Olimpíada pode terminar sem campeão geral unânimeChineses e norte-americanos divergem em relação ao sistema de medalhas que definirá campeão olímpico; para COI, disputa "não existe"PEQUIM (China) - Não é só nas piscinas, quadras, pistas e campos que chineses e norte-americanos lutam pela liderança no quadro de medalhas da Olimpíada de Pequim. Os comitês olímpicos dos dois países usam métodos diferentes para definir a posição geral em que terminarão a competição. De um lado, os norte-americanos consideram a posição de acordo com o total de medalhas (ouro, prata e bronze). De outro, chineses e a maioria dos comitês concordam que é o número de medalhas de ouro que define o líder geral dos Jogos.
Quadros de medalhas da NBC (esquerda) e do site oficial da OlimpíadaTal diferença, neste momento, permite que China e Estados Unidos comemorem o título de "país mais vencedor" desta Olimpíada. Os Estados Unidos estão em primeiro lugar de acordo com o seu próprio critério, e a China lidera sob seu próprio ponto de vista.
"Os Estados Unidos consideram tradicionalmente o número total de medalhas. Não é de hoje", disse ao iG Darryl Seibel, chefe da comunicação do Comitê Olímpico Norte-Americano. "A mídia norte-americana usa este critério e nós também usamos. Nem sei desde quando. Eu sou velho, mas nem tanto", completou. Renomados órgãos de imprensa norte-americanos como NBC, ESPN, Foxsports e Sports Illustrated adotam em seus sites, canais de TV e publicações o mesmo modelo ao divulgar o quadro.
No site oficial da Olimpíada (
http://en.beijing2008.com), logo na página de abertura, o critério usado é o total de ouros, colocando a China na frente. Ao abrir o quadro mais detalhadamente, em segundo plano, existe a posição da equipe caso o critério fosse o total de medalhas.
COI não reconhece competiçãoO Comitê Olímpico Internacional não decide a questão. De acordo com a entidade, o COI não incentiva este tipo de competição. "A Olimpíada é uma disputa de atletas e seleções. Não existe classificação geral de medalhas", disse ao iG Robert Roxburgh, da comunicação. "O quadro de medalhas que aparece no site da Olimpíada é meramente informativo, não tem um ranking associado a ele", completou. Mas Roxburgh não soube explicar o motivo pelo qual, se é meramente informativo, as medalhas não aparecem em ordem alfabética ou qualquer outro critério que não o total de ouros.
A reportagem do iG falou pelo telefone com Wang Chen, do Comitê Olímpico Chinês. Por solicitação dele, a pergunta sobre qual o critério utilizado pela China foi enviada por escrito, via fax. Após o envio, outras cinco tentativas foram feitas pelo telefone, sem sucesso na resposta. A reportagem visitou também a sala do comitê no Centro de Imprensa outras três vezes e foi informada que Chen não estava no escritório e ninguém mais podia responder a questão.
O site oficial do comitê da China, no entanto, indica aos seus leitores um link para acompanhar o quadro de medalhas que considera o número de ouros como definitivo.
Desde 1964A dúvida entre quem será o campeão caso cada uma das equipes siga na frente por critérios diferentes será uma discussão relativamente nova. A última vez que o fato ocorreu foi há 44 anos, na Olimpíada de Tóquio, em 1964. Na época, Os Estados Unidos ficaram com 90 medalhas, sendo 36 de ouro. A União Soviética chegou a 96 medalhas, com 'apenas' 30 douradas. Ou seja, pelo seu próprio critério, ironicamente, a história do esporte olímpico do país perde a disputa em terras japonesas, apesar de boa parte do mundo considerá-los campeões naquele ano.
A Olimpíada chega à metade e, por falta de consenso, a grande disputa dos Jogos, entre chineses e norte-americanos pelo quadro geral de medalhas, pode ficar sem um vencedor. Pelo menos sem um vencedor unânime.
http://ultimosegundo.ig.com.br/olimpiada/noticia/2008/08/15/olimpiada_pode_terminar_sem_campeao_geral_unanime__1567769.html