Programa público de esporte transforma China em potência olímpicaA China pode copiar de tudo. Menos talento. No esporte, o jeito foi abrir uma linha própria de produçãoPEQUIM (China) – Zhany Sheix, um chinês de 16 anos e 1,98m, passou os últimos sete anos de sua vida em um internato no oeste de Pequim, onde joga vôlei, estuda e vive - nesta ordem. Zhany treina diariamente três horas de manhã e outras quatro horas à tarde. “Em quatro anos meu nível será bem melhor”, acredita, pensando em colocar os pés em Londres, para a próxima Olimpíada.
Zahny aproveita sua única folga semanal para assistir tevê (de preferência aos Jogos Olímpicos e mundiais) e ler. Ele nasceu em Pequim e sua família também mora na capital chinesa. Mesmo assim, vive no internato desde os nove anos. Zhany não reclama. “As instalações e a comida são boas”.
Zhany Sheix e seu companheiro que pratica ciclismo na ChinaKimberly Siu, uma americana de 9 anos e 1,30m, é de Nova York, onde seus pais vivem. Há dois meses ela faz intercâmbio em Pequim, na mesma escola do adolescente gigante Zhany. O técnico de Kim, o senhor Wong, é o responsável pela menina na China até o fim de sua estadia, daqui a quatro meses.
Kim treina ginástica artística diariamente com seus colegas, meninas e meninos, todos entre 6 e 9 anos, futuros ginastas de ponta que serão exportados ou se transformarão em técnicos requisitados. Quando perguntada se quer ganhar uma medalha de ouro, ela faz que “sim” energicamente com a cabeça. Pelos Estados Unidos ou pela China? “Não sei”. Independente da escolha da pequena atleta, a China já faturou 50 medalhas na ginástica artística até hoje — 12 só nesta edição. É a principal força do país em Olimpíadas.
Jovem chinês faz malabarismo corporal durante o aquecimentoKim e Zhany são parte da explicação do porque a China deixou de ser uma coadjuvante de Olimpíadas para se tornar uma potência nas últimas três décadas – o crescimento em número de medalhas de ouro desde 1984 é de 200% e essa taxa deve aumentar até domingo.
Eles são dois dos 700 alunos da Shinchahai Sports School, no oeste de Pequim, uma das instituições mantidas pelo governo para preparar os futuros melhores atletas do país. Neste ano, 11 ex-alunos só desta escola disputam os Jogos em casa. Oito pela China e três por outros países.
A peneira chinesaVinte milhões de crianças nascem por ano na China. Imagina o trabalho que dá descobrir um talento escondido no meio de tanta gente? Para isso, o governo chinês sistematizou a peneira em quatro etapas, como explica o diretor da escola Shinchahai, Decheng Niu.
“Primeiro, todos os alunos da escola primária e secundária passam por exames de saúde para identificar aqueles que têm potencial físico. Destes, os que têm capacidade técnica nos esportes são levados para a terceira etapa, o recrutamento por parte das escolas de esportes. Por último, eles são treinados e se tornam profissionais subsidiados pelo governo”.
Atletas treinam no Lucheng Sport Technical SchoolCom a abertura econômica na década de 80 e a volta da China à disputa dos Jogos Olímpicos em 1984, o país, ainda em desenvolvimento, precisava levantar sua auto-estima. “Foi aí que teve um boom do espírito nacional por meio do esporte”, lembra o diretor.
A Lucheng Sport Technical School, em Taxing, na grande Pequim, é outro centro de recrutamento de talentos. O diretor Guo Yingzhou enche a boca para dizer que três alunos foram levados direto da escola para times norte-americanos de beisebol na última temporada. Além disso, dez atletas da seleção nacional da modalidade nos Jogos de Pequim freqüentaram o internato.
E a China não é um país com tradição no esporte. Das atuais modalidades olímpicas, o país não ganhou medalha até hoje no beisebol, no hóquei, no triatlo, no nado sincronizado, no pólo aquático e no pentatlo moderno. Nas demais 25 modalidades, sim. Inclusive no futebol.
Yingzhou explica que o futebol é um caso à parte. “O atleta se transforma numa ferramenta de marketing muito cedo e os dirigentes dos clubes, com os patrocinadores, determinam a carreira do garoto, e não o governo, como nos outros esportes”, esclarece.
Nas modalidades em que não há grande tradição, a China busca técnicos e preparadores estrangeiros. Com isso, a participação da delegação nos Jogos deste ano deu um salto dourado. No tiro ao arco, por exemplo, a China não tinha ouro. Ganhou agora.
O mesmo aconteceu com o remo e com a vela. No boxe, hoje, está o ponto fraco. Tem só um bronze em toda sua história e ainda não ganhou em Pequim. Até esta quinta-feira, os donos da casa faturaram medalhas em 19 esportes diferentes. Para efeito de comparação, o Brasil ganhou medalhas em 11 modalidades em toda a história de sua participação olímpica.
Assista ao vídeo e veja como são os treinos da ginástica chinesahttp://www.youtube.com/v/kgJjCxFXxr4http://ultimosegundo.ig.com.br/olimpiada/noticia/2008/08/21/programa_publico_de_esporte_transforma_china_em_potencia_olimpica_1587039.html