mesma saúde pública que fornece tatuagens de mamilos não fornece de borboletas.

Pois é, no caso é uma operação para a reconstrução de um pênis perdido durante a gestação (ou vagina).

Quanto à saúde pública fazer ou não fazer 'a saúde pública tem como princípio que só deve pagar a estática[sic] o qual a pessoa tem naturalmente' não entendi bulhufas do que quis dizer.

No caso já existe um certo número de profissionais no Brasil que conseguem fazer esse tipo de cirurgia reparadora, e o SUS vai bancá-la para quem não possa. Vai entrar numa fila, vai esperar uns anos, etc, etc... não estou vendo qual seria exatamente o problema.

Você não quer pagar um transexual que não quer mais ter como profisão cabeleireiro ou prostituta e quer estudar direito ou arquitetura e ser uma mulher 'normal' e casar e tal ? (observação: nem todo transexual quer esse tipo de cirurgia, apenas uma pequena parcela).

Mas hoje você paga (para dar um exemplo) um coração novo para um homem de 50 anos de idade que fumou a vida toda. Ou um rin que vai dar uma sobrevida de uns 5 anos ao paciente. Tem tanta gente morrendo de fome, não é ? Por quê você não fica indignado com o cara que está na fila do SUS para um transplante de rin, que deve custar uns 25 mil reais, onde paciente, médico, equipe sabem que em 5 anos o rin vai começar a filtrar mal tudo de novo e talvez matá-lo ou ter que fazer hemodiálise tres vezes por semana ?

Esse tipo de raciocínio 'o meu dinheiro não' não faz sentido. Se a cirurgia não servisse para nada, eu concordaria com você, mas não é o caso.
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Offline Dbohr

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Re: A Homo Mania
« Resposta #53 Online: 09 de Junho de 2008, 09:32:42 »
Bom argumento, Catino, mas tem muita gente por aqui que acha que dar dinheiro para o Estado -- para fazer o que quer que seja -- é sempre uma má idéia.

Offline Luis Dantas

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Re: A Homo Mania
« Resposta #54 Online: 09 de Junho de 2008, 09:39:08 »
Dinheiro estatal na saúde é uma questão bem espinhosa, mesmo fora desta campo específico das cirurgias de mudança de sexo.  A medicina atual é bem cara, e eu vejo muito espaço para questionamento sobre a validade real de coisas como tratamentos quimioterápicos (como exemplo de tratamento caro, sofrido e de utilidade discutível).

Para mim faz falta uma discussão ampla, desde a base da sociedade (e não da "elite" para baixo, o que simplesmente não serviria) sobre quais devem ser as prioridades da saúde pública.  Penso eu que há um certo exagero protecionista em muitas postura atualmente consagradas, e que deve-se pensar no que pode de fato ser feito com dinheiro aplicado na área de saúde. 

Pode ser triste negar dinheiro para (digamos) um pulmão artificial para um octagenário, mas se o mesmo dinheiro poderia ser usado para curar tantas outras pessoas jovens de uma doença séria, eu tenho minhas dúvidas sobre a sabedoria das políticas atuais.
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Offline Orbe

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Re: A Homo Mania
« Resposta #55 Online: 09 de Junho de 2008, 14:15:32 »
Rodrigo Constantino devia se limitar a falar dos assuntos da área de formação dele. Quando sai de sua área ele fala tanta bobagem...
Se você se importasse não estaria discutindo e sim agindo...

Offline Buckaroo Banzai

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Re: A Homo Mania
« Resposta #56 Online: 09 de Junho de 2008, 14:44:34 »
Como comparação: uma mulher que sofra de câncer de mama e tenha essa região retirada. Ela utiliza do recurso público para uma cirurgia plástica de reconstrução, que envolve uma tatuagem para recriar o aspecto de um mamilo (e isso é o processo real realizado na operação).
Mas caso uma mulher simplesmente queira tatuar uma borboleta, a mesma saúde pública que fornece tatuagens de mamilos não fornece de borboletas.

