Fenrir, quanto a sua questão sobre se Deus é complexo ou não, a resposta a mim me parece óbvia. Deus tem que ser complexo. Isso porque um ser inteligente capaz de planejar e executar qualquer coisa deve ser complexo - e complexo para mim significa ter constituintes que interagem entre si com algum grau de organização.
Sim, e principalmente porque é premissa da DI que a complexidade não surge do acaso e pede um designer.
Se o designer tambem nao fosse complexo então a DI entraria em contradição com sua propria premissa e teria
de admitir a hipotese de que se o universo, que é complexo não surgiu do acaso, por sua vez, o designer que
não é complexo poderia ter sido fruto do acaso...
A minha maior crítica com relação à idéia de Deus propagandeada por aí é que ele é algo como uma "substância pura", um "fluido", uma "energia", um ser com propriedades como as humanas (inteligência, vontade, bondade), capaz de executar ações, mas que não é governado por nenhum tipo de mecanismo - Deus "pensa" por mágica, seus pensamentos simplesmente brotam do nada.
Eu coloquei "pensa" entre parênteses porque há quem diga que Deus é atemporal, sendo assim ele não tem a rigor pensamentos com início, meio e fim, como ele já sabe tudo desde sempre ele simplesmente age (e suas ações, naturalmente, também se dão por mágica, por ação a distância sem nenhum mecanismo), entretanto eu acho o conceito de um Deus que escuta e atende orações e intervém na criação meio contraditório com um Deus atemporal.
Boas colocações e isto me leva a perguntar se o pensamento independe de matéria, cérebro ou qualquer coisa
não substancial, não-transcedental, porque então temos cérebros, circuitos neuronais e etc??
E fica-se com a impressao de que o pensamento tem que brotar do nada, como voce disse, pois no que tange ao
universo fisico e material, estas substancias puras e congeneres não são muito diferentes do "nada".
Qualquer mudança seja de lugar, qualidade ou quantidade supõe temporalidade. Neste sentido, o pensar não pode existir fora
do tempo. Ja tentei imaginar como seria se tudo o movimento parasse, movimento entendido como toda e qualquer mudanca, o
que incluiria o pensamento. Numa situacao destas, faria sentido falar no "fluir do tempo" ou no proprio tempo?
A mesma coisa seria supor movimento (pensamento) numa coisa fora do tempo, como voce bem disse...
Mas mesmo assim a idéia de inteligência brotando do nada me parece uma superstição tola que herdamos do tempo em que nós mesmos não compreendíamos absolutamente nada dos mecanismos cerebrais e o ser humano explicava as coisas que não entendia através do pensamento mágico, gostaria que algum teísta me explicasse como pode existir um Deus 'sem partes móveis'.
Sim, do tempos em que se acreditava que as emoções provinham do coração...
O problema é que um Deus mecanístico é um problema tão grande de ser explicado quanto um organismo vivo brotar do nada. Aliás, é um problema infinitamente maior que esse, pois uma molécula replicante que brotasse do movimento aleatório de moléculas orgânicas em um caldo primitivo ao menos surgiria de matéria ao seu redor, mas e um Deus organizado e inteligente que surge literalmente ex nihilo? Como se tira constituintes, interação e organização do absoluto nada? Como se constrói uma máquina feita de vácuo - aliás, nem isso, pois vácuo ainda é espaço e o nada é ausência de tudo, inclusive espaço e tempo.
E se ja não fosse problema suficientemente grande explicar como e possivel que algo surja
ex nihilo, como explicar
as interacoes de uma coisa que transcende a materia com este mundo que é materia? Como transpor este abismo?
Como funcionaria uma tal interface, se é que faz sentido pensar numa coisas destas?
O dia em que um teísta me explicar detalhadamente COMO E POR QUAIS MECANISMOS, Deus criou um simples átomo de hidrogênio, ou menos ainda,
um próton e como, uma vez criado, a divindade não-material interage, transpondo o abismo materia-nao_materia, fazendo com o próton ou o
átomo se movam, eu mudo de opiniao.
E o pior é que é fácil explicar organização crescente se desenvolvendo a partir de formas mais primitivas via seleção natural - a teoria de Darwin explica com uma elegância inigualável como uma cadeia de RNA auto-replicante se transforma em um ser humano capaz de pensamentos complexos. Mas que teologia explica como um ser de inteligência infinita, ou seja, com uma sofisticação infinitamente maior do que a do ser humano, simplesmente brota do nada?
Dizendo que ele é a causa de si mesmo? Isso equivale a dizer que ele não tem causa nenhuma. Mas se podemos conceber um Deus absurdamente complexo que brota do nada então podemos encurtar as coisas, tirar Deus do papel de intermediário e dizer que o universo não tem causa. Até porque, entre o nada e o universo, Deus não é exatamente um catalisador, ele é uma barreira de altura infinita - inteligência infinita exige organização infinita, logo, complexidade infinita -, precisamos de um catalisador simples de verdade, um fenômeno cego, não inteligente, incapaz de planejamento. Se é que precisamos de um.
Excelente ponto.
Não sendo catalisador e sim obstaculo, como pode criar o que quer que seja?
Mas imagino que muitos teistas se aventurariam a dizer que inteligencia infinita nao pressupoe complexidade e organizacoes finitas
ou vice-versa.
Quanto a sua hipótese B, não vejo nada absurdo que o universo tenha brotado de algo mais simples - aliás, acho isso quase obrigatório! Entretanto não vejo como um ser inteligente pode ser qualificado como menos complexo que o universo. Nós mesmos somos seres mais complexos do que o universo nos seus instantes iniciais - aquilo ali era um bacanal de energia e formas estranhas de matéria por tudo que é lado, o universo em si nunca foi capaz de declarar algo como "Penso, logo existo" - ele levou bilhões de anos até que pequenas partes isoladas dele (que têm uma ilusão de individualidade) pudessem chegar a isso.
Seria absurdo se assumisse como premissa que coisas complexas nao surgem do acaso e tem que ser criadas.
No caso de se falarmos em ciencia, ai tudo bem, concordo com o que disse! Faltou deixar isto mais claro no meu post.