Pois é, no caso é uma operação para a reconstrução de um pênis perdido durante a gestação (ou vagina).

Quanto à saúde pública fazer ou não fazer 'a saúde pública tem como princípio que só deve pagar a estática[sic] o qual a pessoa tem naturalmente' não entendi bulhufas do que quis dizer.

No caso já existe um certo número de profissionais no Brasil que conseguem fazer esse tipo de cirurgia reparadora, e o SUS vai bancá-la para quem não possa. Vai entrar numa fila, vai esperar uns anos, etc, etc... não estou vendo qual seria exatamente o problema.

Você não quer pagar um transexual que não quer mais ter como profisão cabeleireiro ou prostituta e quer estudar direito ou arquitetura e ser uma mulher 'normal' e casar e tal ? (observação: nem todo transexual quer esse tipo de cirurgia, apenas uma pequena parcela).

Mas hoje você paga (para dar um exemplo) um coração novo para um homem de 50 anos de idade que fumou a vida toda. Ou um rin que vai dar uma sobrevida de uns 5 anos ao paciente. Tem tanta gente morrendo de fome, não é ? Por quê você não fica indignado com o cara que está na fila do SUS para um transplante de rin, que deve custar uns 25 mil reais, onde paciente, médico, equipe sabem que em 5 anos o rin vai começar a filtrar mal tudo de novo e talvez matá-lo ou ter que fazer hemodiálise tres vezes por semana ?

Esse tipo de raciocínio 'o meu dinheiro não' não faz sentido. Se a cirurgia não servisse para nada, eu concordaria com você, mas não é o caso.

Idealmente, talvez o estado devesse bancar toda a saúde de todo mundo. Mas, independentemente de se gostar da idéia de saúde pública ou não, isso geralmente não é tido como possível (como é no caso do Canadá, geralmente tido como exemplo no assunto? Se eu sou canadense, e queria ser mais alto, eles cobrem a operação de aumento de estatura?)

Sendo assim, tem que se ter prioridades, e essa colocação da questão transexual como mais importante do que outras questões estéticas - também importantes - é mais plataforma eleitoreira do que realmente uma medida "melhor" para melhorar a saúde do que "correções" estéticas diversas em partes do corpo não acidentadas ou naturalmente defeituosas.

Offline Luiz Souto

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Re: A Homo Mania
« Resposta #57 Online: 09 de Junho de 2008, 23:01:43 »
Para uma pessoa ser submetida a cirurgia de troca de sexo o correto , do ponto de vista da boa prática médica , é ter passado por um período de acompanhamento psicológico e psiquiátrico que permita concluir que o seu problema de identidade sexual é sério o suficiente para justificar a realização de uma cirurgia ( que é definitiva e mutiladora). Casos graves de distúrbio de identidade sexual podem levar ao desencadeamento de quadros psicóticos e há um alto grau de suicídio dos pacientes neste grupó.

Pode-se comparar com a cirurgia bariátrica ( cirurgia de obesidade mórbida): ela é , pelas diretrizes atuais , destinada aos indivíduos com obesidade severa que não tiveram perda de peso satisfatória após ao menos dois anos de acompanhamento médico , nutricional e psicológico adequado.

Em ambos os casos se configura uma patologia grave em que a cirurgia se torna a opção restante para o tratamento  , o que é muito diferente de uma cirurgia para fins puramente estéticos.

Se não queres que riam de teus argumentos , porque usas argumentos risíveis ?

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Offline Herf

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Re: A Homo Mania
« Resposta #58 Online: 09 de Junho de 2008, 23:26:34 »
Pode-se comparar com a cirurgia bariátrica ( cirurgia de obesidade mórbida): ela é , pelas diretrizes atuais , destinada aos indivíduos com obesidade severa que não tiveram perda de peso satisfatória após ao menos dois anos de acompanhamento médico , nutricional e psicológico adequado.

Em ambos os casos se configura uma patologia grave em que a cirurgia se torna a opção restante para o tratamento  , o que é muito diferente de uma cirurgia para fins puramente estéticos.
Mas o mal da obesidade mórbida é algo físico, mensurável, que realmente traz ao organismo uma série de complicações. Já no primeiro caso, por mais infeliz que o cidadão esteja com o sexo com que nasceu, ele ainda está com o organismo em pleno funcionamento.

Offline n/a

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Re: A Homo Mania
« Resposta #59 Online: 09 de Junho de 2008, 23:43:52 »
Vocês subestimam as complicações psicológicas. Algumas delas são amplamente aceitas pela medicina (incluindo, aí, a Organização Mundial da Saúde) e podem causar danos tão grandes quanto problemas "físicos".

Offline Luiz Souto

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Re: A Homo Mania
« Resposta #60 Online: 09 de Junho de 2008, 23:51:17 »
Pode-se comparar com a cirurgia bariátrica ( cirurgia de obesidade mórbida): ela é , pelas diretrizes atuais , destinada aos indivíduos com obesidade severa que não tiveram perda de peso satisfatória após ao menos dois anos de acompanhamento médico , nutricional e psicológico adequado.

Em ambos os casos se configura uma patologia grave em que a cirurgia se torna a opção restante para o tratamento  , o que é muito diferente de uma cirurgia para fins puramente estéticos.
Mas o mal da obesidade mórbida é algo físico, mensurável, que realmente traz ao organismo uma série de complicações. Já no primeiro caso, por mais infeliz que o cidadão esteja com o sexo com que nasceu, ele ainda está com o organismo em pleno funcionamento.

Não , Herf , porque a mente é parte do organismo. Não existe a dicotomia entre corpo e mente como se fossem duas instâncias separadas e autônomas. Embora o distúrbio psíquico seja subjetivo , no sentido da avaliação ter de se basear em parâmetros que dependem da informação do paciente ( diferente da pressão arterial ou da frequência cardíaca) há instrumentos  , como os questionários clínicos específicos , que permitem mensurar o grau do distúrbio e fazer comparações evolutivas , de forma a "objetivar" o tratamento. 
Se não queres que riam de teus argumentos , porque usas argumentos risíveis ?

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Offline Buckaroo Banzai

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Re: A Homo Mania
« Resposta #61 Online: 10 de Junho de 2008, 00:17:46 »
Vocês subestimam as complicações psicológicas. Algumas delas são amplamente aceitas pela medicina (incluindo, aí, a Organização Mundial da Saúde) e podem causar danos tão grandes quanto problemas "físicos".

O caso de não-aceitação do próprio gênero natural não é necessariamente um problema especial dentre os demais problemas psicológicos envolvendo descontentamento com o corpo, ainda que seja uma ótima bandeira política, de "tolerância".

E mesmo se falando de sexo, a julgar pela quantidade de spam que recebo, tamanho do pênis, e não presença ou ausência, parece ser um problema de proporções muito maiores (...er... ainda que proporções menores geralmente sejam o problema...)

E problema tão grande que acaba decorrendo em mais problemas, violência dos frustrados, spam, etc...

Offline Tupac

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Re: A Homo Mania
« Resposta #62 Online: 10 de Junho de 2008, 00:59:24 »
Citar
Para uma pessoa ser submetida a cirurgia de troca de sexo o correto , do ponto de vista da boa prática médica , é ter passado por um período de acompanhamento psicológico e psiquiátrico que permita concluir que o seu problema de identidade sexual é sério o suficiente para justificar a realização de uma cirurgia ( que é definitiva e mutiladora). Casos graves de distúrbio de identidade sexual podem levar ao desencadeamento de quadros psicóticos e há um alto grau de suicídio dos pacientes neste grupó.

Esses são os termos? Os pacientes só poderão fazer a cirurgia nesses casos?

Sei la, acho que deveriam melhorar a qualidade dos serviços mais basicos primeiro, antes de ampliar.
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Offline Donatello

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Re: A Homo Mania
« Resposta #63 Online: 10 de Junho de 2008, 07:39:17 »
Souto, acho que são três os pontos, ambos bem reprisados aqui, mas nos quais você não tocou. Concordo com as suas colocações e acho que ninguém está discordando, mas, os pontos chave são:

1. Os desvios psiquiátricos que você afirma existirem e que levam a grandes cargas de suicídio, surtos depressivos, etc... são resultado ou causa da sensação de se ter nascido no corpo errado? Se verdadeira a segunda hipótese (como me parece) não é o caso de se tratar "psiquiatricamente"?

2. Insatisfações em relação a outros aspectos naturais; como com o tamanho do pênis ou com o tamanho dos seios ou com as linhas faciais (feiura) ou com o fato de se ter nascido com face de gente e não de porco não podem levar a crises depressivas, com potencial aumento dos casos de suicídio, violência familiar, etc? Se sim (e me parece muito óbvio, mesmo não sendo médico, que sim) então deveriam ser oferecidas sessões de peeling, botox e body modification na rede SUS?

3. Considerando que não estamos deixando o boi colocar o açougueiro a venda. Levando em conta a hipótese de o mal dos transexuais seja realmente terem nascido num corpo errado e não o de terem desenvolvido um delírio psicótico. Não é um contrasenso que o SUS, que não trata de doenças tão mais simples de serem tratadas e tão mais maléficas ao organismo, ao psique e ao convívio social (como a cárie dentária) passe a bancar tais cirurgias?
« Última modificação: 10 de Junho de 2008, 08:04:43 por Dionísio van Dijck »

Offline HSette

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Re: A Homo Mania
« Resposta #64 Online: 10 de Junho de 2008, 13:13:45 »
Souto, acho que são três os pontos, ambos bem reprisados aqui, mas nos quais você não tocou. Concordo com as suas colocações e acho que ninguém está discordando, mas, os pontos chave são:

1. Os desvios psiquiátricos que você afirma existirem e que levam a grandes cargas de suicídio, surtos depressivos, etc... são resultado ou causa da sensação de se ter nascido no corpo errado? Se verdadeira a segunda hipótese (como me parece) não é o caso de se tratar "psiquiatricamente"?

2. Insatisfações em relação a outros aspectos naturais; como com o tamanho do pênis ou com o tamanho dos seios ou com as linhas faciais (feiura) ou com o fato de se ter nascido com face de gente e não de porco não podem levar a crises depressivas, com potencial aumento dos casos de suicídio, violência familiar, etc? Se sim (e me parece muito óbvio, mesmo não sendo médico, que sim) então deveriam ser oferecidas sessões de peeling, botox e body modification na rede SUS?

3. Considerando que não estamos deixando o boi colocar o açougueiro a venda. Levando em conta a hipótese de o mal dos transexuais seja realmente terem nascido num corpo errado e não o de terem desenvolvido um delírio psicótico. Não é um contrasenso que o SUS, que não trata de doenças tão mais simples de serem tratadas e tão mais maléficas ao organismo, ao psique e ao convívio social (como a cárie dentária) passe a bancar tais cirurgias?

Sugiro buscarem informações médico / científicas a respeito.

E outra coisa: o SUS, legalmente, constitucionalmente, não pode decidir quais tratamentos deve prover à população e quais não. Nem discriminar o público-alvo de seus atendimentos.
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Chaves

Offline Luiz Souto

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Re: A Homo Mania
« Resposta #65 Online: 10 de Junho de 2008, 22:48:50 »
Souto, acho que são três os pontos, ambos bem reprisados aqui, mas nos quais você não tocou. Concordo com as suas colocações e acho que ninguém está discordando, mas, os pontos chave são:

1. Os desvios psiquiátricos que você afirma existirem e que levam a grandes cargas de suicídio, surtos depressivos, etc... são resultado ou causa da sensação de se ter nascido no corpo errado? Se verdadeira a segunda hipótese (como me parece) não é o caso de se tratar "psiquiatricamente"?

2. Insatisfações em relação a outros aspectos naturais; como com o tamanho do pênis ou com o tamanho dos seios ou com as linhas faciais (feiura) ou com o fato de se ter nascido com face de gente e não de porco não podem levar a crises depressivas, com potencial aumento dos casos de suicídio, violência familiar, etc? Se sim (e me parece muito óbvio, mesmo não sendo médico, que sim) então deveriam ser oferecidas sessões de peeling, botox e body modification na rede SUS?

3. Considerando que não estamos deixando o boi colocar o açougueiro a venda. Levando em conta a hipótese de o mal dos transexuais seja realmente terem nascido num corpo errado e não o de terem desenvolvido um delírio psicótico. Não é um contrasenso que o SUS, que não trata de doenças tão mais simples de serem tratadas e tão mais maléficas ao organismo, ao psique e ao convívio social (como a cárie dentária) passe a bancar tais cirurgias?

Dionísio , o SUS tem por finalidade e obrigação oferecer tratamento para toda a população tendo como um dos princípios a integralidade , definida como "conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema". Isso significa que , seja o tratamento de uma micose de pele ou um transplante cardíaco , se uma patologia tem tratamento definido ( ou  , o que é mais comum, várias opções de tratamento) é direito do cidadão que ele seja oferecido pelo SUS.
A definição de quais tratamentos  têm embasamento em evidências científicas para serem oferecidos à população é responsabilidade dos orgãos de gerência técnica do SUS , entre os quais se inclui a ANVISA , a partir dos consensos e diretrizes das diversas sociedades de especialidades ; existem câmaras técnicas do SUS para a análise dos tratamentos a serem oferecidos nas diversas modalidades.
Portanto para que um tratamento médico possa ser ministrado ( seja pelo SUS ou não) ele tem que ter evidências científicas suficientes de sua eficácia ou então ele é proibido; exemplo é a auto-hemoterapia que foi condenada pelo Conselho Federal de Medicina a partir de parecer de sua câmara técnica de Hematologia , estando o profissional que a praticar sujeito a processo por transgressão ética.*

Então vamos separar as duas questões distintas que estão misturadas: o direito a um tratamento pelo SUS e a capacidade do SUS de fornecer tal tratamento.
Se a cirurgia de troca de sexo é um tratamento para o distúrbio da transexualidade com embasamento na melhor evidência científica disponível então , pelo que está disposto na Lei 8080 o SUS deve oferecê-lo. A indicação de quais indivíduos são elegíveis para realizar tal cirurgia deverá atender aos critérios da câmara técnica específica ( que no caso é a de Psiquiatria)
Agora se o SUS tem capacidade para cumprir a sua função de universalidade e integralidade do atendimento da saúde (e sabemos que não) é outra discussão , que envolve a gestão e alocação dos recursos.
Então quando o ministro declara que o SUS oferecerá a cirurgia de troca de sexo aos que tenham indicação para tal ele reconhece o direito destas pessoas ao tratamento ; quanto de recursos serão alocados para isso , que centros irão realizar a cirurgia ,etc...são questões técnicas a serem submetidas a análises posteriores.
Não tenha ilusão que será fácil para um  transexual fazer tal cirurgia , possivelmente a fila de espera será longa...


* Antes que alguém lembre , lembro eu: sim ,a Homeopatia é uma aberração no critério de definição de tratamentos aceitáveis.
Se não queres que riam de teus argumentos , porque usas argumentos risíveis ?

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Offline Tupac

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Re: A Homo Mania
« Resposta #66 Online: 11 de Junho de 2008, 00:55:11 »
Bom argumento Luiz.
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Offline Herf

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Re: A Homo Mania
« Resposta #68 Online: 11 de Junho de 2008, 01:41:24 »
A objeção principal ainda está de pé, pelo que eu entendi.

Embora o distúrbio psíquico seja subjetivo , no sentido da avaliação ter de se basear em parâmetros que dependem da informação do paciente ( diferente da pressão arterial ou da frequência cardíaca) há instrumentos  , como os questionários clínicos específicos , que permitem mensurar o grau do distúrbio e fazer comparações evolutivas , de forma a "objetivar" o tratamento.
Pois bem, o mesmo poderia ser dito com relação a distúrbios psíquicos de qualquer origem, não? Não importa que a origem seja uma infelicidade com o sexo que se tem, se é com o tamanho do pênis ou com a falta de curvas no corpo. O mesmo argumento pode ser utilizado nestes outros casos e então justificaria-se a provisão, pelo SUS, destas outras cirurgias.

Por que privilegiar os distúrbios de um infeliz com o sexo em detrimento dos distúrbios de outros infelizes com algum aspecto de seu corpo? A comunidade científica já constatou evidências de que pessoas que sofrem por julgarem ter nascido com o sexo errado sofrem mais do que os demais? É possível tamanha objetividade apenas por meio de questionários e acompanhamentos?

Offline HSette

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Re: A Homo Mania
« Resposta #69 Online: 11 de Junho de 2008, 07:18:45 »
Herf, Medicina não é achismo. Há critérios para se definir as doenças, seus diagnósticos, seus tratamentos.
"Eu sei que o Homem Invisível está aqui!"
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Chaves

Offline FZapp

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Re: A Homo Mania
« Resposta #70 Online: 11 de Junho de 2008, 07:39:34 »
Citar
A comunidade científica já constatou evidências de que pessoas que sofrem por julgarem ter nascido com o sexo errado sofrem mais do que os demais? É possível tamanha objetividade apenas por meio de questionários e acompanhamentos?

Entendo que sim por acontecer por uma síndrome conhecida. Mas não entendi: você quer que a gente contabilize quantas pessoas tentam se matar ou não conseguem trabalho por ter o nariz muito grande, por exemplo ?
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Offline Donatello

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Re: A Homo Mania
« Resposta #71 Online: 11 de Junho de 2008, 07:39:58 »
Citação de: Herf
A objeção principal ainda está de pé, pelo que eu entendi.


Citação de: Luis Souto
Embora o distúrbio psíquico seja subjetivo , no sentido da avaliação ter de se basear em parâmetros que dependem da informação do paciente ( diferente da pressão arterial ou da frequência cardíaca) há instrumentos  , como os questionários clínicos específicos , que permitem mensurar o grau do distúrbio e fazer comparações evolutivas , de forma a "objetivar" o tratamento.
Pois bem, o mesmo poderia ser dito com relação a distúrbios psíquicos de qualquer origem, não? Não importa que a origem seja uma infelicidade com o sexo que se tem, se é com o tamanho do pênis ou com a falta de curvas no corpo. O mesmo argumento pode ser utilizado nestes outros casos e então justificaria-se a provisão, pelo SUS, destas outras cirurgias.

Por que privilegiar os distúrbios de um infeliz com o sexo em detrimento dos distúrbios de outros infelizes com algum aspecto de seu corpo? A comunidade científica já constatou evidências de que pessoas que sofrem por julgarem ter nascido com o sexo errado sofrem mais do que os demais? É possível tamanha objetividade apenas por meio de questionários e acompanhamentos?
2

Citação de: HSette
Herf, Medicina não é achismo. Há critérios para se definir as doenças, seus diagnósticos, seus tratamentos.

Aqui os critérios científicos pesam muito pouco, ao meu ver. Minha percepção é a de que o posicionamento político-ideológico freqüentemente nos condiciona a tomar posições maniqueistas: se eu sou a favor das causas homossexuais e se as causas homossexuais são o bem, então eu vou admitir e defender todas as causas homossexuais. É o mesmo vício que justifica aberrações(ao meu ver) como as cotas raciais e a aposentadoria mais cedo para as mulheres.

Dizer que os argumentos que defendem a transexualidade como um doença psiquiátrica que necessite de um tratamento especial (tratamento este que se resume em tornar real o delírio psicótico) seduziram a boa parte da comunidade médica não me convence muito. Os argumentos a favor das cotas raciais e da aposentadoria precoce feminina seduzem uma tonelada de sociólogos, economistas, jornalistas...

Offline HSette

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Re: A Homo Mania
« Resposta #72 Online: 11 de Junho de 2008, 09:21:32 »
Citação de: Herf
A objeção principal ainda está de pé, pelo que eu entendi.


Citação de: Luis Souto
Embora o distúrbio psíquico seja subjetivo , no sentido da avaliação ter de se basear em parâmetros que dependem da informação do paciente ( diferente da pressão arterial ou da frequência cardíaca) há instrumentos  , como os questionários clínicos específicos , que permitem mensurar o grau do distúrbio e fazer comparações evolutivas , de forma a "objetivar" o tratamento.
Pois bem, o mesmo poderia ser dito com relação a distúrbios psíquicos de qualquer origem, não? Não importa que a origem seja uma infelicidade com o sexo que se tem, se é com o tamanho do pênis ou com a falta de curvas no corpo. O mesmo argumento pode ser utilizado nestes outros casos e então justificaria-se a provisão, pelo SUS, destas outras cirurgias.

Por que privilegiar os distúrbios de um infeliz com o sexo em detrimento dos distúrbios de outros infelizes com algum aspecto de seu corpo? A comunidade científica já constatou evidências de que pessoas que sofrem por julgarem ter nascido com o sexo errado sofrem mais do que os demais? É possível tamanha objetividade apenas por meio de questionários e acompanhamentos?
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Citação de: HSette
Herf, Medicina não é achismo. Há critérios para se definir as doenças, seus diagnósticos, seus tratamentos.

Aqui os critérios científicos pesam muito pouco, ao meu ver. (...)


Bem dito. A seu ver.

Mas não para a comunidade médico / científica, e quer você queira ou não, felizmente é ela que pesa sim.
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Chaves

Offline Lua

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Re: A Homo Mania
« Resposta #73 Online: 11 de Junho de 2008, 16:23:13 »


Vamos aos fatos: o transexualismo existe, é um distúrbio reconhecido pela OMS. Critérios científicos são essenciais para enquadrar alguém como transexual partindo-se de um estudo de seu histórico de vida e dos problemas ocasionados pelo distúrbio. Não acredito que se trate de um delírio psicótico; admitir isso seria estender o critério e admitir que homossexuais também vivenciam o mesmo tipo de delírio, embora com consequências diversas.

Infelizmente (como o Luiz Souto já mencionou), é impossível separar corpo e mente e dizer que ambos existem independentemente um do outro e não influenciam a vida de um indivíduo. Sinceramente, dizer isso seria desconsiderar os potenciais prejuízos de determinados  problemas psicológicos.

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Offline Buckaroo Banzai

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Re: A Homo Mania
« Resposta #74 Online: 11 de Junho de 2008, 17:36:16 »
Em não sei exatamente o que seria um "delírio psicótico", mas acho que nem vem ao caso, como por exemplo, não vem ao caso se é ou não delírio pintar o cabelo de outra cor ou fazer qualquer outra modificação no corpo.

O ponto mais importante é que temos que ter prioridades, e a menos que esse caso específico seja "especial" de forma não meramente eleitoreira, mas para a saúde mesmo, uma questão de saúde mais importante do que outras alterações corporais que as pessoas possam querer ter - o que acredito ser dificilmente defensável - operações para transexualismo deve ser algo a deixar de lado em favor de coisas mais importantes, de corrigir o funcionamento de órgãos que não realmente funcionam direito, não modificar órgãos saudáveis, que apenas não satisfazem a identidade da pessoa, potencialmente transformando-os em órgãos não-funcionais que implicariam em outros problemas de saúde, tanto física quanto mental.


Estou ouvindo um debate sobre o sistema de saúde canadense em comparação com o americano. Apesar deles terem o sistema de saúde socializado, e ser freqüentemente elogiado em comparação com o que se tem nos EUA, eles não cobrem todo tipo de coisa, tem prioridades. Sempre tem que haver, muito embora para os políticos é sempre interessante fazer parecer que são conhecedores de algum tipo de moto-contínuo econômico.


The Health-Care Debate: Lessons from Canada, Implications for the United States

http://uc.princeton.edu/main/option=com_content&task=view&id=3098

19MB no mp3, há outros formatos

 

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